Antes mesmo de Mirella estacionar, Eliza estava uma pilha de nervos. Em meio a ansiedade de ter sua primeira consultoria, ela duvidou de seus próprios olhos, quando jurou ter visto Giulio na companhia de Margareth. Justamente naquela hora sua mente resolveu pregar-lhe peças e agora sua confiança estava abalada. Como sabia, era impossível Giulio estar lá — há uma hora daquelas ele estava viajando, sabe-se Deus para onde. Ela tinha que aceitar que a ausência e a saudade dele estavam influenciando sua mente, a ponto de ela ter miragens dele.Por outro lado, podia ter acontecido algum imprevisto e ele não ter viajado e, aquela imagem, não ser apenas fruto do coração apaixonado dela e sim, uma visão real dele.Real ou fruto de sua imaginação, ela iria descobrir naquele exato momento, pois tão logo Mirella estacionou, Eliza entrou na galeria feito uma desvairada; esquecida de tudo — principalmente do que fora fazer lá —, a única coisa que importava para ela naquele momento era encontrar Gi
A medida que o desconhecido aproximava-se, Eliza surpreendia-se com a incrível semelhança deles. Mesmo sabendo que tratava-se de pessoas distintas, o coração dela negava-se em aceitar que não fosse ele.Quando o homem depositou a água e o suco diante delas, Margareth o apresentou — para desapontamento do coração apaixonado de Eliza, não era Giulio e, sim, Giuseppe Donatello: sócio e amigo pessoal da senhora Antonelli.A sensação de poder reencontrar Giulio dominava seus instintos e, por um segundo, ela achou que fosse possível ser ele. De certo modo, era difícil reconhecer que o perdera pois, enquanto estivesse na Itália, seu coração o lembraria dele. Por isso, ela se enganara — parte dela queria vê-lo e a outra metade, também. Depois das apresentações feitas, Giuseppe dirigiu-se a elas e desculpou-se.— Peço-lhes desculpas pela indelicadeza de ter-me retirado assim que vocês chegaram… Surgiu um pequeno imprevisto e tive que sair às pressas para atender a uma chamada urgente.— Então
Depois de Eliza e Mirella deixarem a galeria, Giulio saiu de seu esconderijo e foi ao encontro de Margareth e Giuseppe, no salão principal. Perceber que por um triz não foi descoberto, causou certo alívio nele e ele pôde respirar mais tranquilamente, pois, se ela o tivesse encontrado, todos os seus esforços para ajudá-la teria escorregado por suas mãos, feito areia. Eliza era um doce de pessoa, mas o que ela tinha de doçura, tinha de teimosia — ela era tinhosa ao extremo, de preferir morar debaixo de uma ponte a aceitar a ajuda dele.Poder contar com o apoio de Margareth tornava tudo mais fácil e ele tinha muito a agradecê-la; não apenas por se disponibilizar e abrir as portas da galeria para Eliza, como também por ela ter agido rápido e tolhido qualquer tentativa dela de invadir o espaço restrito, onde ele se encontrava escondido A sorte dele era que ele sempre podia usar o seu segurança como escudo, quando queria fugir de alguma situação inesperada ou de alguém desagradável — no c
As palavras de Margareth ainda martelavam na cabeça de Giulio e ele não sabia o que pensar ou como agir diante da possibilidade de ele ter sido um completo idiota com Eliza.Mesmo com a firme decisão de deixá-la partir, ele não queria que ela fosse sem antes colocar em pratos limpos, tudo o que aconteceu entre eles. Se fosse preciso desculpar-se com ela; ele o faria. Pois, se ele a tratou como um completo canalha ao tomá-la por vadia, vagabunda e rameira, ele teria que ser homem o suficiente para reconhecer que a julgou equivocadamente.Embora não soubesse como dizer corretamente as palavras "me desculpe", ele teria que aprender a dar o braço a torcer e reconhecer sua falha. Ela merecia um pedido de perdão e não uma justificativa meia boca. Fácil não seria; pois ele sabia que era muito mais fácil apedrejar do que recolher as pedras e, no caso dele, recolher as pedras significava reconhecer todos os erros que cometeu. Mas, se preciso, ele daria a cara a tapa; o que ele não poderia faz
Eliza estava que não se aguentava em pé de tanta felicidade, por finalmente as coisas começarem a dar certo para ela.Mesmo tendo entrado com o pé esquerdo na galeria de Margareth e passado a pior das impressões, o resultado a surpreendeu, e se não fosse pelo sósia de Giulio, tudo teria saído perfeito, mas perfeição, era algo que só existia nos sonhos mais loucos dela, como por exemplo; Giulio e ela, abraçados no sofá, debaixo das cobertas, assistindo um filme romântico, enquanto o crepitar das chamas da lareira bailavam livres e saltitantes, no ar, à medida que a lenha queimava e os aquecia.Pensar neles desse jeito, a faz sentir-se uma mendiga diante de seus sonhos. Giulio não era esse homem que ela insistia em idealizar: ele era rude, arrogante, indiferente, e era mais fácil ele apaixonar-se por uma sombra do que por ela.Esse choque de realidade a trouxe de volta ao plano racional. Saber que Giulio nunca a veria além da imagem que ele formou dela, sempre causava-lhe uma dorzinha a
Eliza estava terrivelmente abatida depois da conversa com Mirella. Mesmo sabendo que sua amiga estava coberta de razão, a verdade sempre doía; não que ela estivesse magoada com Mirella, muito pelo contrário; sua amiga apenas disse aquilo que ela se recusava a ouvir — Giulio nunca a levaria a sério.Enquanto o carro que a levava até Giulio percorria os bairros nobres de Florença, a tensão dela ia aumentando. Não saber para onde estava indo era um tanto assustador e ela pensou mais de uma vez em pedir para o motorista a levar de volta para casa, mas ela sabia que isso seria inútil: o chofer dele jamais iria desobedecer as ordens de seu patrão.Após rodar um pouco mais, o veículo parou em frente a uma magnífica mansão. Depois que os portões foram abertos e o carro adentrou o local, ela deu-se conta de que estava no território do inimigo. Aquele monumento de riqueza da arquitetura italiana era nada mais, nada menos do que a fortaleza do poderoso Giulio Vallone.Descobrir isso causou-lhe c
A frieza de Giulio frente à mulher que dizia amar era irracional e nesse momento Eliza chegou a duvidar dos sentimentos dele pela “sua eterna noiva”. Naquele ínfimo pormenor ficou claro para ela, que ele não amava ninguém a não ser a si mesmo. Giulio Vallone se achava autossuficiente e agia piamente, como se estivesse acima do bem e do mau. No final, o inescrupuloso e o promíscuo era ele: Giulio não valia nada!Descobrir esse lado maléfico dele a deixou desnorteada e a única coisa que ela queria era poder sair correndo dali; esquecer que um dia teve a infelicidade de cruzar seu caminho com o dele e, principalmente, deletá-lo de uma vez por todas de seus pensamentos.Mas as coisas não eram tão simples como ela queria acreditar. Estava à mercê dele para sair dali e simplesmente não tinha nenhum manual de como deletar uma pessoa definitivamente da vida da outra e, no caso de Giulio, sempre se corria o risco de ele ficar entulhado na lixeira dos pensamentos, dela, para sempre.Sem palavra
O dia amanheceu cinzento e sem brilho para Eliza; como se sua vida tivesse sido lançada em um profundo e sombrio buraco negro, e, apesar, de não ter a mínima ideia de como sair daquela enrascada que se metera, aquele dia foi decisivo para ela. Esse dia ficaria marcado na memória dela, pois foi o dia em que ela descobriu a verdadeira face de Giulio Vallone. Depois de muito bater cabeça sobre as atitudes de Giulio, ela tinha quase certeza de que ele era o tal cliente que estava interessado nos quadros dela e isso era muito humilhante, já que não poderia recusar o dinheiro — precisava dele para comprar a passagem de volta ao Brasil. Por outro lado, essa hipótese não parecia fazer muito sentindo, uma vez que ele queria que ela gerasse o filho que seria dele e Mary. Então, por qual motivo Giulio teria interesse nos quadros dela? Ele era desonesto quando o assunto girava em torno de emoções, mas muito sincero quando tratava-se de dinheiro. Ficou claro para ela que não poderia ser ele. Le