Medo

Capítulo 2

Suspirei e dei um passo à frente, mas então alguém pegou minha mão e me puxou. Era um outro homem.

– Me permite?

– Eu preciso voltar para minha mesa.

– Não vou demorar. – Ele sorriu e colocou a mão nas minhas costas.

– Tudo bem. – Olhei para meus pais na mesa, eles não pareciam se importar. Mas então vi Kalel nos observando, e simplesmente sorri.

Se ele achava que podia me intimidar, estava enganado.

– O que você faz aqui?

Ele olhou para o colar, muito interessado.

– Vim com meus pais. – Olhei para o homem, ele não parecia ser jovem. Com a máscara, era difícil ter certeza.

– Conhece essas pessoas?

– Não, é a primeira vez que vejo todos eles.

– Interessante. – Ele sorriu.

– Por quê? – Franzi a testa. Ele abriu a boca para responder, mas a fechou.

– Querida, seu pai está chamando. – Minha mãe pegou meu braço e o homem se afastou.

– Foi um prazer. – Ele sorriu de um jeito estranho.

– Igualmente. – Acenei, e me virei junto com minha mãe.

– Ouça, Hannah. – Minha mãe parou e me encarou. – Todas essas pessoas são da máfia, eles matariam você num piscar de olhos.

– Máfia? – Franzi a testa, surpresa.

– Seu pai fez de novo, ele nos usou para vir com ele. – Mamãe levou as mãos até o fecho do colar e o tirou. – Ele foi fechar um negócio com alguém, e esse colar foi nosso cartão de entrada.

– Mãe, eu não estou entendendo.

– Querida, seu pai... – Mamãe suspirou. – É um mafioso falido, ele veio aqui para conseguir uma solução para nossas vidas.

– Papai um mafioso? – Eu ri. – Mãe, ele mal assiste aos filmes até o final, está sempre dormindo. Como alguém assim seria capaz de liderar alguma coisa?

– Seu pai está relaxado, e por isso está falido. – Mamãe colocou o colar na bolsa.

– Tá, digamos que sim. Papai é da máfia e aí?

– Venham. – Papai nos assustou ao chegar do nada e nos guiou para longe do salão.

– Para onde estamos indo? – Perguntei nervosa.

– Falar com um amigo.

– Marcus, você pode parar agora com o que está fazendo!

Minha mãe me puxou para perto dela, interrompendo os planos do meu pai. Ele por sua vez olhou em volta e sorriu para as pessoas que nos encaravam.

– Evelyn, você está nos fazendo passar vergonha.

– Eu não ligo, quero ir embora.

– Já estamos indo, só preciso falar com ele.

Meu pai pegou meu braço, e finalmente fui andando com ele. Mamãe logo atrás pronta para fazer uma confusão.

Paramos diante de uma porta, ele a abriu e entrou. Eu o segui, curiosa demais para resistir. Olhei para as pessoas dentro da sala, todos eram homens.

– Então? – Papai olhou para os homens. – Eu só tenho ela.

– Tire a máscara. – Disse um deles, com a voz grossa e ríspida.

Papai virou-se para mim e tocou meu rosto, mas mamãe o impediu.

– O que está fazendo? – Ela sussurrou. – Não saber o rosto dela é a única forma de mantê-la segura.

– Está tudo bem. – Papai disse e puxou minha máscara.

Mais uma vez, senti-me exposta, diante de vários deles ao mesmo tempo. O que eles queriam afinal?

– Se você aceitar, será como ele pediu. – Disse outra voz. – Você não terá mais poder sobre ela, não será permitido que volte a vê-la, a menos que ele decida o contrário.

– Eu estou de acordo. – Papai disse.

– De acordo com o que? – Mamãe franziu a testa.

– Sua filha agora pertence a esse cavalheiro. – Disse a voz anterior.

– O que? – Murmurei.

– Ficou maluco? – Mamãe me afastou dele.

– Já está feito. – Papai olhou meu pescoço. – Onde está o colar?

– Eu tirei dela.

– Pai, que história é essa? –Eles estavam me comprando como se eu fosse uma propriedade, como se isso fosse normal no dia a dia. Que tipo de gente eles eram?

– Precisamos de dinheiro para sobreviver e manter nossa segurança. – Papai me encarou. – Eu devo muito dinheiro a ele e essa foi nossa única saída.

– Me vender! O que acha que eu sou?

– Veja como uma oportunidade de vida. – Papai pegou a bolsa da Mamãe e tirou de lá o colar.

– Você não pode fazer isso. – Peguei o colar da mão dele, fui até a janela e o joguei longe.

– Não. – Vários deles falaram ao mesmo tempo.

Quatro homens correram para fora, e dois permaneceram. Papai estava me encarando furioso e minha mãe chorando.

– Você quer estragar as coisas? Quer nos ver morando na rua e morrendo de fome? – Papai se aproximou e agarrou meu braço. – Não sabe o quanto está em jogo aqui.

– Eu quero ir pra casa. – Minha voz falhou e meus olhos ficaram embaçados, as lágrimas foram escorregando.

– Se ele não quiser mais...

– Eu quero. – Disse a voz grossa.

– Kalel, o colar…

Kalel? Era ele, o homem perigoso. Ele ia me comprar para me matar?

– Não me importo, eu quero. – O homem ficou de pé.

– Certo. – Papai relaxou.

– Sabe o que fazer. – O outro homem se aproximou e entregou um cheque para meu pai, apertou a mão dele e se afastou.

– Filha, eu vou dar um jeito. – Minha mãe me abraçou.

– Mãe, não aceite isso.

Sem que ela tivesse tempo de agir, papai a pegou e saiu da sala. Eu fiquei lá, parada igual uma idiota e chorando. Os homens agora estavam me encarando.

– Vou ver se acharam o colar.

Eu olhei para o homem desconhecido, talvez num pedido de socorro, para que ele não me deixasse sozinha com esse maluco, mas nada aconteceu. A porta fechou e éramos só nós dois agora.

– Coloque de volta sua máscara. – Ele pediu, com autoridade.

Peguei a máscara e a coloquei, mas tremia tanto que tive dificuldade em amarrá-la.

– O que querem comigo?

Ele não respondeu, levantou-se e foi até a porta. Abriu-a e estendeu o braço para mim, mas eu não me movi. Então, ele veio em minha direção e me puxou, voltando para o salão agora lado a lado. As pessoas voltaram a nos encarar, que beleza.

– Goste ou não, agora você pertence a mim e seguirá minhas regras.

– Não. – Tentei me soltar, mas ele era mais forte.

– Você é muito teimosa. – Ele bufou e parou na mesa, me fez sentar na cadeira ao lado dele. – Preste atenção, todo mundo aqui sabe que você é minha.

– O quê? – Agora ele tinha minha total atenção.

–Não tente bancar a espertinha, ninguém vai se meter. –Ele tocou sua máscara e tirou.

Minha santa… Eu nunca vi ninguém tão bonito quanto ele. As sobrancelhas muito bem desenhadas faziam dos olhos dele uma arma fatal. O formato do rosto triangular, os lábios levemente desenhados, pele morena e corpo forte. Ele virou sua atenção para mim, deve ter notado meu silêncio repentino.

–Por que está fazendo isso?

–Não há um motivo, nós fazemos isso o tempo todo.

–Isso é horrível.

–Senhor, já podemos ir. –Disse um dos homens.

–Hannah, chegou a hora de ir. –Ele segurou meu braço e juntos levantamos.

Enquanto caminhava, olhei para trás. Havia mais de dez homens nos seguindo. Eu só não sabia se eram inimigos ou trabalhavam para ele. Na rua, fomos até uma BMW preta. Antes de entrar, eu olhei para os lados procurando meus pais.

Eles realmente me deixaram aqui?

–Senhor, ele está lá e parece que veio por... –O homem me olhou e se calou.

–Eu vou resolver. –Kalel abriu a porta do carro e me fez entrar.

Ele se virou e, com mais cinco homens, voltaram para a festa, mas eu não estava sozinha. Em volta do carro, havia quase dez homens, todos agindo naturalmente.

Me encostei no estofado do carro, minha cabeça pensando em um jeito de escapar. Os homens lá fora estavam todos distraídos, essa era uma chance única.

Abri a porta e pulei para fora. Eles me viram e vieram correndo atrás de mim. Atravessei na frente dos carros, eles tiveram que parar e esperar. Minha única saída era voltar para a festa. Eu corri até o jardim, e os vi entrando na festa.

Continuei correndo até encontrar uma pequena cabana nos fundo. Era perfeito para me esconder. Antes que tocasse na porta, ouvi vozes, e uma delas era de Kalel.

–Só pode ser brincadeira. –Sussurrei.

Fui até a janela mais próxima para espiar. Kalel parou na frente de um homem e fez alguma coisa com as mãos, não consegui ver muito bem. Os homens de antes estavam parados, assistindo o chefe fazer algo, mas o que seria?

Kalel puxou algo e esticou, aquilo parecia ser... Meu estômago revirou, ele estava com tripas nas mãos. Kalel levantou e se aproximou, com as mãos e roupas cobertas de sangue. Seus olhos encontraram os meus, e eu gelei. Merda, ele me viu. Era para eu estar correndo? Sim, era. Mas eu estava petrificada com o que via. Kalel saiu da casa e parou na minha frente.

–Não era para vê isso. –Ele esfregou as mãos umas nas outras. –Agora eu terei que te castigar.

Desesperada, voltei ao normal e imediatamente corri o mais rápido que consegui.

–Socorro! –Gritei, mas o som da música não deixaria que me escutassem.

–Espere, eu posso explicar. –Kalel gritou atrás de mim. Segurei meu vestido para correr melhor, mas então ele me agarrou e caímos no chão.

–Me solta! –Eu juro, tentei me soltar de todas as formas. Ele inutilizou meus braços e pernas, sentou em cima de mim e sorriu.

–Você nunca viu nos filmes que a moça que sai correndo e gritando sempre morre? É melhor você se controlar.

–Me deixe em paz seu assassino!

–Pare com o show.

–Você é um monstro! Não quero que me toque. –As palavras saíram junto com as lágrimas, mas ele não parecia se importar.

–Você está tremendo. –Ele suspirou. –Aquilo realmente te assustou, não foi?

Estranhamente ele saiu de cima de mim, eu virei e corri. Não ia ficar e tirar a dúvida se ele estava brincando ou não.

Na rua tentei pedir uma carona, mas alguém me agarrou e com força me jogou dentro do carro. Eu estava trancada outra vez, mas agora algo me dizia que seria impossível escapar.

Cinco minutos depois, Kalel entrou no carro e acenou para o motorista, que deu a partida e nos tirou dali. Me encolhi para longe dele, virei para a janela e chorei.

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