A curiosidade

Capítulo 4

Quase duas semanas vivendo aqui, eu estava ficando louca. Não tinha nada para fazer, e nem uma televisão no meu quarto. Deitei na cama e resmunguei várias e várias vezes. Então vi Kalel na porta com seu olhar assustador para mim.

– É o seguinte, eu não fiz esse acordo para você passar férias no quarto. Ou você começa a me acompanhar, ou eu devolvo você como se fosse um animal sarnento para o canil e mato seus pais na sua frente.

– Você costuma conseguir as coisas chantageando as pessoas?

– Normalmente – ele cruzou os braços.

– Tanto faz – virei-me e passei por ele, não demorou para me seguir. Desci a escada e fui explorar a casa. Achei a sala, fui até o sofá e me sentei, olhei para Kalel e bufei. – Feliz?

– Você é impressionante – ele balançou a cabeça negativamente, mas se aproximou e sentou ao meu lado.

– Por que matou aquele homem?

– Não é da sua conta, fique de boca fechada se não quer acabar igual a ele.

"Meu corpo todo se arrepiou, e quando ele me olhou piorou. Seu olhar era mais frio e mais raivoso. Ok, desviei para longe e fiquei quieta. Kalel ficou com o jornal nas mãos e em silêncio por muitos minutos. Minha bunda já estava doendo de ficar ali, enquanto ele parecia muito confortável. O que teria ali no jornal de tão bom para prendê-lo? Ou ele estaria me testando.

– Trouxe o que me pediu. – Um homem entrou na sala e foi até o sofá vago, colocou umas sacolas ali. – Não entendo para que essas coisas, mas fiz o possível para conseguir.

– Ótimo. – Kalel fechou o jornal.

– Rosa? – O homem virou e seus olhos encontraram os meus, ele não havia me visto ali antes? – Quem é ela?

– Hmm. – Kalel se levantou e foi até ele, pegou algo na bolsa e jogou para mim. Tive que ser rápida para conseguir pegar. – Isso é para ela, e essa é Hannah, uma convidada.

– Convidada? – Murmurei baixinho. Me poupe. Olhei a caixa na minha mão, era um celular rosa. Mas que diabos? Eu odeio rosa.

– Já está registrado e com o número da sua mãe, vocês podem se falar de agora em diante.

Eu sorri e comecei a abrir a caixa, peguei o celular e o liguei. Como ele disse, havia o número dela, mas somente o dela. Disquei, chamou algumas vezes até ela atender.

– Alô?

– Mãe. – Sorri novamente.

– Hannah, meu Deus. – Ela gritou de alegria. – É tão bom ouvir sua voz.

– Eu digo o mesmo... – Olhei para os dois, eles estavam conversando em sussurros. – Você está bem?

– Sobrevivendo... Bem, sei que seu pai não mudou em nada... E você está bem?"

– Sim, eu estou bem.

– Fico tão feliz que você tenha me ligado, agora podemos conversar sempre?

– Podemos, ele permitiu.

– Ele permitiu. – Ela bufou. – Que idiota. Mas enfim, o que importa é que você está bem. Veja quando posso te visitar, eu posso, né?

– Eu não sei, mas vou perguntar e então te retorno.

– Tudo bem.

Ficamos conversando por quase dez minutos, até ela ter que desligar. Eu continuei com o aparelho no ouvido. Podia ouvir eles sussurrando.

– Ficou maluco?

– Eu já disse, ele me deve e esse foi o único jeito.

– Kalel, isso é muito errado. Essa menina é prisioneira e não parece estar confortável com a ideia.

– Ela ficará. – Kalel mexeu na bolsa e pegou mais alguma coisa.

– Eu não posso acreditar que você esteja fazendo isso, e por dinheiro.

– Não é só isso, mas sim. Se todos começarem a não me pagar o que devem, como acha que isso vai terminar? Além do mais, ela me viu matar alguém. Preciso calar a boca dela de uma vez por todas.

Merda. Então esse era o plano dele. Abaixei minha mão e deixei o celular no sofá, então eles me olharam.

– Já terminou?

– Sim. Eu posso ir para o quarto? – Uma lágrima escorreu pela minha bochecha e caiu na minha mão.

– Por que você está chorando?

Eu não sabia, era uma mistura de medo com saudade. Falar com minha mãe me deixou triste, eu queria estar com ela. Kalel vai me matar no final, de que adiantaria? Dei de ombros.

– Por nada.

– Sua mãe está bem?

– Sim. Ela está feliz por poder falar comigo. – Limpei meu rosto e olhei para eles.

– Venha ver o que Lucca te trouxe. – Kalel voltou para as sacolas e eu fiz o que ele pediu. – Tem produtos de beleza e isso aqui para...

– Cabelo. – Peguei o secador das mãos dele e ri.

– Tem alguns livros de romance, você gosta disso?

– Sim.

– Também tem...

Lucca segurou o braço de Kalel, impedindo-o de terminar a frase.

– Por que não deixamos ela levar essas coisas para o quarto? – Lucca disse.

– É, faça isso e volte. – Kalel soltou o que estava na mão e me encarou.

– Tá bem. – Peguei as sacolas e rapidamente saí dali. Na escada, olhei o que tinha na bolsa que Kalel ia mostrar. Eram giletes. Giletes para me depilar. Meu rosto ficou vermelho. Ele realmente ia mostrar isso na frente do amigo?

Corri até o quarto e deixei tudo lá. Quando voltei, Lucca estava sozinho.

– Sente-se, ele foi atender uma ligação no escritório.

– Tá. – Fui até o sofá vazio e me sentei.

– Seu nome é Hannah, né? Como você acabou nessa situação? Quantos anos você tem?

– São muitas perguntas. – Franzi a testa.

– Hmm. – Lucca estreitou os olhos. Ele era um homem curioso, isso estava claro. E bonito, moreno, cabelo preto e olhos castanhos.

– Sim, meu nome é Hannah. Eu fui a uma festa com meus pais e acabei nessa situação. Ele me vendeu para quitar suas dívidas. Tenho dezenove anos. Como você pode ver, minha vida é uma aventura.

– Eu vou tentar convencer o Kalel a esquecer isso, mas não prometo nada.

– De verdade? – Sorri.

– Eu acho tudo isso uma loucura, e como você pode ter notado, ele não tem muita experiência...

– Como assim?

– O Kalel não se relaciona com jovens, ele traz mulheres maduras para...

– Sexo? – Franzi, surpresa.

– Sim, e no dia seguinte ele não tem que lidar com essas coisas. Cuidar de crianças não é uma tarefa fácil.

– Eu não sou criança. – Cruzei os braços, chateada.

– Eu não quis... te ofender. – Lucca sorriu. – Garotas da sua idade podem ser bastante rebeldes.

– Eu tenho 19 anos e não 15. – Agora ele conseguiu me irritar. – Quantos anos ele tem, afinal?

– Do que estão falando? – Kalel entrou na sala e sentou ao lado de Lucca.

– Da sua nova decoração. – Lucca sorriu. – Bom, eu adoraria ficar mais tempo, mas preciso resolver umas coisas.

– Volte mais tarde para jantar. – Kalel e ele se levantaram e se despediram, Lucca acenou para mim e saiu da sala.

Eu estava intrigada com essa conversa. Pareço ter quantos anos afinal? Ser chamada de criança por alguém que deveria ter apenas alguns anos a mais do que eu me deixou chateada sim.

– Quantos anos você tem?

Kalel tirou os olhos da tela do celular e me encarou desconfiado.

– Qual é o seu interesse nisso?

Meu Deus! Ele deveria ser um velho no corpo de um jovem... Espera, do que eu estou falando?

– Eu só queria saber.

– Hmm. – Ele suspirou. – Tenho 25.

Ele é um assassino frio e rico, e tem apenas 25 anos. Uma parte de mim quer recuar, mas a outra quer perguntar. Eu queria saber sobre o passado dele e ter certeza se ele era realmente quem diz ser. Ele se levantou e pegou algo no bar. Eu não tinha visto isso até o momento.

– Sabe, seu sobrenome me é familiar.

– Por quê? – Ele pegou gelo e colocou no copo.

Parei por um momento para olhar seu corpo, era esbelto. Alto, ombros largos, pernas torneadas.

– Ouvi dizer uma coisa. – Analisei-o para ter certeza se podia continuar. Ele virou-se e deu um gole na bebida.

– Sobre o quê?

– Dizem que uma família com seu sobrenome foi destroçada, mas não pode ser você, já que não houve sobreviventes.

Kalel soltou o copo, e eu o vi escorregar até cair no chão e se espatifar. Meu coração imediatamente começou a bater muito rápido, minhas mãos ficaram geladas e eu estava à beira de um colapso. Ele veio na minha direção e agarrou meu braço com força, causando-me dor. Seus olhos estavam cheios de raiva.

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