Anna abriu os olhos e viu Daniel dormindo ao lado da cama.
— Veja só se não é o louco que me pede em casamento e cinco minutos depois me atropela.
Daniel abriu os olhos e a visão dela acordada foi um completo alívio.
— Que bom que você acordou, fiquei preocupado.
— Poderia ser sem uma perna quebrada, pelo menos, não acha?
— Fiquei com tanto medo de te perder mais uma vez.
— Ainda está com aquelas ideias absurdas?
— Não são ideias absurdas... é a verdade... fomos casados em outra vida.
— Se me conhecesse tão bem quanto diz que conhece, sabe que sou cristã e não acredito em “outras vidas”, quantas vezes vou ter que repetir isso?
— Não estou dizendo em reencarnação... é difícil de dizer...
— Então você é
— ENTÃO?Daniel abriu os olhos e se viu novamente no quarto do hospital junto ao homem que se dizia Deus.— Foi exatamente como disse que seria.O velho riu.— Qual vida foi melhor?— Que pergunta estúpida para quem se diz ser Deus, deve saber qual delas foi melhor.— Eu não disse que era, disse que sou Deus... e minha pergunta foi apenas para você ver como me senti quando disse que se tivesse uma nova vida faria tudo diferente, o que na minha visão, entre a minha pergunta estúpida e o seu desejo estúpido, você ainda ganha disparado.— Talvez...— Talvez não, Anna te disse isso, não é mesmo?O velho olhou para o relógio.— Vai ter algum compromisso?O velho assentiu.— Está quase na hora de um encontro.— Acredito que Deus tenha muitos en
Este livro foi escrito após ter um sonho muito real em que eu estava internado já em ditosa velhice e vi que estava completamente sozinho no quarto de um hospital, minha esposa havia falecido e meus filhos haviam me abandonado com câncer em um hospital para morrer completamente sozinho e abandonado.Aquilo foi uma das piores experiências que tive na vida, sentir o abandono das pessoas que mais amo doeu como uma facada, fez com que eu tivesse uma visão de como as pessoas se sentem nos asilos.Diferente do que eu sou como pessoa, em meu sonho eu era uma pessoa completamente arrogante e por puro compromisso com a lei da semeadura, estava colhendo os frutos de tudo aquilo que havia plantado, afinal, ninguém é culpado pelas nessas escolhas além de nós mesmos.O personagem principal, Daniel, podem visualizar como se fosse realmente eu, talvez em um universo paralelo em que eu sou uma pessoa extremamente arro
Existia um homem que estava com oitenta e sete anos de idade e sua esposa tinha falecido havia exatamente oito meses, quinze dias e algumas poucas horas. Sua cabeça andava meio fraca ultimamente, tentava ser tão preciso, perfeito em tudo como sempre foi – e isso era um dos seus defeitos favoritos, porém, depois dos setenta anos tudo o que ele menos conseguia ser era perfeccionista, sua mente pensava algo, mas seu corpo não acompanhava mais sua mente sagaz.Sua vida havia sido um emaranhado de emoções distintas, filho de pais separados, conheceu sua esposa poucos dias antes do baile de formatura e se apaixonou imediatamente por ela e ao vê-la fez uma das orações mais sinceras e honestas que Deus já recebeu:— Senhor, é com ela que eu quero me casar e passar todos os dias da minha vida.Como se fosse um passe de mágica, aquele jovem apaixonado encontrou uma bela jovem qu
Enquanto seus pensamentos viajavam nas mais loucas histórias do seu passado ao lado da mulher da sua vida, Anna, entrou um senhor de idade ainda mais avançada que a sua, se é que ele achava possível, já que depois dos oitenta anos é natural a pessoa se achar a mais velha do mundo, ele estava com uma bengala de madeira simples, sem nenhuma ornamentação luxuosa e com algumas coisas estranhas escritas nela, talvez em uma língua que ele jamais tinha visto.O velho se sentou em uma poltrona ao lado da sua cama e descansou seu corpo aparentemente cansado por alguns instantes, visivelmente parecia aliviado por sentar-se ali, depois ele apoiou sua cabeça sobre a bengala que trazia consigo e ficou olhando para ele como se enxergasse muito mais do que apenas um decrépito Daniel.Seus olhos pareciam refletir uma verdade que ele jamais tinha visto em toda a sua vida, ao mesmo tempo que tinha ficado com me
Nesse momento quem deu gargalhada foi Daniel, mesmo lutando contra as suas dores, ele sentiu um súbito riso que era mais forte do que ele, mas ao invés do velho ficar bravo com ele, sorriu também como se fossem amigos há muito tempo.— Nem eu acreditaria se contasse – disse o velho contendo o riso –, mas é verdade, adoro compartilhar isso com as pessoas, me faz tão bem, parece que tira um peso das minhas costas.Quando ele disse isso, ambos deram risada novamente, Daniel sabia que seria grosseria demais de sua parte rir de alguém mais velho que ele, mas depois daquilo não dava mais para continuar sisudo.— Vim aqui – continuou o velho após Daniel se conter – porque você disse que eu não me importava com você.— E não se importa mesmo, é bom poder falar na cara de Deus isso.A voz de Daniel transparecia muito sarc
Quando Daniel acordou no dia seguinte – era aproximadamente oito horas da manhã do dia 24 de abril de 1988 –, no fatídico dia em que seus pais se separaram, ele estava novamente na casa de sua avó paterna e seu pai vendo a sua mãe arrumando as coisas para a mudança completamente em silêncio, em certo aspecto parecendo aliviado com tudo aquilo que estava acontecendo, como se um fardo estivesse saindo das suas costas.Não é possível que ele esteja feliz com essa situação...Mas a verdade era nua e crua, e nada e nem ninguém poderia mudá-la, seu pai não amava a sua mãe e sentia que estava prestes a viver algo maravilhoso ao lado de outra pessoa.Ele se lembrava muito bem de como aquele dia tinha começado corrido para todo mundo, a situação parecia mais um filme antigo do que uma lembrança viva, mas agora a lembran&
Quando chegaram na casa da sua avó Antônia, foi uma alegria só – pelo menos para ele, é lógico –, Daniel nunca imaginou que sentiria tanta a falta de alguém como sentia dela.Daniel foi correndo abraçá-la como se estivesse correndo os cem metros livre em uma final olímpica, a emoção do abraço deve ser a mesma ao saber que venceu a prova.Daniel disse chorando:— Vó... que saudade da senhora.Seus olhos choravam sem parar, ficou mais de quarenta minutos abraçado com ela, se lembrando de como era bom aquele abraço, ouvir aquela voz reconfortante que somente ela tinha, sentir o calor daquele amor que só encontrou em Anna anos mais tarde.— Não precisa me chamar de senhora... – disse ela brava como sempre quando a chamávamos de senhora.Voltar ao passado já tinha valido a p
Provavelmente a visão da sua avó materna trouxe um pouco de tranquilidade na mesma proporção que rever seu pai acelerou seu coração e sua vida, pois vê-lo novamente no auge da sua beleza e virilidade era uma visão completamente diferente do que ele se lembra do decrépito e falido Walter, trouxe um misto de emoções diferente de tudo o que já havia enfrentado até então.Vendo-o daquela forma, Daniel fez uma promessa a si mesmo que iria garantir com todas as forças que ele não caísse em desgraça e vê-lo definhar como aconteceu, ao ponto de sua mãe ver uma foto dele e perguntar quem era aquele homem.Seu pai, como já sabia Daniel, se casou poucas semanas depois de se separar de sua mãe com uma secretária chamada, Marie, e pouco do que se lembrava daqueles momentos terrivelmente tristes, pioraram agora que tinha no&cc