Nesse momento quem deu gargalhada foi Daniel, mesmo lutando contra as suas dores, ele sentiu um súbito riso que era mais forte do que ele, mas ao invés do velho ficar bravo com ele, sorriu também como se fossem amigos há muito tempo.
— Nem eu acreditaria se contasse – disse o velho contendo o riso –, mas é verdade, adoro compartilhar isso com as pessoas, me faz tão bem, parece que tira um peso das minhas costas.
Quando ele disse isso, ambos deram risada novamente, Daniel sabia que seria grosseria demais de sua parte rir de alguém mais velho que ele, mas depois daquilo não dava mais para continuar sisudo.
— Vim aqui – continuou o velho após Daniel se conter – porque você disse que eu não me importava com você.
— E não se importa mesmo, é bom poder falar na cara de Deus isso.
A voz de Daniel transparecia muito sarc
Quando Daniel acordou no dia seguinte – era aproximadamente oito horas da manhã do dia 24 de abril de 1988 –, no fatídico dia em que seus pais se separaram, ele estava novamente na casa de sua avó paterna e seu pai vendo a sua mãe arrumando as coisas para a mudança completamente em silêncio, em certo aspecto parecendo aliviado com tudo aquilo que estava acontecendo, como se um fardo estivesse saindo das suas costas.Não é possível que ele esteja feliz com essa situação...Mas a verdade era nua e crua, e nada e nem ninguém poderia mudá-la, seu pai não amava a sua mãe e sentia que estava prestes a viver algo maravilhoso ao lado de outra pessoa.Ele se lembrava muito bem de como aquele dia tinha começado corrido para todo mundo, a situação parecia mais um filme antigo do que uma lembrança viva, mas agora a lembran&
Quando chegaram na casa da sua avó Antônia, foi uma alegria só – pelo menos para ele, é lógico –, Daniel nunca imaginou que sentiria tanta a falta de alguém como sentia dela.Daniel foi correndo abraçá-la como se estivesse correndo os cem metros livre em uma final olímpica, a emoção do abraço deve ser a mesma ao saber que venceu a prova.Daniel disse chorando:— Vó... que saudade da senhora.Seus olhos choravam sem parar, ficou mais de quarenta minutos abraçado com ela, se lembrando de como era bom aquele abraço, ouvir aquela voz reconfortante que somente ela tinha, sentir o calor daquele amor que só encontrou em Anna anos mais tarde.— Não precisa me chamar de senhora... – disse ela brava como sempre quando a chamávamos de senhora.Voltar ao passado já tinha valido a p
Provavelmente a visão da sua avó materna trouxe um pouco de tranquilidade na mesma proporção que rever seu pai acelerou seu coração e sua vida, pois vê-lo novamente no auge da sua beleza e virilidade era uma visão completamente diferente do que ele se lembra do decrépito e falido Walter, trouxe um misto de emoções diferente de tudo o que já havia enfrentado até então.Vendo-o daquela forma, Daniel fez uma promessa a si mesmo que iria garantir com todas as forças que ele não caísse em desgraça e vê-lo definhar como aconteceu, ao ponto de sua mãe ver uma foto dele e perguntar quem era aquele homem.Seu pai, como já sabia Daniel, se casou poucas semanas depois de se separar de sua mãe com uma secretária chamada, Marie, e pouco do que se lembrava daqueles momentos terrivelmente tristes, pioraram agora que tinha no&cc
Sua relação com sua mãe não mudou muito do que era, ela decidiu trabalhar e aos finais de semana revezava entre sair com ele, comer pastel no shopping, assistirem algum filme juntos nos cinemas e sair com seus amigos nas rodas de pagode, de vez em quando Daniel ia junto.Daniel via que a melhor coisa que poderia ter acontecido foi a separação de seus pais, viviam em mundos completamente diferentes e ele estava entre esses mundos e realidades opostas entre si, nunca pendia nem para um lado e nem para outro, ele era, o que eles chamavam de café com leite, mas teoricamente era uma pessoa neutra naquela guerra inútil em que não haviam vencedores.A única viagem que ele fez com ela foi para a praia com diversas amigas dela e ele era o único rapaz da turma, depois de muitos anos ele foi entender o que elas diziam:— Uma pena que ele é tão novinho iríamos no
Certo dia, passeando pelo centro da cidade, parou em frente a uma loja de instrumentos musicais e disse para a sua mãe:— Quero um violão.Sua mãe olhou para ele de forma espantada e ao mesmo tempo o repreendendo.— E desde quando você sabe tocar violão?— Digamos que tenho talento nato, assim como o seu pai.Sua mãe riu.— Meu pai é um mistério da natureza, filho, ele tocava acordeom, um dos instrumentos mais difíceis de se tocar.— Não estou pedindo para me comprar um acordeom, mas um violão.Minha mãe sabia perfeitamente do que ele estava falando, pois, seu pai era regente da banda no quartel e por muito tempo ensinou música para as pessoas dos bairros onde morava.Eles entraram na loja e ele escolheu um violão Folk e disse:— Escolhe uma música.Ela sorriu diante do
O fato de Daniel já conhecer sua própria história fez com que ele moldasse seus próprios acertos e erros, o que gerou novos erros e acertos.Da mesma forma como foi da primeira vez, um mês depois de seus pais terem se separado, Daniel conheceu Marie e diferente da primeira vez ele sabia o terreno que estava pisando, um serpentário venenoso.Marie era uma das mulheres mais lindas que Daniel já havia conhecido e uma espetacular cozinheira, ele não culpada seu pai por cair naquela armadilha, em termos de beleza, ela e sua mãe eram equivalentes, em termos de inteligência também, para Daniel só restou imaginar no campo sexual, ela deveria fazer algo que sua mãe não fazia.Mas conhecendo seu pai como conhecia, Marie era realmente a sua alma gêmea, não tinha como dizer que ambos não tinham sido feitos um para o outro, eram faces opostas da mesma moeda e n
Daniel era indiscutivelmente o melhor aluno de sua classe, mas ele queria algo que o frustrara por muitos anos, ser um jogador da NBA, então de presente de Natal daquele ano ele pediu uma bola.No terreno da casa da sua avó colocou um balde e uma tabela pendurada na parede e treinou como jamais havia treinado.No bairro em que ela morava ele sabia que haviam algumas pessoas que jogavam e desde o começo treinava com elas, os irmãos Leandro “Bem Loko” e Leonardo, que em sua vida passada era seu grande rival nas quadras se tornou seu grande parceiro.De manhã ambos iam para a escola e de tarde treinavam e Daniel à noite tocava violão para espairecer a mente, o que foi diferente da última vez, seu avô Lima, por vê-lo interessado em música, o único da família decidiu se aproximar dele e ambos passavam horam falando de música e dos eventos que ele tocou.
Os anos passaram rapidamente enquanto Daniel treinava exaustivamente para se tornar o melhor jogador de basquete que o Brasil já havia visto depois de Oscar Schimdt, o maior cestinha de todos os tempos do basquete mundial, e uma de suas inúmeras alegrias foi tirar uma foto com ele durante o campeonato mundial em que foi convidado para realizar uma palestra com a equipe.Tanto Daniel quanto Leonardo se tornaram a dupla inseparável em diversos times que jogaram até que chegou um convite inevitável para ambos...Serem draftados na NBA...Leonardo foi draftado em 12º lugar na primeira rodada e diferente do que todos imaginavam, parecia que Daniel não seria, o que causava angústia em todos, seu grande sonho parecia estar indo por água abaixo quando foi chamado em penúltimo lugar pela equipe do seu coração, o Detroit Pistons.Aquilo trouxe um alívio e obviamente as