JuliePareceu bobagem lutar contra aquele exame de sangue à medida que as horas foram passando. Afinal, o quão ruim eu poderia estar que seria considerado grave, certo? Esse era meu pensamento de reconforto.Decidi dormir para esperar o resultado. No começo da noite, Caroline veio me acordar. O clínico estava parado em frente à minha cama com o resultado do exame nas mãos.— Bom, se Caroline não está chorando, quer dizer que não tenho nada — concluí. Só depois de dizer isso foi que reparei no rosto de cada um deles e percebi que Chris não estava no quarto. Isso não era bom sinal. — Eu estou com câncer ou o quê? — questionei, tentando parecer indiferente.— Precisa começar a levar a situação mais a sério, senhorita — o médico disse e a cara dele também não era das melhores. — Você gerou uma hepatite alcoólica, Julie.Ao ouvir isso, não consegui conter meu espanto e meu rosto deve ter me denunciado. Eu sabia que o mal-estar poderia ter a ver com o meu consumo de álcool, mas nunca achei
Caroline — Eu fico com a consciência pesada em vê-la daquele jeito e não contar a verdade — desabafei com Zach, enquanto secava meu cabelo na toalha após sair do banho. Ele estava sentado na cama do quarto, com sua postura impecável e as mãos apoiadas nos joelhos de um modo artificial.— Isso já passou. A essa altura, não faz diferença ela saber daquela visão. Luke morreu e os videntes não podem impedir uma visão de se concluir.— Eu podia ter ido atrás dele. Ou então, podia ter contado a Julie e ela mesma impedia sua vinda.— Foi Loyd quem o trouxe pra cá. Mesmo ela sabendo disso, imagine o perigo de entrar no caminho dele.— Talvez. — Dei de ombros.— Como está se sentindo com as visões?— Estou me acostumando, eu acho. — Eu me sentei ao seu lado, distraída com os anéis que eu usava nos dedos, enquanto refletia sobre tudo que previ até então. — Há coisas piores na minha mente agora…Zach continuou retesado em sua posição, mas seus olhos se arregalaram de susto ao me ouvir dizer iss
Julie estragou nossa viagem para Hudson, mas eu acredito que, a essa altura da história, isso já era esperado. Apesar do meu choque com os acontecimentos a seguir, uma parte de mim estava preparada para algum problema. Por outro lado, eu me surpreendi comigo mesma e com a efervescência dos meus sentimentos diante do que sucedeu. Após Zach partir, fizemos nossas malas para visitar Rufus e resolver o caso que minha irmã tinha encontrado no jornal. De acordo com as notícias, parecia se tratar de uma assombração numa escola de ensino médio.A viagem já durava sete horas quando Chris decidiu estacionar num posto de gasolina para esticar as pernas e comprar o jantar. Fui até a conveniência enquanto ele abastecia o tanque. Julie dormia no banco traseiro há algum tempo. Quando retornei com as sacolas, ainda de longe, pude ver o Heisenberg pegar uma manta e cobrir minha irmã, entocando as beiradas do tecido nos ombros dela para que não caísse. Eu me senti tão mal que perdi a percepção de onde
JulieEra depois da hora do almoço quando desci para a cozinha de Rufus na manhã seguinte. Eu prendia no meu pescoço uma gargantilha preta que Luke me dera depois de encontrar uma foto ridícula da minha adolescência em que eu vestia um estilo gótico piegas. Ele dizia que era grotesco mas que combinava comigo. Lembro de tê-lo socado quando ouvi isso, mas, recordando a brincadeira agora, eu sorria para o nada como uma boba. — Boa noite — Chris zombou, dando garfadas numa embalagem de torta com glacê sem olhar para mim. — Tem um prato pra você na geladeira.— Quem cozinhou? — perguntei de modo descontraído, pegando a carne assada e o purê de batatas coberto por papel filme.— Rufus. O cara é uma dona de casa de primeira.Chris ainda não olhara para mim. O silêncio que se instalou entre nós me deixou desconfortável, já que nunca tive problemas para conversar com ele.— Vou procurar mais sobre o caso da escola — avisei ao terminar de comer.— Hum, sobre isso: acho melhor deixar pra lá.—
Tentei apoiar meu rosto na mão pela milésima vez e senti uma pontada de dor atravessar todo o lado esquerdo do meu rosto. Minha bochecha estava inchada e arroxeada. O hematoma causado por Caroline doía tanto que meu olho latejava. Logo depois de acordar, após Zacharias me nocautear, pesquisei no acervo de Rufus algo que impedisse o anjo de me localizar e descobri o ritual de uma pulseira de ferro banhada em óleo sagrado. Fiz o ritual como indicava o livro e amarrei a pulseira no meu braço. Depois disso, foi motivada pelo ódio que peguei o Jeep de Chris para investigar o caso de assombração na escola.Quando li a notícia no jornal pela primeira vez, um garoto chamado Arnold Rogers fora assassinado a facadas na cidade. A testemunha ocular do assassinato declarara que o assassino calçava chuteiras vermelhas e usava luvas. Conversando com os pais dele, eles afirmaram que ele não possuía nenhum conhecido com razões para atacá-lo. Porém, alguns professores e alunos disseram que ele tinha se
O corpo era um dos colegas de Arnold que eu interrogara. Chequei a respiração do garoto, vendo que ela já não existia. Havia ectoplasma, um líquido escuro e espesso, escorrendo de seu ouvido. Eu me lembrava de quando fui possuída por um fantasma e vi aquela mesma coisa nojenta.Escondendo meu rosto sob o capuz, fui até o Jeep e peguei minha arma carregada com balas de sal, por precaução do que encontraria dentro da escola. Entrei pela porta dos fundos, sentindo a engraçada sensação de familiaridade ao me lembrar de quando invadi minha própria escola após o período para roubar o gabarito das provas do dia seguinte. Naquela época, jamais sonhei que faria o mesmo em nome de uma assombração. Eu desdenharia de um pensamento desses. Agora, por outro lado, eu era apenas seriedade, porque vidas dependiam que ignorássemos a comicidade de caçar monstros para fazermos o trabalho e mantê-las seguras, mesmo que não soubessem do perigo, nem que fazíamos isso.Eu não abriria mão de saber da existênc
Era tarde da noite quando cheguei à fazenda de Rufus. Foi uma surpresa encontrar um embrulho de presente na varanda, especialmente pelo seu formato familiar. Estava acompanhado de um cartão, que dizia: "Para minha nova empregada — Loyd". Rasguei a embalagem de uma só vez, encontrando uma garrafa nova de vinho tinto europeu.Depois de ficar meses sem beber uma gota de álcool, era mortífero olhar para uma bebida como aquela. Eu ainda não me recuperara totalmente da lesão no fígado. O problema voltaria com muita facilidade se eu bebesse uma gota sequer. Iniciou-se uma batalha dentro de mim, pensando na nostalgia de visitar o colegial, na saudade de Luke, na possibilidade de tudo voltar ao que era antes. O sangue esquentou, a boca salivou diante do vinho.Sacudi a cabeça para afastar tudo isso. Subi para o meu quarto e escondi a garrafa em meio às roupas no armário. Por questões práticas, eu poderia ter jogado fora. Mas, naquele momento, senti-me vitoriosa por conseguir manter a garrafa p
CarolineEu não via o mundo real. Meus olhos estavam diante de um dia frio e cinza. A janela da biblioteca de Rufus deixava entrar um vento cortante. Contudo, meu sangue estava quente, porque Henry apontava uma arma para a minha cabeça. Era impossível saber quando a visão acontecia.Voltei à realidade com falta de ar. Levantei da cama, atordoada, sem saber a quem contar aquele futuro. Foi quando ouvi o ronco do Jeep se aproximar da casa e disparei para o andar de baixo.— Chris! — exclamei assim que ele entrou. Porém, sufoquei com minhas palavras ao ver Henry entrar logo depois dele. Julie entrou em seguida, apertando um pano ensanguentado na cabeça. — Eu estava indo ajudar a Julie com o caso — Chris explicou com a expressão carrancuda para o irmão. — Henry encontrou comigo no meio do caminho.— Deu tudo certo? — perguntei.— É, deu — Julie disse, largando-se no sofá com um gemido de dor. Chris foi até a cozinha pegar gelo para seus hematomas. Enquanto isso, Henry parecia não saber