Julie— Você está bem?! Você está bem?! — eu repetia incansavelmente, segurando o rosto de minha irmã nas mãos.— Ela tem uma hemorragia... Onde está o Zacharias? — Henry disse, mais exausto do que jamais o vi. Suas pernas bambearam, a palidez tomou seu rosto inteiro. Chris e Rufus se aproximaram e ampararam seu corpo dos dois lados.Zacharias veio correndo do meio da multidão, tomando minha irmã nos braços para socorrê-la com seus poderes. Imagino que se fosse possível, ele estaria chorando diante da sujeira preta no rosto dela e o banho de sangue do lado direito de seu corpo fraco.— Sinto muito, sinto muito, eu não conseguia te encontrar... — ele lhe dizia
Em dado momento durante o treino, entrei na casa para buscar água para nós. A porta acabara de se fechar atrás de mim, quando uma figura escura chamou a minha atenção para a janela. Observei o gato com um olhar desconfiado, correndo os olhos pelo cômodo à procura de alguém.— Não podemos ficar muito longe. — Axel apareceu ao meu lado com um pequeno estouro de fumaça azul ao seu redor. Não me assustei com seu aparecimento repentino. Zacharias provavelmente tinha me acostumado a eles. Mas ele estava vestido com aquele capuz preto sinistro e irritante que me perseguira antigamente.— Você vai surgir do nada sempre assim? — perguntei, dando-lhe as costas para seguir até a cozinha.— É uma habilidade exclusiva dos bruxos com gene mágico — respondeu, me seguindo. — Acreditou em mim, não é? — indagou, soando com mais certeza que dúvida.— Você acha mesmo que tem alguma chance de movermos um dedo por vocês?— Tenho esperanças. Henry e Chris não são os heróis que vivem pelo trabalho deles? Eu
Zacharias me seguiu de perto, quase respirando no meu cangote. Chamou meu nome com tom de severidade para atrair a minha atenção.— Você sabe a minha resposta — eu disse, virando-me de uma vez só para fitá-lo. Caroline estava a poucos metros e já me localizara com sua cesta repleta de mantimentos. — Não vou ser uma vidente. Sou uma caçadora e estou satisfeita assim.— Sou obrigado a te lembrar da ajuda que você poderia dar à sua irmã se ativasse o seu gene também.— Caroline acredita que foi feita para esse mundo, Zacharias. Ela é feliz assim: achando que é pura obra do destino. O fato de o meu gene depender do meu livre arbítrio é praticamente uma ofensa a ela. Por favor, se você tem qualquer consideração pelos sentimentos dela, não conte a ninguém sobre isso. Tomei minha decisão.Até onde eu sabia, esse segredo foi levado para os nossos túmulos. Apesar da ansiedade que esse assunto me causou no momento, não tive muita oportunidade para pensar nele depois disso, porque Zacharias foi
A voz de Axel me arrancou dos meus pensamentos, dizendo:— Desce logo, gatinha, estamos ficando sem tempo.Chris lhe lançou um olhar fuzilante, parando frente a frente com o bruxo para dizer:— Você sabe que eu e ela estamos juntos, certo? Um pouco de respeito não ia fazer mal.— Ah! Puxa! É sério? Eu não percebi. Talvez vocês devessem arranjar umas alianças. — Axel deu tapinhas cínicos no ombro de Chris e sua voz transbordava falsidade. Desci as escadas e segurei a mão de Chris, puxando-o para continuarmos andando túnel adentro. O caçador pareceu disperso, encarando o chão com muita concentração.— Você quer uma aliança? — perguntou, seus olhos bastante vulneráveis.— É claro que não! — exclamei, fazendo careta em completa aversão a uma ideia tão clichê. — Além disso…Interrompi a mim mesma, porque no meu próximo passo da caminhada, meu pé não encontrou o chão e meu corpo foi arremessado para o nada. As vozes de Axel e Chris gritaram meu nome e a mão do caçador apertou firme o meu b
CarolineEu estava mordendo todas as minhas unhas fora, parada e impotente ao lado daquele celular, sentindo cada fibra de energia mágica vinda do portal e desesperada para ouvir a voz de minha irmã novamente. Pensei que seria mais rápido, mas eles começaram a demorar demais…Foi quando senti uma pontada aguda no peito e ouvi um burburinho de conversas vindo lá de cima. Guardei o celular no meu bolso e me encolhi contra a parede, ficando o mais escondida nas sombras quanto possível. Eu me concentrei, quando os dois bruxos começaram a levitar até o fundo do poço. A energia conjunta era potente e provocou um arrepio forte na minha espinha quando me apoderei dela. Meu corpo ficou leve e o chão tomou distância de mim…— Ei! O que pensa que está fazendo?! — um deles bradou, quando nos encontramos a meio caminho da beirada superior.O segundo bruxo começou a murmurar palavras em latim, que, de acordo com a tradução direta, amaldiçoava meus intestinos a sofrerem hemorragia... Eu me apoderei
2005 — Rockford, Illinois Julie — Que coisa, Caroline! Pare de gritar! — eu pedia, levando minhas mãos ao alto enquanto ela via sua ridícula série. Eram mais de onze da noite. Na minha opinião, já tinha passado a hora de ouvir seus fangirlings. — Julie, deixa de ser chata, vai! — ela disse se ajoelhando no sofá para me encarar. — Vai dizer que esse loiro aqui não é lindo? Ela me puxou para perto da tela da TV. Eu revirei os olhos e suspirei. — Ele é bonito — respondi, apontando para o rapaz de cabelos escuros, um pouco para contradizê-la, um pouco por sinceridade. — Mas mesmo assim, a série é estúpida! — Não é
Eu fiz o favor de esperar Caroline na entrada de casa, para caminharmos juntas até a escola, e fui retribuída com um olhar de desprezo seu para as minhas roupas. Minha preferência era pelas cores escuras e, de regra, mangas longas, mesmo que o dia começasse um pouco quente naquela época do ano. Eu inflei o chiclete que mascava até estourá-lo no rosto dela e Caroline rodou seu vestido florido para me dar as costas e desfilar sobre seus saltos. Minha mochila estava mais pesada que o normal e eu odiava o motivo. Além do livro extra de mil páginas que fomos obrigados a comprar para o assunto novo da aula, eu participava do grupo das líderes de torcida e estava levando o uniforme da equipe. Também tinha o estojo de maquiagem. Aquele peso todo era a consequência de ter hackeado o sistema da escola para aumentar minha nota em Química. O diretor e meus pais me obrigaram a escolher uma atividade extracurricu
Durante milésimos, eu senti a “pasta” no meu rosto, mas depois tive a sensação de que estava caindo e de que não pararia tão cedo. Meu estômago estava embrulhado e estiquei os braços à procura de algo em que me segurar. A sensação era parecida de estar numa montanha-russa. Eu odiava montanhas-russas. Quando decidi abrir a boca e gritar por ajuda, a queda cessou e bati em algo.Fiquei um tempo de olhos fechados, acreditando ser um truque daquela maluca. “Logo, logo essa dor de cabeça terrível vai sumir e aparecerei no meio da escuridão da sala de aula e zombaria de todos ali. Também vou esfregar na cara da Caroline que o mundo da seriezinha dela não existe!”, pensei.Porém, a minha cabeça só latejava cada vez