Eu fiz o favor de esperar Caroline na entrada de casa, para caminharmos juntas até a escola, e fui retribuída com um olhar de desprezo seu para as minhas roupas. Minha preferência era pelas cores escuras e, de regra, mangas longas, mesmo que o dia começasse um pouco quente naquela época do ano. Eu inflei o chiclete que mascava até estourá-lo no rosto dela e Caroline rodou seu vestido florido para me dar as costas e desfilar sobre seus saltos.
Minha mochila estava mais pesada que o normal e eu odiava o motivo. Além do livro extra de mil páginas que fomos obrigados a comprar para o assunto novo da aula, eu participava do grupo das líderes de torcida e estava levando o uniforme da equipe. Também tinha o estojo de maquiagem. Aquele peso todo era a consequência de ter hackeado o sistema da escola para aumentar minha nota em Química. O diretor e meus pais me obrigaram a escolher uma atividade extracurricular, no lugar de ser expulsa, e participar da torcida era a menos detestável delas. Mas isso não significava que era bom, tampouco.
As minhas colegas de equipe eram as mesmas com as quais eu cresci na escola. Às vezes eu as confundia com palhaços, por conta da quantidade de maquiagem em seu rosto. Ou talvez, se houvesse um concurso de cosplay de fantasmas na cidade, elas venceriam.
Elas me detestavam desde sempre, então, se eu não quisesse ser linchada, precisava pintar o rosto também. Como eu era uma das mais altas, eu ficava na base das coreografias, o que, para aquelas otárias de cabelo loiro oxigenado, significava menos poder de fala. O que eu podia fazer? Se eu queria morar sozinha, não podia deixar a escola sem o diploma para um emprego decente.
Então, lá estava eu, no vestiário com elas, colocando a minissaia e o top apertado de tom azul bebê.
—… ela disse que quer que nós aprendamos mais sobre "o mundinho dela"! Dá para acreditar? — Ouvi Ashley dizer com a voz esganiçada, no meio de um assunto qualquer.
— Do que estão falando? — perguntei.
— A Prof.ª de Religião disse que vamos ter outra professora pra dar a aula dela hoje. Ela não ensina o assunto daquele livro novo que tivemos que comprar.
— E sobre o que é?
— Você nem experimentou olhar para o livro? — a líder, Rachel, disse. — Ah, não sei o porquê ainda me surpreendo com a sua falta de disciplina. Por falar nisso, acho que alguém está querendo sair da equipe com esse cabelo.
Eu ergui o dedo do meio para ela. Rachel teria que me arrastar para o salão de beleza se quisesse que eu trocasse a cor castanho-escuro do meu cabelo para o loiro.
— Sobre o que é o livro? — repeti.
Todas elas se entreolharam de um modo suspeito e me deram as costas para fugir da pergunta.
— Um “outro mundo" — respondeu Ashley, fingindo estar dobrando suas roupas. — Dimensões diferentes, magia, essas coisas...
— Mas era só o que me faltava! — exclamei.
— Sabíamos que você não ia gostar...
— E é bom que ela saiba também, porque eu não vou participar dessa aula.
Mas o pior é que fui obrigada! Tentei me esconder no vestiário para evitar a aula, mas o Sr. Linnel, que cuidava da limpeza, ameaçou me entregar para a direção se eu não o acompanhasse até a sala.
A nossa sala de Religião estava com as luzes apagadas e a professora nova colocara cortinas pretas nas janelas. Velas iluminavam precariamente o local e deixavam um cheiro ardido no ambiente. Ouvimos um leve sino tocar e viramos os rostos para o fundo da sala.
— Bom dia, alunos! — uma voz rouca e feminina cumprimentou. — Aqui vocês aprenderão a ir para outros mundos! Se aproximem, se aproximem! Eu me chamo Tristen!
Ela tinha cabelos cacheados e armados, chamativos como seu vestido de estampas fluorescentes e esquisitas. Usava óculos pretos, pequenos e redondos. Uma bengala fina que as pessoas cegas costumavam levar estava deitada ao seu lado. Ela estava sentada em frente a um círculo, onde estavam dispostos um espelho oval e pequenas vasilhas com líquidos espessos de cores escuras (que eu tentava, sem sucesso, não imaginar ser sangue). As vasilhas estavam em cima de símbolos pintados de branco.
Meus colegas se sentaram ao redor disso tudo e eu preferi sentar fora da roda.
— Como vocês sabem — ela começou, mirando seu rosto num ponto aleatório da parede. —, além desse mundo em que vivemos, há outros, que criaturas, desconhecidas por nós, habitam. Como vocês sabem, há o Céu, para onde vão as pessoas que fizeram o bem antes de morrerem, e há o Inferno, onde estão todos aqueles que não foram bons enquanto viviam. Porém, além disso, há outro lugar onde se escondem as criaturas sobrenaturais que morreram.
— E como elas morreram? — Liam, um menino que adorava as aulas de Religião, perguntou com os ombros erguidos de entusiasmo.
— Ah! Boa pergunta, meu jovem, boa pergunta! Pessoas muito especializadas conhecem meios de destruir essas criaturas. Ao morrerem, elas vão para o Purgatório. — Ela deu uma risada infantil. — Admito que eu mesma tenho vontade de conhecer esses meios...
Aquilo já estava me enchendo...
— Desculpe — eu disse, fazendo todos olharem pra mim. —, mas por que a senhora quer saber como essas pessoas matam essas criaturas? Quero dizer, se elas vivem em outra "dimensão", como a senhora disse, do que adiantaria saber como matar, se não tem o que matar?
— Tenho contatos em outros universos e eles me dizem que o mal dos outros mundos está encontrando maneiras de nos alcançar. Vou ensiná-los um pouco sobre esse contato. Por favor, sente-se com seus colegas para que você possa ver melhor, senhorita...
— McCoy — completei, desviando o olhar da mulher, desconfortável com a capacidade dela de saber que eu estava fora do círculo. — E não, obrigada.
— Por que não, querida? — Ela se inclinou na minha direção com curiosidade.
— Porque não vai acontecer nada.
Com isso, seus ombros despencaram e ela voltou à posição normal.
— Como pode ter certeza? — ela perguntou.
— Como pode ter “contatos”?
— Não gosto que me respondam com outra pergunta.
Eu me levantei depressa e invadi o círculo, me perguntando como qualquer coisa naquela aula me ajudaria a ser formada decentemente. Quanta besteira!
— E eu não gosto que duvidem de mim! — eu disse. — O que você vai fazer? Falar palavras numa língua estranha, dizendo que é como se abre o portal e, quando não conseguir, dar a desculpa de que é porque os espíritos não querem deixar?
— Para a sua informação, a língua estranha a qual você se refere é o latim. E os espíritos não têm nada a ver com isso, minha cara. É tudo questão de magia e experiência. — Ela apontou para as vasilhas. Peguei uma delas e aproximei do meu nariz.
— Hum... Sangue de cordeiro, é? Ou de vaca? Onde conseguiu? Você tem um estoque? — perguntei, devolvendo a vasilha ao lugar. — E este espelho? O que vai acontecer com ele? Quebrar?
— Na verdade — uma das meninas da minha equipe, Roberta, disse. —, o vidro do espelho vai se transformar numa pasta prateada, e a pessoa vai passar por ela até a outra dimensão. Provavelmente, não vai sentir dor alguma, mas isso depende de onde você vai cair do outro lado...
Fiquei um pouco chocada com a resposta dela. E mais chocada ainda quando a professora estranha disse que ela estava certa. Bom, talvez Rachel ficasse feliz que uma de nós leu o livro idiota da disciplina.
— Certo, agora eu vou fazer um teste com alguma coisa inanimada — a professora disse, virando o rosto para mim e usando um tom de voz frio. —, e provar para vocês que existem outros mundos. — Eu apenas revirei os olhos em resposta. — Preciso que vocês fechem seus olhos e se concentrem nas palavras que eu vou dizer, mesmo que não saibam latim.
Eu, obviamente, não fechei os olhos. Apenas fiquei olhando cada um deles seguindo os comandos dela, enquanto ela falava as tais palavras. Tristen fazia movimentos circulares com as mãos acima do espelho. Caroline acharia aquela aula fascinante. Com certeza, ela perguntaria à Tristen se poderia ser enviada para a dimensão da série dela. Se pudesse, aposto que ela se mandaria pra lá rapidinho! Sinceramente, mesmo que tudo isso de magia existisse e fosse possível viajar para um lugar onde você seria, provavelmente, recebida por dois jovens bonitões, eu não iria. Estou muito bem (acostumada) com a vida real e pretendo ficar aqui até depois de morrer!
— Muito bem. Podem abrir seus olhos — a professora disse.
Mas o espelho continuava do mesmo jeito! Não havia "pasta" nenhuma!
— Agora, quero que me deem algo para passar por aqui. — Eles entregaram um lápis nas mãos dela. Tristen girou o espelho no chão e largou o lápis bem no meio dele.
De primeira, eu achei mesmo que aquele troço funcionara, pois o lápis desapareceu ao tocar a superfície de vidro. Mas aquilo tinha que ter algum truque! Quando o espelho parou de girar, eu o peguei, fazendo todos soltarem exclamações, e o rodei na minha mão, aproveitando e olhando para onde ele estava e ver se tinha algum buraco por onde o lápis pudesse passar. Porém, infelizmente, não tinha.
— Ela pegou o espelho! — Liam acusou.
— O que pensa que está fazendo, senhorita? — Tristen disse, indignada com a minha atitude.
— Ora, procurando o truque! — eu disse.
— Certo, certo — ela disse indiferente, esticando as mãos para tentar tomar o espelho da minha mão. — Agora que já viu que não tem truque, pode me devolver isso?
Soltei-o no chão não muito delicadamente, mas tentando não quebrar. Afinal, se aquilo estragasse, eu seria mandada para o universo da detenção!
— Você disse que ela estava certa com aquela história de pasta! — eu disse. — Então, onde está?
— Ela estava certa, mas isso só aconteceria se tivéssemos escolhido um lugar para m****r uma pessoa. A pasta é uma adaptação ao nosso corpo. Eu convoquei um lugar aleatório.
— Ok! Então "convoque" algum lugar específico!
— Sim, mas qual?
Eu pensei um pouco. A professora maluca estava me dando escolha e, sendo assim, eu ia usar isso para mostrar aos outros que eu estava certa! Inclusive à Caroline.
— Tem algum limite? — perguntei.
— Não — ela respondeu.
— Ótimo! Quero que mande algum deles para um dos seus lugares mágicos e o traga de volta depois! Esta pessoa vai contar como foi a viagem, se é que vai ter, e então tiramos a conclusão.
— "Algum deles"? — Tristen questionou. — Mas quem seria melhor para isso do que você, senhorita McCoy? Quem melhor do que a pessoa que está duvidando do teste?
Meu estômago revirou. Não, eu não queria fazer o teste. Sabe por quê? Porque essa maluca vai fazer com que eu me machuque ao pular num troço concreto! Já estava provado que ela queria muito mais causar o sensacionalismo, em vez de realmente nos ensinar algo. Entretanto, se eu dissesse que não faria, ficaria com cara de tonta na frente de todo mundo e pagaria o maior mico! Além de virar piada na escola! Eu já era perseguida demais pelas meninas da equipe de torcida para trazer mais um pouco de atenção para cima de mim.
— Tudo bem! Eu vou — eu disse.
Ela já ia fechando os olhos, quando pareceu lembrar de uma coisa.
— Ah! Sugiro que pegue seus pertences, senhorita.
— Ah, é! Tem razão! — eu ironizei. — Eu posso aparecer no topo do Everest e precisar trocar de roupa.
Eu ainda vestia o uniforme do treino, que consistia naquelas peças super curtas. Não estava prestando atenção no que fazia quando peguei a mochila e retornei ao círculo. A única coisa que passava pela minha cabeça era a ansiedade pelo momento em que eu tocaria o vidro do espelho e aquela aula seria encerrada.
— Certo... — Tristen disse, me analisando. — Agora me diga para onde você quer ir.
— Uma série de TV. Aquela com os dois idiotas que caçam monstros.
— Acho que já ouvi falar. E você quer voltar para o nosso mundo?
— Se liga! Você não vai conseguir me m****r pra lá!
— Vou levar isso como um "não".
Ela sorriu de um modo estranho e cruzei os braços. Eu não gostava de como ela estava tão confiante.
Tristen fechou os olhos outra vez e voltou a fazer os movimentos circulares com as mãos, seus lábios disparando palavras em latim. Desta vez, ela ficou mais tempo fazendo isso e os outros nem se importaram, por também estarem de olhos fechados. Em dado momento, eu me cansei de toda essa palhaçada e virei as costas, indo em direção à porta.
— Senhorita... — Tristen me chamou, fazendo com que eu me virasse. — Está pronto.
Eu rondei o círculo deles, encarando a professora. Quando ainda estava um pouco longe, olhei para o espelho. E adivinha? O vidro tinha se transformado na pasta. Recuei um pouco para tentar vencer a má iluminação que as velas proporcionavam à sala, mas, independente do ângulo de visão, o vidro continuava transformado.
— Ora, vamos lá, senhorita! — Tristen se levantou em encorajamento. — Você é uma dessas pessoas que só acredita vendo. Mas eu questiono isso, porque, afinal, não é verdade que existe ilusão de ótica?
Eu assenti com a cabeça, incapaz de vencer a secura da minha boca para falar. Mas então lembrei que ela não podia me ver e respondi que sim.
— Você, cética como é, devia levar isso em conta também — ela continuou. — Para saber se é ou não real, você tem que experimentar.
Ok, pense comigo. Se eu realmente atravessasse aquilo como o lápis pareceu ter atravessado, Tristen estaria me castigando por enfrentá-la. Ela parecia muito certa do que ia acontecer, pois se não acontecesse nada, ela pagaria o maior mico e eu faria questão que ela fosse mandada para um hospício. Mesmo assim, eu tinha que tocar aquela superfície esquisita. Depois de tanto ter debatido com ela, dar as costas àquela sua postura afrontosa seria vergonhoso para mim.
Aproximei-me com cuidado, cruzei o círculo de alunos e parei de frente para a professora. Ela olhava para um ponto aleatório na parede e sorria. Ergui meu pé para tocar a superfície do espelho e, antes que eu pudesse me equilibrar, duas mãos me empurraram de cara naquilo.
Durante milésimos, eu senti a “pasta” no meu rosto, mas depois tive a sensação de que estava caindo e de que não pararia tão cedo. Meu estômago estava embrulhado e estiquei os braços à procura de algo em que me segurar. A sensação era parecida de estar numa montanha-russa. Eu odiava montanhas-russas. Quando decidi abrir a boca e gritar por ajuda, a queda cessou e bati em algo.Fiquei um tempo de olhos fechados, acreditando ser um truque daquela maluca. “Logo, logo essa dor de cabeça terrível vai sumir e aparecerei no meio da escuridão da sala de aula e zombaria de todos ali. Também vou esfregar na cara da Caroline que o mundo da seriezinha dela não existe!”, pensei.Porém, a minha cabeça só latejava cada vez
Eu daria qualquer coisa para trocar de lugar com a Caroline. Aquela pirralha provavelmente estava há horas em frente à sua penteadeira, tirando a maquiagem que usava no dia e passando cremes para dormir. Era uma grande idiotice, mas era melhor do que a minha situação. Meus pulsos estavam esticados para o alto e amarrados um ao outro há tanto tempo, que eu tentava mover meus dedos e não tinha certeza se estavam ali. O sangue já tinha descido demais. Olhando para cima, havia apenas breu. O único feixe de luz que entrava sequer me alcançava. Eu já estava tonta de fúria com o incessante ploc, ploc da água pingando em algum lugar daquela mina. Pelos meus pés, passava um par de trilhos, abandonados há muito tempo. A coisa que me sequestrara tinha me deixado sozinha ali há horas.
— Será que dá para pular a parte de tentar me matar? — perguntei, indicando a lâmina afiada. Minha inquietação deve ter ficado evidente no meu rosto, porque Henry se apressou a explicar o motivo da faca. Os dois suspeitavam que eu não fosse humana. Havia alguns tipos de criaturas sobrenaturais com motivos para entrar na vida deles de modo suspeito, como eu fiz, e eles queriam verificar que eu não era um deles. Para isso, precisavam me benzer com água benta e me cortar com a faca de prata idiota. Demônios queimavam quando entravam em contato com a água santa. Outras criaturas, como lobisomens e a tal Shtriga que Caroline tinha mencionado antes, eram vulneráveis ao metal sagrado, a prata. Henry me entregou um copo com água e sal, para garantir também que eu não estava possuída por nenhum fantasma. Enquanto eu apertava o algodão no meu braço por cima do corte da
A casa de Rufus nos obrigou a subir uma enorme colina para alcançá-la. Tinha chovido em Hudson e a entrada da fazenda que o homem administrava era uma grande poça de lama. Chris não quis submeter seu Jeep idiota à sujeira. Eu, por outro lado, estava muito disposta a submeter sua cara a socos. Rufus era dono de cabelos e barba grisalhos que alcançavam apenas a altura do meu ombro. Os olhos dele se espremiam para me analisar, como se eu fosse muito audaciosa por olhá-lo de volta, tendo que abaixar a cabeça e lembrá-lo que era muito miúdo. — Você a adotaram ou algo parecido? — ele perguntou com o rosto franzido em descrença. — Eu tentei ficar no orfanato, mas... — Cruzei os braços, emburrando a cara. Rufus arregalou os olhos em assombro para os rapazes e Henry fez um si
O Hospício St. Bonnevenue não era nem um pouco como o do meu mundo. Ele também era bem sinistro, mas o que eu conhecia não estava parcialmente chamuscado, nem meio desabado. A recepção estava demolida, pichações manchavam as paredes, pedaços de concreto empoeiravam o chão com a cor branca.Por sorte, era de dia. Caso contrário, eu me borraria de medo naquele lugar. Uma corrente de ar frio mantinha os pelos dos meus braços todos de pé. Não me confortava que o Jeep estivesse parado do lado de fora, reafirmando-me que eu não estava sozinha ali dentro. Eu caminhava pelos corredores desertos, à procura dos dois, esperando pegá-los no flagra. Fazendo o quê? Eu não tinha certeza. Eu me sentia sozinha.Após a recepção,
Como era quase o fim da tarde, eles decidiram que Chris poderia finalizar o caso dos espíritos sozinho e Henry ficaria na fazenda, ajudando Rufus e eu a entendermos melhor viagens para outras dimensões. Eu peguei o livro que escondera na gaveta e me esforcei para lê-lo, ouvindo minha playlist nos fones de ouvido, encolhida no sofá. Rufus ficava atrás de sua mesa, Henry usava uma mesa de estudos perto da janela. Quando Chris voltou, se juntou ao irmão, virando goles de cerveja enquanto lia. Passamos aproximadamente cinco dias assim. Contei a eles sobre minha conversa com Caroline, sobre Tristen e ela ser uma Shtriga. Contei também que roubara dinheiro de Henry, quando ele começou a achar que o culpado por isso era Chris. O caçula reforçou que, caso eu precisasse de algo, bastava pedir a eles, então ele me acompanhou para fazer compras de todo o básico que ficara no meu mundo: roupas, produtos de higiene, u
Henry e eu estávamos saindo do estúdio de tatuagem. Na minha clavícula, havia um desenho de cor negra num formato engraçado de sol, coberto por papel filme. Eu estava prestes a perguntar porque uma coisa daquelas me protegeria contra possessões demoníacas, mas ele estava numa ligação tensa com Chris no celular e me deu a seguinte notícia ao desligar:— Ela morreu. A filha dos LeBlanc que fez aniversário hoje morreu.— Mas Chris não destruiu o colar?! — perguntei.— É, mas ele reapareceu com a menina. Não era para isso ter acontecido…Henry ficou sombriamente pensativo enquanto entrava no carro roubado e me esperava entrar. Seus dedos esmagavam o volan
Em seguida, a água veio inundar minha garganta, adoçando todos os meus sentidos e me sufocando. Era como ser acertada no peito de novo e de novo por uma mão de aço. Quis agarrá-la e pará-la, mas a água vinha de dentro de mim e me distraía. Em meio às ondas doces que escorriam da minha boca, senti lábios tocarem os meus e consegui encontrar-me com o oxigênio.— Respire, Julie… — Henry disse. Por um segundo, a onda que senti foi de segurança, expulsando todas as minhas inquietações.Minha visão estava enegrecida, até que comecei a ver o céu e os olhos verdes de Henry preocupados acima de mim.— Oi… — eu grasnei. Minha garganta parecia ter sido lixada por horas.