Em seguida, a água veio inundar minha garganta, adoçando todos os meus sentidos e me sufocando. Era como ser acertada no peito de novo e de novo por uma mão de aço. Quis agarrá-la e pará-la, mas a água vinha de dentro de mim e me distraía. Em meio às ondas doces que escorriam da minha boca, senti lábios tocarem os meus e consegui encontrar-me com o oxigênio.
— Respire, Julie… — Henry disse. Por um segundo, a onda que senti foi de segurança, expulsando todas as minhas inquietações.
Minha visão estava enegrecida, até que comecei a ver o céu e os olhos verdes de Henry preocupados acima de mim.
— Oi… — eu grasnei. Minha garganta parecia ter sido lixada por horas.
A maneira como Henry precisou se entreolhar com Chris antes de me responder foi muito suspeita.— Não sei — ele disse.— Mentira — repliquei.— Eu juro que não sei, Julie. Olha, isso tem acontecido há alguns meses, mas eu não achei que teria qualquer coisa a ver com você, até ela entrar em contato com você na casa do Rufus. Por alguma razão, eu consigo sentir quando ela faz isso.— Então, ela provavelmente está tentando de novo agora mesmo, né?Eu não esperei pela resposta, peguei a bebida esquisita de ervas e me deitei para falar com a minha irmã. Eles tentaram dizer algo, mas não dei aten
Os rapazes disseram que queriam ficar na biblioteca comigo e eu me senti amparada pela ajuda deles, por um tempo. Mas as coisas saíram de controle em questão de minutos. Dentro de meia hora, a noite chegou e a ansiedade pela manhã seguinte impediu que eu continuasse lendo. Então, de vez em quando, eu escapava para me esconder atrás das estantes e dar um gole de paz do meu cantil. Achei que eu poderia manter o controle, afinal, logo iríamos embora para o hotel dormir. Porém, o pai de Henry e Chris ligou para eles, por volta das sete da noite, e ambos saíram para comprar comida a atendê-lo. Eu fingi não perceber que isso era uma desculpa para falarem sobre o que quer que eles não queriam que eu escutasse. Enquanto isso, enchi mais um pouco o cantil, esperando que retornassem, bebendo outro e outro gole, misturando diferentes pensamentos sobre eles e seus segredos, sobre as inten
Enquanto os três conversavam, decidi chamar a atenção deles para o fato de que aquele era o meu quarto de hotel e que estavam atrapalhando meu descanso antes da minha partida.— Julie, nós queremos te ajudar… — Henry respondeu.— Seu pai parece ter outros planos — eu disse.— Do que ela tá falando? — Chris perguntou a David, com seu semblante retorcido em curiosidade.— Eu só imaginei que Julie poderia cortar o mal pela raiz e ajudar todos nós a salvar os outros mundos de futuras invasões — David respondeu.Tive vontade de socar a cara dele por usar aquelas palavras, porque era justamente o tipo de coisa que mot
Houve um longo momento de silêncio diante do corpo de David Heisenberg. Henry perdera toda a cor do rosto.— Ele não era um receptáculo muito bom, sabe. Estava sempre tentando tomar o controle de mim — o demônio disse, ainda possuindo o corpo de Chris. Seu tom era cruelmente divertido. Eu vi o nojo que Henry sentia ao ouvi-lo falar daquela maneira.— Quando você o possuiu? — perguntei ao demônio.— Há dois dias — ele respondeu. — Ele estava numa ligação com o loirinho aqui, conversando sobre você, então eu soube onde te encontrar. Eu não entendia o porquê de ele não se aproximar de você antes, mas agora entendo. Ele não queria ficar de frente com a aberração
A sensação detestável de estar numa montanha-russa retornou. Desta vez, durou muito mais, durou meses. Meu pós-retorno foi bem conturbado, para dizer o mínimo.Levou dias para convencer meus pais de que eu havia fugido e de que Caroline não tinha nada a ver com isso, mas os dois insistiam em ralhar com nós duas. Com o passar do tempo, eles nos diziam palavras humilhantes pela louça que ficava na pia de um dia para o outro, por fazermos qualquer coisa que não fosse os deveres da escola, por falarmos muito alto... No fim das contas, o que parecia mesmo é que, no geral, estavam desapontados com a minha volta.Minha irmã me perguntou incessantemente sobre meu tempo com Henry e Chris. Logo percebi que eu não queria revisitar aquelas lembranças mais que o necessário e, c
Era uma noite de dezembro, fazia um frio cortante. Minhas mãos estavam protegidas por luvas, mas meu rosto sentia os flocos de neve caindo e me congelando. Meu conversível me expunha ao frio e não havia um teto que eu pudesse colocar sobre mim. “Só mais cinco minutos…” pensei para me consolar.Estava parada em frente ao bar em que tinha me apresentado. Pois é, eu fazia shows agora. Os últimos seis anos de estudo tinham que ter levado a alguma coisa. Eu tinha um parceiro de palco, Luke, que conheci na universidade da Caroline. Naquela época, eu me apresentei numa festa de comemoração de alguns graduandos e ele, sendo filho do coordenador do curso dos estudantes, estava lá, como um parasita. Ele se ofereceu para me pagar uma bebida e depois me ajudou a guardar os equipamentos de som. Depois, disse que queria
Sua respiração ia contra a minha orelha. A voz masculina sussurrou para mim: — Shhh… Eu vou te soltar e você vai ficar quietinha, falou? Eu assenti com a cabeça imediatamente, desesperada para me libertar e, o mais importante: atordoada com o absurdo fato de que aquela voz me era muito familiar. Assustada demais para tirar qualquer conclusão, aproveitei quando ele me soltou e acertei uma cotovelada em sua barriga. Ele se curvou, gemendo e vulnerável. Recuperei minha faca e parti para cima dele. — Ei, ei! Julie! — exclamou uma terceira voz. Meu pulso que segurava a faca foi impedido pelo aperto de uma mão gigante e tive que soltar o cabo. O homem curvado se endireitou, a boca estupidamente aberta para procurar ar. Agora, a luz do lado de fora o iluminava o basta
A entrada do demônio despertou em mim as lembranças do meu último dia no mundo sobrenatural, quando Henry e Chris perderam seu pai. Aquele era seu trabalho, matar demônios, e no entanto, levou apenas um segundo para que aquela criatura diabólica usasse o corpo de Chris para assassiná-lo. O fato de que, agora, Caroline estava parada e indefesa diante de uma daquelas coisas me transformou.— Olá, meninos — disse o homem com um sorriso estranhamente amigável. Ele era baixinho e vestia um pulôver, que talvez sua avó tivesse lhe dado. Seu rosto era impecavelmente cuidado, a pele limpa, as sobrancelhas ridiculamente delineadas. Tive nojo dele assim que o vi. — Por que não me disseram aonde iam? Fiquei preocupado! — Seu tom meloso aumentou o meu enjoo.— Loyd! Como