Enquanto os três conversavam, decidi chamar a atenção deles para o fato de que aquele era o meu quarto de hotel e que estavam atrapalhando meu descanso antes da minha partida.
— Julie, nós queremos te ajudar… — Henry respondeu.
— Seu pai parece ter outros planos — eu disse.
— Do que ela tá falando? — Chris perguntou a David, com seu semblante retorcido em curiosidade.
— Eu só imaginei que Julie poderia cortar o mal pela raiz e ajudar todos nós a salvar os outros mundos de futuras invasões — David respondeu.
Tive vontade de socar a cara dele por usar aquelas palavras, porque era justamente o tipo de coisa que mot
Houve um longo momento de silêncio diante do corpo de David Heisenberg. Henry perdera toda a cor do rosto.— Ele não era um receptáculo muito bom, sabe. Estava sempre tentando tomar o controle de mim — o demônio disse, ainda possuindo o corpo de Chris. Seu tom era cruelmente divertido. Eu vi o nojo que Henry sentia ao ouvi-lo falar daquela maneira.— Quando você o possuiu? — perguntei ao demônio.— Há dois dias — ele respondeu. — Ele estava numa ligação com o loirinho aqui, conversando sobre você, então eu soube onde te encontrar. Eu não entendia o porquê de ele não se aproximar de você antes, mas agora entendo. Ele não queria ficar de frente com a aberração
A sensação detestável de estar numa montanha-russa retornou. Desta vez, durou muito mais, durou meses. Meu pós-retorno foi bem conturbado, para dizer o mínimo.Levou dias para convencer meus pais de que eu havia fugido e de que Caroline não tinha nada a ver com isso, mas os dois insistiam em ralhar com nós duas. Com o passar do tempo, eles nos diziam palavras humilhantes pela louça que ficava na pia de um dia para o outro, por fazermos qualquer coisa que não fosse os deveres da escola, por falarmos muito alto... No fim das contas, o que parecia mesmo é que, no geral, estavam desapontados com a minha volta.Minha irmã me perguntou incessantemente sobre meu tempo com Henry e Chris. Logo percebi que eu não queria revisitar aquelas lembranças mais que o necessário e, c
Era uma noite de dezembro, fazia um frio cortante. Minhas mãos estavam protegidas por luvas, mas meu rosto sentia os flocos de neve caindo e me congelando. Meu conversível me expunha ao frio e não havia um teto que eu pudesse colocar sobre mim. “Só mais cinco minutos…” pensei para me consolar.Estava parada em frente ao bar em que tinha me apresentado. Pois é, eu fazia shows agora. Os últimos seis anos de estudo tinham que ter levado a alguma coisa. Eu tinha um parceiro de palco, Luke, que conheci na universidade da Caroline. Naquela época, eu me apresentei numa festa de comemoração de alguns graduandos e ele, sendo filho do coordenador do curso dos estudantes, estava lá, como um parasita. Ele se ofereceu para me pagar uma bebida e depois me ajudou a guardar os equipamentos de som. Depois, disse que queria
Sua respiração ia contra a minha orelha. A voz masculina sussurrou para mim: — Shhh… Eu vou te soltar e você vai ficar quietinha, falou? Eu assenti com a cabeça imediatamente, desesperada para me libertar e, o mais importante: atordoada com o absurdo fato de que aquela voz me era muito familiar. Assustada demais para tirar qualquer conclusão, aproveitei quando ele me soltou e acertei uma cotovelada em sua barriga. Ele se curvou, gemendo e vulnerável. Recuperei minha faca e parti para cima dele. — Ei, ei! Julie! — exclamou uma terceira voz. Meu pulso que segurava a faca foi impedido pelo aperto de uma mão gigante e tive que soltar o cabo. O homem curvado se endireitou, a boca estupidamente aberta para procurar ar. Agora, a luz do lado de fora o iluminava o basta
A entrada do demônio despertou em mim as lembranças do meu último dia no mundo sobrenatural, quando Henry e Chris perderam seu pai. Aquele era seu trabalho, matar demônios, e no entanto, levou apenas um segundo para que aquela criatura diabólica usasse o corpo de Chris para assassiná-lo. O fato de que, agora, Caroline estava parada e indefesa diante de uma daquelas coisas me transformou.— Olá, meninos — disse o homem com um sorriso estranhamente amigável. Ele era baixinho e vestia um pulôver, que talvez sua avó tivesse lhe dado. Seu rosto era impecavelmente cuidado, a pele limpa, as sobrancelhas ridiculamente delineadas. Tive nojo dele assim que o vi. — Por que não me disseram aonde iam? Fiquei preocupado! — Seu tom meloso aumentou o meu enjoo.— Loyd! Como
Despertei no meio da noite, ouvindo gritos desesperados de Caroline no quarto. Na noite anterior, eu bebera um pouco do uísque do frigobar do quarto, mas a bebida me nocauteara rápido, antes que eu conseguisse descartar a evidência. Encontrei os pequenos frascos de vidro deitados ao lado da minha cabeça e meu coração disparou de urgência, temendo que Caroline os tivesse visto. Eu os meti dentro da fronha do meu travesseiro, e só então percebi que não era isso a desesperar minha irmã.Saltei da cama, puxando minha faca de baixo do travesseiro e acendendo a luz do abajur. Estávamos sozinhas, sem nenhuma ameaça à vista, mas ela continuava gritando no meio de seu sono, se debatendo sob os edredons.— Caroline! Caroline! — exclamei, segurando seus bra&cc
Viajamos por tempo o bastante para garantir que não estávamos sendo seguidos por Loyd. A viagem me fez dormir, ouvindo Chris xingar o tal anjo, Zacharias, pela sua ausência num momento crucial como aquele, em que deveria nos ajudar. Quando acordei, já era noite outra vez. Caroline estava com a cabeça encostada na porta, adormecida. Henry tinha o rosto enterrado nas mãos, ainda sofrendo com as reclamações do irmão.— Afinal, pra quê precisamos aturar a cara idiota dele de vez em quando, se ele nem consegue fazer o trabalho dele quando a gente precisa? — Chris dizia, pela milésima vez.— Não fico nem um pouco surpresa por ele não ter aparecido — comentei com a voz embargada de sono.— Por que não? — Henry perguntou, mirando os olhos cor de esmeralda em mim.— Sei lá, ele podia ter me dado qualquer
Atrás do palco da boate, havia um corredor de quartos. Cada porta possuía uma sexy luz vermelha acima que a iluminava, com uma dramaticidade que me fazia pensar: “Após cruzar essa porta, tudo vai mudar”. Esse pensamento teve o poder de afogar minhas entranhas num balde de medo. Estiquei minha mão e segurei a de Henry, lembrando-me de como ele costumava me trazer paz. Havia casais passando por nós, entrando e saindo dos quartos. No palco, alguém com uma voz desafinada grasnava uma música. A agitação do local me deixava ansiosa e sedenta por um gole de paz, e, o mais importante, me fazia perceber que eu estava caminhando com Henry para aquilo que eu queria evitar desde que cheguei.Nós entramos no quarto. Ele fechou a porta, observando-me com cautela. O som externo desapareceu. Havia apenas nós dois ali dentro, ele estava perto o bastante para que eu realizasse aquele desejo secreto de sent