A voz de Axel me arrancou dos meus pensamentos, dizendo:— Desce logo, gatinha, estamos ficando sem tempo.Chris lhe lançou um olhar fuzilante, parando frente a frente com o bruxo para dizer:— Você sabe que eu e ela estamos juntos, certo? Um pouco de respeito não ia fazer mal.— Ah! Puxa! É sério? Eu não percebi. Talvez vocês devessem arranjar umas alianças. — Axel deu tapinhas cínicos no ombro de Chris e sua voz transbordava falsidade. Desci as escadas e segurei a mão de Chris, puxando-o para continuarmos andando túnel adentro. O caçador pareceu disperso, encarando o chão com muita concentração.— Você quer uma aliança? — perguntou, seus olhos bastante vulneráveis.— É claro que não! — exclamei, fazendo careta em completa aversão a uma ideia tão clichê. — Além disso…Interrompi a mim mesma, porque no meu próximo passo da caminhada, meu pé não encontrou o chão e meu corpo foi arremessado para o nada. As vozes de Axel e Chris gritaram meu nome e a mão do caçador apertou firme o meu b
CarolineEu estava mordendo todas as minhas unhas fora, parada e impotente ao lado daquele celular, sentindo cada fibra de energia mágica vinda do portal e desesperada para ouvir a voz de minha irmã novamente. Pensei que seria mais rápido, mas eles começaram a demorar demais…Foi quando senti uma pontada aguda no peito e ouvi um burburinho de conversas vindo lá de cima. Guardei o celular no meu bolso e me encolhi contra a parede, ficando o mais escondida nas sombras quanto possível. Eu me concentrei, quando os dois bruxos começaram a levitar até o fundo do poço. A energia conjunta era potente e provocou um arrepio forte na minha espinha quando me apoderei dela. Meu corpo ficou leve e o chão tomou distância de mim…— Ei! O que pensa que está fazendo?! — um deles bradou, quando nos encontramos a meio caminho da beirada superior.O segundo bruxo começou a murmurar palavras em latim, que, de acordo com a tradução direta, amaldiçoava meus intestinos a sofrerem hemorragia... Eu me apoderei
2005 — Rockford, Illinois Julie — Que coisa, Caroline! Pare de gritar! — eu pedia, levando minhas mãos ao alto enquanto ela via sua ridícula série. Eram mais de onze da noite. Na minha opinião, já tinha passado a hora de ouvir seus fangirlings. — Julie, deixa de ser chata, vai! — ela disse se ajoelhando no sofá para me encarar. — Vai dizer que esse loiro aqui não é lindo? Ela me puxou para perto da tela da TV. Eu revirei os olhos e suspirei. — Ele é bonito — respondi, apontando para o rapaz de cabelos escuros, um pouco para contradizê-la, um pouco por sinceridade. — Mas mesmo assim, a série é estúpida! — Não é
Eu fiz o favor de esperar Caroline na entrada de casa, para caminharmos juntas até a escola, e fui retribuída com um olhar de desprezo seu para as minhas roupas. Minha preferência era pelas cores escuras e, de regra, mangas longas, mesmo que o dia começasse um pouco quente naquela época do ano. Eu inflei o chiclete que mascava até estourá-lo no rosto dela e Caroline rodou seu vestido florido para me dar as costas e desfilar sobre seus saltos. Minha mochila estava mais pesada que o normal e eu odiava o motivo. Além do livro extra de mil páginas que fomos obrigados a comprar para o assunto novo da aula, eu participava do grupo das líderes de torcida e estava levando o uniforme da equipe. Também tinha o estojo de maquiagem. Aquele peso todo era a consequência de ter hackeado o sistema da escola para aumentar minha nota em Química. O diretor e meus pais me obrigaram a escolher uma atividade extracurricu
Durante milésimos, eu senti a “pasta” no meu rosto, mas depois tive a sensação de que estava caindo e de que não pararia tão cedo. Meu estômago estava embrulhado e estiquei os braços à procura de algo em que me segurar. A sensação era parecida de estar numa montanha-russa. Eu odiava montanhas-russas. Quando decidi abrir a boca e gritar por ajuda, a queda cessou e bati em algo.Fiquei um tempo de olhos fechados, acreditando ser um truque daquela maluca. “Logo, logo essa dor de cabeça terrível vai sumir e aparecerei no meio da escuridão da sala de aula e zombaria de todos ali. Também vou esfregar na cara da Caroline que o mundo da seriezinha dela não existe!”, pensei.Porém, a minha cabeça só latejava cada vez
Eu daria qualquer coisa para trocar de lugar com a Caroline. Aquela pirralha provavelmente estava há horas em frente à sua penteadeira, tirando a maquiagem que usava no dia e passando cremes para dormir. Era uma grande idiotice, mas era melhor do que a minha situação. Meus pulsos estavam esticados para o alto e amarrados um ao outro há tanto tempo, que eu tentava mover meus dedos e não tinha certeza se estavam ali. O sangue já tinha descido demais. Olhando para cima, havia apenas breu. O único feixe de luz que entrava sequer me alcançava. Eu já estava tonta de fúria com o incessante ploc, ploc da água pingando em algum lugar daquela mina. Pelos meus pés, passava um par de trilhos, abandonados há muito tempo. A coisa que me sequestrara tinha me deixado sozinha ali há horas.
— Será que dá para pular a parte de tentar me matar? — perguntei, indicando a lâmina afiada. Minha inquietação deve ter ficado evidente no meu rosto, porque Henry se apressou a explicar o motivo da faca. Os dois suspeitavam que eu não fosse humana. Havia alguns tipos de criaturas sobrenaturais com motivos para entrar na vida deles de modo suspeito, como eu fiz, e eles queriam verificar que eu não era um deles. Para isso, precisavam me benzer com água benta e me cortar com a faca de prata idiota. Demônios queimavam quando entravam em contato com a água santa. Outras criaturas, como lobisomens e a tal Shtriga que Caroline tinha mencionado antes, eram vulneráveis ao metal sagrado, a prata. Henry me entregou um copo com água e sal, para garantir também que eu não estava possuída por nenhum fantasma. Enquanto eu apertava o algodão no meu braço por cima do corte da
A casa de Rufus nos obrigou a subir uma enorme colina para alcançá-la. Tinha chovido em Hudson e a entrada da fazenda que o homem administrava era uma grande poça de lama. Chris não quis submeter seu Jeep idiota à sujeira. Eu, por outro lado, estava muito disposta a submeter sua cara a socos. Rufus era dono de cabelos e barba grisalhos que alcançavam apenas a altura do meu ombro. Os olhos dele se espremiam para me analisar, como se eu fosse muito audaciosa por olhá-lo de volta, tendo que abaixar a cabeça e lembrá-lo que era muito miúdo. — Você a adotaram ou algo parecido? — ele perguntou com o rosto franzido em descrença. — Eu tentei ficar no orfanato, mas... — Cruzei os braços, emburrando a cara. Rufus arregalou os olhos em assombro para os rapazes e Henry fez um si