JulieEra depois da hora do almoço quando desci para a cozinha de Rufus na manhã seguinte. Eu prendia no meu pescoço uma gargantilha preta que Luke me dera depois de encontrar uma foto ridícula da minha adolescência em que eu vestia um estilo gótico piegas. Ele dizia que era grotesco mas que combinava comigo. Lembro de tê-lo socado quando ouvi isso, mas, recordando a brincadeira agora, eu sorria para o nada como uma boba. — Boa noite — Chris zombou, dando garfadas numa embalagem de torta com glacê sem olhar para mim. — Tem um prato pra você na geladeira.— Quem cozinhou? — perguntei de modo descontraído, pegando a carne assada e o purê de batatas coberto por papel filme.— Rufus. O cara é uma dona de casa de primeira.Chris ainda não olhara para mim. O silêncio que se instalou entre nós me deixou desconfortável, já que nunca tive problemas para conversar com ele.— Vou procurar mais sobre o caso da escola — avisei ao terminar de comer.— Hum, sobre isso: acho melhor deixar pra lá.—
Tentei apoiar meu rosto na mão pela milésima vez e senti uma pontada de dor atravessar todo o lado esquerdo do meu rosto. Minha bochecha estava inchada e arroxeada. O hematoma causado por Caroline doía tanto que meu olho latejava. Logo depois de acordar, após Zacharias me nocautear, pesquisei no acervo de Rufus algo que impedisse o anjo de me localizar e descobri o ritual de uma pulseira de ferro banhada em óleo sagrado. Fiz o ritual como indicava o livro e amarrei a pulseira no meu braço. Depois disso, foi motivada pelo ódio que peguei o Jeep de Chris para investigar o caso de assombração na escola.Quando li a notícia no jornal pela primeira vez, um garoto chamado Arnold Rogers fora assassinado a facadas na cidade. A testemunha ocular do assassinato declarara que o assassino calçava chuteiras vermelhas e usava luvas. Conversando com os pais dele, eles afirmaram que ele não possuía nenhum conhecido com razões para atacá-lo. Porém, alguns professores e alunos disseram que ele tinha se
O corpo era um dos colegas de Arnold que eu interrogara. Chequei a respiração do garoto, vendo que ela já não existia. Havia ectoplasma, um líquido escuro e espesso, escorrendo de seu ouvido. Eu me lembrava de quando fui possuída por um fantasma e vi aquela mesma coisa nojenta.Escondendo meu rosto sob o capuz, fui até o Jeep e peguei minha arma carregada com balas de sal, por precaução do que encontraria dentro da escola. Entrei pela porta dos fundos, sentindo a engraçada sensação de familiaridade ao me lembrar de quando invadi minha própria escola após o período para roubar o gabarito das provas do dia seguinte. Naquela época, jamais sonhei que faria o mesmo em nome de uma assombração. Eu desdenharia de um pensamento desses. Agora, por outro lado, eu era apenas seriedade, porque vidas dependiam que ignorássemos a comicidade de caçar monstros para fazermos o trabalho e mantê-las seguras, mesmo que não soubessem do perigo, nem que fazíamos isso.Eu não abriria mão de saber da existênc
Era tarde da noite quando cheguei à fazenda de Rufus. Foi uma surpresa encontrar um embrulho de presente na varanda, especialmente pelo seu formato familiar. Estava acompanhado de um cartão, que dizia: "Para minha nova empregada — Loyd". Rasguei a embalagem de uma só vez, encontrando uma garrafa nova de vinho tinto europeu.Depois de ficar meses sem beber uma gota de álcool, era mortífero olhar para uma bebida como aquela. Eu ainda não me recuperara totalmente da lesão no fígado. O problema voltaria com muita facilidade se eu bebesse uma gota sequer. Iniciou-se uma batalha dentro de mim, pensando na nostalgia de visitar o colegial, na saudade de Luke, na possibilidade de tudo voltar ao que era antes. O sangue esquentou, a boca salivou diante do vinho.Sacudi a cabeça para afastar tudo isso. Subi para o meu quarto e escondi a garrafa em meio às roupas no armário. Por questões práticas, eu poderia ter jogado fora. Mas, naquele momento, senti-me vitoriosa por conseguir manter a garrafa p
CarolineEu não via o mundo real. Meus olhos estavam diante de um dia frio e cinza. A janela da biblioteca de Rufus deixava entrar um vento cortante. Contudo, meu sangue estava quente, porque Henry apontava uma arma para a minha cabeça. Era impossível saber quando a visão acontecia.Voltei à realidade com falta de ar. Levantei da cama, atordoada, sem saber a quem contar aquele futuro. Foi quando ouvi o ronco do Jeep se aproximar da casa e disparei para o andar de baixo.— Chris! — exclamei assim que ele entrou. Porém, sufoquei com minhas palavras ao ver Henry entrar logo depois dele. Julie entrou em seguida, apertando um pano ensanguentado na cabeça. — Eu estava indo ajudar a Julie com o caso — Chris explicou com a expressão carrancuda para o irmão. — Henry encontrou comigo no meio do caminho.— Deu tudo certo? — perguntei.— É, deu — Julie disse, largando-se no sofá com um gemido de dor. Chris foi até a cozinha pegar gelo para seus hematomas. Enquanto isso, Henry parecia não saber
JulieEu estava com muita dor de cabeça para lidar com aquela merda toda. Quando Zacharias interveio na briga entre Caroline e Henry, o caçador desmaiou. O anjo fez um check-up nele, até descobrir que havia uma substância estranha no sangue que ele bebera, o que explicava a maneira alucinada como agira. — Foi aquela vagabunda — Chris resmungou, de pé no meio da biblioteca. — Ela envenenou ele.— Mas eles pareciam tão apaixonados! — exclamei sarcasticamente, nem um pouco surpresa com essa atitude.— Por que ela o envenenaria? — Caroline perguntou.— Essa não é a questão mais importante — Zacharias disse, fitando o chão com um olhar perdido. — Balthazar enganou Henry para que ele atacasse a Caroline. Isso não está certo. Não recebemos nenhuma ordem que fosse remotamente parecida com isso.— Acho que seu amigo tem se confundido bastante ultimamente — comentei. — Primeiro ele deixa o portal para o outro mundo sem nenhuma vigilância e agora isso. Sério, será que dá para colocar ordem na c
Caroline Ao ouvir a porta da frente bater e indicar a saída de Julie, eu me virei para Chris. — Pegue a chave do Jeep. Vamos atrás dela — falei. — Não confio no que ela diz, por enquanto. — Tem alguma ideia do que ela vai fazer? — Rufus perguntou. — Só sinto que não gostaríamos de saber. — Se ela perceber que estamos vigiando-a dessa forma... — Rufus murmurou. — Não importa — Chris interveio, quase interrompendo-o. — Depois do jeito que ela agiu, temos que fazer alguma coisa para resolver isso. — Exatamente — concordei. — Não podemos nos dar o luxo de respeitá-la, quando a definição disso para ela é tão deturpada. — O que acham que aconteceu, afinal? — Rufus perguntou. — Não faço ideia — respondi —, mas não acredito quando ela diz que não se lembra. — Eu olhei a casa enquanto ela estava desacordada — Chris avisou. — Não tinha enxofre nem ectoplasma... Se alguma coisa a atacou, nós não conhecemos. — Rufus, você acha que tem alguma chance de ser o Loyd? — perguntei. — Um
Julie O Quarto do Pânico estava desocupado de qualquer móvel. Luzes brancas iluminavam o local, presas às paredes. De repente, senti uma pontada no abdômen. Ao erguer o olhar outra vez, uma cadeira aparecera no meio da sala sem explicação.Passaram-se horas desde que me prenderam e a cada seguno sentia a dor abdominal horrível. Minha garganta raspava, de tanto gritar. Tentei me controlar no começo, mas comecei a pensar que nenhum deles merecia ser poupado de saber o que estavam me fazendo passar.Caroline veio me ver algumas vezes. Gritei com ela também. Rufus apareceu para perguntar como eu estava. Henry sentou do lado de fora da porta e cantarolou baixinho a música que cantei na boate quando chegamos. Foi quando percebi que estava alucinando. Em dado momento, alguém abriu a pequena janela da porta.— Trouxe isso pra você — Chris disse, passando um prato pela portinha inferior, como fazem com os presidiários.Peguei o prato, ouvindo o ronronar do meu estômago diante do amontoado fum