Um grupo de rapazes entrou no elevador, falando alto sobre futebol. Nos cumprimentaram com um “boa noite”, e respondi com a voz rouca, fazendo força pra disfarçar a ereção que crescia sem controle dentro da calça.O alívio só veio quando chegamos ao décimo segundo andar.Peguei a mão dela, puxando com pressa, quase tremendo ao tentar tirar a chave do bolso. Assim que a porta do apartamento se abriu, puxei Maria Vitória para dentro e tomei sua boca como um homem faminto — sem pausa, sem permissão. Desci a mão entre as suas pernas, lhe tocando. Ela entrou primeiro, tropeçando nos próprios pés, rindo com aquele brilho debochado nos olhos que me consumia de dentro pra fora. O som da porta batendo atrás de mim ecoou como um tiro no silêncio tenso do apartamento.Joguei as chaves sobre a mesa da sala com força desnecessária.— Foi divertido pra você? — disparei, a voz mais baixa do que o necessário, mas carregada.Ela girou nos calcanhares, ainda com os cabelos desgrenhados e o vestido col
— Não vai dizer nada? — A voz dele saiu quase como um sussurro, quebrando o silêncio, mas carregada de um peso que ele tentava, em vão, disfarçar.Eu olhei para ele, sentindo cada palavra que ele não dizia mais do que qualquer coisa que pudesse sair da sua boca. O vapor da água nos envolvia, mas nada disso parecia dissipar a tensão entre nós. A cada segundo, a tensão aumentava, como se uma força invisível nos atraísse, nos puxasse para um lugar onde não havia mais volta.Meu corpo estava quente, e não era apenas pela água. Cada olhar dele, cada toque leve, cada movimento que ele fazia parecia me incendiar por dentro. Eu queria dizer algo, mas não sabia o que. As palavras não eram suficientes.— Ainda não uso anticoncepcional — Era uma verdade que precisava ser dita. Alexandre começou a tocar em meu cabelo, acredito que tentando uni-los, mas formou em algo mal feito, um rabo de cavalo em suas mãos, puxou-me pelo cabelo para si. — Podemos cuidar disso. — Disse contra a minha orelha, a á
Alexandre assentiu. Não precisávamos discutir. Estava claro — eu também queria ficar. Queria ele. Mas sabia que as consequências daquilo podiam não ter volta.— Mas como é que eu vou embora com isso? — perguntei, puxando a barra da blusa dele que agora cobria meu corpo. Era larga demais, mas macia, cheirando a ele. O olhar dele percorreu o tecido, e seus lábios se curvaram num sorriso leve.— Posso comprar algo pra você — respondeu com segurança, mas seus olhos denunciavam que a ideia o divertia. — Mas… preciso admitir que essa blusa fica melhor em você do que em mim.Ri, acompanhando o tom. Mas, sinceramente, eu não achava nada sexy na minha aparência naquele momento — com o cabelo embaraçado e os olhos ainda inchados da noite anterior.— Melhor que compre um vestido parecido com o que você rasgou ontem — retruquei, provocando, vendo-o inclinar levemente a cabeça, um gesto quase culpado.— E o que mais? — ele perguntou, chegando mais perto. — Posso te dar mais alguma coisa?Não esper
Eu não queria que Maria Vitória fosse embora. Ela estava calada, pensativa em muitos momentos, e eu... inquieto. Queria saber como estava sua vida, se havia conseguido se resolver com a mãe, com o padrasto. Mas o tempo que tínhamos estava chegando ao fim. Faltava apenas passar no shopping, pegar o vestido e levá-la. E então, pensar em uma desculpa convincente para Heitor — caso ele perguntasse.Só não contava com Maria Clara. E ela parecia disposta a destruir qualquer plano meu.— Eu te fiz uma pergunta, Maria Clara. — Fitei-a firme. — Não ando perguntando com quem você transa ou deixa de transar.Ela soltou uma risada seca, zombeteira. Passou as costas da mão pelo nariz com desdém.— É claro que não anda, Alexandre. Você nunca se importou mesmo.Ela jogou a bolsa no chão. Em um impulso, dei dois passos até Maria Vitória, me colocando entre as duas.— O que é? Está com medo? — Clara disparou, com veneno na voz.Maria Vitória se encolheu ligeiramente, os olhos arregalados, a respiração
Cheguei à entrada da casa com passos curtos. Olhei em direção à sala, temerosa. Uma sensação desconhecida me atravessou. Eu nunca tive um pai. E ter consciência disso agora me fez esticar a coluna, andar normalmente, como uma mulher adulta.Minha mãe me perguntaria como foi, me puxaria para o sofá e iria querer saber tudo. Subi os degraus pensando na falta que ela me fazia. Mas quanto ao meu pai... aquilo ainda era tão estranho.Cheguei até a porta do meu quarto, minha mão buscando a maçaneta, hesitante, quando a porta ao fundo do corredor se abriu. E ali estava ele. Só de bermuda folgada azul-escuro. Meu coração saltou no peito.Sem camisa, alguns fiapos de pelos em volta dos mamilos, o cabelo todo bagunçado, como quem acabara de sair da cama.— Hein, finalmente acordou a margarida. — Ele abriu um sorriso claro, gentil, estendendo os braços para me receber com carinho.Ainda me sentia receosa. — Pai? — perguntei, como se aquela palavra me denunciasse. Ele me envolveu em seus braços,
Andei entre as camas, os olhos vasculhando cada rosto. Até que parei.Ali, deitada, com o balão de oxigênio ligado à máscara, estava ela.Olhei para a enfermeira, depois para a mulher naquela cama. As marcas, os hematomas... eu sequer a reconhecia.A selvageria estava estampada no rosto da minha mãe.Me aproximei com as pernas moles.Todo e qualquer vestígio da pele maravilhosa dela estava marcado por arranhões, roxos, mordidas.— Ela está inconsciente. Quando chegou, não parava de chamar pela filha... Infelizmente, é a realidade, mãezinha — disse a enfermeira, uma mulher negra de voz doce. Ela tocou meu ombro num gesto delicado, tentando me confortar. Mas eu me desmanchava em lágrimas.— E o bebê? — minha voz saiu falha. Aos cinco meses… eu sabia que ele não tinha muitas chances.— Ele esteve resistindo, mas os batimentos... estão instáveis. É triste… um pai fazer isso, não é? Infelizmente...Um nó se formou na minha garganta. Fiquei na UTI por horas.Mas eram muitos pacientes. Apena
Eu peguei a estrada sem pensar nas consequências. Heitor havia me ligado várias vezes. E eu… não tive coragem de atender. Como explicar? Como dizer a ele o que houve?O que estava acontecendo entre mim e Mavi era passageiro — eu sabia. Mas o que eu jurava que era eterno, meu casamento com Maria Clara, tinha acabado. E da pior forma possível. Ela me odiava. E com razão.Após a instalação de Laura Bocci na sala de cirurgia do hospital, analisei todos os exames. Ela precisava de uma cesariana de urgência. Caso contrário… não resistiria.Quando voltei à sala, vi Heitor. Ele estava ali, de pé, me observando. Fingi que não o vi. Me afastei, enquanto o anestesista preparava a sedação. Acompanhei tudo de longe, como um corpo presente. Um médico ausente.Eu sabia que parecia frio. Antipático. Mas por dentro, eu implodia.Heitor. Justo ele.O cara que sempre confiou em mim. Que dividia os pensamentos mais sujos, as culpas, os medos. E eu? Sempre fui o calado. O comedido. Raras vezes perdi o con
Meu pai não tocou no assunto durante a viagem até o meu apartamento. Aquele silêncio desconfortável entre nós parecia mais pesado do que qualquer palavra. Quando chegamos, ele entrou, seus olhos vasculhando cada canto, embora tentasse disfarçar. Eu sabia o que ele pensava. Por mais que eu sentisse vergonha da simplicidade daquele lugar — e da minha vida ali, entre paredes vazias e móveis baratos — ele não dizia nada. Ele vivia no luxo. Eu, no nada. Mas não parei. Fui até o frigobar e comecei a preparar alguns sanduíches, tentando me distrair.Até que ele se aproximou, pegou o prato com os pães e olhou para mim com uma expressão que não deixava dúvida.— Você vai comer isso? — Ele questionou, os olhos fixos no prato simples, como se esperasse mais de mim.Eu estava faminta, e qualquer coisa me parecia suficiente. Só queria me alimentar. Não queria pensar, não queria sentir.— Tome um banho. Te levo para comer. — Ele disse, a voz carregada de uma frustração que eu sabia não ser totalmen