Em poucas semanas de aula, um feriadão se estendia pela cidade. Vi nele a oportunidade perfeita para visitar meu pai. Enquanto isso, Ana Liz não parava de me enviar mensagens dizendo que estava com saudade. Eu, por minha vez, queria fugir da tensão que havia marcado o início das aulas.— Peguei uma supervisora exigente — pensei, lembrando da mulher que parecia sentir prazer em competir com os estagiários — além de ter sido designada para um estágio no “Complexo do Alemão”, uma comunidade violenta que ninguém queria encarar.Decidi que quatro dias seriam tempo suficiente para ficar longe de tudo. Arrumei minha bagagem com pressa, sem dar nenhuma satisfação a Ana Liz. Queria surpreendê-la, mas, ao mesmo tempo, sentia-me acolhida e amada. Havia dentro de mim um desejo insaciável de saber sobre ele — meu pai —, mesmo sem poder perguntar diretamente, nem a ele, nem à minha madrasta, ainda que mal o visse.Entrei no ônibus, os pensamentos fervilhando, tentando disfarçar a incerteza. Durante
Eu me tornava o amigo perfeito que Heitor parecia desejar: noites em bares, festas, mulheres, companhias desconhecidas. Mas, no fundo, eu sabia exatamente o que buscava — recuperar anos de atraso, desejos reprimidos, a omissão disfarçada de racionalidade. E, naquela sexta-feira à noite, não era diferente.Terminei a última cirurgia exausto. O cansaço me consumia, mas mal finalizei as anotações no prontuário — medicamentos, orientações de repouso, agendamentos — quando Heitor surgiu na porta. Segurava o terno em uma das mãos e digitava freneticamente no celular com a outra. Eu estava longe dali, mentalmente esgotado, o corpo implorando por descanso. Começar a musculação tinha me deixado dolorido de um jeito que eu ainda não sabia lidar.Eu queria recusar mais uma noitada. Precisava. Mas, no fundo, sabia que não conseguiria escapar daquela rotina que, de algum modo perverso, me preenchia. Ainda assim, naquela noite, o esgotamento — físico, emocional — me fazia desejar algo diferente, me
Eu queria mais do que apenas sair. Mais do que ver novos rostos ou dançar até esquecer.Eu queria viver.Talvez até me reinventar por algumas horas.Mas as amizades na cidade onde nasci e cresci sempre foram limitadas.Não sabia se podia confiar em Ana Liz pra cuidar de mim naquela noite.Mas, até então, eu tinha conseguido cuidar de mim sozinha.E isso bastava.Fomos em direção aos quartos.Ana Liz abriu o guarda-roupa com empolgação, como se aquilo fosse um ritual secreto.Ela me mostrou vestidos que, sinceramente, mal cobriam algumas partes do corpo.Não era o que eu queria.Nunca foi meu desejo chamar atenção — só precisava existir em paz.Escolhi o mais discreto: um vestido preto coberto por paetês sutis, com decote em V entre os seios.Minha sandália preta de salto ainda servia.Fiz uma maquiagem leve, só o suficiente pra me sentir menos apagada no espelho.Quando saí do quarto, Ana Liz já estava pronta.Ela não usava apenas um vestido — usava uma armadura de brilho e provocaçã
Era como negar pra mim mesmo.Como fugir de algo que, no fundo, eu já sabia que estava ali.Em todas aquelas noites vazias, nas mulheres que eu tocava sem vontade, sem conexão — era ela que eu procurava.Maria Vitória.Estava sexy.Deliciosamente provocante naquela peça íntima preta, mínima, que mal cobria suas curvas.E por mais que eu fosse um cirurgião acostumado a corpos moldados à perfeição, nenhum deles me atraía como o dela.Natural.Instintivo.Brutalmente lindo.— Alexandre, por favor, pare — ela pediu, com a voz firme, ainda que a respiração denunciasse o efeito que eu causava.Acariciei o tecido fino, sentindo o calor da sua pele por baixo.Mas eu não teria coragem de prosseguir.Não sem seu consentimento.Não com ela me pedindo pra parar.— Te fiz... — pigarreei, com o nó na garganta me sufocando.O que eu estava fazendo?No quarto de Maria Vitória.Na casa de Heitor.Ela se afastou, fria.Olhar duro, braços cruzados.— Eu não te devo explicação alguma, Alexandre. E, aliás
Eu não sabia o porquê de Ana Liz ter dito ao meu pai que íamos a uma festa. Durante a tarde na piscina, meu corpo já implorava por cama, silêncio, talvez uma sopa quente e o aconchego de um edredom. Mas, para agradar minha madrasta, vesti o branco. Um vestido de tecido leve, costas nuas, que parecia feito para ser arrancado.Salto preto, acessórios dourados, maquiagem marcada. Passear pela cidade até parecia inofensivo, talvez um cinema, um balde de pipoca e pouca conversa. O que eu realmente não queria era lidar com os olhos de Alexandre. Não naquela noite. Não de novo. Ele era demais para mim.Mas pensar nele, molhado, encostado na borda da piscina, fez minha mão escolher o batom vermelho. Aquela cor tinha gosto de perigo. Ao sair do quarto, fui em direção ao de Ana Liz — ela ainda lutava com o delineado. De algum modo, eu sabia o que ela fazia: talvez tentar convencer o meu pai de que não estava disponível. Mas por quanto tempo esse papel ia durar?E eu… eu não fazia diferente com
Maria Vitória estava impecável. Um pecado costurado em branco. O vestido moldava suas curvas como se tivesse sido desenhado em sua pele. As costas nuas, a pele macia e exposta, e aquele andar provocante... era uma armadilha da qual eu nunca conseguiria escapar.Quando ela entrou no banheiro, sozinha, fui atrás como quem é puxado por um ímã inevitável. Não havia racionalidade. Só impulso. Tesão. Uma urgência que eu não conseguia mais fingir que não existia.Ela se virou para mim com o rosto corado, respiração acelerada. A tensão entre nós era elétrica. E quando nossas bocas se encontraram, não havia mais retorno. Maria Vitória cedeu ao meu beijo como quem se joga no abismo — com fome, com raiva, com necessidade. Eu conhecia cada sinal. O jeito como os dedos dela pressionavam meus ombros, como a respiração escapava quente contra a minha boca, como o corpo dela se arqueava sob o meu. Ela estava molhada. Excitada. Pronta. E eu a queria como nunca desejei nada na vida.Minhas mãos encontra
u mal conseguia me sustentar nas pernas quando saí do banheiro. Os joelhos ainda frágeis, o corpo inteiro em estado de choque. Não de medo — mas daquela vertigem doce que vem depois do êxtase. O coração batia acelerado, como se eu tivesse corrido uma maratona... ou estivesse fugindo de mim mesma.Apoiei uma das mãos na parede, tentando recuperar o fôlego. Meu sexo ainda pulsava, quente, sensível. E a sensação da boca dele ali — faminta, desesperada — me atravessava como uma corrente elétrica.O que eu havia feito?Ou pior… o que ele havia feito comigo?Levei a mão à boca, e um riso escapou antes que eu pudesse conter. Um riso nervoso, quase incrédulo. De mim. De nós. Daquilo tudo. Como se eu tivesse acabado de cometer um crime delicioso. Um erro... que valia a pena repetir.Ainda ofegante, caminhei de volta para a área aberta, onde a música pulsava e conversas abafadas preenchiam o ambiente. A festa seguia como se nada tivesse acontecido — e, no fundo, era isso que me enlouquecia. O m
Eu já não conseguia mais me controlar — tampouco partir. Sabia o que ela fazia, sabia que estava me provocando de propósito, dançando daquele jeito, sensual, entregue, com aquele garoto. Ela nunca gostou de tipos como ele — isso eu sabia, com a certeza de quem a conhece mais do que deveria.Quando me aproximei, não pensei. Apenas tomei. Beijei sua boca com fome, com fúria. E quando ela tentou se afastar, vi o susto nos olhos dela — o medo do que estávamos nos tornando. Mas não parei. Segurei sua cintura com um braço e a puxei de volta para mim. E a domei, mais uma vez, num beijo.— Alexandre... o meu pai... — sussurrou, a voz hesitante, os lábios tão próximos dos meus que quase não houve distância entre nós. Mas ela não teve coragem de se afastar.Eu sabia. Heitor já havia ido embora. Ele e Ana Liz estavam brigando, eu tinha visto o momento em que ela saiu da pista, furiosa. Aquele caos todo nos favorecia.— Está preocupada com o seu pai agora? — perguntei, cravando minha pergunta nela