Capítulo 2
Na direção em que seguia, Anne acabaria em um beco sem saída, portanto, a jovem se virou e correu em direção à rua movimentada. Assim que chegasse à avenida, ela poderia pegar um táxi e fugir.

No entanto, apesar de o plano ter parecido perfeito, quando chegou onde desejava, percebeu que não seria tão fácil pegar um táxi, afinal, os brutamontes ainda a perseguiam. Por isso, Anne procurava desesperadamente um lugar para se esconder.

Por acaso, a jovem viu um Rolls Royce estacionado do outro lado da estrada e correu em direção a ele. Sem hesitar, se escondeu do outro lado do carro.

Agachada atrás do veículo, Anne engasgava, tentando recuperar o fôlego. As janelas eram opacas e ela não conseguia ver nada lá dentro. Quando olhava para o vidro, o que via era apenas seu reflexo de pânico.

O aparelho em sua bolsa tocou e a jovem atendeu, em estado de choque. Com cautela, Anne espiou e viu que os seguranças ainda procuravam por ela. Por isso, se escondeu atrás do carro, mais uma vez.

Do outro lado da linha, Sarah perguntou:

― Anne, onde você foi? Não consigo te encontrar no banheiro! ―

― Tia, eu... tive que ir embora. ―

― O quê? Para seu hotel? Você deveria vir para casa comigo! Eu até preparei um quarto para você, o mesmo quarto que você costumava ficar... ―

Enquanto ouvia Sarah, escutou movimentos atrás dela. Era o som eletrônico, bem baixinho, da janela do carro baixando. O corpo de Anne congelou. Ela mantinha o celular encostado na orelha, enquanto se virava para dar uma olhada.

Quando o vidro baixou o suficiente, o olhar de Anne encontrou com o da pessoa no interior do veículo. O rosto masculino e bonito era impressionante na penumbra. Surpresa e em terror, Anne parou de respirar. Ela não conseguia mais ouvir o que Sarah dizia.

― Ah! ― Anne gritou, em estado de choque, cambaleando para trás.

― Anne? Você está bem? ― Sara perguntou, com ansiedade na voz.

Mas, a jovem encerrou a ligação e guardou o aparelho na bolsa, antes de se virar para escapar. No entanto, quando estava prestes a se mover, os seguranças viram e correram em sua direção, impedindo-a de correr.

A porta do carro se abriu e Anthony saiu.

― Você sabe que é perigoso fugir de mim? ―

A voz do homem era baixa e fria.

Anne se virou para ele e começou a perguntar, com medo:

― Por que você... ― Anthony beliscou seu rosto e a puxou para ele... ― Argh! ―

O homem era tão forte que a jovem pensou que seus ossos se quebrariam.

― Eu pensei que você nunca mais fosse voltar! ― Os olhos escuros de Anthony brilharam assustadoramente, quando ele se inclinou em seu ouvido e sussurrou ― Anne... ―

A jovem empalideceu quando sentiu o hálito quente em seu ouvido, junto com a voz de demônio.

Anthony agarrou a nuca da jovem e a puxou, com força, para dentro do carro.

― Argh! ―

O veículo era muito espaçoso por dentro e Anne caiu no tapete do carro, antes que Anthony entrasse, fechando a porta.

O veículo acelerou e desapareceu na noite. Tudo foi tão organizado que parecia um sequestro planejado.

Anne olhou através da janela, com medo, enquanto perguntava:

― Aonde você está me levando? Me deixe sair! ―

Anthony pressionou seu corpo contra o dela, emitindo uma aura que causava medo. O homem apertou os dedos no queixo da jovem, forçando-a a olhá-lo nos olhos e, só então perguntou, com uma voz assustadora:

― Você está tentando me dizer o que fazer? ―

― Não. Não... ―

― Você não costumava me chamar de irmão, quando morava conosco? Me chame assim, mais uma vez? ―

― Não... eu deixei a família Marwood há muito tempo. Vim aqui apenas para participar da festa. Sinto muito. Não volto mais para Luton, eu juro! ― mas, não importa o quanto Anne tentava controlar o medo, seu corpo ainda tremia.

― Você parece ter medo de mim. Não é? ― Anthony levantou o queixo, como um predador brincando com sua presa trêmula.

Anne não ousou fazer nenhum som. Anthony sempre foi tão assustador quanto um demônio. Mas, depois de todos esses anos, ele ficou ainda mais assustador. A jovem nunca poderia esquecer a dor que lhe foi infligida quando vivia na mansão Marwood. Especialmente agora que tinha três filhos dele. O medo das incertezas a dominava.

― Eu te imploro, me deixe ir. Vou desaparecer de Luton e nunca mais voltar. Eu te imploro... ― Anne tinha lágrimas nos olhos e seu belo pescoço enrijeceu, enquanto ela se humilhava.

Mantendo as mãos atrás das costas, Anne tentava manter sua bolsa longe da vista de Anthony, segurando-a com força, sabendo que seu segredo seria exposto se ele mexesse no celular.

Anthony acariciou o queixo da jovem com dedos ásperos e ela sentiu o toque duro como se fosse uma faca contra seu pescoço.

― Já que você voltou, não tente fugir ― Anthony rosnou friamente antes de afastar o rosto dela, com desgosto.

Anne chorou, enquanto soluçava:

― Eu imploro... ―

Anthony apenas se recostou no assento, enquanto olhava friamente para a jovem ansiosa.

Os faróis do Rolls Royce penetravam na escuridão, se afastando da área urbana de Luton e percorrendo uma estrada afastada, por entre árvores. Vinte minutos depois, ele entrou em uma propriedade de beleza e tamanho inacreditáveis.

Anne permaneceu sentada enquanto, com medo, observava Anthony sair do carro.

― Você está esperando um convite, para sair? ― O homem pronunciou, com impaciência.

Anne viu que Anthony se aproximava da porta aberta e, percebendo que não tinha escolha, decidiu que sairia pelo outro lado. A jovem se moveu para a porta fechada, com alguma dificuldade, tendo os movimentos limitados pelo vestido de festa, então, abriu, pegou a bolsa e saiu do veículo. Tentando ser discreta e com as mãos fora da vista de Anthony, a jovem encontrou o aparelho na bolsa pretendendo desligá-lo.

Apesar de ser noite em Luton, na Europa já era manhã, por isso, Anne sentia medo de que seus filhos ou que a babá ligassem. Se o fizessem, Anthony descobriria tudo.

Entretanto, para desligar o celular, Anne tinha que digitar a senha de seis dígitos e, como estava nervosa e com os dedos trêmulos, apertou os números errados e teve que repetir o processo.

Como o carro bloqueava a vista de Anthony, ele deu a volta no veículo, com os olhos escuros como os de uma coruja. Assim que contornou, viu Anne parada como uma estátua e com um olhar ansioso.

― O que você está esperando? ―

Anne parecia ter se lembrado de respirar. “Essa foi por pouco”.

A jovem viu a mansão, semelhante a um castelo, e implorou:

― Eu... eu gostaria de ir embora... eu posso... ficar em um hotel... Argh! ―

Antes que pudesse terminar a frase, Anthony se aproximou dela e a agarrou pelo pescoço, com força, fazendo com que sua visão escurecesse.

― Ai... eu posso andar, eu posso andar sozinha... ―

― Anne, devo lembrá-la de que não tenho paciência! ― Anthony a empurrou, com brutalidade e Anne quase tropeçou nos calcanhares, se apoiando no carro, para recuperar o equilíbrio.

Ao entrar na mansão, Anne se sentiu pequena. Era como se uma rede luxuosa tivesse caído do céu, impedindo-a de escapar.

Somente a sala era muito maior do que sua casa inteira na Europa e Anne ficou paralisada, sem se atrever a se mover, afinal, ela sabia onde estava. Aquela era a mansão de Anthony.
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