Capítulo 6
Ele abaixou os cílios, evitando olhar aqueles olhos claros.

- Não. Eu só queria te dizer que você tem o direito de mudar de ideia a qualquer momento.

Solange piscou, aparentemente sem entender o que Marcos queria dizer.

- Marido, me espere um pouquinho.

De repente, uma ideia brilhante passou por sua mente, e ela correu para fora com seus pequenos sapatos de couro preto com pérolas.

Quando voltou, trazia várias garrafas e frascos, além de algumas caixas de madeira.

Marcos, fraco, tossiu algumas vezes e perguntou:

- O que é isso?

O sorriso nos lábios de Solange se aprofundou, e seus olhos claros brilhavam como estrelas.

Apontando para os frascos e garrafas no chão, ela explicou seriamente:

- Estes são meus dotes! Todos para você.

Dotes?

Olhando para as coisas desconhecidas espalhadas no chão, Marcos não pôde deixar de rir.

E com esse riso, seu rosto já impressionantemente bonito se tornou ainda mais cativante.

Solange sentiu um rubor subir discretamente em suas bochechas, pensando para si mesma que seu marido era realmente bonito.

O homem mais bonito que ela já tinha visto!

Isso só a fez ficar ainda mais determinada a permanecer ao seu lado.

- Esses são meus tesouros pessoais, todos para você. Daqui em diante, o que é meu é seu!

Marcos olhou para Solange com uma expressão séria e não pôde deixar de achar graça.

Ao longo dos anos, muitas pessoas tentaram agradá-lo.

Elas lhe davam colecionáveis, medicinas, mulheres, de tudo.

Mas essa era a primeira vez que alguém lhe dava essas coisas incompreensíveis.

- O que são todas essas coisas? - Marcos perguntou, curioso.

- Remédios! - Solange apontou para o chão com uma expressão confiante e começou a explicar. - Este é para dor, este é para repelir mosquitos, este é para fortalecer o corpo...

Solange fez uma pausa e pegou um frasco branco, o colocando na mão de Marcos,

- Este pode suprimir temporariamente o veneno em seu corpo, mas eu só tenho cinco comprimidos. Todos para você.

O rosto de Marcos mudou, seus olhos estreitos se apertaram, e seu olhar se tornou tão afiado quanto lâminas envenenadas.

Ele agarrou os ombros de Solange com força, e sua expressão originalmente calma e indiferente ficou repentinamente sombria e cruel,

- Quem te contou que eu estava envenenado?

O fato de ele estar envenenado só era conhecido pelos membros da família Aragão.

Essa era uma questão que afetava toda a família Aragão, e o Sr. Aragão havia especificamente alertado que isso não deveria ser contado a ninguém de fora.

Portanto, poucas pessoas sabiam que ele estava envenenado. Como uma garota sem antecedentes como Solange poderia saber?

Será que... Ela foi enviada por alguém para investigá-lo?

Solange ainda estava processando quando, de repente, foi agarrada pelos ombros com força. Ela soltou um gemido e instintivamente tentou se soltar.

- Ninguém me contou. Eu percebi sozinha!

Olhando para o rosto severo do homem que a encarava, Solange sentiu uma onda de injustiça crescer dentro de si.

Lágrimas caíam como pérolas de um colar arrebentado, escorrendo pelos cantos dos olhos.

Leonardo entrou trazendo duas xícaras de água e, ao ver a cena, seu coração deu um salto.

"O Sr. Marcos está tendo uma crise de envenenamento adiantada?"

Vendo o rosto de Solange ficando cada vez mais vermelho, Leonardo ficou tão nervoso que começou a suar, e rapidamente tomou coragem para intervir.

- Sr. Marcos, não se exalte! Solte ela, por favor! Sr. Marcos, a Srta. Solange está quase desmaiando!

Os olhos negros de Marcos se moveram ligeiramente, a expressão sombria e cruel suavizou um pouco.

Levantando os olhos, encontrou um olhar cheio de medo e umedecido por uma névoa de lágrimas.

Ele voltou a si, percebendo o que tinha acabado de fazer, e deu um passo abrupto para trás, com um traço de pânico nos olhos negros.

Era como se tivesse sido subitamente jogado em um balde de água fria, seu corpo inteiro irradiando um frio cortante.

Leonardo rapidamente se aproximou para verificar os ferimentos de Solange.

Ao ver, ele ofegou.

No pescoço branco de Solange havia várias marcas vermelhas de dedos que a haviam apertado com força.

Havia também uma marca de estrangulamento sob o queixo.

A pele dela, tão branca e delicada como a neve, deixava marcas com muita facilidade.

Marcos olhou de relance e uma ponta de remorso surgiu em seu coração.

Ele abaixou os olhos, sentindo ainda na palma da mão o calor do pescoço dela.

Finalmente, ele esboçou um sorriso amargo.

Aqueles que diziam que ele era um azarado estavam certos.

Quem se aproximava dele não tinha um bom destino.

Solange, com as mãos envolvendo os joelhos, se encolheu no chão frio, chorando e soluçando, com os olhos cheios de mágoa.

Vendo isso, o carinho no coração de Leonardo se transformou instantaneamente em dor.

Que pecado!

"Uma garota tão adorável e obediente, como o Sr. Marcos pôde machucá-la?"

- Srta. Solange, você está bem? Srta. Solange, não fique zangada com o Sr. Marcos. Ele apenas perdeu a razão por causa do veneno. Não o culpe, por favor?

Marcos olhou desajeitadamente para Solange, sua voz fria contendo um toque de pânico,

- Desculpe, não chore...

Seus lábios secos e pálidos se abriram e fecharam, e ele sentiu uma repentina sensação de impotência.

Ele nunca havia consolado uma garota antes.

Aquelas lágrimas caíam no coração de Marcos como pedras pesadas, o deixando sufocado.

Solange fungou, sua voz rouca,

- Você me agrediu!

As veias na têmpora de Marcos pulsaram fortemente, enquanto ele tentava acalmá-la com uma voz suave:

- Desculpe, foi tudo culpa minha. Pare de chorar, por favor? - Então ele mudou de tom, continuando. - Você viu, eu estou envenenado, posso perder o controle a qualquer momento, e quando o veneno se manifesta, eu não reconheço ninguém. Então... Você ainda pode desistir agora.

Mesmo casados, eles poderiam se separar.

Ele pensava... Que só havia escolhido alguém aleatoriamente para enganar o Sr. Aragão.

Marcos abaixou os olhos, escondendo a complexidade em seu olhar.

O veneno em seu corpo vinha desde o ventre materno.

Ao longo dos anos, Sr. Aragão chamou inúmeros médicos, mas nenhum conseguiu curar o veneno em seu corpo.

Durante as crises de envenenamento, ninguém sabia o quanto ele suportava de dor.

Com o tempo, seu temperamento se tornou cada vez mais instável.

Uma garota obediente como Solange, ao seu lado, corria o risco de morrer sem nem saber como.

Quanto mais pensava, mais Marcos sentia que casar foi um erro.

Ele começou a se arrepender de ter agido impulsivamente na época.

Mas se a deixasse ir...

Assim que esse pensamento surgiu, uma inquietação tomou conta de seu coração.

Solange, com os lábios levemente franzidos, se aproximou de Marcos com cautela,

- Então você prometa nunca mais me maltratar! Só assim eu te perdoo! - Vendo Marcos olhar para ela com olhos surpresos, Solange sorriu radiante, estendendo o mindinho e envolvendo levemente o dedo dele. - Vamos, rápido!

- Desculpe. - Marcos levantou os olhos, e em seus olhos negros e profundos brilhava uma luz séria e determinada. - Eu prometo, não haverá uma próxima vez.

- Eu sabia, marido, que você me amava!

Solange sorriu através das lágrimas, seus delicados olhos se curvando como pequenas luas crescentes.

Marcos olhou para os olhos claros dela, e um coração que esteve em paz por vinte e quatro anos foi agitado como uma água calma sendo perturbada.

Uma sensação amarga emergiu em seu coração.

- Solange, casar comigo pode te fazer sofrer muito. Você realmente não se arrepende?
Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo