Capítulo 8
Solange foi trazida de volta havia mais de um mês, mas a família Fagundes a tratava como se fosse invisível. Nem mesmo os empregados a olhavam nos olhos, então como poderiam lhe dar medicamentos tão valiosos?

Além disso, Murile Fagundes sempre foi uma pessoa interesseira.

Se ele realmente tivesse a Primavera Saudável, provavelmente já teria dado para várias famílias nobres em troca de benefícios. Por que guardaria para uma filha que não era querida?

Solange se sentou no chão, com um tom de voz casual e despreocupado.

- Eu fiz isso para passar o tempo, estava entediada.

O coração de Leonardo disparou.

Instintivamente, ele olhou para Marcos, com os lábios tremendo levemente, parecendo chocado com as palavras de Solange.

Até mesmo Marcos ficou com uma expressão séria.

A equipe médica da família Aragão tinha estudado a Primavera Saudável, mas a quantidade de ervas medicinais era grande e tão misturada que era quase impossível decompor completamente a fórmula.

Por isso, eles intuitivamente acreditavam que quem poderia fazer a Primavera Saudável era alguém com muita experiência e conhecimento em farmacologia.

O mordomo riu desconcertado.

- Senhora, a senhora está brincando? Este medicamento é muito precioso, foi criado pelo professor Marcelo, como poderia...

- Mas fui eu quem fiz. - Solange disse, franzindo os lábios, claramente irritada.

Seu professor era ainda mais preguiçoso que ela.

O processo de fabricação da Primavera Saudável era complexo, e seu professor não tinha paciência para isso!

Leonardo prendeu a respiração, com uma suspeita começando a tomar forma em sua mente.

Ele trocou olhares com Marcos, e ambos tinham a mesma expressão.

A única pessoa que podia fazer a Primavera Saudável era o professor Marcelo.

A esposa dele, provavelmente, tinha uma história muito mais interessante.

- Vamos para o escritório. - Marcos disse, se levantando do chão com um semblante sério, e saiu do quarto.

Mas depois de dar apenas dois passos, uma voz doce e clara soou atrás dele.

- Querido, estou com fome.

Marcos parou, e ordenou ao mordomo:

- Vá preparar algo para ela comer.

O mordomo assentiu rapidamente e desceu as escadas.

Marcos se virou e voltou para o quarto.

Solange ainda estava sentada no chão frio, olhando com seus grandes olhos brilhantes para ele.

Quando viu Marcos voltar, Solange sorriu imediatamente.

Marcos franziu a testa, se abaixou lentamente e pegou Solange do chão, colocando ela no sofá.

Ele se sentou ao lado dela, com olhos tão profundos e penetrantes quanto um lago à luz da lua, olhando diretamente para ela.

- Solange, você conhece o Marcelo?

Solange assentiu.

Conhecer? Claro que sim.

- Ele é meu professor. Você também o conhece?

Ela cresceu sem o carinho dos pais, mas seu professor e seus veteranos a tratavam como uma princesa.

Para Solange, eles eram sua verdadeira família.

Marcos não fez mais perguntas; ele levantou a mão e afagou o topo da cabeça de Solange.

- Você continua a mesma de antes, toda bobinha.

Solange piscou os olhos brilhantes de surpresa, olhando para Marcos com insatisfação.

- Você prometeu que não me chamaria de boba!

Marcos ficou um momento em silêncio e depois riu baixinho.

- Tá bom, você não é boba. Fui eu que falei errado. Mas se lembre, não confie facilmente nas pessoas e não mostre essas coisas para qualquer um.

Solange perguntou, confusa.

- Por quê?

Marcos respondeu.

- Para não ser prejudicada por causa da ganância dos outros. Você sabe quanto vale uma Primavera Saudável?

- Trinta milhões! Foi o que o Leonardo disse!

Marcos assentiu, sua expressão séria e fria.

- Se os mal-intencionados descobrirem que você faz esses remédios, vão tentar te levar, assim como aconteceu quando você era pequena.

Solange ficou assustada, seu rosto empalideceu instantaneamente, e ela acenou obedientemente com a cabeça.

- Eu nunca mais vou contar.

Vendo que Solange concordou, Marcos relaxou um pouco. Ele então afagou novamente o topo da cabeça dela.

- Acho que a comida já deve estar pronta. Vá comer alguma coisa.

Solange segurou a mão de Marcos e perguntou.

- E você?

- Vou até o escritório. Você desce e come alguma coisa. Assim que eu terminar meus assuntos, vou te encontrar.

...

Escritório.

Marcos estava de pé diante da janela panorâmica, olhando fixamente para a paisagem lá fora. Seus lábios finos estavam cerrados em uma linha reta, como se estivesse perdido em pensamentos.

Sua figura alta e imponente era banhada pela luz do sol, parecendo envolta por uma aura dourada.

O mordomo se aproximou respeitosamente por trás de Marcos.

- Sr. Marcos, a identidade da senhora realmente não é simples. Porém, não conseguimos descobrir nada, parece que alguém está tentando nos impedir de investigar.

Marcos se virou, aparentemente não surpreso com essa resposta.

- Não precisa mais investigar. Ela realmente tem ligação com o Marcelo. Você se lembra dos rumores de que o Marcelo tinha três discípulos?

A Primavera Saudável foi criada por Marcelo para curar a menor de suas discípulas.

O mordomo ficou radiante.

- Então o veneno do Sr. Marcos pode ser curado! Vou contar essa boa notícia ao Sr. Aragão!

- Espere.

Marcos chamou Leonardo.

Leonardo parou e olhou para Marcos com curiosidade.

- Sr. Marcos, há mais alguma coisa?

Marcos balançou a cabeça.

- Hoje à noite, levarei a Solange para a Mansão Aragão e contarei pessoalmente.

No andar de baixo.

Solange olhava para a mesa cheia de pratos e não conseguia evitar engolir em seco.

Camarão, caviar especial, espaguete de frutos do mar, abalone selvagem do país A, lagosta gigante do mar profundo do país F, filé mignon do país Y...

Tudo que Solange mais gostava de comer.

Ela pegou os talheres e provou um pedaço, imediatamente sorrindo de felicidade.

- Está uma delícia!

Carne suculenta.

Molho rico.

Sabor duradouro.

Simplesmente perfeito!

Comparado ao que comia na família Fagundes, aquilo era uma verdadeira delícia!

Na família Fagundes, se ela por acaso dormisse até mais tarde, certamente ficaria sem café da manhã.

Se ela comesse um pouco mais rápido à mesa, seus próprios pais a criticavam por ser mal-educada e indisciplinada, dizendo que não se comparava a Stéphanie.

As sobremesas eram exclusivas de Stéphanie, Solange não tinha direito a elas.

Mesmo se ela olhasse para a comida por um segundo a mais, alguém a chamaria de gulosa e a tacharia de caipira do campo.

Ao pensar na família Fagundes, Solange de repente perdeu o apetite, abaixando a cabeça com tristeza.

Ela não conseguia entender.

Como poderiam existir pais como Murilo e Sarah neste mundo?

Marcos desceu as escadas e viu Solange pensativa, olhando para a mesa cheia de comida.

Ele parou atrás dela e deu uma leve tosse.

- Não está do seu gosto?

Solange voltou a si imediatamente e balançou a cabeça rapidamente.

- Não, está muito bom. Faz muito tempo que não como uma comida tão deliciosa.

Os empregados que estavam por perto ouviram isso, reviraram os olhos discretamente e trocaram olhares cheios de desprezo e escárnio.

Ouviram dizer que essa Srta. Solange vivia no campo antes, provavelmente nunca tinha visto tantas iguarias na vida, né?

A maneira como ela devorava a comida, sem nenhuma etiqueta de uma dama da alta sociedade...

Solange nem percebia que, mesmo na família Aragão, não estava livre de ser alvo de zombarias e comentários maldosos.
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