Eram 07:15h da manhã do dia 5 de julho quando Roberto Paschoal chegou ao encontro. A equipe já estava à sua espera desde as 06:45h.
— Bom dia, Roberto! Tudo bem com você?
Ramon cumprimentou-o acompanhado pelos demais elementos da equipe. Fingiu não perceber, mas pressentiu problemas.
— Podemos partir? perguntou.
Roberto colocou as mãos nos bolsos, abaixou a cabeça e começou a falar com certa insegurança.
— Sabe o que é, pessoal? A situação não está tão positiva como pensávamos até ontem.
— Algum problema, seu Roberto? quis saber Carlos um pouco aflito pela colocação.
— O problema, continuou Roberto, é que eu tenho alguns sócios na fazenda. Estive conversando com eles ontem à noite, pelo telefone, sobre o trabalho de vocês. Um deles fez objeções sobre as pesquisas.
— Você não falou que tinha sócios, interrompeu Ramon. Mas se quiser, continuou, podemos falar com eles e explicar exatamente qual é nosso trabalho. Com certez
A equipe se afastou rapidamente enquanto Roberto, pensativo, dirigiu-se ao telefone do hotel. Pediu licença ao rapaz da recepção, discou o DDD e em seguida o número. Ao primeiro toque, Roberto desligou. — Não conseguiu linha, senhor? perguntou o rapaz solicitamente. Roberto não respondeu. Ficou parado com a mão no aparelho, olhando para lugar nenhum. O rapaz insistiu: — Algum problema, senhor? O senhor está bem? — Oh! Tudo bem. Está ocupado. Vou tentar mais tarde. Roberto saiu da recepção e foi até a varanda. Refletiu por um momento e desceu a rua. Na esquina, em frente a uma churrascaria, existia uma cabina pública de telefone. Como ainda era cedo, tudo estava deserto. Dessa forma, era mais seguro manter qualquer tipo de conversação. Discou o código do DDC, discagem direta a cobrar, o número, aguardou a gravação e identificou-se. — Senhor Paschoal? perguntou a secretária. Deseja falar com quem? — Dr. de Ávila por favor
Roberto ouviu de Ávila bater o telefone. Ficou parado por um instante com o aparelho na mão, refletindo sobre as últimas palavras do “Doutor”. Ele tinha vago conhecimento dos negócios de Ramos de Ávila, mas não era um de seus homens de frente. Na verdade, apenas administrava Miranda Estância, mas fazia-se passar por proprietário por ordem do próprio de Ávila. Segundo ele, essa fachada dava mais segurança aos negócios. Sabia que coisas estranhas aconteciam por lá, mas aprendera a ficar de boca fechada. Para isso, recebia um gordo salário, mas sabia também que aquele era o último emprego de sua vida. Resolveu seguir a sua intuição. Se apoiasse os arqueólogos, poderia tê-los em suas vistas. Colocou o telefone no gancho e caminhou vagarosamente em direção ao hotel. Estava entrando num jogo perigoso e teria que ser cauteloso. A discrição era uma de suas qualidades. E isso, com certeza, era o que lhe dava certa tranquilidade. Tinha por hábito não fazer perg
Eram 10:17h quando a equipe chegou à sede da fazenda Miranda Estância. De lá, era possível visualizar o Morro da Divisa. O objetivo era chegar até o sopé e então penetrar a densa mata na tentativa de localizar o Ponto M, encontrado em 1986. A paisagem estava realmente mudada. Os campos de pastagens não existiam quatro anos antes. Na verdade, onde agora estava a sede da fazenda, era floresta em 86. Isso preocupava, pois poderia significar que a equipe do Projeto INCA tivesse sido dizimada pelos homens de Ramos de Ávila. Do contrário, a aproximação de homens e máquinas teria sido detectada pela equipe do Alexandre naquela época. Pensando assim, a equipe de resgate tinha três missões: localizar o Ponto M, conseguir vestígios da equipe desaparecida e ainda contornar essa brincadeira de gato e rato que alguém tinha inventado. O que preocupava Ramon era saber que nessa história ele estava na condição de rato. Olhou a bússola e procurou traçar virtualmente uma linha
Já passava das dez e Marcos, após uma noite bem dormida, brincava, como ele dizia, com seu computador. De lá, através da rede, era possível ter informações do mundo todo. Do outro lado da sala, vinte e dois monitores garantiam a segurança do prédio. Na realidade, a sua sala era uma sub-central que funcionava como “back up”. O circuito interno de segurança contava com quarenta e quatro câmeras, sendo vinte e duas ostensivas e vinte e duas micro-câmeras, estrategicamente escondidas, dando o mesmo ângulo de visão. O circuito das micro-câmeras descarregava suas imagens na sala do Marcos. Metido em sua cadeira de rodas, buscou as imagens dos monitores como sempre fazia. De repente, parou no visor que mostrava a portaria principal. Viu quando um Santana preto parou no estacionamento com dois homens de terno, dentro. Sem nenhum motivo aparente, foi à mesa de controle e deu um “zoom” na câmera. Visitas como aquela eram bastante corriqueiras na CIFEC. No entanto, quando o hom
Eram 12:07h. A equipe já havia caminhado cerca de duas horas. Os quatro integrantes atravessaram os campos de pastagem, entraram num capão de mato e agora penetravam uma floresta mais fechada. O importante era demarcar bem a trilha para que pudessem retornar em segurança. Willdson era o batedor da equipe e seu senso de direção, bastante apurado. Sabia, pelos seus cálculos, que estavam fazendo praticamente o caminho inverso, pelo menos em parte, em relação à trilha de 86. Assim, tentando sempre uma linha reta em relação ao Morro da Divisa, mantinha os olhos abertos na tentativa de encontrar algum ponto que pudesse recordar a trilha de 1986. A selva era espessa e isso anulava qualquer possibilidade de visualizar o morro. — E aí, San? Acha que estamos na direção certa? — Está realmente difícil, Ramon. Mas vamos tentar mais um pouco. É que o mato está muito fechado e isso está nos atrasando um pouco. Vamos tocar em frente. Se eu não estiver errado, logo sairemos
Chegaram ao Hotel Fazenda e já passava das 20:00h. Um bom banho seria revigorante antes do jantar. Cláudio fez questão de jantar com eles e aprender um pouco sobre Arqueologia. A comida era farta e muito bem feita. A decoração era rústica, mas de muito bom gosto. As pilastras que sustentavam o prédio principal eram enormes troncos de árvores nativas que receberam tratamento especial, sem alteração das suas formas originais. Artesanatos indígenas estavam espalhados por todo lado compondo a decoração. O prédio central era redondo com uma varanda à sua volta onde havia mesas de jogos. O restaurante ficava do lado direito da recepção e do lado esquerdo, uma espécie de american bar. Os apartamentos ficavam em dois outros pavilhões um pouco afastados do prédio central. Eram como pequenos chalés em que, na porta de entrada, existia um pequeno terraço. Cada um era composto por um só quarto com dois beliches e um banheiro conjugado. Após o jantar, continuaram
Sete de julho de 1990, sexta-feira. O dia mal havia clareado e a equipe já estava a caminho. Na viatura só os equipamentos essenciais. De volta à fazenda, colocaram o carro no mesmo local, montaram a micro-câmera por segurança e apanharam a trilha que os levaria ao córrego. — Estive conversando com o Marcos ontem à noite, comentou Ramon. Não tenho dúvidas de que o nosso visitante é um federal. — E o que os federais estariam fazendo atrás de nós? observou Carlos. — Não estou bem certo, Carlão. Se o intuito deles é descobrir a conexão aqui na fazenda, por que estariam no nosso vácuo? — Será que tem a ver com nosso acidente na estrada? perguntou Willdson. — É possível, San. Pelo menos, continuou Ramon, seria a dedução mais lógica para eles. Contudo, duas coisas me intrigam nessa história: se os caras do Comodoro nos queriam fora do caminho, por que não atiraram na gente? — Como você mesmo disse, provavelmente queriam que parecesse um acid
Mauro Corrêa tinha sido o outro guia da equipe do Projeto INCA. Na verdade, ele era quem conhecia, efetivamente, a região. Na época, ele caçava muito naquelas matas. O Ariovaldo era amigo seu e tinha acompanhado-o várias vezes. Quando Ramon e Willdson conheceram-no, ele solicitou a colaboração do Ariovaldo, pois, naquele ano, passariam por sua fazenda para que pudessem penetrar na então fazenda Estância sem serem percebidos. Era um bom sujeito e tinha se mostrado amigo da equipe. Prometeu até ir a Campinas para visitar os novos amigos, o que nunca aconteceu. Morava em uma pequena chácara na periferia da cidade. Seu pai tinha um boliche como eles diziam. Era um pequeno armazém onde se vendia de tudo. Quatro anos depois, novamente a CIFEC buscava a sua ajuda. A viatura parou diante de uma porteira amarrada com pedaços de borracha de câmara de ar. Os primeiros a recebê-los foram dois cachorros vira-latas carentes de afeto. Latiram por um instante e depois abanaram o rabo como s