Ouço uma músiquinha bem irritante soando no fundo do meu subconsciente e tudo em mim pede pra aquele maldito som cessar.
Aqui está tão bom, minha cama está quentinha e gostosa e eu já estou pra lá do décimo sono.
E eu aposto tudo que tenho que estou até babando, mas como tudo é bom realmente dura pouco um som alto e estrondoso me fez quase cair da cama.
E agora cá estou eu, sentada na cama sem fazer a mínima noção do que está acontecendo e em que planeta eu estou.
Alguém continua batendo na porta como se não ouvesse amanhã.
Bocejei passando as mãos por meu rosto e fechei os olhos sentindo aquela soninho gostoso novamente.
- BRUNA!- a voz de Raquel fez com que eu caísse da cama.
Minha "amada" madrasta realmente sabe como acordar alguém.
Me levantei da cama com uma certa dificuldade e caminhei até a porta.
Passei a mão por meus cabelos e destranquei a porta alguns segundos depois.
- bom dia!- digo forçando um sorriso.
Ela está de pé, com os braços cruzados e batendo os pés no chão, como um tique.
- mas que caralhos você está fazendo aí dentro?!- ela diz me empurrando e entrando em meu quarto.
Meu olhar o seguiu enquanto ela adentra pelo quarto.
Ela anda pelo quarto procurando por alguma coisa.
- aposto que o seu namoradinho estava aqui!- ela diz indo em direção a janela.
Dou um longo suspiro e reviro os olhos m
- eu estava apenas dormindo!- digo a encarando.
Ela se vira pra mim e me encara de olhos cerrados.
- eu estava a horas te chamando, está surda por acaso?!- ela diz.
Balanço a cabeça.
- do que a senhora precisa?- pergunto me segurando pra evitar briga.
Desde a morte da minha mãe eu busco estar próxima ao meu pai, ele é minha única "família".
No começo tudo estava bem, quando éramos apenas nos dois, mas ele se casou e eu claro o apoiei, tudo que eu queria era vê meu pai feliz e ter uma família novamente, no começo foi realmente assim, mas com o tempo ela foi mostrado sua verdadeira face.
Quando meu pai está em casa ela me tratava tão bem, mas quando ele sai ela muda totalmente.
No começo eu até me queixava com ele, mas ela começou a dizer que eu era implicante e que não queria sua felicidade.
No fim eu acabei deixando tudo passar.
Hoje em dia tudo que eu faço é.
EVITAR BRIGAS.
Me calo pra não sair como a errada.
- ontem eu deixei claro que queria tudo limpo, mas nem isso você pode fazer!- ela diz revirando os olhos.
Desvio meu olhar do dela e respiro fundo.
- eu fui naquela entrevista no centro da cidade, não deu tempo de arrumar tudo, mas eu deixei tudo bem organizado!- me explico.
Ela da uma risada nervosa e revira os olhos.
- eu não pedi pra você "organizar" nada, eu deixei bem claro que queria limpo!- ela diz.
A encaro sem acreditar naquilo.
- eu estava procurando emprego, não estava em casa como vocês!- acabo soltando.
O seu corpo paralisa e ela me encara como se eu fosse a errada.
O seu rosto ficou completamente vermelha, naquele momento eu soube que ganharia um belo sermão desmerecido.
- eu sou sua madrasta, você me deve respeito!- ela praticamente grita em minha cara.
Dou uma risada nervosa e desvio meu olhar do dela.
- você é minha madrasta, não é minha mãe!- digo cruzando os braços.
Oque me deixa mais fula da vida é que eu faço tudo nessa casa, eu faço tudo enquanto as duas madames ficam sentadas no sofá.
- se sua mãe não te deu educação, eu te darei!- ela diz me peitando.
Meu sangue ferveu no mesmo segundo.
- não fale da minha mãe!- digo me apontando meu dedo indicador em sua face.
Ela da um passo pra trás.
- você vai fazer oque?! Vai me bater, sua piranha!- ela grita como se aquilo fosse necessário.
No mesmo segundo eu soube que aquilo se transformará em uma grande confusão, então eu fiz oque eu faço de melhor, decidi me guardar minha raiva.
Balanço a cabeça.
Dou as costas, fecho os olhos e respiro fundo, conto até dez e a imagem dos meu pai vem em minha cabeça, não quero que ele fique decepcionado comigo.
Viro pra ela e dou um sorriso fraco.
- me desculpe!- peço mesmo sem estar errada.
Ela me encara por alguns momentos, cerra os olhos e logo depois da um sorrisinho vitorioso.
- você vai limpar essa merda!- ela diz e sai batendo a porta.
- velha insuportável!- digo baixinho.
Dou as costas e caminho até o meu pequeno criado que fica no cantinho do meu quarto.
Pego a foto da minha mãe em meu criado e a encaro.
- tenho tanta saudades da senhora, mãe!- digo encarando aquela foto.
A deixo ali e faço minha oração.
Dou um jeito em meus cabelos e visto um daqueles e blusas velhas.
Dou uma faxina na casa inteira pela manhã e deixo tudo brilhando pra não haver mais brigas, quando tudo ficou pronto já se passava das onze da manhã.
Hoje eu começo em um novo serviço como empregada doméstica.
É um bairro nobre, um casarão enorme que toma conta de quase um quarteirão, a senhora que cumpria com os deveres ira se aposentar e precisaram de alguém e quando vi a vaga não pensei duas vezes, a única reação que tive quando me chamaram foi ficar aos pulos.
A única coisa que eu estranhei foi a própria empregada ter me entrevistado, o costume é os donos da casa fazer a entrevista, mas tudo bem, ao menos eu tenho emprego agora e tudo que eu quero é voltar a trabalhar o quanto antes.
Logo após de arrumar toda a casa fui direto para o banheiro.
Tomei um banho quente e demorado, lavei meus cabelos e tentei dar um jeito naquela juba a qual eu chamo de cabelo.
Ter cabelo crespo não é nada fácil, confesso, sempre vejo várias meninas com lindos cabelos cacheados e me da uma certa inveja, porque pra ser sincero assumir meus cabelos foi tão difícil pra mim.
O Michael, o meu namorado, sempre faz questão de jogar na minha cara o quanto ele odeia o meu cabelo é isso me deixa totalmente insegura.
Eu me vesti com algo simples, uma calça jeans básica e uma blusa polo branca e nos pés meu all star, fiquei sem maquiagem, quase nunca uso, quem dirá pra trabalhar.
Passei meu perfume favorito e creme corporal e pronto.
Peguei minha bolsa que estava sob a cama e guardei todos os meus pertences pessoais, logo depois coloquei minha bolsa nos ombros.
Abri a porta do quarto saindo do mesmo e me virei trancando a porta, conheço muito bem cada pessoa dessa casa e sei que nem pensariam em pegar minhas coisas, principalmente a filha da minha madrasta, Lorena.
Lorena é uma pessoa bastante difícil de lidar, nos conhecemos a bastante tempo e mesmo assim não temos uma boa relação, pra ser sincera temos jeitos opostos, ela gosta de coisas totalmente diferente de mim e isso acaba dificultando nossa relação.
Entro na sala e deixo minha bolsa sob o sofá.
- você não tem vergonha de trabalhar como empregadinha, não?!- a voz dela chama minha atenção.
Desvio o olhar do celular e a encaro levantando uma sobrancelha.
Ela está jogada no sofá assistindo televisão, como de costume.
Balanço a cabeça, mas não digo uma palavra.
- não sei como você tem coragem de sair com esse cabelo na rua!- minha madrasta diz entrando na sala.
Fecho os olhos e conto até dez, mas minha vontade é de enfiar a mão na cara dessa mulher.
- eu já vou indo!- digo pegando minha bolsa novamente e guardando o celular na mesma.
Dou as costas, eu até ia comer algo, mas pelo jeito vai ser impossível.
- vai lavar privada de madame mesmo, pra isso que você nasceu!- ela diz.
Saio pela porta batendo a mesma com toda minha força.
Por muitas vezes eu tentei ter uma amizade com a lorena e com minha madrasta, mas hoje em dia vejo que simplesmente não dá certo.
Hoje eu vejo que meu pai não se importa, então eu apenas me afasto.
No começo eu achava que meu pai não percebia por estar cansado do trabalho, mas passei na vê que parece que pra ele não faz diferença.
Desço as vielas e que dão acesso ao ponto de ônibus, eu moro em um conjunto habitacional desde que nasci, eu gosto daqui, meus pais foram criados aqui, é um lugar parcialmente tranquilo, mas claro tem seu lado ruim, que no caso é o tráfico de drogas.
Entro na rua principalmente e diminuo meus passos já que o ponto está logo a frente, mas meus passos foram totalmente cessados quando eu vi Michael no meio dos meninos do movimento.
Coloco uma mão na cintura e cerro os olhos, mas que merda ele está fazendo lá?
Levanto uma sobrancelha e caminho em sua direção.
Michael é o homem da minha vida, nos conhecemos no colégio e nos tornamos amigos e com o tempo acabei me apaixonando, hoje em dia obviamente o amor acabou esfriando e o fogo da paixão diminui drasticamente, mas eu creio ser apenas uma fase.
Continuei andando em sua direção, ele está rindo em meio aos caras, mas quando ele se virou e o seu olhar se cruzou com o meu o seu rosto congelou.
- Bruna!- ele diz dando um sorriso amarelo e se levantando.
Cruzo os braços e levanto uma sobrancelha.
Ele caminha em minha direção se afastando dos outros caras.
- oque você estava fazendo em meio a essa caras?- pergunto o olhando nos olhos.
Ele balança a cabeça dando um sorriso fraco.
- fica tranquila, estava trocando um lero com os caras pra eles me arrumar um trampo!- ele diz tranquilamente.
Cerro os olhos.
- trampo? Você acha que eles vão te oferece trabalho de que?!- digo de uma forma sarcástica.
Me incomoda bastante vê o Michael no meio desses caras.
Não gosto de vê- lo envolvido nisso.
Não tenho nada contra os meninos, mas tenho na minha mente que nada do que eles fazem é certo.
- eles estão precisando de alguém pra ajudar em uma construção!- ele diz.
Levanto uma sobrancelha.
- construção de quê?- pergunto.
Ele balança a cabeça parecendo estar irritado.
- não sei, preta!- ele diz praticamente gritando.
Suspiro.
- abre seu olho!- digo apontando o dedo pra ele.
Ele apenas balança a cabeça dando um sorriso.
- você vai trabalhar?- ele pergunta mudando drasticamente o assunto.
Afirmou com a cabeça.
- então é melhor você ir logo, não é bom perder o horário!- ele diz.
O encaro por alguns momentos tentando decifrar sua expressão, noto que a todo o momento ele olha pra algo.
Dou uma risada nervosa.
- você por acaso está com vergonha de estar aqui comigo?- pergunto.
Ele coça a cabeça dando risada uma risada nervosa.
- claro que não, só estou com pressa pra ir pra casa...- ele diz meio que gaguejando.
Suspiro e concordo com a cabeça.
Dou um selinho nele, mas ele não parecia nada confortável com aquilo.
- eu tenho que ir pra casa, boa sorte com o novo emprego!- ele diz.
Mantive meu olhar sobre ele enquanto ele se afastava.
Me viro dando um suspiro e volto a caminhar.
O ônibus demora passar, mas quando passa está lotado.
O caminho para o trabalho é tão longo que deu até pra tirar uma boa soneca.
Quando chegou próximo ao condomínio eu desci e caminhei por mais ou menos uns quinze minutos, fora os minutos que fiquei parada na guarita esperando liberarem minha enteada.
Quando entrei pela portão do condomínio meu queixo foi ao chão, nunca vi algo parecido na minha vida, as casas parece cenário de novela da Globo, olhei para cada casa sentindo uma invejinha de cada morador dali.
As casas são incríveis, cada uma maior que a outra, cada fachada me deixava ainda mais fascinada, quando parei em frente a casa do endereço marcado no papel meu queixo foi ao chão.
A casa é simplesmente incrível, desde a sacada a grama da casa.
Dei um longo suspiro e um sorriso, fechei os olhos e senti que um novo tempo irá começar a partir de hoje.
Caminhei até a entrada da casa e fui recebida pela antiga empregada.
Ela me recebeu tão bem.
Me mostrou cada cômodo da casa e falou tudo como o dono gostava, ele tem até uma planilha de como gosta de tudo, acredita?
Me senti um peixe fora d'água, aquilo é tão grande e fora da minha realidade.
Quando voltamos para a sala principal ela me encarou.
- hoje é só pra você vê como tudo funciona, amanhã você começará trabalhar!- ela diz.
Concordo com a cabeça e a encaro com uma certa vergonha.
- como ele é?- pergunto juntando as mãos.
Ela da um sorriso doce e um suspiro calmo.
- ele é... Sério, mas é um homem muito bom!- ela diz se sentando no sofá.
- tenho medo dele não gostar dos meus serviços!- confesso.
Ela balança a cabeça.
- que nada, pela demostração que você me deu cuidará muito bem da casa!- ela diz dando os ombros.
Suspiro a encarando.
- espero que sim!- digo dando um sorriso fraco.
Ela balança a cabeça.
- O senhor Cristino mal para em casa, se você fizer tudo certinho vai vê como é bom trabalhar pra ele!- ela diz.
Concordo com a cabeça.
- farei de tudo pra dar certo!- digo um tanto quanto nervosa.
Ela terminou de me mostrar algumas preferências dele sobre a casa e acabamos ficando algumas "horas" ali.
Eu sinceramente não pensei que o homem fosse tão chato e exigente.
Quando o barulho alto de motor de carro soou lá fora ela praticamente pulou do sofá me fazendo pular também.
Ela me encarou com os olhos arregalados.
- você vai o conhecer antes do planejado!- ela diz com um sorriso totalmente nervoso nos lábios.
Acabo ficando nervosa também.
Tenho certeza que esse homem vai me odiar, tenho certeza.
Aquela enorme porta se abre e um nervoso tão grande tomou conta de mim que eu perdi os jogos da minha perna.
Quando "aquele" homem cruzou a porta eu senti cada parte do meu corpo se arrepiar.
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Continua...
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