—Estamos lidando com um assassino. Chegamos aqui após muito trabalho e investigação de muitos profissionais. Pessoas morreram porque não podemos prever o futuro, então, independentemente do que acredite, sorte ou não, está viva e não teremos mais mortes nesse caso – respondera rispidamente.
—E quanto à última garota que mencionou? – perguntara Sky.
—A encontramos no porta-malas do carro. Não chegamos a tempo para ela.
Por fim, a mulher vestindo roupas negras saíra, caminhando no chuvisqueiro em direção à SUV que a esperava. Todos os demais agentes já aguardavam em seus veículos. Sky continuava em pé à porta da frente da casa, agora vestindo calças, blusa de moletom e chinelos.
De braços cruzados, via os veículos manobrando e deixando a propriedade. Esperava que aquele evento não repercutisse na cidade, seria péssimo ser vista com a garota da casa com o assassino, já lhe bastava ter comprado a casa de um escritor alcoólatra louco sem saber.
De qualquer forma, Sky sentia que ainda faltava alguma coisa naquilo tudo. Talvez quando subisse para o quarto e conferisse suas anotações, tivesse todas as respostas de que precisava. A inspiração para escrever parecia mais forte.
No exato momento em que tocara a maçaneta para fechar a porta, abrira a boca em uma expressão de surpresa. Sabia que algo estava faltando, ainda tinha uma pergunta a fazer para a agente que esperava não ver nunca mais.
Sem tempo a perder, saíra correndo pela chuva, a blusa pink encharcando. Ângela vira a garota pelo retrovisor e reduzira a velocidade próxima ao portão de entrada dos jardins da residência. Abrira o vidro lateral e aguardara a moça que se aproximava. Sky estava ofegante.
—Se lembrou de algo mais? – perguntara a morena.
—Na verdade – dissera a ruiva, recuperando o fôlego – Tenho uma pergunta. Você disse que traçaram os perfis das vítimas a fim de descobrir o que Ricardo procurava nelas. O que as garotas tinham em comum? O que o atraía?
Gotcha! – pensara Ângela com um sorriso nos lábios enquanto encarava a ruiva com os cabelos molhados na chuva.
—Pensei que fosse deixar escapar esse detalhe – dissera a mulher de dentro do veículo – Me frustraria se tivesse esquecido, Serenity Sinclair, ou eu deveria a chamar de Sky? Pois é, quando se apresentou, fiz uma busca pelo seu perfil online e descobri muitas coisas interessantes a seu respeito, irrelevantes para o caso, agora que temos Ricardo sob custódia. Respondendo sua pergunta, todas as vítima eram escritoras, assim como você – as palavras de Ângela eram agora como lanças afiadas atingindo a escritora no peito – Mas não se preocupe com isso. Ricardo monitorava suas vítimas, as vigiava, as estudava, planejava qual a melhor forma de agir, explorar suas franquezas e as seduzir. O que ele estava vindo fazer em Camden era desovar o corpo de outra vítima, não fazer uma nova. Você se encaixar no padrão das vítimas é apenas uma coincidência, nada mais. Considere-se uma mulher de sorte.
A escritora dera dois passos para trás, se afastando da SUV negra. As gotas da chuva agora a atingiam como farpas de gelo, mas não importava. Suspirara. Tudo se resumia a ela, mesmo que Ângela não soubesse, não tinha como saber.
—Me ligue se precisar de alguma coisa, você tem meu cartão.
Ângela acenara com a cabeça e fechara o vidro negro do carro que voltava a se movimentar. Sky não dissera nada. Seu coração agora batia mais forte, era como se as coisas ali não estivessem se encerrando, mas apenas começando.
E ela era a única responsável por tudo.
Um minuto depois voltara correndo para a casa, seus passos lançando água para cima enquanto corria. Antes de fechar a porta, voltara o olhar para a enorme estátua de mármore branco no jardim, que parecia a encarar.
Tão logo ativara o alarme, subira correndo pelas escadarias. Passara direto pelo banheiro sem sequer parar para pegar uma toalha de banho e se enxugar. Abrira a porta do quarto com força e correra até a cama, se sentando ao lado do criado mudo. Colocara as duas mãos sobre a face, cobrindo a boca e o nariz. Os belos olhos verdes fitavam o vazio enquanto pensava.
Aquela era a primeira noite da linda escritora de cabelos cor de fogo em sua nova casa. A madeira crepitava em brasas na lareira enquanto suas chamas eram refletidas nos olhos cor de esmeralda da garota. Ao mesmo tempo sombras bruxuleantes dançavam pelas paredes.
Ainda que estivesse só, Celeste esbanjava elegância e glamour. Escolhera um encantador conjunto de lingerie negro com rendas, uma peça digna de uma intensa noite de prazer simplesmente para o ato de degustar uma maravilhosa taça de vinho. Para Celeste, cada ação, cada gesto, cada respiração emanava sensualidade. Bastava saber apreciar cada instante.
Após relaxar, já entorpecida pelo álcool e por sua libido, a escritora fora para a cama, envolver-se nos braços de Morfeu e seus sonhos eróticos.
Celeste sequer poderia imaginar que seus sonhos tornar-se-iam realidade ao ser desperta pelo som de batidas na porta da frente no meio da madrugada. Como a gata preguiçosa e manhosa que era, lá fora a mulher atender.
Sua respiração falhara e seu coração quase parara ao se deparar com um belíssimo homem de semblante latino. O garanhão, cujo corpo parecia ter sido esculpido pelos deuses, precisava de ajuda e Celeste, agora hipnotizada diante daquele pedaço de mal caminho, estava mais que pronta para o ajudar.
Ricardo Gomes, como se apresentara, era solteiro, um advogado de Nova York cujo carro estava quebrado na estrada há quilômetros de distância. Celeste sabia que aquele encontro era algo traçado pelo destino. Sentia isso.
A química entre ambos explodira como uma vulcão em erupção. Seus lábios já se beijavam antes mesmo que tivessem percebido as palavras preliminares. Era como se seus corpos se conhecessem e se procurassem desde sempre. Se existia o conceito de almas gêmea, corpos gêmeos também deveria existir.
Não havia qualquer sentimento envolvido, nem era preciso. Bastava o tesão fluindo por cada célula de seus corpos, preenchendo toda a pele como o suor diante da ação irrefreada. Aquilo bastava para a mulher, que via no sexo, a forma suprema de se conectar com o universo.
Sky suspirara olhando para a gaveta do criado mudo. Celeste era o nome da protagonista na maioria de seus romances. Era como ela própria se definia nos contos que escrevia sobre si mesma, inspirados por seu romance com Robert.
As palavras em sua mente ainda desenhavam imagens de sua transa pouco tempo antes com o advogado. Ela havia escrito aquilo antes de dormir. Agora se sentia responsável pelo ocorrido.
Mas como seria? – indagara a si mesma. Ainda que aquele estranho caderno tivesse o poder de transformar as palavras em realidade, não escrevera sobre o advogado ser um assassino em série. Precisava reler cada linha. Saber que não estava ficando louca.
A mão direita tremia quando Sky abrira a gaveta e tirara o caderno de dentro. Na capa, as palavras Sexy Notes escritas com tinta dourada brilhavam sob a luz do abajur. Era a hora da verdade. A garota prendera a respiração.
Quando abrira o caderno, sua reação fora completamente diferente do que esperava ser. Arregalara os olhos ainda mais surpresa. Folheara as páginas em busca de algo que não encontrara. O que estava acontecendo? Teria sonhado?
O fato era que o caderno parecia intacto, cada uma de suas páginas virgens, totalmente em branco. Que diabos estava acontecendo?
Após Ângela e sua equipe deixarem a residência, Sky subira para o quarto e se agarrara ao Sexy Notes. Passara a chamar aquele estranho caderno pelo nome de seu antigo blog, pois a única coisa que restara do que havia feito tinha sido o título com letras douradas na capa. A ruiva mordia o lábio inferior de leve, nervosa, curiosa, pensativa. Fechara os olhos e ficara assim por mais de trinta minutos com o livro colado ao peito em um abraço. Se dizia todo o tempo que não estava louca. Era uma mulher jovem e saudável, plenamente no controle de suas faculdades mentais. Não havia dúvidas, ela sabia que tinha escrito grande parte da cena junto de Ricardo naquele caderno. O encontro, a transa, tudo correra perfeitamente até a equipe do FBI surgir em sua casa. Agora, tudo que restava era a certeza de que havia transado com um assassino serial. A confusão em sua mente se dava quanto ao poder daquele caderno. Tudo o que havia escrito tinha acontecido. Contudo,
Embora o clima continuasse frio e chuvoso como no dia anterior, para a ruiva era como uma manhã ensolarada em um domingo de festa. Levantara da cama em um salto, abrira os braços e girara o corpo no lugar erguendo um dos joelhos como uma bailarina. Sorrira se encarando no espelho e se dando bom dia.Sem perder tempo, apanhara toalhas e xampus e correra para o banheiro. O dia não espera para começar – costumava dizer Melody e a jovem aprendera desde pequena a despertar com o raiar do sol, mesmo quando não havia sol.Pouco tempo depois, lá estava a ruiva saindo pela porta da cozinha. Checara os status do sistema de segurança pelo celular e conferira as horas, seis e vinte da manhã. Desativara o alarme do SUV e enfiara a mão direita no bolso da blusa, retirando dela uma touca de lã.Sky vestira uma cacharrel de cor rosa sob uma jaqueta de couro marrom. A calça jeans
Parecia loucura pensar aquilo, mas qual seria a extensão do poder do Sexy Notes? Aparentemente suas palavras tinham moldado a realidade, fazendo com que Ricardo viesse até ela, então a única coisa que conseguia presumir era que Ben também havia escrito no caderno. Mas… monstros?O que Ben estava querendo dizer com aquilo? Precisava ler seus livros.—Como ele morreu?A pergunta fora direta, mas assim como as palavras anteriores, não passara de outro sopro de voz. Havia diversas pessoas nas mesas próximas e Sky não queria que a ouvissem bisbilhotando sobre a vida de um homem morto.Elliott refletira por um instante e ajeitara novamente os óculos sobre o nariz.—Ben foi encontrado morto pelo filho, Johnny – explicara o sujeito – Parece que já estava lá tinha alguns dias, mas ninguém havia sentido sua falta. Em seus últimos
Sky rolara preguiçosamente na cama, os olhos ameaçavam entreabrir, mas o sono era mais forte. Quando o celular tocara pela quinta vez, a escritora abrira a boca em um bocejo matinal, como costumava chamar, cedo demais para seus padrões de autora baladeira com fama de acordar tarde.Finalmente, quando o smartphone tocara pela vigésima vez, a garota voltara a face na direção do criado mudo. Parte de seus cabelos lhe caíra sobre o rosto, cobrindo os olhos, o nariz e a boca. Ao respirar, a ruiva engolira uma das mechas acobreadas inteira, engasgando e dessa vez, despertando de mau humor.Ainda que ninguém a visse, Sky arqueara as sobrancelhas, torcera os lábios e estreitara o olhar, interpretando da melhor forma possível a expressão de vilã que sempre via em animações da Disney. Adoraria ter alguém por perto naquele momento para canalizar suas energias. Mas est
—Nova York sempre será uma parte importante da minha vida – dissera Sky – Mas não era meu destino ficar lá para sempre. Mesmo que Érika tivesse parado de me perseguir por toda parte, tudo sempre me lembrava Robert. Não é como se fosse me esquecer dele por aqui, mas sinto que agora tenho uma chance de recomeçar e ser feliz longe daquilo tudo.—Tenho certeza de que as coisas ficarão ótimas daqui em diante, querida – respondera a mãe – Sabe que eu nunca gostei daquela cidade, tanta poluição, carros e aglomeração de pessoas, tantos edifícios gigantescos ocupando toda a paisagem… mal espero para conhecer Camden e sua nova casa.Ainda nenhuma sugestão de cuidados ou medidas preventivas. Melody com certeza não estava dizendo tudo que pensava. Sky podia sentir a desconfiança da mãe e sabia que teria de d
De repente, como num passe de mágica, a semana de Sky se transformara no que ela passara a chamar de o sonho perfeito. A escritora abusara de todo o talento que tinha para narrar uma cena de sexo entre Celeste, a protagonista de seus romances e Jordan, seu mais novo desejo sexual.Quando começara a escrita no Sexy Notes, as ideias em sua mente surgiam como se estivesse dentro de um filme, apenas descrevendo minuciosamente as cenas que passavam diante de seus olhos. Lá estava ela, fodendo ardentemente com um homem sedutor, lindo e viril. Se fosse usar todas as ideias que tivera ao escrever aquela cena, escreveria um livro facilmente.O fato, percebera a ruiva, fora que após a noite em que descrevera sua futura foda com o gostosão no caderno, não apenas sua inspiração voltara a fluir, mas diversos outros aspectos de sua vida pareciam ter se organizado.Começara a escrever um novo roma
A garota ouvira o elogio desfrutando o prazer de cada palavra. Se havia uma coisa da qual nunca se cansava, era de ser bajulada por homens. Ouvir quando enalteciam suas qualidades era como música para seus ouvidos.Ainda assim, dessa vez a ruiva ponderara brevemente acerca do que ouvia. Quanto daquelas palavras eram realmente Jordan falando e quanto era o Sexy Notes agindo? Na cena escrita, Celeste era elogiada logo de imediato, mas não havia um diálogo pré-definido. Aquilo era o Sexy Notes improvisando ou Jordan assumindo o controle? Não importava realmente. Estava ótimo daquele jeito.—Obrigada. Você também está ótimo. Estava me esperando?—Estava organizando algumas coisas no convés e vi quando se aproximava na avenida. Como poderia apenas a admirar de longe? – respondera o sujeito.Sky sorrira e colocara as mãos na cintura, lançando seu olhar ma
Vou adorar movimentar sua cama – pensara a ruiva.Após o jantar, a ruiva descera para o porão da embarcação junto do anfitrião. O lugar era bem mais organizado do que esperava, havia uma cozinha adaptada e muito bem abastecida, um banheiro pequeno, mas limpo e perfumado e o que mais lhe interessava, uma cama quente e macia. Jordan mostrara ainda outras seções com equipamentos de pesca e acampamento, que segundo ele, servia para os passeios em longínquas ilhas remotas e solitárias. Não parecia verdade, mas o tom do rapaz era sério e não mudara com o sorriso desconfiado da moça.Não demorara para que o casal caísse na cama aos beijos novamente. Sky sabia o que queria e estava ainda mais excitada por estar testando suas teorias sobre o Sexy Notes. Era como estar atuando em uma novela erótica na qual ela era a roteirista, protagonista e atriz princ