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VIII - Inspiração perigosa

—Estamos lidando com um assassino. Chegamos aqui após muito trabalho e investigação de muitos profissionais. Pessoas morreram porque não podemos prever o futuro, então, independentemente do que acredite, sorte ou não, está viva e não teremos mais mortes nesse caso – respondera rispidamente.

—E quanto à última garota que mencionou? – perguntara Sky.

—A encontramos no porta-malas do carro. Não chegamos a tempo para ela.

Por fim, a mulher vestindo roupas negras saíra, caminhando no chuvisqueiro em direção à SUV que a esperava. Todos os demais agentes já aguardavam em seus veículos. Sky continuava em pé à porta da frente da casa, agora vestindo calças, blusa de moletom e chinelos.

De braços cruzados, via os veículos manobrando e deixando a propriedade. Esperava que aquele evento não repercutisse na cidade, seria péssimo ser vista com a garota da casa com o assassino, já lhe bastava ter comprado a casa de um escritor alcoólatra louco sem saber.

De qualquer forma, Sky sentia que ainda faltava alguma coisa naquilo tudo. Talvez quando subisse para o quarto e conferisse suas anotações, tivesse todas as respostas de que precisava. A inspiração para escrever parecia mais forte.

No exato momento em que tocara a maçaneta para fechar a porta, abrira a boca em uma expressão de surpresa. Sabia que algo estava faltando, ainda tinha uma pergunta a fazer para a agente que esperava não ver nunca mais.

Sem tempo a perder, saíra correndo pela chuva, a blusa pink encharcando. Ângela vira a garota pelo retrovisor e reduzira a velocidade próxima ao portão de entrada dos jardins da residência. Abrira o vidro lateral e aguardara a moça que se aproximava. Sky estava ofegante.

—Se lembrou de algo mais? – perguntara a morena.

—Na verdade – dissera a ruiva, recuperando o fôlego – Tenho uma pergunta. Você disse que traçaram os perfis das vítimas a fim de descobrir o que Ricardo procurava nelas. O que as garotas tinham em comum? O que o atraía?

Gotcha! – pensara Ângela com um sorriso nos lábios enquanto encarava a ruiva com os cabelos molhados na chuva.

—Pensei que fosse deixar escapar esse detalhe – dissera a mulher de dentro do veículo – Me frustraria se tivesse esquecido, Serenity Sinclair, ou eu deveria a chamar de Sky? Pois é, quando se apresentou, fiz uma busca pelo seu perfil online e descobri muitas coisas interessantes a seu respeito, irrelevantes para o caso, agora que temos Ricardo sob custódia. Respondendo sua pergunta, todas as vítima eram escritoras, assim como você – as palavras de Ângela eram agora como lanças afiadas atingindo a escritora no peito – Mas não se preocupe com isso. Ricardo monitorava suas vítimas, as vigiava, as estudava, planejava qual a melhor forma de agir, explorar suas franquezas e as seduzir. O que ele estava vindo fazer em Camden era desovar o corpo de outra vítima, não fazer uma nova. Você se encaixar no padrão das vítimas é apenas uma coincidência, nada mais. Considere-se uma mulher de sorte.

A escritora dera dois passos para trás, se afastando da SUV negra. As gotas da chuva agora a atingiam como farpas de gelo, mas não importava. Suspirara. Tudo se resumia a ela, mesmo que Ângela não soubesse, não tinha como saber.

—Me ligue se precisar de alguma coisa, você tem meu cartão.

Ângela acenara com a cabeça e fechara o vidro negro do carro que voltava a se movimentar. Sky não dissera nada. Seu coração agora batia mais forte, era como se as coisas ali não estivessem se encerrando, mas apenas começando.

E ela era a única responsável por tudo.

Um minuto depois voltara correndo para a casa, seus passos lançando água para cima enquanto corria. Antes de fechar a porta, voltara o olhar para a enorme estátua de mármore branco no jardim, que parecia a encarar.

Tão logo ativara o alarme, subira correndo pelas escadarias. Passara direto pelo banheiro sem sequer parar para pegar uma toalha de banho e se enxugar. Abrira a porta do quarto com força e correra até a cama, se sentando ao lado do criado mudo. Colocara as duas mãos sobre a face, cobrindo a boca e o nariz. Os belos olhos verdes fitavam o vazio enquanto pensava.

Aquela era a primeira noite da linda escritora de cabelos cor de fogo em sua nova casa. A madeira crepitava em brasas na lareira enquanto suas chamas eram refletidas nos olhos cor de esmeralda da garota. Ao mesmo tempo sombras bruxuleantes dançavam pelas paredes.

Ainda que estivesse só, Celeste esbanjava elegância e glamour. Escolhera um encantador conjunto de lingerie negro com rendas, uma peça digna de uma intensa noite de prazer simplesmente para o ato de degustar uma maravilhosa taça de vinho. Para Celeste, cada ação, cada gesto, cada respiração emanava sensualidade. Bastava saber apreciar cada instante.

Após relaxar, já entorpecida pelo álcool e por sua libido, a escritora fora para a cama, envolver-se nos braços de Morfeu e seus sonhos eróticos.

Celeste sequer poderia imaginar que seus sonhos tornar-se-iam realidade ao ser desperta pelo som de batidas na porta da frente no meio da madrugada. Como a gata preguiçosa e manhosa que era, lá fora a mulher atender.

Sua respiração falhara e seu coração quase parara ao se deparar com um belíssimo homem de semblante latino. O garanhão, cujo corpo parecia ter sido esculpido pelos deuses, precisava de ajuda e Celeste, agora hipnotizada diante daquele pedaço de mal caminho, estava mais que pronta para o ajudar.

Ricardo Gomes, como se apresentara, era solteiro, um advogado de Nova York cujo carro estava quebrado na estrada há quilômetros de distância. Celeste sabia que aquele encontro era algo traçado pelo destino. Sentia isso.

A química entre ambos explodira como uma vulcão em erupção. Seus lábios já se beijavam antes mesmo que tivessem percebido as palavras preliminares. Era como se seus corpos se conhecessem e se procurassem desde sempre. Se existia o conceito de almas gêmea, corpos gêmeos também deveria existir.

Não havia qualquer sentimento envolvido, nem era preciso. Bastava o tesão fluindo por cada célula de seus corpos, preenchendo toda a pele como o suor diante da ação irrefreada. Aquilo bastava para a mulher, que via no sexo, a forma suprema de se conectar com o universo.

Sky suspirara olhando para a gaveta do criado mudo. Celeste era o nome da protagonista na maioria de seus romances. Era como ela própria se definia nos contos que escrevia sobre si mesma, inspirados por seu romance com Robert.

As palavras em sua mente ainda desenhavam imagens de sua transa pouco tempo antes com o advogado. Ela havia escrito aquilo antes de dormir. Agora se sentia responsável pelo ocorrido.

Mas como seria? – indagara a si mesma. Ainda que aquele estranho caderno tivesse o poder de transformar as palavras em realidade, não escrevera sobre o advogado ser um assassino em série. Precisava reler cada linha. Saber que não estava ficando louca.

A mão direita tremia quando Sky abrira a gaveta e tirara o caderno de dentro. Na capa, as palavras Sexy Notes escritas com tinta dourada brilhavam sob a luz do abajur. Era a hora da verdade. A garota prendera a respiração.

Quando abrira o caderno, sua reação fora completamente diferente do que esperava ser. Arregalara os olhos ainda mais surpresa. Folheara as páginas em busca de algo que não encontrara. O que estava acontecendo? Teria sonhado?

O fato era que o caderno parecia intacto, cada uma de suas páginas virgens, totalmente em branco. Que diabos estava acontecendo?

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