Ângela Sant’Anna Del’Aventura. Quando ouvira o nome pela primeira vez, Sky precisara se controlar para não rir. De alguma forma, para a escritora, aquele parecia o nome de alguma protagonista de novela mexicana.
Contudo, a verdade era um pouco mais complicada e séria.
Agente Del’Aventura. O título não fazia o nome parecer menos engraçado.
Ângela, como pedira para ser chamada, era uma agente do FBI e segundo explicara brevemente, estava à frente de uma operação para capturar o homem com quem a ruiva havia passado a noite.
Quando ouvira que o advogado com quem transara era procurado pelo FBI em três estados, acusado de oito homicídios, Sky começara a ponderar se havia tomado a decisão certa na noite anterior, pouco antes de aquele belo espécime de homem bater à sua porta.
Entretanto, não conseguia se concentrar com quinze homens vestindo trajes negros andando dentro de sua casa sem terem sido convidados menos de vinte e quatro horas desde que chegara. Aquilo não parecia um bom sinal, tudo que desejava era tranquilidade, mas o que via era exatamente o contrário.
Para acabar de vez com a paz e harmonia do lugar, os anjos de Sky e Ângela pareciam não ter se dado bem – como costumava dizer a mãe da escritora.
—Então… – indagara a ruiva, falando com a agente – Ricardo já está detido e já disse tudo que sei. Quanto tempo mais precisam ficar por aqui?
Sky não era o tipo de pessoa que apreciava visitadas não agendadas, quanto mais estranhos dentro de sua residência. Após o sujeito ter sido detido, Ângela ordenara que seus homens fizessem uma busca rápida pela casa. Sky sentira o desejo de se opor à ordem, mas não queria problemas com uma agente federal.
A inspeção fora rápida, considerando o tamanho do lugar, com mais de vinte cômodos. Logo os homens estavam em seus veículos, se preparando para sair. Ângela ainda não parecia satisfeita, mesmo com a prisão do criminoso.
—Poderia me ligar, caso lembre de mais alguma coisa? – indagara a mulher apontando um cartão para a ruiva.
Não conte com isso – pensara a ruiva com um sorriso nos lábios.
—Acredito que já disse tudo de que me lembrava – respondera a escritora – Como conferiu pelas filmagens das câmeras de segurança, não faz muito tempo que Ricardo apareceu aqui. Não há nada que não tenha dito.
Os olhares diretos e desafiadores entre Sky e a investigadora faiscavam. As indiferenças haviam começado quando Ângela soubera que Sky se mudara para aquela residência na noite anterior. Houvera uma chuva de perguntas das quais a garota se esquivara habilmente nas respostas.
Umas das inúmeras vantagens em ser uma escritora experiente era ser boa com as palavras, não apenas quando estava escrevendo seus livros. Sky sempre tivera desenvoltura para se expressar e dizer apenas o que desejava.
A ruiva tinha mais talento que políticos para dar respostas longas, complexas e elaboradas, prendendo a atenção do ouvinte, sem dizer nada do que realmente havia sido perguntado. E Sky estava ali para se desprender de seu passado, não para sair o compartilhando logo nas primeiras horas.
—Notei que… – começara a agente, se virando para o lado e apontando com o indicador para o alto, sem olhar diretamente para a ruiva – Quando disse que Ricardo era um assassino em série, ficou extremamente assustada, uma reação normal diante desse tipo de revelação. Não ficou em choque porque não estava na posição de uma nova vítima e também entendo isso. O que surpreende nesse caso é que diante de tais informações, você não perguntou nenhuma vez o que ele fez com as vítimas. Nem nada sobre elas.
Observe. Absorva.
Sky se lembrara das palavras que haviam sido um mantra para si própria na grande Nova York após seu conturbado término com Robert. Aquela mulher era como ela, sempre observando, atenta, absorvendo informações que as pessoas deixavam escapar sem perceber.
—Já é de manhã, estou cansada e creio que verei sobre a prisão na TV… – era mentira, Sky não gostava de jornais televisivos e o sensacionalismo forçado apresentado neles – Tudo o que quero agora é cair na minha cama e descansar. Agradeço por terem vindo, nem quero pensar no que poderia ter acontecido caso não tivessem aparecido – essa parte era sincera.
Os olhos de Ângela brilharam.
—Vou lhe dizer o que teria acontecido – claro, Sky não estava nem um pouco interessada em ouvir o que a mulher tinha a dizer, mas ao que parecia, bastava essa razão para Ângela insistir em continuar falando – O homem que conheceu é chamado de Dom Juan da Morte, um assassino frio e sem pudores, tão sedutor quanto metódico e cruel. Nos últimos dois anos Ricardo Gomes sedou e removeu cirurgicamente os corações de oito mulheres enquanto elas dormiam. Isso após as seduzir e ter relações sexuais com elas. Me entende?
E como não entender? A pedido da agente, Sky revelara as gravações em suas câmeras de vigilância desde o momento em que o assassino batera à sua porta. Fora impossível esconder a foda entre ambos na pequena biblioteca, cada detalhe sendo assistido por diversos homens e outras mulheres da equipe.
Felizmente Sky já havia transado na presença de outras pessoas inúmeras vezes em suas noites na metrópole após seu primeiro e último romance. Festas com orgias não eram novidade para a jovem, que não sentia vergonha de seu corpo, bem como apreciava ser admirada enquanto fodia.
—Eu… – começara a ruiva, chocada com a informação – Sinceramente não sei o que dizer. Apenas queria o ajudar… não irei abrir mais a porta para qualquer um a partir de hoje. Eu poderia estar…
—Não se lamente – rebatera a morena antes mesmo que Sky terminasse a frase – Chegamos a tempo. Tem sua vida pela frente e lhe garanto que Ricardo passará o resto de seus dias em um cubículo, de onde não poderá ferir ninguém até que chegue o momento de responder por seus crimes.
Apesar do risco que havia corrido, os orgasmos haviam feito a noite valer a pena. Além disso, em seu íntimo, a garota sentia que tivera algo mais a ver com tudo aquilo, algo que sentia, mas ainda não podia explicar. Obviamente, ter um assassino em série em sua porta não fazia parte de seus planos, mas estivera no controle de parte daquela noite, tinha certeza disso.
Agora só precisava que Ângela e seus homens fossem embora para checar a outra face da verdade sobre os acontecimentos recentes. Ainda assim, algo a fizera refletir sobre a presença do FBI em sua porta. Teria que suportar Ângela por mais alguns minutos se quisesse a resposta para a nova pergunta.
—Como sabiam que Ricardo estava aqui? Ele disse que seu carro quebrou na estrada, isso é mesmo verdade? – indagara.
A resposta para aquela pergunta definiria muito mais que uma mera dúvida sendo esclarecida para a escritora, seria a prova de que não estava louca, como parecia ao se lembrar de detalhes não esclarecidos.
—Ironicamente? – respondera a agente se virando para a anfitriã – Verdade seja dita, você é uma garota de muita sorte.
—O que quer dizer?
Maldição! – pensara Sky em silêncio. Aquela mulher era tão boa quanto ela em omitir detalhes da verdade. O que mais estava acontecendo ali?
—Vou resumir, ok? Tente me acompanhar – Sky sentira um impulso em dizer que não era uma retardada qualquer, mas mantivera a calma, apenas ouvindo – Após as primeiras vítimas surgirem com o mesmo modus operandi de um serial killer, traçamos seus perfis a fim de encontrar as similaridades que o assassino buscava. Reescrevemos seus passos e registramos os potenciais suspeitos com quem haviam se relacionado antes de suas mortes. Vinte homens se encaixaram no perfil do assassino, embora todos tivessem álibis impecáveis. Ricardo, para nossa surpresa, era um dos menos cotados, tendo menos de cinquenta por cento de chances de ser nosso criminoso – sinal de que seus especialistas deveriam ser demitidos, pensara Sky – Mesmo assim, passamos a rastrear e os seguir por toda parte. Novas vítimas apareceram próximas a quase todos, exceto por ele.
Com um certo prazer na voz, Sky cortara a explicação de Ângela.
—Porque ele estava manipulando sua investigação. Enquanto realizava os crimes, deixava pistas que os levavam para alvos errados – dissera secamente.
O olhar de Ângela agora era de ódio e o de Sky de pura satisfação.
—Eu não usaria tais palavras – claro que não usaria, pensara a ruiva – Não há como adivinhar o que se passa na mente de um psicopata facilmente. Quando entendemos o que acontecia, colocamos todas as possíveis futuras vítimas sob proteção com vigilância vinte e quatro horas por dia – as usando como iscas – E quando uma delas desapareceu, imediatamente reescrevemos seus passos nas últimas vinte e quatro horas, identificando o carro de Ricardo próximo à sua casa. Ele esperou que ela saísse e a encontrou em um mercado próximo. Depois se encontraram em uma lanchonete e por fim, ela sumiu – onde estavam os agentes responsáveis pela segurança da moça? – Passamos a procurar pelo carro de Ricardo em câmeras de segurança de trânsito e descobrimos que ele vinha para cá. Acionamos a polícia local e passamos a procurar, encontrando o veículo à margem da estrada, realmente com uma falha elétrica no motor.
—Então foi sorte que tenham chegado aqui antes que me tornasse uma nova vítima… – emendara a garota em um suspiro.
Ângela torcera os lábios. Aquela era uma garota difícil de dialogar.
—Estamos lidando com um assassino. Chegamos aqui após muito trabalho e investigação de muitos profissionais. Pessoas morreram porque não podemos prever o futuro, então, independentemente do que acredite, sorte ou não, está viva e não teremos mais mortes nesse caso – respondera rispidamente.—E quanto à última garota que mencionou? – perguntara Sky.—A encontramos no porta-malas do carro. Não chegamos a tempo para ela.Por fim, a mulher vestindo roupas negras saíra, caminhando no chuvisqueiro em direção à SUV que a esperava. Todos os demais agentes já aguardavam em seus veículos. Sky continuava em pé à porta da frente da casa, agora vestindo calças, blusa de moletom e chinelos.De braços cruzados, via os veículos manobrando e deixando a propriedade. Esperava que aquele evento
Após Ângela e sua equipe deixarem a residência, Sky subira para o quarto e se agarrara ao Sexy Notes. Passara a chamar aquele estranho caderno pelo nome de seu antigo blog, pois a única coisa que restara do que havia feito tinha sido o título com letras douradas na capa. A ruiva mordia o lábio inferior de leve, nervosa, curiosa, pensativa. Fechara os olhos e ficara assim por mais de trinta minutos com o livro colado ao peito em um abraço. Se dizia todo o tempo que não estava louca. Era uma mulher jovem e saudável, plenamente no controle de suas faculdades mentais. Não havia dúvidas, ela sabia que tinha escrito grande parte da cena junto de Ricardo naquele caderno. O encontro, a transa, tudo correra perfeitamente até a equipe do FBI surgir em sua casa. Agora, tudo que restava era a certeza de que havia transado com um assassino serial. A confusão em sua mente se dava quanto ao poder daquele caderno. Tudo o que havia escrito tinha acontecido. Contudo,
Embora o clima continuasse frio e chuvoso como no dia anterior, para a ruiva era como uma manhã ensolarada em um domingo de festa. Levantara da cama em um salto, abrira os braços e girara o corpo no lugar erguendo um dos joelhos como uma bailarina. Sorrira se encarando no espelho e se dando bom dia.Sem perder tempo, apanhara toalhas e xampus e correra para o banheiro. O dia não espera para começar – costumava dizer Melody e a jovem aprendera desde pequena a despertar com o raiar do sol, mesmo quando não havia sol.Pouco tempo depois, lá estava a ruiva saindo pela porta da cozinha. Checara os status do sistema de segurança pelo celular e conferira as horas, seis e vinte da manhã. Desativara o alarme do SUV e enfiara a mão direita no bolso da blusa, retirando dela uma touca de lã.Sky vestira uma cacharrel de cor rosa sob uma jaqueta de couro marrom. A calça jeans
Parecia loucura pensar aquilo, mas qual seria a extensão do poder do Sexy Notes? Aparentemente suas palavras tinham moldado a realidade, fazendo com que Ricardo viesse até ela, então a única coisa que conseguia presumir era que Ben também havia escrito no caderno. Mas… monstros?O que Ben estava querendo dizer com aquilo? Precisava ler seus livros.—Como ele morreu?A pergunta fora direta, mas assim como as palavras anteriores, não passara de outro sopro de voz. Havia diversas pessoas nas mesas próximas e Sky não queria que a ouvissem bisbilhotando sobre a vida de um homem morto.Elliott refletira por um instante e ajeitara novamente os óculos sobre o nariz.—Ben foi encontrado morto pelo filho, Johnny – explicara o sujeito – Parece que já estava lá tinha alguns dias, mas ninguém havia sentido sua falta. Em seus últimos
Sky rolara preguiçosamente na cama, os olhos ameaçavam entreabrir, mas o sono era mais forte. Quando o celular tocara pela quinta vez, a escritora abrira a boca em um bocejo matinal, como costumava chamar, cedo demais para seus padrões de autora baladeira com fama de acordar tarde.Finalmente, quando o smartphone tocara pela vigésima vez, a garota voltara a face na direção do criado mudo. Parte de seus cabelos lhe caíra sobre o rosto, cobrindo os olhos, o nariz e a boca. Ao respirar, a ruiva engolira uma das mechas acobreadas inteira, engasgando e dessa vez, despertando de mau humor.Ainda que ninguém a visse, Sky arqueara as sobrancelhas, torcera os lábios e estreitara o olhar, interpretando da melhor forma possível a expressão de vilã que sempre via em animações da Disney. Adoraria ter alguém por perto naquele momento para canalizar suas energias. Mas est
—Nova York sempre será uma parte importante da minha vida – dissera Sky – Mas não era meu destino ficar lá para sempre. Mesmo que Érika tivesse parado de me perseguir por toda parte, tudo sempre me lembrava Robert. Não é como se fosse me esquecer dele por aqui, mas sinto que agora tenho uma chance de recomeçar e ser feliz longe daquilo tudo.—Tenho certeza de que as coisas ficarão ótimas daqui em diante, querida – respondera a mãe – Sabe que eu nunca gostei daquela cidade, tanta poluição, carros e aglomeração de pessoas, tantos edifícios gigantescos ocupando toda a paisagem… mal espero para conhecer Camden e sua nova casa.Ainda nenhuma sugestão de cuidados ou medidas preventivas. Melody com certeza não estava dizendo tudo que pensava. Sky podia sentir a desconfiança da mãe e sabia que teria de d
De repente, como num passe de mágica, a semana de Sky se transformara no que ela passara a chamar de o sonho perfeito. A escritora abusara de todo o talento que tinha para narrar uma cena de sexo entre Celeste, a protagonista de seus romances e Jordan, seu mais novo desejo sexual.Quando começara a escrita no Sexy Notes, as ideias em sua mente surgiam como se estivesse dentro de um filme, apenas descrevendo minuciosamente as cenas que passavam diante de seus olhos. Lá estava ela, fodendo ardentemente com um homem sedutor, lindo e viril. Se fosse usar todas as ideias que tivera ao escrever aquela cena, escreveria um livro facilmente.O fato, percebera a ruiva, fora que após a noite em que descrevera sua futura foda com o gostosão no caderno, não apenas sua inspiração voltara a fluir, mas diversos outros aspectos de sua vida pareciam ter se organizado.Começara a escrever um novo roma
A garota ouvira o elogio desfrutando o prazer de cada palavra. Se havia uma coisa da qual nunca se cansava, era de ser bajulada por homens. Ouvir quando enalteciam suas qualidades era como música para seus ouvidos.Ainda assim, dessa vez a ruiva ponderara brevemente acerca do que ouvia. Quanto daquelas palavras eram realmente Jordan falando e quanto era o Sexy Notes agindo? Na cena escrita, Celeste era elogiada logo de imediato, mas não havia um diálogo pré-definido. Aquilo era o Sexy Notes improvisando ou Jordan assumindo o controle? Não importava realmente. Estava ótimo daquele jeito.—Obrigada. Você também está ótimo. Estava me esperando?—Estava organizando algumas coisas no convés e vi quando se aproximava na avenida. Como poderia apenas a admirar de longe? – respondera o sujeito.Sky sorrira e colocara as mãos na cintura, lançando seu olhar ma