O hospital estava especialmente movimentado naquela tarde. Jéssica terminava de revisar alguns prontuários quando Marcelo apareceu à porta da sala de descanso, segurando um café e exibindo um olhar casualmente interessado.
— Precisa de um reforço? — perguntou, estendendo o copo.
Ela aceitou com um aceno de cabeça, massageando as têmporas.
— Se você soubesse o tanto de coisa que já resolvi hoje...
Ele riu e sentou-se ao lado dela.
— E se eu dissesse que tenho uma proposta que pode te tirar de toda essa rotina exaustiva?
Jéssica ergueu uma sobrancelha, desconfiada.
— Eu morreria... Você sabe como amo essa loucura. — Ela estava mais leve e receptiva com ele naquele dia. — O que tem aí? — perguntou, observando o papel que ele trazia nas mãos.
Marcelo se inclinou para frente e colocou o documento so
O conflito inicial foi discreto. Nicole até tentou argumentar que gostaria muito de usar o vestido só dessa vez, mas aceitou que não poderia, pelo bem da festa.Trabalhou demais para estragar tudo no primeiro minuto.A festa seguia animada, com crianças correndo pelo espaço decorado e adultos conversando entre si. O brilho nos olhos de Maria demonstrava o quanto ela estava feliz, mesmo achando tudo cafona demais.Jéssica ficou satisfeita ao vê-la se divertir. Apesar do incômodo inicial com o vestido de Nicole, conseguiu desviar a atenção da filha para a festa, evitando um drama maior.Marcelo a observava com um sorriso discreto. Ela estava linda, atenta a cada passo dos filhos, equilibrando-se entre ser mãe e anfitriã. Esperou o momento certo para se aproximar, segurando duas taças de espumante.— Um brinde à aniversariante? — Ele
Jéssica estava deitada no sofá de casa, olhando para o nada. As palavras finais de Marcelo pesavam sobre sua emoção.Ela não estava apaixonada, mas não era assim que gostaria de terminar. Ponderava se ele estaria certo e se sua atitude havia sido errada.Talvez essa história de proteger as crianças a qualquer custo estivesse realmente indo longe demais?Hugo se aproximou com as duas taças de vinho habituais.— Um doce por seus pensamentos. — Ela sorriu, dando um lugar para ele se sentar, e pegou a taça com elegância.— Você está bem? — Ele queria ampará-la. Fazia massagem nos pés dela para manter as mãos ocupadas.Estava se sentindo terrivelmente culpado pela maneira como as coisas com Nicole haviam terminado.— Culpada, envergonhada, ridiculamente egoísta... quer mais? — Ela diss
O parque estava lotado, mas, para Hugo, parecia que só existia uma pessoa ali.Ele fingia se concentrar nas crianças correndo, na música ao fundo, nas conversas que ecoavam ao redor, mas sua atenção sempre voltava para Jéssica.Ela estava linda. O cabelo preso de um jeito despretensioso, os óculos escuros apoiados no topo da cabeça e aquele sorriso que fazia o coração dele acelerar.Seis anos tinham se passado desde que ela e Breno vieram morar com ele, seis anos em que Jéssica fora uma presença constante, mas nunca tão próxima quanto ele desejava.Ele queria dizer. Precisava dizer. Mas como? Essa maldita mordaça o impedia.Hugo sempre foi um homem de atitude, mas, quando o assunto era Jéssica, a coragem vacilava.O medo de que algo acontecesse e os afastasse, que a parceria chegasse ao fim e ele tivesse que se virar sozinho com os
Célia os recebeu com a alegria de quem vê um parente querido.— Finalmente chegaram! Fizeram boa viagem? — Ela tinha um bonito sorriso e uma expressão de felicidade genuína.— Muito bem. O parque é muito legal. — Caio deu um abraço e contou animado.— E eu nadei no mar. Nadei mesmo! Fiz aula de mergulho e tudo. Foi demais! — Foi a vez de Breno mostrar a empolgação.— Foi um bom presente de aniversário. — Maria concluiu um pouco séria. Estava oscilando entre excitação e a necessidade de mostrar que era adulta.— O jantar está pronto, Célia? Estou faminto. — Hugo finalmente se manifestou.— Claro. Podem tomar um banho que já chamo para comer.Jéssica estava aliviada por estar em casa. As mini férias foram eficazes em diminuir a culpa que sentia por Marcelo. Esperava que seu retorno ao trabalho fosse mais tranquilo e com menos especulação.Hugo também se sentia mais leve e pronto para encarar seus fantasmas. Queria entender bem seus sentimentos e buscar a felicidade que ele sabia merecer
Jéssica acordou às 5h40 com um barulho alto vindo da cozinha. Garantiu que Breno continuasse dormindo e foi ver o que estava acontecendo. Já podia prever a situação: Leonardo tinha chegado bêbado novamente. Essa situação se tornou frequente desde que se casaram.— Bom dia. — disse ela, chegando na cozinha para confirmar seu palpite. O marido estava caindo de bêbado. Mal se aguentava em pé. Tentava pegar um copo d’água, mas, apoiado na porta da geladeira, balançava muito e quase derrubou tudo o que tinha lá dentro. Um barulho que certamente acordaria o bebê.— Para com isso! — ela o sentou na cadeira e pegou a água para servi-lo, a fim de evitar o pior.— Meu anjo, Jéssica... — ele falava com a voz embargada pelo álcool. Não dava para saber se estava elogiando ou debochando da esposa. Ela o servia em partes para evitar o escândalo e, em parte, porque realmente acreditava que esse era o dever de uma boa esposa.— Qual é o problema com esse seu trabalho? Você é o único da banda que chega
Do outro lado da cidade, Hugo e Clara estavam discutindo sobre a campanha que Clara estrelaria. O sonho dela de se tornar uma influencer famosa parecia finalmente estar dando os frutos desejados.— Não podemos colocar cerveja numa campanha de carros, Clara!. O cliente já especificou o que gostaria que tivesse no comercial. — Hugo estava exausto nesse momento. Estava há horas tentando convencer a esposa a fazer exatamente o que o cliente queria, e não havia nenhum sinal de que ela tivesse entendido o que precisava.— Uma campanha com amigas se divertindo vai parecer muito mais legal. E vai atrair os jovens. As amigas, com roupas bem sensuais, bebendo muito... — Ela divagava, como se não estivesse falando nenhum absurdo. O problema é que o principal posicionamento das redes dela era a família. Mudar assim não fazia sentido para ninguém.— Clara, é um carro para família! Não tem nada de sensual nessa campanha! Você pelo menos leu o briefing? — Hugo parecia um pouco exasperado. Clara tem
Leonardo olha a notificação no celular com expressão neutra. Manter Clara por perto tem suas vantagens e desvantagens. Ele observa o vestido que tem nas mãos com atenção, lembrando das curvas de sua esposa. Precisa agradar a Jéssica hoje.Sabe que passou do limite, pois a vizinha veio reclamar da barulheira de bêbado que ele fez. Foi muito gentil com a vizinha, pediu um milhão de desculpas e prometeu que nunca mais iria acontecer.Não é que ele sinta arrependimento pelas suas ações. Acontece que precisa criar uma boa imagem pública, pois será uma estrela do rock algum dia. Leonardo jamais deixa qualquer coisa ao acaso. Sempre faz tudo projetando o futuro que deseja para si mesmo.Conferiu todo o cenário que montou para esposa. Se tinha flores o suficiente, se os doces estavam bem atrativos, se o cheiro traria boas lembranças. Precisava seduzir para ter o que queria. O perdão da esposa. Pediu pra mãe ficar com Breno durante a noite. Queria que a surpresa fosse completa e planejou leva
Depois da festa, Jéssica e Leonardo voltaram para casa e o clima de romance continuava. Leonardo estava sendo o melhor marido do mundo naquela noite. Tudo perfeito e muito romântico, exatamente como Jéssica sempre sonhou.Nem as grosserias de Clara conseguiram ofuscar o brilho daquela noite. ela conseguiu descansar um pouco e foi para o trabalhar.No trabalho, Jéssica estava nas nuvens, toda distraída, lembrando-se da noite passada.— Mulher, que isso? Hoje você parece tão... leve — Janete falou com um leve deboche, que Clara não percebeu.— E estou mesmo. As coisas parecem que vão melhorar — Jéssica nunca falava da vida pessoal no trabalho e foi a única coisa que disse para Janete, por mais que a amiga insistisse.— O que aconteceu que te deixou assim tão feliz? — Janete procurava saber qualquer coisa sobre a vida de Jéssica. Não entendia o porquê de Luan falar tanto com ela todo dia à tarde e pensava que estivessem tendo um caso.— Coisa minha. Nada demais. Agora, deixa eu passar as