A resolução inicial deu lugar à revolta. Como ela podia tratar desse assunto de maneira tão calma? Estava planejando avançar no relacionamento com Jonathan?
— Jéssica, você realmente não se importa que Nicole entre na nossa casa? Na nossa vida? — Tentou não parecer tão bravo quanto se sentia.
— Eu quero te ver feliz. Se ela te faz bem, tem que ter espaço entre nós. E as crianças precisam saber que isso não muda seu sentimento por elas. Você a escolheu! — Deu um sorriso fraco, para esconder a tristeza de imaginar que não seria tão importante na vida dele e que, muito provavelmente, se separariam em breve.
Hugo, incapaz de conter o desespero que se acumulava em seu peito, se levantou, bebeu todo o líquido do copo, encheu e bebeu de novo. Repetiu até acabar com a garrafa. Olhou nos olhos dela e disse:
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Jéssica estava concentrada, manipulando as pinças laparoscópicas com muita precisão. O suor que escorria foi seco pela enfermeira atenta ao seu lado. — Isso, Jéssica, muito bem. Agora, um pouco mais para a esquerda, vamos pegar essa aderência maior. — Paschoal instruía com paciência. Estava bastante orgulhoso do desempenho dela nesse procedimento. — Professor, parece maior do que nos exames. O senhor notou? — Ela estudou tanto o quadro clínico enquanto se preparava para a cirurgia que sabia todos os exames de cor. — Sim. Veja se consegue medir a profundidade. — Paschoal, com as mãos para trás, estava muito tranquilo nesse momento. O resto da turma não estava tão contente. A onda de energia negativa que emanava daquelas pessoas, desejando o lugar dela, só não foi maior porque Jonathan e Mariana compareceram para desejar o sucesso da amiga. Cada elogio do professor, cada movimento bem-feito que Jéssica fazia despertava viradas de olhos, cochichos maldosos, risadinhas inapropriadas. S
Jéssica não deu importância para a inscrição no programa de intercâmbio. Esqueceu até de falar com Hugo. Achou que não tinha chance alguma de ser selecionada e que não adiantaria se preparar.Só pensou nisso como uma possibilidade real quando recebeu o e-mail para envio de documentos. Ficou paralisada, olhando a tela por um tempo. Enviou a documentação, seguindo a voz do avô:“Chegou até aqui, vai parar por quê? Vai lá e se divirta.”Depois, ligou para Hugo.— Olá, boa tarde. Estou te atrapalhando? — Disse, com receio. — Você sabe que nunca atrapalha. — Hugo respondeu, com ar animado. Estavam em paz desde que ela voltou para casa. — Então. Eu me inscrevi num programa de intercâmbio. Fiz por fazer, nem levei fé. Mas parece que tenho chance real de ir. Pediram documentos adicionais. Você me odeia por te avisar assim, de última hora? — Jéssica fechou os olhos, imaginando que viria uma resposta atravessada. — Nem se eu me esforçasse muito te odiaria. Agora me diga, quando é a viagem? —
Chegou o dia da viagem. Hugo estava irritadiço e mau-humorado durante todo o momento em que arrumavam as coisas para a partida de Jéssica. — Não mexe aí, Caio. Pode fazer sua mãe esquecer algo. — Ele falou mais nervoso do que o habitual. — Calma. Estamos no horário. Os documentos estão em ordem. Vai dar certo. — Jéssica tentou acalmar o homem nervoso à sua frente. — Não é isso... É só... Vamos, gente, não podemos nos atrasar! — Ele chamou de novo para ir. No fundo, estava com medo. A insegurança de pensar se conseguiria fazer as coisas sem Jéssica o corroía. Nunca precisou tomar conta dos filhos sozinho. Desde que chegou em sua vida, Jéssica esteve ali e o ensinou o valor de ter um parceiro. Alguém que o ajuda nos momentos difíceis. Que o ampara e dá carinho. Por mais que tentasse evitar, a sensação de estar novamente sendo abandonado o corroía. Um medo crescente de que ela arrumasse um americano bombado e interessante e decidisse nunca mais voltar para casa. Para ele. Jéssica e
Quinze dias de viagem. Jéssica estava mandando mensagens sem parar para Hugo, insistindo para que ele fosse ao hospital fazer um check-up. Ele pretendia ignorar, mas ela sabia ser persistente, mesmo à distância.— Hugo Novaes, se eu tiver que ficar o dia todo te ligando, eu vou fazer isso! Não pense que só porque estou longe não mando uma equipe inteira de cardiologistas para te buscar. Vá fazer os exames! — exclamou, bufando ao telefone, exausta de tanto insistir.— Ok, não precisa disso. Estou a caminho do hospital. Calma. — Ele finalmente se deu por vencido, aceitando que estava em desvantagem e que teria que perder boa parte da manhã fazendo exames.No hospital, foi direcionado para a ala de cardiologia, onde foi recebido pelo médico responsável.— Bom, Hugo, sou o doutor Thomas. Minha equipe vai realizar os exames de sondagem, mas a
Jonathan fixou o olhar em Hugo, preocupado. Achava que só podia ser um caso de confusão mental. Esse homem não estava normal.— Hugo, pode me dizer como está se sentindo? — Pegou a lanterna para verificar a retina do homem, não parando de procurar sinais de confusão ou outro distúrbio.— Estou me sentindo um idiota! Pateta, que passou os últimos anos com raiva de você por namorar a Jéssica! — Hugo falou de repente, deitando-se novamente na maca. Colocou as mãos no rosto, em negação.— O quê? — Foi a vez de Jonathan ficar chocado. Justo ele, que sempre fez questão de jogar a Jéssica em cima de Hugo. Isso não fazia nenhum sentido.— Exatamente. — Hugo levantou-se novamente. — Me corroía de medo cada vez que via você com as crianças... eu pensava que queria roubar
Jonathan notou que sua recepção na casa de Jéssica foi diferente. As crianças estavam calorosas como sempre, mas Hugo não tinha aquele olhar estranho costumeiro. Antes, pensava que era o jeito dele, meio taciturno, de ser. Agora, entendeu que tudo isso era movido pelos ciúmes.— Cara, eu tô muito aborrecido ainda. — Hugo admitiu depois de convidá-lo para um drink. Foi a primeira vez que beberam juntos.— Andei pensando nisso. Acho que você não pode me culpar pelo seu engano. — Jonathan bebericou seu drink e falou com sinceridade.— Meu engano que você colaborou muito para acontecer. — Hugo não estava disposto a deixar o culpado por todo o desarranjo que sua vida se tornou se safar tão facilmente.— Fiquei me perguntando como você ignorou a presença da Mariana todo esse tempo. — Jonathan lan&cced
Jéssica ficou encantada com Nova York. A cidade era fascinante, vibrante e agitada. Os nova-iorquinos eram as pessoas mais apressadas que ela já conhecera, mas, ainda assim, valia a pena se conectar com eles.Marcelo era um ótimo parceiro de viagens: divertido, disposto e engraçado. Ele realmente conhecia muita coisa e compartilhava generosamente seus lugares favoritos.Passaram muito tempo no Metropolitan, analisando obras de arte com leveza. Depois, fizeram um passeio pelo Central Park. O primeiro dia foi agitado, mas Marcelo tinha planos também para a noite.Jantaram em um restaurante intimista no Brooklyn, um lugar aconchegante. Jéssica queria andar pelo bairro e conhecê-lo melhor.— Olha, tenho que admitir que você é o melhor parceiro de viagem que já tive. — Ela pegou uma garfada do purê de batatas que experimentava. Estava determinada a provar todos os pratos típicos que pudesse.— Eu disse que conhecia bem este lugar. — Marcelo gostava de viajar e viver novas experiências.— Am
Hugo estava focado nos preparativos para a abertura da unidade de Indaiatuba. Direcionou a atenção para o trabalho e para os filhos.Não queria ter espaço para pensar em nada muito profundo. Toda vez que sentia muito a falta de Jéssica, voltava-se para os filhos ou para a pilha infinita de papéis.O tempo com Nicole servia como escape.Sempre encaixava algumas horas para ela. Em sua cabeça, estava sendo um namorado decente. Quando Nicole invadiu sua sala, tão furiosa, ele ficou realmente surpreso.— Hugo! Não acredito que você fez isso comigo! — Ela entrou colérica, com uma expressão muito magoada. Hugo não entendeu do que se tratava.— O que eu fiz? — Ele estava verdadeiramente surpreso.— Mandou me demitirem? — Nicole tinha lágrimas nos olhos. Não esperava esse nível de desinteresse.— Não. Eu não interfiro nas decisões do RH. — Respondeu com sinceridade. Quase nunca contrariava as sugestões de Viviane.— Quer dizer que não sabia que eu seria demitida? — Uma pequena esperança tomou