Estava um silêncio mortal na entrada da região militar. Entre os Callahan, ninguém ousava pronunciar uma palavra. Nesse momento, uma buzina soou e todos se viraram para olhar. Os olhos se arregalaram. Por que eles estavam saindo? Os soldados e o tenente na entrada se endireitaram e fizeram uma nova saudação.— Bom dia, senhor! — O tenente Highsmith declarou.Gladys baixou o vidro e colocou a cabeça para fora, novamente. Não conseguia disfarçar a excitação. Conforme o carro se aproximava, os ricaços da fila se separaram para dar passagem. Gladys acenou para os soldados de ambos os lados. Com seus maneirismos, parecia uma personagem caricata.— Bom trabalho, rapazes! Bom trabalho! — O carro saiu da região militar e parou na frente dos Callahan, que ainda estavam na entrada. Gladys abriu a porta e saiu do carro. Manteve a cabeça erguida, cheia de orgulho. Com um sorriso radiante, disse: — Meu sogro, vamos para casa. Achamos a cerimônia sem graça, então resolvemos sair. Estava tudo
James não esperava que um dia acabasse como motorista de outra pessoa. No entanto, também se divertia ao debochar dos Callahan. Imaginando que Thea aprovaria, resolveu dar algumas voltas, saindo da base militar e retornando, algumas vezes. Os Callahan ficaram cheios de raiva, enquanto os milionários da fila, apesar de cansados da espera, acharam graça. O tenente, Daniel, parecia um pouco decepcionado. Aquele no carro era James Caden, o Dragão Negro. Por que ele estava se comportando de um jeito tão bobo? Com certeza, uma cerimônia daquelas não era novidade para um general. Quão vergonhoso seria se fofocas sobre o comportamento de uma figura tão importante do exército chegassem à capital?No entanto, James não ligava mais. Seus dias agora eram livres e fáceis. Atravessou o portão de entrada da área militar mais uma vez, com a intenção de iniciar uma nova volta, mas Thea o deteve.— Jamie, já chega. Está ficando chato. —Ele virou para o banco traseiro e perguntou a Gladys: — Você j
Agora, James pensava que talvez a mulher não fosse tão mesquinha assim. Era possível que a parte ruim de Gladys fosse produto das circunstâncias vividas.Resolveu concordar.— Montar uma clínica é fácil. No entanto, acho que devemos esperar. Ouvi dizer que um novo centro comercial abrirá, aqui na cidade. Podemos pensar em montar uma clínica lá. —Como alguns hábitos nunca mudam, Gladys deu um daqueles tapas usuais na cabeça do genro.— Você sabe que tipo de lugar será o centro comercial? Sofisticado! Projetado para ser o centro financeiro mais movimentado do país! Perdeu a noção? Não tenho tanto dinheiro! Só de aluguel, custaria uma fortuna. Montar uma clínica custará muito em equipamento, documentação, reforma e sei lá mais o quê! —James tocou no lugar da pancada, relevando.Na verdade, pretendia comprar todo o centro comercial. Se decidisse abrir uma clínica lá, obviamente não pagaria aluguel. Às vezes, James sentia vontade de falar toda a verdade. Poderia contar a eles, naque
— Mãe, o que você pensa que está fazendo? Que atitude é essa? Vai tratar meu avô assim, agora? Aprendeu com James? — — Sim, David. Eu trato o velho como quiser. E que jeito é esse de falar com sua mãe? — — Peça desculpas ao meu avô, agora. — David pensou que, escolhendo o lado do avô, cairia em suas graças.Motivados pelo apoio, os visitantes se uniram em ataques verbais a Gladys. Em resposta, a mulher resolveu mudar de tom. Sorrindo, ela disse: — Minha casa é muito inadequada para receber vocês, meu sogro. Ela é grande o suficiente para nós, mas não é uma mansão. Na verdade, não temos tantas cadeiras. Como não haverá espaço dentro de casa, acho que vocês deveriam ficar aqui fora. Podemos conversar aqui mesmo. Vi que trouxeram até presentes! David, o que fez com sua educação? Pegue os mimos que estão nos dando! —— Certo! — David aceitou os presentes dos Callahan. No entanto, era tanta coisa que ele não conseguiria levar tudo. — Lys, me ajude! — David passou alguns dos ob
— Não abra nada. Acho que conseguimos vender isso para o quiosque, aqui perto. Vamos ver quanto conseguimos. —Benjamin, que havia ficado em silêncio todo esse tempo, só concordou.— Mãe, precisa fazer isso? São presentes de família. Seu jeito está me causando uma sensação ruim. — Thea comentou, em voz baixa.— Do que é que você sabe, menina?! — Gladys gritou. — Eu cansei! Não me lembrava como era me sentir leve! Agora, não preciso mais ficar de cabeça baixa para eles! E David, é melhor você se animar: esqueça seu trabalho na Eternality e arrume um novo emprego. Ficaremos bem sem os Callahan. —— Não me aceitariam mais lá, nem pintado de ouro. Não depois do que aconteceu na porta da cerimônia e do que fizemos agora. — David concluiu.A menção ao evento lembrou à Thea da transmissão. Pegou o celular e acessou o site oficial que exibia o evento. James bocejou, porque não dormia há quase um dia.— Thea, vou tirar um cochilo, no nosso quarto. —— Tudo bem, querido. — Ela assentiu.
Aquele era um dia bastante agitado para Cansington.O Rei Alegre seria oficialmente o comandante-em-chefe dos cinco exércitos. Alguém assassinou, por decapitação, três dos patriarcas dos Quatro Grandes. É importante mencionar que não encontraram as cabeças. Como consequência, todos os membros da família Xavier planejavam fugir da cidade. James imaginou que isso pudesse acontecer, mas também sabia que a ocorrência de um crime daquela proporção, no dia de uma cerimônia de sucessão, exigiria que as autoridades colocassem em prática diversas contramedidas. Proibiram, temporariamente, as viagens marítimas, terrestres e aéreas na região, efetivamente impedindo quaisquer planos de fuga dos Quatro Grandes. Nenhum deles deixaria Cansington.Após a cerimônia de sucessão do Rei Alegre, fizeram um anúncio oficial para explicar os assassinatos. Escolhendo um prisioneiro no corredor da morte, aceleraram a data para o cumprimento de sua sentença, o vestiram com uma máscara de fantasma idêntica àque
— Pode ser! Ainda tenho uma quantia que ganhei enquanto servi. Também temos aquele cartão que você tomou, lembra? —— Não quero viver à custa do meu marido. Posso trabalhar. — — Tudo bem, então. — James não disse mais nada. Se Thea queria trabalhar, não havia problema. De qualquer forma, ainda estava pensando no que faria após a compra do centro comercial. Não sabia nem quando aconteceria.— Vá lavar o rosto. Eu vou me trocar. —— Certo. — James assentiu e saiu do quarto. Não havia qualquer som, então imaginou que todos estivessem fora. Ele foi ao banheiro lavar o rosto, depois se dirigiu à sala de estar e esperou pela esposa. A moça saiu do quarto trajando roupas adequadas para uma entrevista de emprego: usava uma camisa branca com uma saia lápis e salto alto. Seu longo cabelo preto caía por suas costas. A usual postura elegante transmitia um ar de maturidade e confiança.— Você é linda. — James elogiou a esposa, olhando para ela como se visse uma obra de arte perfeita. Th
Logo que chegaram à agência de empregos, Thea disse:— Jamie, por que você não me espera lá fora? Vou dar uma olhada sozinha. —James disse, brincando: — Por quê? Acha que vou dar vexame? —Thea explicou apressadamente: — Claro que não! Só que pode demorar muito! Estou preocupada que fique entediado. Há um cibercafé por perto, por que você não passa lá? Te ligo quando terminar. —Ela empurrou o marido, gentilmente. Como não tinha experiência com relacionamentos, baseava-se em tudo que via acontecendo a casais em livros e séries de TV: tinha certeza de que homens odiavam esperar suas esposas em coisas daquele tipo. Ela estava verdadeiramente com receio de fazer isso com James.— Não quero café e nem curto jogos de computador. Vou com você. Ficarei preocupado se não estiver por perto. Você é muito bonita, pode arranjar um admirador rico e desaparecer. — Ele disse, bem-humorado.Thea se sentiu quente por dentro. Concordou, rapidamente. Na verdade, queria mesmo que fossem juntos.