O Lado Sombrio do Amor
O Lado Sombrio do Amor
Por: T.F Passos
Capítulo I

Quem via Sheryl Madison feliz, naquela grande e bucólica casa de campo,

cozinhando e olhando pela janela, enquanto a pequena Valentina brincava no

jardim da frente, jamais poderia imaginar o que lhe havia acontecido há

alguns anos atrás. Era início de outono, ano de 1991. Os dias ensolarados,

porém frios e a felicidade dela e daquela pequena criança era visivelmente

notória. Quando aquele homem chegou, a alegria de ambas aumentara. A

pequena Valentina correu para os braços dele. Um homem alto, muito alto!

Cabelos castanhos escuros, quase pretos e olhos verdes. Com aquelas mãos

imensas a levantou como num impulso e a segurou em seus braços. A pequena

falava:

-Papai, papai! O que trouxe para mim? -Ele, com voz grossa

e um sorriso no rosto lhe respondeu:

-Venha para o papai. Hoje não lhe trouxe nada! -A menina

entristeceu-se, mas logo riu-se outra vez quando viu que o pai havia lhe

pregado apenas uma peça:

-Você acha que o papai não iria lhe trazer nada? Olha, veja

só que linda. E voltando para o carro com a pequena no colo, mostrou-lhe

uma boneca de porcelana. A pequena olhou extasiada, e beijou-lhe a face com

ternura agradecendo o lindo presente. Ainda no carro, o homem inclinou-se

para o banco de trás para pegar algo. um buquê de rosas amarelas e, com a

pequena Valentina, seguiu para o interior da casa onde encontrava-se

Sheryl. O homem entrou, colocou a criança no chão, foi até ela e entregou-

lhe o buquê. Sheryl, ao receber tanto mimo atirou-se nos braços daquele

homem enorme, beijando-o com ternura. Tudo parecia perfeito e aquela

família realmente feliz e realizada. Assim seguiam-se os dias. Nada muito

novo. A vida deles resumia-se a coisas cotidianas, porém nem tanto. Eles

viviam afastados da cidade e também afastados de outras pessoas, na pequena

e pacata cidade de Floyd, Virginia. Um casa de fazenda, isolada e

silenciosa. A pequena Valentina estudava no condado próximo e Sheryl todas

as manhãs a levava na escolinha e a pegava à tarde. A noite todos se

reuniam em casa e conversavam, riam... Eram felizes! Numa noite de sábado,

após a pequena Valentina dormir, Sheryl deitou-se ao lado daquele homem e

olhando nos seus olhos fixamente lhe disse:

-Nunca pensei que te amaria tanto. Às vezes é como um sonho

tudo que estamos vivendo.

-Não é sonho, minha querida. É realidade. Se você nunca

imaginou me amar assim, imagina eu? -Concluiu. -Eu preciso olhar para você

e para a nossa filha para acreditar que é real. Vocês são a razão da minha

vida, o sentido dela. É por vocês que eu vivo e por vocês morreria...

Lágrimas escorreram dos olhos de ambos que logo em seguida beijaram-se e

amaram-se apaixonadamente. Assim, tudo corria normal, até que um dia, algo

inesperado aconteceu. Algo que faria Sheryl relembrar do que lhe acontecera

há exatos 4 anos atrás. Antes de ela estar vivendo aquela vida que mais

parecia um conto de fadas. Ao chegar da Escolinha de Valentina, como de

costume, Sheryl entrou em casa e foi surpreendida por uma viatura de

polícia com dois oficiais na porta. Ela parecia assustada, mas nem hesitou

em fugir. Não havia como. Um dos homens a abordou:

-Senhorita Sheryl Madison? -Sheryl gelou. Não! Aquilo não

estava acontecendo. -Ela respirou fundo e disse:

-O que está acontecendo, senhor?

-Não adianta enganar a polícia, Sheryl. Você está presa por

falsa identidade e cúmplice de assassinato. -Sheryl ficou em estado de

choque enquanto era algemada por um oficial e o outro trazia a pequena

Valentina. Ela gritava exigindo uma explicação:

-O que está acontecendo? Responda-me!

-Seu suposto "marido", Tony Tramell, está morto. Numa fuga

alucinante trocou vários tiros conosco e o seu carro caiu de um penhasco.

Não encontramos o corpo, mas duvido que ele tenha saído vivo daquela queda.

Estávamos na cidade já a alguns dias, no encalço do Tramell. Denúncias

anônimas chegaram até a polícia daqui que rapidamente nos acionaram e então

conseguimos encontrá-lo. Tony Tramell não quis se render. Infelizmente

queríamos prendê-lo, mas ele não nos deu escolha.

-Não, Isso não pode ser verdade! -Disse Sheryl gritando entre

soluços incontroláveis.

-Eu sei que é difícil. Mas veja por um lado bom. A senhorita,

com um bom advogado, poderá ficar isenta de tais acusações. Vamos levá-la

de volta a Springfield, seus pais precisam saber que você está viva.

Aquilo parecia um pesadelo sem fim. Sheryl não estava acreditando na

reviravolta que a sua vida teria dado de uma hora para outra, mas sim,

aquilo fatalmente aconteceria um dia. Histórias como a dela, jamais

poderiam ter um final feliz. Era a triste realidade. A história de Sarah,

ou melhor, Sheryl e Tony começou há quatro anos atrás. Uma história que, em

breve, viria a tona, assim que ela chegasse a Springfield. Ela já não

chorava mais. Tinha ódio no coração e furor nos olhos, que ainda

lacrimejavam quando, no caminho pensava em Tony. -Não, ele não está morto!

-Dizia para si mesma. A criança foi levada à casa dos pais de Sheryl, que

até então, não sabiam da sua existência e quando os oficias explicaram o

caso aos mesmos, eles choravam e abraçavam a menina ao mesmo tempo que nada

entendiam. Tentavam adaptar-se a mais nova realidade.

-Veja, Steven, nós temos uma neta. Que menina linda. Venha querida, entre.

Venha brincar com a vovó. Você deve estar com fome. -Entrou com a pequena

enquanto Sheryl olhava para seu pai que apenas lhe perguntou:

-O que aconteceu, filha? -Entrou na viatura para acompanhá-la

à delegacia da cidade, onde lá ficaria presa até a determinação da justiça.

Dois dias se passaram e a doutora Kate Whells fora visitá-la. Sheryl estava

apática e muito abatida e então a advogada a olhou e disse:

-Senhorita Sheryl Ann Madison, sou a sua advogada, Kate

Whells. Observe, o seu caso não será difícil. Você foi vítima de sequestro,

estupro e permaneceu em cárcere privado por quatro anos. Iremos alegar isso

ao tribunal e você logo estará livre para ficar com a sua família. -Sheryl

levantou apenas os olhos e disse:

-Cárcere privado? Estupro? Vítima? -Gargalhou.

-Não estou entendendo senhorita Sheryl, qual o motivo da

graça?

-Meu nome é Sarah. Sarah Tramell. Sheryl morreu há quatro

anos atrás.

A doutora Kate sentiu dúvidas e ao mesmo tempo medo do que acabara de ouvir

e principalmente do modo que Sheryl a olhava.

-Sheryl, eu preciso saber toda a verdade para que possa

elaborar a minha defesa. Você quer ficar aqui? Sabe quantos anos de

detenção pega uma pessoa acusada por cúmplice de assassinato? -Sheryl a

olhou, meneou a cabeça e disse:

-Ok, você quer a verdade? Então, doutora, escuta porque a

história é longa.

-Sou toda ouvidos. -Respondeu.

-Tudo bem. Vou lhe contar detalhadamente. Até porque se eu

não me abrir com alguém vou acabar beirando a insanidade e já que a doutora

diz estar disposta a me ajudar eu vou lhe contar. -E começou:

-Há exatos quatro anos atrás eu estava cursando a faculdade

de psicologia. A minha vida era como a das demais garotas aqui da cidade.

Universidade, balada e curtição. Mas tudo mudou em uma noite. Ao sair de

uma festa, um pouco embriagada, tentei sem sucesso, abrir a porta do meu

carro e seguir para casa. Não vi mais nada. Ao despertar estava em uma

casa. Uma casa até confortável, mas toda fechada. Vedada mesmo. A casa

parecia ser especialmente construída para aquilo.

A advogada escutava a tudo atentamente sem piscar. Sheryl

então continuou:

-Tentei me desamarrar de todas as maneiras. O ambiente estava

a meia luz. Ainda estava sonolenta, mas pude ouvir alguém se aproximando.

Era um homem alto, forte e todo vestido de preto que me dizia: -Oi! Está

confortável? -Bem, como estudava psicologia, tentei usar da mesma e o

respondi:

-Se você folgasse essas amarras que me prendem poderia até

estar. Ele me olhou admirado, aproximou-se de mim, ajoelhou-se em minha

frente e disse:

-Que tranquilidade, Sarah. Você não é como as outras!

-Sarah? Não! Deve estar havendo algum equívoco! Meu nome é

Sheryl. Sheryl Madison.

-Equívoco? -Disse gargalhando. -Não há equívoco algum,

"Sheryl Madison". Seu nome agora é Sarah.

-Eu fiquei olhando para ele assustada e disse:

-Por quê vais mudar o meu nome? Não lhe agrada?

O homem franziu o cenho, ainda em minha frente e disse:

-Não entendo a sua calma. Você sabe quem eu sou?

-Saber eu não sei, mas faço ideia.

-E não está com medo? Você não vai gritar e se desesperar como

as outras?

-Não, Por quê? Vai resolver alguma coisa? Eu sei que vou

morrer de qualquer jeito. Aquele homem de certo assustou-se ao ouvir

aquilo, havia ficado intrigado e por incrível que pareça foi espontâneo. Eu

disse o que realmente sentia.

-Continue. -Disse a doutora Kate.

-Então. Ele foi até a cozinha, pegou algo para eu comer e

disse: -Coma. -Eu o olhei séria e respondi:

-Não estou com fome.

-Se você não comer agora eu não lhe darei nada mais tarde.

Apenas dei de ombros enquanto ele se afastava. Quando ele voltou, me pegou

bruscamente pelo braço, me colocou num quarto e me trancou saindo em

seguida. Depois de algumas horas ele retornou com alguém, uma garota que

gritava bastante e fora assassinada ali.

-Você viu? -Perguntou a doutora Kate.

-Não. Apenas ouvi gritos, pancadas e logo em seguida um

profundo silêncio. Depois ele abriu a porta do quarto que eu estava e me

serviu a comida que eu, algumas horas atrás havia recusado. Ele estava todo

sujo de sangue. Quando vi, fiquei assustada mas procurei não demonstrar e

muito menos contrariá-lo. Sabia que seria a próxima, mas não ousei

perguntar e quando ele me ofereceu a comida eu comi sem hesitar.

-Você comeu mesmo vendo ele sujo de sangue?

-Sim. Como disse, não quis contrariá-lo.

-Prossiga:

-Os dias que se seguiram foram todos assim. Ele sempre levava

uma garota para aquela casa e a assassinava. Eu nunca via, mas escutava. Um

dia ele trouxe uma garota muito parecida comigo e logo a reconheci. Era uma

modelo em início de carreira. As pessoas diziam que eu me parecia com ela,

mas eu, particularmente, a achava mais bonita e muito mais alta. Ela ficou

no mesmo quarto que eu por aproximadamente uma semana. Nos primeiros dias

ela estava tensa e eu tentei acalmá-la dizendo que se ele a prendera ali,

junto a mim, não pretendia matá-la, já que depois disso várias outras

teriam sido assassinadas ali, mas a Alice não se controlava. Chorava

compulsivamente e gritava muito. Até que ele entrou no quarto, a pegou pelo

braço e depois disso nunca mais a vi. Não ouvi gritos ou algo semelhante,

mas tenho certeza que ela fora assassinada.

-Sim, foi! Alice Johnson. Seu corpo foi um dos primeiros a

ser encontrado. Enterrado no quintal daquela casa, junto com mais 22

cadáveres de moças da mesma faixa etária em total estado de decomposição. -

Respondeu a doutora Kate. -Mas... prossiga:

-Então. Durante os primeiros meses ali, naquela casa, presa,

elaborei mil e uma maneiras de fugir. Tentei ganhar a confiança dele e

sempre que perguntava quando ele iria me matar ele me respondia:

-Por quê a pressa? Você não teme a morte?

-Não. Sei que esse será o fim de todos nós.

-Intrigante mocinha. A senhorita sempre tem reposta para

tudo.

-Faz parte. Respondi com um sorriso irônico. -Ele já estava

começando a confiar em mim, quando tentei a minha primeira fuga. Precisava

ser ágil porque sabia que uma hora, eu seria a próxima. Como não ficava

mais trancada e sim dentro de casa apenas acorrentada, consegui romper a

corrente e fugir pelo sótão, mas ele foi mais rápido. Capturou-me

rapidamente, porém nunca agiu com violência para comigo. Ele ficava irado.

Gritava e me sacudia pelos braços, porém nunca me agrediu fisicamente. O

máximo era me dar um castigo. Me deixava trancada no quarto. A segunda

tentativa eu cheguei perto da estrada. Estava esperançosa, mas ele pegou o

carro e me capturou mais depressa que a primeira vez. Voltei chorando e ele

sério. Nada me dizia. Apenas olhava-me com aqueles olhos verdes

penetrantes. Ao chegar em casa ele disse:

-Sarah, acho que já está na hora de lhe matar. -Disse

desembainhando uma espada semelhante àquelas espadas de Samurai.

-Eu sabia. Sabia que isso aconteceria, por isso tentei fugir.

-Não. Eu não ia lhe matar. Mas você tentou fugir de mim.

-Não vou mais fugir, prometo.

-Não sei se devo! Posso confiar? -Meneou a cabeça, ergueu as

sobrancelhas e olhou para a espada, guardando-a novamente.

-Pode! Por favor, me dê uma chance! -Dessa vez fui

meticulosa. Tentei ganhar a confiança dele de todas as maneiras. Fique

boazinha por muito tempo e calculei passo a passo a próxima fuga. Esperei

bastante tempo. Foram 5 longos meses. Ele já confiava em mim. A noite

conversávamos e ele sentia-se à vontade comigo. Às vezes trazia algumas

moças e as matava como sempre e quando fazia mantinha-me presa no quarto.

Eu nunca vi uma pessoa sendo assassinada, apenas ouvia, porém o número

diminuiu bastante. Um dia ele chegou bêbado e me ofereceu cerveja. Bebi

junto com ele. Conversamos e ele acabou dormindo. Foi ai que parti para a

minha tão planejada fuga. A terceira. Corri pela mata adentro. Era noite,

estava escuro e frio. Eu corria muito, mas parecia estar perdida. Corri,

corri, olhei para trás e de repente esbarrei numa árvore que me fez

desmaiar. Acordei amordaçada e amarrada dentro da casa dele que

transtornado me disse:

-Eu confiei em você. Você me traiu! Será que você não entende

que todas elas morreram porque eram traidoras? Mereceram? Tentei argumentar

e ele então tirou a minha mordaça. Respirei fundo, olhei para ele e disse:

-Ninguém merece morrer. Você não é Deus. -Disse com raiva.

-Não, eu não sou Deus, mas eu posso fazer justiça. Nenhuma

delas era honesta. Você era, até então. Por quê, Sarah?

-Meu nome não é Sarah! -Gritei chorando ao mesmo tempo.

-É sim. Seu nome é Sarah. -Disse-me gritando mais ainda e

esmurrando fortemente a porta.

-Quem é Sarah? Alguma mulher que você amou, não correspondeu

e você a matou? É isso?

-Não! Sarah é o nome da esposa que eu idealizei. Que me faria

um homem novo e me daria vida nova. Seria tudo novo.

-Esposa? Eu? -Ri. -Eu só tenho 20 anos! Não pretendo me casar

agora, ainda mais com você. Um assassino. Quem me garante que você não iria

me matar se algum dia eu lhe "decepcionasse"?

-Não! Mesmo que você me ferisse eu jamais a machucaria. Disse

sentando-se ao chão em frente a mim. Eu já lhe machuquei alguma vez? Vai

fazer um ano que você está aqui e nunca fora descoberta. Eu já lhe

machuquei? responda?

-Não.

-Mas você me traiu três vezes e sei que vai me trair a

quarta.

-Não. Não vou!

-Eu não confio mais em você.

-Por favor, só essa vez. -Disse tentando convencê-lo.

-Sarah, eu não vou te matar. Farei pior. Venha, levante-se e

saia. Você está livre! Livre para voar! -Disse puxando meu braço e

atirando-me para fora da casa.

Eu cai sentada, olhei ao redor, mal poderia acreditar no que

estava escutando. Levantei, fui andando lentamente e comecei a seguir

olhando para trás assustada.

-Se você não quer ficar aqui, não vou lhe obrigar e nem vou

mais lhe chamar de Sarah. Adeus, Sheryl.

Eu sai e ele ficou ali imóvel. Fui andando e depois correndo,

mas no meio do caminho tive uma ideia. Sabia que ele viria atrás de mim e

me mataria por ter sim, traído a sua confiança pela quarta vez. Ele não me

deixaria viva até porque agora eu sabia aonde era o seu esconderijo e então

resolvi agir com perspicácia. Já estava na estrada, quando decidi voltar.

Ele continuava lá. Agora sentado ao chão, sem camisa, triste, bebendo

cerveja e olhando para a parede. Quando ele me viu na porta, franziu o

cenho e me disse:

-O que significa isso? Por que você voltou? Veio com a

polícia? Disse levantando-se bruscamente.

-Eu não sou falsa! Voltei porque prometi que não trairia mais

a sua confiança. Dessa vez voltei para ficar.

Ele veio até mim e me abraçou. Confesso que senti uma certa

pena daquele homem por alguns instantes. Ele sempre enigmático, embora

fosse um assassino. Um metro e noventa de altura aproximadamente, cabelos

castanhos e lisos, aqueles olhos verdes penetrantes, mãos e rosto enormes,

sim, o seu maxilar era único. Jamais havia visto um rosto como o dele,

assemelhava-se a um anjo querubim. Se ele me desse um empurrão sequer me

desmoronaria por inteira. Às vezes tinha receio em desafiá-lo. Ficaria por

ali ganhando a confiança dele e elaboraria a minha quinta fuga, ou seja, a

quarta, pois essa última não chegara a ser realizada.

-Você foi muito corajosa, eu não retornaria. -Disse a doutora

Kate. Mas... Continue. Não quero interromper:

-Na verdade nem eu mesma entendi porque voltei para o meu

cativeiro e confesso que só vim entender algum tempo depois. Os dias se

passaram e eu sempre pensava em um jeito de fugir, já que ele confiava em

mim plenamente. Tony Tramell era temido pelas mulheres, mas eu não o temia,

mesmo sabendo que se tratava de um assassino perigoso. Eu estudei os seus

medos e fraquezas. Ele era de uma carência extrema e uma sensibilidade

única. Se eu quisesse o teria matado, pois várias vezes ele dormira na

sala, no sofá e me pedia para que fizesse a sua comida. Ele me ensinou

artes maciais, me ensinou a atirar e a manusear vários tipos de armas,

poderia muito bem envenená-lo, sedá-lo ou até mesmo matá-lo com uma de suas

armas, mas não o fiz. Com o passar dos tempos comecei a ver o Tony com

outros olhos. Ele não assassinava mais ninguém, pelo menos não que eu

visse. Sorria, conversava comigo animadamente. Fazia comemorações festivas,

comprava-me lindos vestidos e eu sempre o ajudava muito em questões

diversas. Tínhamos uma amizade, sim, por incrível que pareça, criamos um

imenso laço de amizade e fatalmente eu acabei me apaixonando por ele. Presa

ali naquela casa, vi o quanto ele era especial. O quanto ele era sensível e

o pior, ele me dissera que havia desistido de mim como esposa, que eu era

melhor como amiga. Então eu perguntei:

-Você vai arranjar outra esposa?

-Por enquanto não. Não tenho tido muita sorte com as

mulheres.

-Mesmo sendo assim tão belo?

-Você me acha mesmo belo? -Gargalhou. -Há quem diga que eu

pareço um monstro.

-Acho sim.

-Esse elogio me deixou melhor.

-Mas é verdade. Acho que você não tem sorte com as mulheres

porque você quer o amor delas a força. Não deixa que elas te conheça por

inteiro e veja a pessoa maravilhosa que você é.

-Eu? Maravilhoso? -Disse dando uma risada irônica.

-Sim. Você é. Nunca fui tratada com tanto carinho, com tanta

admiração. Nem mesmo pelos meus pais.

-Você merece! És doce e inteligente.

-Obrigada!

-O que eu preciso fazer então para conquistar uma mulher? -

Disse com brilho nos olhos. -Vamos, diga-me. -Arregalou os olhos

aproximando o rosto enorme do meu, me olhando séria e fixamente.

-Acho que nada. -Respondi com naturalidade.

-Nada?

-Na verdade, você já conquistou. Não sei se é essa mulher que

você queria. Mas ela está na sua frente. Eu estou perdidamente apaixonada

por você, Tony. -Disse como num impulso, sem pensar. Ao dizer

isso ele ficou surpreso, perplexo e atônito. Parou, respirou fundo e

afastou-se um pouco. Coçou ligeiramente a cabeça e franziu o cenho. Pude

ver nos seus olhos uma emoção diferente e um enorme embaraço, que ele

tentou disfarçar mas não conseguiu. Era um misto de surpresa com felicidade

e dúvida ao mesmo tempo. Ele olhou para baixo, olhou para mim novamente

respirando fundo, com os olhos brilhando e me disse:

-Você não sabe como eu esperei por isso. Como esperei ouvir

isso um dia e sei que não é fingimento. Sei que daquele dia que você

voltou, mesmo eu a tendo liberado era porque você já gostava de mim, mas

nem mesmo você sabia e eu já te amava desde a primeira vez que te vi. Eu vi

em você a mulher que sempre idealizei para mim e não sei porquê. Você não é

como as outras. Hoje arrependo-me do que fiz, de certa forma, tanto é que

desde que você resolveu ficar aqui eu não fiz mais, porém sei que um dia

pagarei por isso e da pior forma possível, no corredor da morte, mas hoje,

ouvindo isso, morreria feliz.

-Eu chorei, me aproximei dele e o abracei forte. Ele também

me abraçou e foi ai que aconteceu o nosso primeiro beijo e a nossa primeira

noite de amor também. Mas isso eu não posso dar detalhes. Desse dia em

diante éramos um casal. Louco e apaixonado. Eu vivi com o Tony um conto de

fadas. Ele tinha 37 anos e eu 20, na época. Ficamos ali mas saberíamos que

a qualquer momento poderíamos ser descobertos. Não podíamos ficar nos

escondendo a vida inteira. Foi quando consegui falsificar a minha

identidade com o nome de Sarah Young e com ele fui morar em Floyd. Lá

tínhamos nossa casa, nosso carro e vidas novas. Ele sempre me chamou de

Sarah, mas eu nunca conseguia chamá-lo pelo nome falso que ele usou para

fugir comigo. Continuamos vivendo um conto de fadas quando logo descobri

que estava grávida. O Tony vibrou, chorou como criança e quando a nossa

filha nasceu, ele estava completamente apaixonado. Acompanhou tudo, da

gravidez ao nascimento. Com ela deu os primeiros passos, ensinou-lhe a

falar as primeiras palavras, tinha tanta paciência, mais até do que eu.

Contava histórias para que a Valentina dormisse e por sinal ele quem

escolheu o nome, dizia que ela seria astuta assim como ele. Sabe, doutora,

a Valentina está sofrendo muito. Ela ama o pai e eu também. Não vamos saber

viver sem ele. -Disse com imensa tristeza.

A advogada escutava tudo com perplexidade e aperto no peito.

Respirou fundo e lhe disse:

-Síndrome de Estocolmo. Você, vítima, apaixonou-se pelo seu

algoz e com ele formou uma família. Realmente, essa história é

impressionante, mas você jamais poderá contar isso no tribunal, senão será

condenada ou pior, irá parar no manicômio judicial e ai jamais verá sua

filha novamente. Sheryl a olhou emocionada, mas não poderia

mentir, a mentira poderia ser a maior traição ao único amor de toda a sua

vida e isso ela jamais faria:

-Doutora, infelizmente eu não posso trair o homem que eu amo

e ainda mais mentir sobre algo que não aconteceu. De certa forma isso

procede sim, nos primeiros meses, porém depois aconteceu exatamente como

estou lhe contando:

-Entendo, Sheryl. Mas isso irá lhe prejudicar. Tony Tramell

está morto e a sua filha agora é prioridade em sua vida.

Sheryl ficou nervosa e disse-lhe

-Não. Tony não está morto. Acharam o corpo dele? Não! Ele não

está morto. Eu sinto isso.

-Digamos que ele realmente esteja vivo. Os crimes que ele

cometeu foram imensos. Tony Trammel assassinou vinte e quatro mulheres por

motivos desconhecidos. Sequestrou, estuprou e manteve uma vítima em cárcere

privado por algum tempo. Ele não irá se safar da condenação. Irá para o

corredor da morte ou passará o resto dos dias na cadeia. O seu depoimento

não iria salvá-lo em nenhuma hipótese, mesmo que dissesse a verdade.

-Eu sei. -Disse abaixando a cabeça. -Mas eu estaria em paz

por dizer a verdade e dizer que, de certa forma, eu operei uma mudança na

vida deste homem e sinto-me feliz por isso.

-Sheryl, veja. Conseguirei o relaxamento da sua prisão. Você

sairá em alguns dias e ficará na casa de seus pais com a sua filha,

esperando o seu julgamento. Você precisa falar exatamente o que eu vou

dizer e jamais entrar em contradição. Isso ocasionará a perda da sua filha.

Se as pessoas virem você como vítima, você será inocentada, mas se elas a

virem como cúmplice de um assassino em série, você será condenada e viverá

longe da sua filha. Sei que você ama o Tony Tramell, apesar de todos os

crimes que ele cometeu, mas agora você precisa pensar em si e

principalmente na Valentina. Ela precisa de você mais do que nunca, já que

perdera o pai e principalmente por ser fruto de uma história tão surreal.

Sheryl prometeu pensar. Retornou para a sua cela e a advogada

seguiu. No carro a doutora Kate Whells pensava na história absurda que

acabara de ouvir da sua cliente. Aquilo não lhe saiu da cabeça o dia

inteiro. Em toda a sua carreira de advogada jamais ouvira algo tão

estonteante, tão perturbador. Sim, aquilo realmente mexera com ela, de

fato. Em sua cela, Sheryl parecia apática. As suas colegas de cela eram

complacentes com o seu sofrimento e ao contrário do que sempre se passa,

pareciam compadecidas com o choro da colega. Uma delas, a Therese,

condenada pelo assassinato do marido lhe perguntou:

-Choras pela sua filha?

-Por tudo. por ela, pela morte do único homem que eu amei.

Por quê as coisas tinham que acabar assim? Por quê?

Therese a abraçou e disse:

-Calma criança! Tudo irá se resolver. Tudo irá se resolver...

Os dias se passaram e a doutora Kate Whells conseguiu enfim,

o relaxamento da prisão de Sheryl. Finalmente ela retornaria para a casa de

seus pais e iria ao encontro dos mesmos e da pequena Valentina. Ao chegar,

ela correu em direção ao portão e abraçou a filha com bastante emoção. Ela

a olhava emocionada e não podia deixar de perceber a semelhança com o seu

pai. Valentina cada dia mais se parecia com o Tony. As bochechas rosadas,

os olhos esverdeados e os cabelos pretos como a graúna. A carinha de anjo

que ele tinha, a boca fina e desenhada. A maneira idêntica de sorrir

abrindo os olhos e franzindo o cenho, como seu pai fizera. os detalhes eram

milimetricamente idênticos e isso fazia Sheryl lembrar mais ainda do seu

amado com toda a sua alma. Segurando a pequena nos braços entrou em sua

antiga casa, cumprimentou seus pais que a olharam felizes pelo seu retorno

e sentou-se ao sofá. Sua mãe, Ellen Madison, a olhou e disse:

-Quer conversar?

-Não. Preciso tomar um banho e descansar.

-Vá querida. Você deve estar muito abalada. Nós também

estamos. Mas graças a Deus você está viva e o melhor, nos trouxe esta joia

rara. A minha neta é uma criança especial, embora tenha sido fruto de um

estupro. Lamento, filha. Estou aqui para lhe ajudar no que preciso for.

Sheryl suspirou e correu em direção ao seu quarto. Jogou-se na cama e

chorou mais uma vez. Seus pais até então, não sabiam o que realmente havia

se passado, de fato, com ela. Achavam que ela teria sido capturada,

estuprada e mantida em cárcere privado por todo este tempo. Ela não pensava

em contar a verdadeira história aos pais, pelo menos não por agora. Pensou

bastante no que a advogada havia lhe falado e o seu julgamento demoraria um

pouco de acontecer, isso lhe faria ganhar tempo para fazer o que fosse

melhor para ela e para a a pequena Valentina, mas de certo, ainda não

estava sabendo lidar com toda aquela história. Seguiu para o toalete, tomou

um banho quente e depois um café. Não quisera comer nada, já que estava

ansiosa o bastante para isso. Brincou um pouco com a sua filha e depois

fora tentar dormir, atordoada com os pensamentos, consumida pela dúvida ela

se entristecia ao lembrar de Tony e dos momentos breves, porém únicos que

vivera com ele.

O dia amanheceu e Sheryl despertara ainda abalada porém mais

disposta. Saiu com a pequena Valentina, depois voltou para casa e resolvera

matricular-se em uma academia de artes marciais já que adorava praticá-las,

coisa que Tony a ensinou bem. Resolvera dar continuidade a algo que ela

amava e que, de certa forma, seria uma terapia para ajudá-la a superar tudo

que havia passado até então. Suas aulas eram a tarde, já que durante o dia

estava acertando um emprego como secretária em uma clínica. Os dias

passavam e Sheryl pensava em retomar os estudos para retornar à faculdade,

já que também amava estudar o comportamento humano, mas isso seria mais

para frente, após sua vida ir, aos poucos, retomando seu devido lugar. Um

dia, Sheryl voltou para casa, à tardinha e percebeu que seus pais e a

pequena Valentina não estavam em casa. Ela abriu o portão, a porta

principal e chamou:

-Mãe, Pai, Querida (Referindo-se a Valentina) ... Tem alguém

em casa? Como não houve resposta ela entrou, fechou a porta e colocou a

mochila em cima do sofá. Seguiu para o seu quarto e viu que havia deixado a

janela que dava para o quintal aberta. Caminhou na direção da mesma e a

fechou, quando algo caiu no seu quarto ela olhou assustada e viu que era

Spike, o gato grande e gordo da sua mãe. Sheryl o pegou no colo, levou-o

para a cozinha e lhe deu algo para comer. Quando ela estava agachada viu,

pela visão periférica, que havia alguém dentro da sua casa, ela levantou as

vistas vagarosamente e mal pode acreditar no que vira. Tony estava em pé

diante dela. Ela pensou ser um fantasma. Levantou-se apressadamente, quase

caindo no chão e o encarou. Ficaram frente a frente e ela disse:

-Tony. É você? Não! Eu não estou acreditando no que vejo. -

Esfregou os olhos com as costas das mãos e olhou novamente para aquele

homem extremamente alto, de roupas e botas pretas, parado e sorrindo para

ela enquanto lhe dizia:

-Você só saberá se sou eu se vir aqui me dar um abraço.

Sheryl correu em direção a ele e atirando-se em seus braços o apertou

fortemente que por sua vez a beijara repetidas vezes:

-Tony, meu amor! Eu sabia que você estava vivo. Eu sabia que

nunca iria me abandonar. Eu te amo tanto! -Ele a segurava fortemente

enquanto correspondia aos seus beijos e dizia:

-Eu também te amo, minha linda! Como esperei por isso. Como

esperei por essa recepção. Sabia que o nosso amor sempre fora verdadeiro e

sabia que você estava sofrendo assim como eu também. Mas foi necessário.

Precisei fingir-me de morto e sair de cena. Sei que fui errado em não lhe

falar, mas eu não pude. -Sheryl sorriu, desceu do seus braços e disse:

-Eu compreendo meu amor, mas venha. -Disse puxando-lhe pelo

braço. -Vamos sair daqui para não termos uma surpresa desagradável, vamos

para o meu quarto. Subiu as escadas apressadamente segurando a mão enorme

do Tony, entrou no quarto com ele e trancou a porta. Começou a tentar

falar, a fazer planos para que eles ficassem juntos, mas foi interrompida

por ele que a abraçou pela cintura e beijou-lhe o pescoço e todo o seu

rosto, enquanto ela já não mais falava, apenas murmurava e perdia-se entre

palavras e suspiros e então deixou-se levar pela emoção do reencontro

entregando-se por inteira aquele homem que sempre fora o seu grande amor.

As roupas de ambos caiam aos poucos, lentamente e ela, sendo levada para a

a sua cama nos braços daquele homem não podia resistir a tal furor daqueles

olhos verdes e enigmáticos. Os beijos agora eram mais intensos e

incessantes. Sheryl nem se importava mais com a hora e nem sabia se seus

pais chegariam em casa ou não, apenas entregava-se de corpo e alma àquele

homem que ela, por nenhum momento, conseguira esquecer e agora ele estava

ali. Se fosse um sonho, que fosse bom enquanto durasse e assim ela o fez.

Lágrimas lhe corriam pelos olhos sutilmente ao chegar deliberadamente ao

êxtase proporcionado pelo seu amor enquanto murmurava olhando-o fixamente:

-Eu amo você, Tony.

-Eu também amo você, Sarah! Minha Sarah. -Disse também com

uma lágrima escorrendo-lhe pela grande face.

Depois disso abraçou-a fortemente, beijou-lhe e caiu

desfalecido no seio da amada. Após o reencontro, Sheryl contou a Tony o que

aconteceu. Ela fora presa e recebeu a visita da advogada, Doutora Kate

Whells e então lhe disse como a advogada lhe havia instruído, mas que ela

não faria isso em nenhuma hipótese. Tony levantou-se bruscamente, sentou-se

à cama e lhe disse:

-Sarah, a advogada está certa. Você precisa contar exatamente

isso.

-Mas isso será a sua ruína, Tony. Eu não posso ser a

causadora disso.

-Meu amor, veja. Eu já estou arruinado. -Concluiu.

-Mas se eu inventar uma coisa absurda dessa a sua pena poderá

aumentar e as coisas podem piorar bastante.

-Não. As coisas não tem como piorar. Eu irei pagar por todos

os meus crimes. Se a polícia me pegar eu serei preso, condenado e

executado. Com toda a certeza. Não existe nada que ninguém possa fazer para

me ajudar. Eu sou um assassino e se for pego, pagarei pelos meus crimes.

Você sabe como as nossas leis são rígidas e não existe advogado neste mundo

que consiga reduzir a minha pena por tais atrocidades que cometi.

Sheryl ficou triste, abaixou a cabeça e respirou fundo

enquanto Tony continuava:

-Eu terei que pagar pelo que eu fiz, mas você não. Você não

fez nada. Apenas apaixonou-se por mim. Você não é cúmplice dos meus crimes.

-Não é isso que a polícia pensa.

-Justamente! Ninguém sabe o que aconteceu realmente entre nós

durante esses quatro anos que você ficou comigo, somente nós

dois.

-Tony, eles estão alegando que fui estuprada por você. Que a

Valentina é o fruto de um estupro. Isso não é verdade.

-Eu sei, você sabe, mas eles não. -Disse levantando-se da

cama e vestindo lentamente as roupas. -Querida, presta atenção; Se você

disser o que a doutora Whells sugeriu pode haver uma chance para nós.

-Como?

-Você ficará na posição de vítima. Não será condenada. Se

você alegar que, durante esses quatro anos fora mantida como minha refém em

cárcere privado, estuprada e ameaçada, o júri vai lhe considerar inocente e

você não será presa, muito menos condenada.

-Tony, não é tão simples. Aqueles policiais foram até a nossa

residência em Floyd e viram como vivíamos. Eu não estava em cárcere

privado, eles viram.

-Sim, minha querida, mas isso será a palavra deles. Se a

doutora Whells for convincente e você firme no que ela lhe instruir isso

não vai acontecer.

-Eu não posso fazer isso, Tony. Me desculpe! -Tony se

recompôs, sentou-se novamente à cama, segurando os dois braços da amada

suavemente e lhe disse.

-Sarah, se você disser a verdade, que ficara como refém

apenas um ano e depois disso passou a conviver comigo, a me amar e a me

aceitar como eu era eles poderão alegar duas coisas, ou insanidade ou

cumplicidade de assassinato.

-E o que acontecerá comigo?

-Você será presa, se for acusada de cúmplice ou internada no

manicômio judicial se for considerada insana. Veja, nas duas hipóteses você

estará presa e se você for presa ai sim, a nossa vida acabou. Eu não

poderei colocar em execução um plano para que possamos ficar juntos e

sermos felizes. Eu, você e a nossa filha. Você precisa estar em liberdade,

inocentada e de preferência como vítima. Se você for presa será o fim. De

certa forma, eles não tem certeza que estou morto. Meu corpo nunca foi

encontrado e eles são espertos. Lhe confesso que ter vindo até aqui foi um

risco imenso, mas eu não poderia lhe deixar sofrer e apenas vim para lhe

dizer que estou vivo.

-Ah meu amor, este foi o melhor presente que pude receber

hoje.

-E saber que você me ama foi o meu. Porém não coloque tudo a

perder. Quando será o seu julgamento?

-Daqui a dois meses.

-Então. Tentarei permanecer escondido e sempre irei lhe

visitar. Por motivos de segurança não irei lhe revelar o meu esconderijo,

até porque seria extremamente perigoso você ir ao meu encontro. Valentina

não pode saber que estou aqui, pelo menos por enquanto. Ela é apenas uma

criança e as crianças não sabem mentir como nós.

-Eu sei.

-Eu a amo e estou sofrendo muito por estar longe dela, mas

por segurança é melhor ela não saber por agora, você entende?

-Sim, entendo. Mas... Qual é o plano, Tony? Eu preciso saber.

Ao dizer isso ouviu a porta da sala se abrir e pelo barulho

viu que seus pais haviam chegado com Valentina, ela muito assustada correu

mais que depressa para verificar se a porta do seu quarto estava realmente

trancada enquanto vestia as roupas apressadamente. Lembrou-se do banheiro

que havia no seu quarto, mas alguém poderia entrar então olhou para o teto

e viu o sótão, mostrando para o Tony que abriu rapidamente e escondeu-se

lá, enquanto ela ouvia passos na escada:

-Sheryl... Sheryl você está em casa? Responda!

-Sim... Sim mãe! Estou tomando banho. -Correu para o banheiro

e abriu o chuveiro rapidamente.

-Por quê a porta está trancada? Você está bem? -Disse

forçando a maçaneta da mesma.

-Sim mãe, está tudo bem. Apenas tranquei por precaução.

-Tudo bem. Estarei lá embaixo preparando o jantar. Desça

assim que terminar, Valentina quer lhe mostrar algo que seu pai comprou

para ela.

-Tudo bem, já estou terminando. -Entrou no chuveiro e tomou

um banho de verdade para que ninguém percebesse enquanto Tony permanecia no

sótão imóvel. Ela abriu o sótão, subiu e lhe disse:

-Tony, aconteça o que acontecer não saia daí.

-E agora? como sairei daqui? Não posso ficar aqui, é

arriscado.

-Eu sei. Calma, darei um jeito. Mas pela hora creio você terá

que passar a noite aqui.

-Não Sarah. Querida, veja, eu adoraria. Mas não existe

possibilidades e...

-Não posso falar agora. Se eu demorar minha mãe vai

desconfiar. Fique ai que eu já volto. Olhou para ele e soltou um beijo, que

fez o mesmo e desceu em seguida.

Sheryl chegou à cozinha e talvez, por mera desconfiança,

achou que os seus pais a olhavam como se soubessem de algo, mas isso seria

impossível. Procurou agir com naturalidade, mas a sua mãe parecia sim estar

percebendo algo e lhe perguntou:

-O que está havendo, Sheryl? Você parece assustada.

-Não, nada. Estava apenas preocupada com a faculdade.

-E por falar nisso, já decidiu quando vais voltar?

-Ainda não. Era justamente sobre isso que eu estava pensando.

Sentou-se à mesa, jantou, ficou um tempo por ali e logo subiu. Lembrara de

Tony e pensou em levar-lhe algo para comer. Já fazia mais de uma hora que o

mesmo encontrava-se no sótão, mas tinha que ser discreta para que os seus

pais não percebessem e principalmente a pequena Valentina. Quando seus pais

foram para a sala de estar, Sheryl rapidamente pegou alguma comida e subiu

apressadamente para não ser percebida. Entrou no seu quarto, fechou a

porta, trancou e lentamente abriu o sótão. Tony estava tenso e assustado,

porém sua amada lhe trouxe a comida, conversou rapidamente com ele e desceu

em seguida para que seus pais não desconfiassem. Ficou por ali um tempo e

logo em seguida foi para o seu quarto com a pequena Valentina, que

conversara um pouco com ela:

-Mamãe, o papai vai voltar?

-Vai filha. Está perto do papai voltar, mas você não pode

contar isso a ninguém, certo?

-Por quê?

-Porque senão os homens maus pegam ele e ai nós nunca mais o

veremos. Nós não queremos isso, não é?

-Não.

-Então, este será o nosso segredo.

-Tudo bem. -Disse rindo-se e apertando os olhos. Tony

escutava tudo do sótão emocionado. Tinha vontade de descer dali, pegar a

filha nos braços, beijá-la, apertá-la e lhe dar muitos mimos, mas sabia que

não poderia fazer aquilo. Passados alguns minutos a pequena Valentina

dormiu e Tony finalmente pôde descer do sótão. Ficou ali mais algum tempo

mas quando se deu conta era quase meia noite. Hora perfeita para ele sair

sem ser percebido. Deu mais um beijo em Sheryl, outro na pequena Valentina

que dormia profundamente e saiu pelo mesmo lugar que entrou, a janela do

quarto de Sheryl. Aquela noite custou a passar para Sheryl. Ela estava

feliz e ao mesmo tempo tensa. Sorria quando pensava alto:

-Tony está vivo! Meu Tony!

Passaram-se alguns dias e agora faltava muito pouco para o julgamento de

Sheryl. Ela estava disposta a mentir para garantir a sua absolvição mas

continuava dividida e principalmente com medo de errar, pelo fato de estar

mentindo. Porém haveria de concordar com o Tony e com a doutora Kate,

precisava mentir para que pudesse, enfim, viver feliz com a sua filha e o

homem que ela amava. Tony sempre que podia vinha visitar Sheryl, da mesma

maneira. As vezes à tarde, pois esse horário era muito difícil alguém estar

em casa. Num desses dias, Tony chegou, sentou-se com Sheryl à mesa da

cozinha, onde faziam um lanche e conversavam. Foi então que ele começou a

colocar seu plano em ação:

-Meu amor, veja. Nós nunca poderemos ser felizes aqui, ou em

qualquer outro estado do país. Sim, moramos em Floyd por muito tempo mas

fomos descobertos,

-Sim, eu sei. E o que faremos? -Perguntou assustada.

-Nós teremos que sair do país

-O quê?

-Você estaria disposta a isso?

-Tony, como sairemos do país? Para onde iremos?

-Escuta. Eu tenho um amigo, que é como um irmão para mim. Nos

conhecemos na prisão, quando cometi um pequeno delito há algum tempo atrás.

O nome dele é Sergei Adamovic. Eu não me lembro porque ele foi preso. Sei

que faltava um tempo para a sua extradição e fizemos amizade na prisão. Sai

antes dele, mas através de algumas amizades influentes, consegui tirá-lo de

lá antes do tempo.

-Uau!

-Ele me agradeceu muito e disse que se algum dia eu

precisasse dele para alguma coisa, ele estaria disposto a me ajudar. No que

fosse.

-Ele sabe que você assassinou 24 mulheres?

-Não sei. Creio que sim. Meu rosto apareceu em todos os

jornais e programas de televisão dos EUA e talvez do mundo.

-E se ele for hostil com você?

-Não. Não será, meu amor! Eu vou entrar em contato com ele e

contar apenas o necessário. Sei que correrei um risco, mas se não

arriscarmos jamais saberemos.

-Ele pode lhe entregar.

-Eu sei! Mas só saberemos se tentarmos.

-Isso é verdade! -Afirmou.

-Não podemos ficar a vida inteira nos escondendo. Se você

sair daqui sozinha todos irão desconfiar. Podem até colocar alguém em seu

rastro e ai então tudo estará perdido.

-Não fala isso nem de brincadeira. Eu não sei viver sem você,

Tony. -Disse olhando-o fixamente e segurando nos seus braços.

-Jamais! Você nunca irá me perder, meu amor. Mesmo que eu

morra, estarei sempre ao seu lado. Eu prometo.

Fez-se um silêncio e Sheryl abaixou a cabeça para chorar.

-Não! Não chora meu anjo. Venha cá. -Disse trazendo-a para

perto de si. -Veja. Para todos os efeitos eu estou morto. Tony Tramell está

morto! Eles não irão procurar por alguém que já morreu, ao menos que tenha

uma pista de que esse alguém possa estar vivo.

-Tony. Eles nunca acharam o seu corpo. Você acha que eles

acreditam piamente que você esteja mesmo morto?

-Eu sei que não! E sei que não vão descansar enquanto não

encontrarem o meu corpo, ou a mim. Por isso não há saída. Temos duas

opções. Ou viveremos assim, às escondidas até sermos descobertos ou

arriscamos uma vida fora desse país com a possibilidade de reconstruirmos

as mesmas, pelo menos por um tempo bem mais longo. Mas eu só poderei tomar

toda e qualquer decisão se você concordar comigo. O que você me diz?

-Tony. Isso não têm a mínima chance de dar certo. Como

iremos? Seremos descobertos. Meu amor, a sua aparência é única. Você tem

traços marcantes e completamente notórios a todos. Não existe possibilidade

de sairmos do país.

-Existe sim. Eu irei antes. Clandestinamente. Você só precisa

de uma identidade falsa e o resto lhe instruirei melhor após conversar com

o Sergei.

-E se for uma furada, Tony? Seremos presos no ato.

-Meu amor, é um risco! Você aceita ou não?

-Estou muito receosa. Não vou mentir. Mas com você eu vou até

para o fim do mundo se preciso for. Somos uma família e precisamos ficar

juntos. Até que a morte nos separe. -Tony sorriu tenro apertando os olhos e

suspirando respondeu:

-Nem isso meu amor. Nem a morte irá me separar de você. Pois

aonde quer que você esteja eu estarei ao seu lado. Sheryl o beijou e quando

começaram a dar intensidade aos beijos escutou alguém batendo à porta. Tony

levantou assustado e correu para o quarto de Sheryl e a mesma foi-se

recompor enquanto gritava:

-Espera um momento. -Quem é?

-Oficial Jones White.

Sheryl entrou em pânico. Pensou no ato que o oficial teria visto o Tony

entrar e que iria pegá-lo, porém tentou manter a calma. Abriu a porta e

perguntou:

-O que deseja, senhor Jones?

-Podemos conversar?

-Sobre o que?

-Conversa de rotina, apenas.

-Senhor Jones, tudo que eu sabia disse na delegacia. Creio

que não tenha mais nada a dizer.

-Calma senhorita. Quero apenas conversar.

O jovem oficial que parecia ter seus 28 anos olhou para Sheryl com brilho

nos olhos e ela percebendo que não seria nada sobre o Tony, ou melhor,

quase nada, resolveu deixá-lo entrar:

-Oficial, entre, mas seja breve. Eu preciso sair.

-Não tomarei seu tempo, prometo.

Tony estava tenso no quarto de Sheryl e tentava ouvir o máximo que pudesse

daquela conversa segurando a pistola que havia trazido consigo por

precaução.

-Senhorita Sheryl, ouvimos rumores de alguém muito parecido

com o Tony Tramell tenha sido visto aqui na cidade, a senhorita sabe de

algo?

-Como? Desculpa mas acho que não entendi direito. O Tony? Por

aqui?

-Não temos certeza. Uma pessoa foi ontem à delegacia e

afirmou ter visto o Tony Tramell por aqui. Creio que se o mesmo aparecesse

a primeira pessoa que ele iria procurar seria a senhorita, correto? Pois

vocês tem uma filha em comum.

-Isso é loucura! Tony está morto. Agora todo mundo acha que

vê tudo. Isso é realmente o cúmulo do absurdo.

-Foram apenas rumores. Apenas quis saber se a senhorita não

ouviu algo. -Disse com um olhar insinuador.

-Não. Não ouvi nada a respeito. A minha vida é muito agitada.

Veja, agora mesmo, por exemplo, já estou de saída. Algo mais, senhor?

-Não. Desculpa. Não quis incomodá-la. Sei que já sofrera

demais com toda essa situação.

-Exatamente. -Disse franzindo o cenho.

-Senhorita. Eu poderia lhe fazer um convite?

-Que tipo de convite?

-Aceitaria jantar comigo amanhã à noite?

-Desculpa. Não posso.

-Por quê não?

-O que o senhor quer? Uma investigação mais formal?

-Não. De jeito nenhum! Apenas iniciar uma amizade. Não

tocamos no assunto do Tony Tramell, isso é uma promessa.

-Olha, senhor Jones, não estou confortável com essa situação

e acho que o senhor deveria entender, já que foi um dos oficiais que

realizou a minha prisão na Virgínia. Não existe clima para isso. Não estou

apta a novas amizades e muito menos a convites como este. Não por agora.

-Entendo. Mas vou deixar o meu cartão. Se a senhorita mudar

de ideia, é só ligar.

-Tudo bem! Tenha uma boa tarde. -Disse fechando a porta e

olhando pela janela até ver que o oficial entrava na viatura e saia. Sheryl

era uma linda mulher e sim, qualquer homem se interessaria por ela, mesmo

que fosse o oficial envolvido no caso Tony Tramell. Desde a primeira vez

que viu Sheryl, encantou-se por ela. Mesmo envolta naquela situação

inusitada e incompreensível aos olhos de muitos. O oficial Jones desejava

descobrir o paradeiro de Tramell e prendê-lo o mais rápido possível para

pôr um final nessa história, porém ele não sabia que isso só despertaria o

ódio de Sheryl pelo mesmo, pois Tony era sim, definitivamente o homem que

ela amava. Quando o oficial saiu dali, Tony desceu as escadas do quarto de

Sheryl armado e furioso. Segurava a pistola na mão direita e tinha rubor no

rosto, olhos abertos e respiração ofegante. Fora até a sua amada e lhe

disse:

-O que este maldito queria com você? Eu escutei tudo lá de

cima e me controlei para não matá-lo aqui mesmo.

-Ah meu amor. Está com ciúmes? -Disse rindo-se.

-O que você acha? Eu escuto um cretino lhe convidando para

sair e não posso fazer nada. Ao menos socar-lhe o rosto.

-Calma, Meu amor! Ninguém vai me roubar de você. É você quem

eu amo e isso ninguém vai mudar.

O rubor na face do Tony ia desaparecendo e o semblante

irritado ia dando lugar a um sorriso tênue e cheio de felicidade. Os olhos

verdes dele brilhavam como esmeraldas e abraçando a sua amada lhe disse:

-Isso é o que me conforta e me dá forças para seguir adiante.

Pelo seu amor, pelo amor da nossa filha.

-Sim. Eu o amo muito, mas veja, precisamos ter cuidado, Tony.

Ele afirma que uma pessoa vira alguém muito parecido com você. Nós sabemos

que, encontrar uma pessoa parecida com você é um fato deveras irreal. Você

tem características únicas. Se alguém disse isso foi porque de certa forma,

você se descuidara ao vir me visitar.

-Mas não é possível! Eu ouvi quando ele disse isso e fiquei

intrigado.

-Sim, eu fiquei intrigada também e mais do que isso,

extremamente preocupada. Tony, se lhe descobrem estamos perdidos. Você será

preso e provavelmente executado. Serão três vidas destroçadas. A sua, a

minha e a da nossa filha, pense nisso.

-Sim meu amor, você está certa. O que devo fazer agora?

-Mude de esconderijo e fique uns dias sem vir me ver.

-Mas isso será péssimo.

-Sim, para mim também. Mas não podemos correr este risco. O

que você prefere? Ficar uns dias sem me ver ou ser preso e não me ver mais?

Tony, eu não quero nem pensar nisso. Me causa dor e sofrimento por

antecipação.

-Eu entendo, minha querida.

-Veja, o meu julgamento é a semana que vem. Se eu for

inocentada estarei livre e assim poderemos colocar o nosso plano em ação.

Fugir para a Rússia. Lá será identidade nova, vida nova, recomeço... Eu não

queria que fosse assim. Queria que a justiça lhe desse uma segunda chance e

nós assim vivermos livres, perto dos meus pais, sem precisar nos esconder,

mas infelizmente as coisas as vezes fogem do nosso entendimento.

-Você merecia um homem melhor que eu, não um assassino. -

Disse baixando os olhos.

-Não diga isso nunca mais, ouviu? Nem de brincadeira. Tony,

no começo eu também achava isso de você. Eu tinha medo pelo que eu sabia,

mas de certa forma não era o que eu sentia. Sei que as coisas foram tomando

rumos inusitados e incompreensíveis aos olhos de quem quer que fosse.

Ninguém entenderia o meu sentimento por você. Algumas pessoas diriam que

era carência por estar tanto tempo presa, outras diriam que a minha

insanidade houvera aflorado, mas eu e você sabemos o que nos une. Nós

sabemos que realmente nos amamos e isso é o que importa.

-Eu sei meu amor, mas...

-Não! Interrompeu. -Não me diga nunca mais que eu merecia um

homem melhor. O homem que eu quero está aqui na minha frente. Com todos os

erros, com todas as condenações e com todo esse amor verdadeiro que pulsa

ai dentro e sei que é por mim.

-Você é única, Sarah! Minha Sarah! Eu te amo

incondicionalmente...

-Eu também. Agora vá. Daqui a pouco vai escurecer e meus pais

chegarão. Se eles virem você aqui estaremos perdidos. Mude o seu

esconderijo, faça como te falei e fique por lá uns tempos. Tony, pelo amor

de Deus, tome cuidado. Eu não estou com um bom pressentimento.

-Calma meu amor, eu sou muito astuto.

-Eu sei, isso me tranquiliza mais. A sua astúcia é realmente

impecável.

-Treinamento de guerrilha, madame! -Disse ironizando.

-Sim, senhor. Fez um gesto de continência e sorriu. -Agora

vá, senhor guerrilheiro. Vá, esconda-se muito bem e só apareça aqui na

sexta-feira da semana que vem, pois o meu julgamento será na quarta-feira

que antecede e assim faremos um plano de guerra para a nossa fuga. -riu-se

-Certamente. Falarei com Sergei e quando vier aqui já terei a

resposta.

-Cuidado com o que você fala e como você fala. Ele pode lhe

entregar à polícia. Seja melindroso e meticuloso.

-Sim, senhora. -Agora foi ele quem fez continência.

Sheryl sorriu e ficando na ponta dos pés beijou-lhe e disse:

-Agora vá e... Comporte-se hein? Não quero saber do senhor em

bares pela madrugada flertando com as garotas de

Springfield. -Riu-se

-Jamais! Franziu o cenho. -Queria matar aquele maldito

oficial que estava querendo lhe seduzir.

-Seduzir-me? -Gargalhou. -Nunca! Eu só tenho olhos para você,

senhor Tramell. -Disse acariciando-lhe a grande face.

-E eu para você, minha doce garota!

-Vamos! Já está tarde. Olha... Eu te amo!

-Eu também te amo.

-Contando os dias...

-Contando os minutos...

Assim, Tony saiu às escondidas. Sheryl sentou-se à mesa, suspirou e os

risos da tarde agradável com o Tony davam lugar a um semblante mais

preocupante. Sentia um frio no estômago quando lembrava-se de coisas como,

o seu julgamento e a sua fuga, mas estava decidida a isso. Seria a única

maneira de recomeçar uma vida ao lado do seu grande amor e da sua filha.

Seria a única maneira de ser feliz.

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