Quem via Sheryl Madison feliz, naquela grande e bucólica casa de campo,
cozinhando e olhando pela janela, enquanto a pequena Valentina brincava nojardim da frente, jamais poderia imaginar o que lhe havia acontecido háalguns anos atrás. Era início de outono, ano de 1991. Os dias ensolarados,porém frios e a felicidade dela e daquela pequena criança era visivelmentenotória. Quando aquele homem chegou, a alegria de ambas aumentara. Apequena Valentina correu para os braços dele. Um homem alto, muito alto!Cabelos castanhos escuros, quase pretos e olhos verdes. Com aquelas mãosimensas a levantou como num impulso e a segurou em seus braços. A pequenafalava:-Papai, papai! O que trouxe para mim? -Ele, com voz grossa
e um sorriso no rosto lhe respondeu:
-Venha para o papai. Hoje não lhe trouxe nada! -A menina
entristeceu-se, mas logo riu-se outra vez quando viu que o pai havia lhepregado apenas uma peça:-Você acha que o papai não iria lhe trazer nada? Olha, veja
só que linda. E voltando para o carro com a pequena no colo, mostrou-lheuma boneca de porcelana. A pequena olhou extasiada, e beijou-lhe a face comternura agradecendo o lindo presente. Ainda no carro, o homem inclinou-separa o banco de trás para pegar algo. um buquê de rosas amarelas e, com apequena Valentina, seguiu para o interior da casa onde encontrava-seSheryl. O homem entrou, colocou a criança no chão, foi até ela e entregou-
lhe o buquê. Sheryl, ao receber tanto mimo atirou-se nos braços daquelehomem enorme, beijando-o com ternura. Tudo parecia perfeito e aquela
família realmente feliz e realizada. Assim seguiam-se os dias. Nada muitonovo. A vida deles resumia-se a coisas cotidianas, porém nem tanto. Elesviviam afastados da cidade e também afastados de outras pessoas, na pequenae pacata cidade de Floyd, Virginia. Um casa de fazenda, isolada esilenciosa. A pequena Valentina estudava no condado próximo e Sheryl todasas manhãs a levava na escolinha e a pegava à tarde. A noite todos sereuniam em casa e conversavam, riam... Eram felizes! Numa noite de sábado,após a pequena Valentina dormir, Sheryl deitou-se ao lado daquele homem eolhando nos seus olhos fixamente lhe disse:-Nunca pensei que te amaria tanto. Às vezes é como um sonho
tudo que estamos vivendo.
-Não é sonho, minha querida. É realidade. Se você nunca
imaginou me amar assim, imagina eu? -Concluiu. -Eu preciso olhar para vocêe para a nossa filha para acreditar que é real. Vocês são a razão da minhavida, o sentido dela. É por vocês que eu vivo e por vocês morreria...Lágrimas escorreram dos olhos de ambos que logo em seguida beijaram-se eamaram-se apaixonadamente. Assim, tudo corria normal, até que um dia, algoinesperado aconteceu. Algo que faria Sheryl relembrar do que lhe acontecerahá exatos 4 anos atrás. Antes de ela estar vivendo aquela vida que maisparecia um conto de fadas. Ao chegar da Escolinha de Valentina, como decostume, Sheryl entrou em casa e foi surpreendida por uma viatura depolícia com dois oficiais na porta. Ela parecia assustada, mas nem hesitouem fugir. Não havia como. Um dos homens a abordou:-Senhorita Sheryl Madison? -Sheryl gelou. Não! Aquilo não
estava acontecendo. -Ela respirou fundo e disse:
-O que está acontecendo, senhor?-Não adianta enganar a polícia, Sheryl. Você está presa porfalsa identidade e cúmplice de assassinato. -Sheryl ficou em estado dechoque enquanto era algemada por um oficial e o outro trazia a pequenaValentina. Ela gritava exigindo uma explicação:-O que está acontecendo? Responda-me!-Seu suposto "marido", Tony Tramell, está morto. Numa fugaalucinante trocou vários tiros conosco e o seu carro caiu de um penhasco.
Não encontramos o corpo, mas duvido que ele tenha saído vivo daquela queda.Estávamos na cidade já a alguns dias, no encalço do Tramell. Denúnciasanônimas chegaram até a polícia daqui que rapidamente nos acionaram e entãoconseguimos encontrá-lo. Tony Tramell não quis se render. Infelizmentequeríamos prendê-lo, mas ele não nos deu escolha.-Não, Isso não pode ser verdade! -Disse Sheryl gritando entre
soluços incontroláveis.
-Eu sei que é difícil. Mas veja por um lado bom. A senhorita,
com um bom advogado, poderá ficar isenta de tais acusações. Vamos levá-lade volta a Springfield, seus pais precisam saber que você está viva.Aquilo parecia um pesadelo sem fim. Sheryl não estava acreditando nareviravolta que a sua vida teria dado de uma hora para outra, mas sim,aquilo fatalmente aconteceria um dia. Histórias como a dela, jamaispoderiam ter um final feliz. Era a triste realidade. A história de Sarah,ou melhor, Sheryl e Tony começou há quatro anos atrás. Uma história que, embreve, viria a tona, assim que ela chegasse a Springfield. Ela já nãochorava mais. Tinha ódio no coração e furor nos olhos, que aindalacrimejavam quando, no caminho pensava em Tony. -Não, ele não está morto!-Dizia para si mesma. A criança foi levada à casa dos pais de Sheryl, queaté então, não sabiam da sua existência e quando os oficias explicaram ocaso aos mesmos, eles choravam e abraçavam a menina ao mesmo tempo que nadaentendiam. Tentavam adaptar-se a mais nova realidade.-Veja, Steven, nós temos uma neta. Que menina linda. Venha querida, entre.Venha brincar com a vovó. Você deve estar com fome. -Entrou com a pequenaenquanto Sheryl olhava para seu pai que apenas lhe perguntou:-O que aconteceu, filha? -Entrou na viatura para acompanhá-la
à delegacia da cidade, onde lá ficaria presa até a determinação da justiça.Dois dias se passaram e a doutora Kate Whells fora visitá-la. Sheryl estavaapática e muito abatida e então a advogada a olhou e disse:-Senhorita Sheryl Ann Madison, sou a sua advogada, Kate
Whells. Observe, o seu caso não será difícil. Você foi vítima de sequestro,estupro e permaneceu em cárcere privado por quatro anos. Iremos alegar issoao tribunal e você logo estará livre para ficar com a sua família. -Sheryllevantou apenas os olhos e disse:-Cárcere privado? Estupro? Vítima? -Gargalhou.
-Não estou entendendo senhorita Sheryl, qual o motivo dagraça?
-Meu nome é Sarah. Sarah Tramell. Sheryl morreu há quatro
anos atrás.
A doutora Kate sentiu dúvidas e ao mesmo tempo medo do que acabara de ouvire principalmente do modo que Sheryl a olhava.-Sheryl, eu preciso saber toda a verdade para que possa
elaborar a minha defesa. Você quer ficar aqui? Sabe quantos anos dedetenção pega uma pessoa acusada por cúmplice de assassinato? -Sheryl aolhou, meneou a cabeça e disse:-Ok, você quer a verdade? Então, doutora, escuta porque a
história é longa.
-Sou toda ouvidos. -Respondeu.
-Tudo bem. Vou lhe contar detalhadamente. Até porque se eunão me abrir com alguém vou acabar beirando a insanidade e já que a doutoradiz estar disposta a me ajudar eu vou lhe contar. -E começou:-Há exatos quatro anos atrás eu estava cursando a faculdade
de psicologia. A minha vida era como a das demais garotas aqui da cidade.Universidade, balada e curtição. Mas tudo mudou em uma noite. Ao sair deuma festa, um pouco embriagada, tentei sem sucesso, abrir a porta do meucarro e seguir para casa. Não vi mais nada. Ao despertar estava em umacasa. Uma casa até confortável, mas toda fechada. Vedada mesmo. A casaparecia ser especialmente construída para aquilo.A advogada escutava a tudo atentamente sem piscar. Sheryl
então continuou:
-Tentei me desamarrar de todas as maneiras. O ambiente estava
a meia luz. Ainda estava sonolenta, mas pude ouvir alguém se aproximando.Era um homem alto, forte e todo vestido de preto que me dizia: -Oi! Está
confortável? -Bem, como estudava psicologia, tentei usar da mesma e orespondi:-Se você folgasse essas amarras que me prendem poderia até
estar. Ele me olhou admirado, aproximou-se de mim, ajoelhou-se em minhafrente e disse:-Que tranquilidade, Sarah. Você não é como as outras!
-Sarah? Não! Deve estar havendo algum equívoco! Meu nome éSheryl. Sheryl Madison.
-Equívoco? -Disse gargalhando. -Não há equívoco algum,
"Sheryl Madison". Seu nome agora é Sarah.
-Eu fiquei olhando para ele assustada e disse:-Por quê vais mudar o meu nome? Não lhe agrada?
O homem franziu o cenho, ainda em minha frente e disse:-Não entendo a sua calma. Você sabe quem eu sou?-Saber eu não sei, mas faço ideia.-E não está com medo? Você não vai gritar e se desesperar comoas outras?
-Não, Por quê? Vai resolver alguma coisa? Eu sei que vou
morrer de qualquer jeito. Aquele homem de certo assustou-se ao ouviraquilo, havia ficado intrigado e por incrível que pareça foi espontâneo. Eudisse o que realmente sentia.-Continue. -Disse a doutora Kate.
-Então. Ele foi até a cozinha, pegou algo para eu comer edisse: -Coma. -Eu o olhei séria e respondi:
-Não estou com fome.
-Se você não comer agora eu não lhe darei nada mais tarde.Apenas dei de ombros enquanto ele se afastava. Quando ele voltou, me pegoubruscamente pelo braço, me colocou num quarto e me trancou saindo emseguida. Depois de algumas horas ele retornou com alguém, uma garota quegritava bastante e fora assassinada ali.-Você viu? -Perguntou a doutora Kate.
-Não. Apenas ouvi gritos, pancadas e logo em seguida umprofundo silêncio. Depois ele abriu a porta do quarto que eu estava e meserviu a comida que eu, algumas horas atrás havia recusado. Ele estava todosujo de sangue. Quando vi, fiquei assustada mas procurei não demonstrar emuito menos contrariá-lo. Sabia que seria a próxima, mas não ouseiperguntar e quando ele me ofereceu a comida eu comi sem hesitar.-Você comeu mesmo vendo ele sujo de sangue?-Sim. Como disse, não quis contrariá-lo.-Prossiga:-Os dias que se seguiram foram todos assim. Ele sempre levavauma garota para aquela casa e a assassinava. Eu nunca via, mas escutava. Umdia ele trouxe uma garota muito parecida comigo e logo a reconheci. Era umamodelo em início de carreira. As pessoas diziam que eu me parecia com ela,mas eu, particularmente, a achava mais bonita e muito mais alta. Ela ficouno mesmo quarto que eu por aproximadamente uma semana. Nos primeiros diasela estava tensa e eu tentei acalmá-la dizendo que se ele a prendera ali,junto a mim, não pretendia matá-la, já que depois disso várias outrasteriam sido assassinadas ali, mas a Alice não se controlava. Choravacompulsivamente e gritava muito. Até que ele entrou no quarto, a pegou pelobraço e depois disso nunca mais a vi. Não ouvi gritos ou algo semelhante,mas tenho certeza que ela fora assassinada.-Sim, foi! Alice Johnson. Seu corpo foi um dos primeiros a
ser encontrado. Enterrado no quintal daquela casa, junto com mais 22cadáveres de moças da mesma faixa etária em total estado de decomposição. -Respondeu a doutora Kate. -Mas... prossiga:-Então. Durante os primeiros meses ali, naquela casa, presa,
elaborei mil e uma maneiras de fugir. Tentei ganhar a confiança dele esempre que perguntava quando ele iria me matar ele me respondia:-Por quê a pressa? Você não teme a morte?
-Não. Sei que esse será o fim de todos nós.-Intrigante mocinha. A senhorita sempre tem reposta paratudo.
-Faz parte. Respondi com um sorriso irônico. -Ele já estava
começando a confiar em mim, quando tentei a minha primeira fuga. Precisavaser ágil porque sabia que uma hora, eu seria a próxima. Como não ficavamais trancada e sim dentro de casa apenas acorrentada, consegui romper acorrente e fugir pelo sótão, mas ele foi mais rápido. Capturou-merapidamente, porém nunca agiu com violência para comigo. Ele ficava irado.Gritava e me sacudia pelos braços, porém nunca me agrediu fisicamente. Omáximo era me dar um castigo. Me deixava trancada no quarto. A segundatentativa eu cheguei perto da estrada. Estava esperançosa, mas ele pegou ocarro e me capturou mais depressa que a primeira vez. Voltei chorando e elesério. Nada me dizia. Apenas olhava-me com aqueles olhos verdespenetrantes. Ao chegar em casa ele disse:-Sarah, acho que já está na hora de lhe matar. -Disse
desembainhando uma espada semelhante àquelas espadas de Samurai.-Eu sabia. Sabia que isso aconteceria, por isso tentei fugir.
-Não. Eu não ia lhe matar. Mas você tentou fugir de mim.-Não vou mais fugir, prometo.-Não sei se devo! Posso confiar? -Meneou a cabeça, ergueu assobrancelhas e olhou para a espada, guardando-a novamente.
-Pode! Por favor, me dê uma chance! -Dessa vez fuimeticulosa. Tentei ganhar a confiança dele de todas as maneiras. Fiqueboazinha por muito tempo e calculei passo a passo a próxima fuga. Espereibastante tempo. Foram 5 longos meses. Ele já confiava em mim. A noiteconversávamos e ele sentia-se à vontade comigo. Às vezes trazia algumasmoças e as matava como sempre e quando fazia mantinha-me presa no quarto.Eu nunca vi uma pessoa sendo assassinada, apenas ouvia, porém o númerodiminuiu bastante. Um dia ele chegou bêbado e me ofereceu cerveja. Bebijunto com ele. Conversamos e ele acabou dormindo. Foi ai que parti para aminha tão planejada fuga. A terceira. Corri pela mata adentro. Era noite,estava escuro e frio. Eu corria muito, mas parecia estar perdida. Corri,corri, olhei para trás e de repente esbarrei numa árvore que me fezdesmaiar. Acordei amordaçada e amarrada dentro da casa dele quetranstornado me disse:-Eu confiei em você. Você me traiu! Será que você não entende
que todas elas morreram porque eram traidoras? Mereceram? Tentei argumentare ele então tirou a minha mordaça. Respirei fundo, olhei para ele e disse:-Ninguém merece morrer. Você não é Deus. -Disse com raiva.-Não, eu não sou Deus, mas eu posso fazer justiça. Nenhumadelas era honesta. Você era, até então. Por quê, Sarah?
-Meu nome não é Sarah! -Gritei chorando ao mesmo tempo.
-É sim. Seu nome é Sarah. -Disse-me gritando mais ainda eesmurrando fortemente a porta.
-Quem é Sarah? Alguma mulher que você amou, não correspondeu
e você a matou? É isso?
-Não! Sarah é o nome da esposa que eu idealizei. Que me faria
um homem novo e me daria vida nova. Seria tudo novo.
-Esposa? Eu? -Ri. -Eu só tenho 20 anos! Não pretendo me casar
agora, ainda mais com você. Um assassino. Quem me garante que você não iriame matar se algum dia eu lhe "decepcionasse"?-Não! Mesmo que você me ferisse eu jamais a machucaria. Disse
sentando-se ao chão em frente a mim. Eu já lhe machuquei alguma vez? Vaifazer um ano que você está aqui e nunca fora descoberta. Eu já lhemachuquei? responda?-Não.-Mas você me traiu três vezes e sei que vai me trair aquarta.
-Não. Não vou!
-Eu não confio mais em você.-Por favor, só essa vez. -Disse tentando convencê-lo.-Sarah, eu não vou te matar. Farei pior. Venha, levante-se esaia. Você está livre! Livre para voar! -Disse puxando meu braço e
atirando-me para fora da casa.Eu cai sentada, olhei ao redor, mal poderia acreditar no que
estava escutando. Levantei, fui andando lentamente e comecei a seguirolhando para trás assustada.
-Se você não quer ficar aqui, não vou lhe obrigar e nem vou
mais lhe chamar de Sarah. Adeus, Sheryl.
Eu sai e ele ficou ali imóvel. Fui andando e depois correndo,
mas no meio do caminho tive uma ideia. Sabia que ele viria atrás de mim eme mataria por ter sim, traído a sua confiança pela quarta vez. Ele não medeixaria viva até porque agora eu sabia aonde era o seu esconderijo e entãoresolvi agir com perspicácia. Já estava na estrada, quando decidi voltar.Ele continuava lá. Agora sentado ao chão, sem camisa, triste, bebendocerveja e olhando para a parede. Quando ele me viu na porta, franziu ocenho e me disse:-O que significa isso? Por que você voltou? Veio com a
polícia? Disse levantando-se bruscamente.
-Eu não sou falsa! Voltei porque prometi que não trairia mais
a sua confiança. Dessa vez voltei para ficar.
Ele veio até mim e me abraçou. Confesso que senti uma certa
pena daquele homem por alguns instantes. Ele sempre enigmático, emborafosse um assassino. Um metro e noventa de altura aproximadamente, cabeloscastanhos e lisos, aqueles olhos verdes penetrantes, mãos e rosto enormes,sim, o seu maxilar era único. Jamais havia visto um rosto como o dele,assemelhava-se a um anjo querubim. Se ele me desse um empurrão sequer medesmoronaria por inteira. Às vezes tinha receio em desafiá-lo. Ficaria porali ganhando a confiança dele e elaboraria a minha quinta fuga, ou seja, aquarta, pois essa última não chegara a ser realizada.-Você foi muito corajosa, eu não retornaria. -Disse a doutora
Kate. Mas... Continue. Não quero interromper:
-Na verdade nem eu mesma entendi porque voltei para o meu
cativeiro e confesso que só vim entender algum tempo depois. Os dias sepassaram e eu sempre pensava em um jeito de fugir, já que ele confiava emmim plenamente. Tony Tramell era temido pelas mulheres, mas eu não o temia,mesmo sabendo que se tratava de um assassino perigoso. Eu estudei os seusmedos e fraquezas. Ele era de uma carência extrema e uma sensibilidadeúnica. Se eu quisesse o teria matado, pois várias vezes ele dormira nasala, no sofá e me pedia para que fizesse a sua comida. Ele me ensinouartes maciais, me ensinou a atirar e a manusear vários tipos de armas,poderia muito bem envenená-lo, sedá-lo ou até mesmo matá-lo com uma de suasarmas, mas não o fiz. Com o passar dos tempos comecei a ver o Tony comoutros olhos. Ele não assassinava mais ninguém, pelo menos não que euvisse. Sorria, conversava comigo animadamente. Fazia comemorações festivas,comprava-me lindos vestidos e eu sempre o ajudava muito em questõesdiversas. Tínhamos uma amizade, sim, por incrível que pareça, criamos umimenso laço de amizade e fatalmente eu acabei me apaixonando por ele. Presaali naquela casa, vi o quanto ele era especial. O quanto ele era sensível eo pior, ele me dissera que havia desistido de mim como esposa, que eu eramelhor como amiga. Então eu perguntei:-Você vai arranjar outra esposa?
-Por enquanto não. Não tenho tido muita sorte com asmulheres.
-Mesmo sendo assim tão belo?
-Você me acha mesmo belo? -Gargalhou. -Há quem diga que eupareço um monstro.
-Acho sim.-Esse elogio me deixou melhor.-Mas é verdade. Acho que você não tem sorte com as mulheresporque você quer o amor delas a força. Não deixa que elas te conheça porinteiro e veja a pessoa maravilhosa que você é.-Eu? Maravilhoso? -Disse dando uma risada irônica.
-Sim. Você é. Nunca fui tratada com tanto carinho, com tantaadmiração. Nem mesmo pelos meus pais.
-Você merece! És doce e inteligente.
-Obrigada!-O que eu preciso fazer então para conquistar uma mulher? -Disse com brilho nos olhos. -Vamos, diga-me. -Arregalou os olhos
aproximando o rosto enorme do meu, me olhando séria e fixamente.-Acho que nada. -Respondi com naturalidade.
-Nada?-Na verdade, você já conquistou. Não sei se é essa mulher quevocê queria. Mas ela está na sua frente. Eu estou perdidamente apaixonadapor você, Tony. -Disse como num impulso, sem pensar. Ao dizerisso ele ficou surpreso, perplexo e atônito. Parou, respirou fundo eafastou-se um pouco. Coçou ligeiramente a cabeça e franziu o cenho. Pudever nos seus olhos uma emoção diferente e um enorme embaraço, que eletentou disfarçar mas não conseguiu. Era um misto de surpresa com felicidadee dúvida ao mesmo tempo. Ele olhou para baixo, olhou para mim novamenterespirando fundo, com os olhos brilhando e me disse:-Você não sabe como eu esperei por isso. Como esperei ouvir
isso um dia e sei que não é fingimento. Sei que daquele dia que vocêvoltou, mesmo eu a tendo liberado era porque você já gostava de mim, masnem mesmo você sabia e eu já te amava desde a primeira vez que te vi. Eu viem você a mulher que sempre idealizei para mim e não sei porquê. Você não écomo as outras. Hoje arrependo-me do que fiz, de certa forma, tanto é quedesde que você resolveu ficar aqui eu não fiz mais, porém sei que um diapagarei por isso e da pior forma possível, no corredor da morte, mas hoje,ouvindo isso, morreria feliz.-Eu chorei, me aproximei dele e o abracei forte. Ele também
me abraçou e foi ai que aconteceu o nosso primeiro beijo e a nossa primeiranoite de amor também. Mas isso eu não posso dar detalhes. Desse dia emdiante éramos um casal. Louco e apaixonado. Eu vivi com o Tony um conto defadas. Ele tinha 37 anos e eu 20, na época. Ficamos ali mas saberíamos quea qualquer momento poderíamos ser descobertos. Não podíamos ficar nosescondendo a vida inteira. Foi quando consegui falsificar a minhaidentidade com o nome de Sarah Young e com ele fui morar em Floyd. Látínhamos nossa casa, nosso carro e vidas novas. Ele sempre me chamou deSarah, mas eu nunca conseguia chamá-lo pelo nome falso que ele usou parafugir comigo. Continuamos vivendo um conto de fadas quando logo descobrique estava grávida. O Tony vibrou, chorou como criança e quando a nossafilha nasceu, ele estava completamente apaixonado. Acompanhou tudo, dagravidez ao nascimento. Com ela deu os primeiros passos, ensinou-lhe afalar as primeiras palavras, tinha tanta paciência, mais até do que eu.Contava histórias para que a Valentina dormisse e por sinal ele quemescolheu o nome, dizia que ela seria astuta assim como ele. Sabe, doutora,a Valentina está sofrendo muito. Ela ama o pai e eu também. Não vamos saberviver sem ele. -Disse com imensa tristeza.A advogada escutava tudo com perplexidade e aperto no peito.
Respirou fundo e lhe disse:
-Síndrome de Estocolmo. Você, vítima, apaixonou-se pelo seu
algoz e com ele formou uma família. Realmente, essa história é
impressionante, mas você jamais poderá contar isso no tribunal, senão serácondenada ou pior, irá parar no manicômio judicial e ai jamais verá suafilha novamente. Sheryl a olhou emocionada, mas não poderiamentir, a mentira poderia ser a maior traição ao único amor de toda a suavida e isso ela jamais faria:-Doutora, infelizmente eu não posso trair o homem que eu amo
e ainda mais mentir sobre algo que não aconteceu. De certa forma issoprocede sim, nos primeiros meses, porém depois aconteceu exatamente comoestou lhe contando:-Entendo, Sheryl. Mas isso irá lhe prejudicar. Tony Tramell
está morto e a sua filha agora é prioridade em sua vida.
Sheryl ficou nervosa e disse-lhe
-Não. Tony não está morto. Acharam o corpo dele? Não! Ele nãoestá morto. Eu sinto isso.
-Digamos que ele realmente esteja vivo. Os crimes que ele
cometeu foram imensos. Tony Trammel assassinou vinte e quatro mulheres pormotivos desconhecidos. Sequestrou, estuprou e manteve uma vítima em cárcereprivado por algum tempo. Ele não irá se safar da condenação. Irá para ocorredor da morte ou passará o resto dos dias na cadeia. O seu depoimentonão iria salvá-lo em nenhuma hipótese, mesmo que dissesse a verdade.-Eu sei. -Disse abaixando a cabeça. -Mas eu estaria em pazpor dizer a verdade e dizer que, de certa forma, eu operei uma mudança na
vida deste homem e sinto-me feliz por isso.-Sheryl, veja. Conseguirei o relaxamento da sua prisão. Você
sairá em alguns dias e ficará na casa de seus pais com a sua filha,esperando o seu julgamento. Você precisa falar exatamente o que eu voudizer e jamais entrar em contradição. Isso ocasionará a perda da sua filha.Se as pessoas virem você como vítima, você será inocentada, mas se elas avirem como cúmplice de um assassino em série, você será condenada e viverálonge da sua filha. Sei que você ama o Tony Tramell, apesar de todos oscrimes que ele cometeu, mas agora você precisa pensar em si eprincipalmente na Valentina. Ela precisa de você mais do que nunca, já queperdera o pai e principalmente por ser fruto de uma história tão surreal.Sheryl prometeu pensar. Retornou para a sua cela e a advogadaseguiu. No carro a doutora Kate Whells pensava na história absurda queacabara de ouvir da sua cliente. Aquilo não lhe saiu da cabeça o diainteiro. Em toda a sua carreira de advogada jamais ouvira algo tãoestonteante, tão perturbador. Sim, aquilo realmente mexera com ela, defato. Em sua cela, Sheryl parecia apática. As suas colegas de cela eramcomplacentes com o seu sofrimento e ao contrário do que sempre se passa,pareciam compadecidas com o choro da colega. Uma delas, a Therese,condenada pelo assassinato do marido lhe perguntou:-Choras pela sua filha?
-Por tudo. por ela, pela morte do único homem que eu amei.Por quê as coisas tinham que acabar assim? Por quê?
Therese a abraçou e disse:
-Calma criança! Tudo irá se resolver. Tudo irá se resolver...Os dias se passaram e a doutora Kate Whells conseguiu enfim,o relaxamento da prisão de Sheryl. Finalmente ela retornaria para a casa deseus pais e iria ao encontro dos mesmos e da pequena Valentina. Ao chegar,ela correu em direção ao portão e abraçou a filha com bastante emoção. Elaa olhava emocionada e não podia deixar de perceber a semelhança com o seupai. Valentina cada dia mais se parecia com o Tony. As bochechas rosadas,os olhos esverdeados e os cabelos pretos como a graúna. A carinha de anjoque ele tinha, a boca fina e desenhada. A maneira idêntica de sorrirabrindo os olhos e franzindo o cenho, como seu pai fizera. os detalhes erammilimetricamente idênticos e isso fazia Sheryl lembrar mais ainda do seuamado com toda a sua alma. Segurando a pequena nos braços entrou em suaantiga casa, cumprimentou seus pais que a olharam felizes pelo seu retornoe sentou-se ao sofá. Sua mãe, Ellen Madison, a olhou e disse:-Quer conversar?
-Não. Preciso tomar um banho e descansar.-Vá querida. Você deve estar muito abalada. Nós tambémestamos. Mas graças a Deus você está viva e o melhor, nos trouxe esta joiarara. A minha neta é uma criança especial, embora tenha sido fruto de umestupro. Lamento, filha. Estou aqui para lhe ajudar no que preciso for.Sheryl suspirou e correu em direção ao seu quarto. Jogou-se na cama echorou mais uma vez. Seus pais até então, não sabiam o que realmente haviase passado, de fato, com ela. Achavam que ela teria sido capturada,estuprada e mantida em cárcere privado por todo este tempo. Ela não pensavaem contar a verdadeira história aos pais, pelo menos não por agora. Pensoubastante no que a advogada havia lhe falado e o seu julgamento demoraria umpouco de acontecer, isso lhe faria ganhar tempo para fazer o que fossemelhor para ela e para a a pequena Valentina, mas de certo, ainda nãoestava sabendo lidar com toda aquela história. Seguiu para o toalete, tomouum banho quente e depois um café. Não quisera comer nada, já que estavaansiosa o bastante para isso. Brincou um pouco com a sua filha e depoisfora tentar dormir, atordoada com os pensamentos, consumida pela dúvida elase entristecia ao lembrar de Tony e dos momentos breves, porém únicos quevivera com ele.O dia amanheceu e Sheryl despertara ainda abalada porém mais
disposta. Saiu com a pequena Valentina, depois voltou para casa e resolveramatricular-se em uma academia de artes marciais já que adorava praticá-las,coisa que Tony a ensinou bem. Resolvera dar continuidade a algo que elaamava e que, de certa forma, seria uma terapia para ajudá-la a superar tudoque havia passado até então. Suas aulas eram a tarde, já que durante o dia
estava acertando um emprego como secretária em uma clínica. Os diaspassavam e Sheryl pensava em retomar os estudos para retornar à faculdade,já que também amava estudar o comportamento humano, mas isso seria maispara frente, após sua vida ir, aos poucos, retomando seu devido lugar. Umdia, Sheryl voltou para casa, à tardinha e percebeu que seus pais e apequena Valentina não estavam em casa. Ela abriu o portão, a portaprincipal e chamou:-Mãe, Pai, Querida (Referindo-se a Valentina) ... Tem alguém
em casa? Como não houve resposta ela entrou, fechou a porta e colocou amochila em cima do sofá. Seguiu para o seu quarto e viu que havia deixado ajanela que dava para o quintal aberta. Caminhou na direção da mesma e afechou, quando algo caiu no seu quarto ela olhou assustada e viu que eraSpike, o gato grande e gordo da sua mãe. Sheryl o pegou no colo, levou-opara a cozinha e lhe deu algo para comer. Quando ela estava agachada viu,pela visão periférica, que havia alguém dentro da sua casa, ela levantou asvistas vagarosamente e mal pode acreditar no que vira. Tony estava em pédiante dela. Ela pensou ser um fantasma. Levantou-se apressadamente, quasecaindo no chão e o encarou. Ficaram frente a frente e ela disse:-Tony. É você? Não! Eu não estou acreditando no que vejo. -
Esfregou os olhos com as costas das mãos e olhou novamente para aquelehomem extremamente alto, de roupas e botas pretas, parado e sorrindo paraela enquanto lhe dizia:-Você só saberá se sou eu se vir aqui me dar um abraço.
Sheryl correu em direção a ele e atirando-se em seus braços o apertoufortemente que por sua vez a beijara repetidas vezes:-Tony, meu amor! Eu sabia que você estava vivo. Eu sabia que
nunca iria me abandonar. Eu te amo tanto! -Ele a segurava fortementeenquanto correspondia aos seus beijos e dizia:-Eu também te amo, minha linda! Como esperei por isso. Como
esperei por essa recepção. Sabia que o nosso amor sempre fora verdadeiro esabia que você estava sofrendo assim como eu também. Mas foi necessário.Precisei fingir-me de morto e sair de cena. Sei que fui errado em não lhefalar, mas eu não pude. -Sheryl sorriu, desceu do seus braços e disse:-Eu compreendo meu amor, mas venha. -Disse puxando-lhe pelobraço. -Vamos sair daqui para não termos uma surpresa desagradável, vamospara o meu quarto. Subiu as escadas apressadamente segurando a mão enormedo Tony, entrou no quarto com ele e trancou a porta. Começou a tentarfalar, a fazer planos para que eles ficassem juntos, mas foi interrompidapor ele que a abraçou pela cintura e beijou-lhe o pescoço e todo o seurosto, enquanto ela já não mais falava, apenas murmurava e perdia-se entrepalavras e suspiros e então deixou-se levar pela emoção do reencontroentregando-se por inteira aquele homem que sempre fora o seu grande amor.As roupas de ambos caiam aos poucos, lentamente e ela, sendo levada para aa sua cama nos braços daquele homem não podia resistir a tal furor daquelesolhos verdes e enigmáticos. Os beijos agora eram mais intensos eincessantes. Sheryl nem se importava mais com a hora e nem sabia se seuspais chegariam em casa ou não, apenas entregava-se de corpo e alma àquelehomem que ela, por nenhum momento, conseguira esquecer e agora ele estavaali. Se fosse um sonho, que fosse bom enquanto durasse e assim ela o fez.Lágrimas lhe corriam pelos olhos sutilmente ao chegar deliberadamente aoêxtase proporcionado pelo seu amor enquanto murmurava olhando-o fixamente:-Eu amo você, Tony.
-Eu também amo você, Sarah! Minha Sarah. -Disse também comuma lágrima escorrendo-lhe pela grande face.
Depois disso abraçou-a fortemente, beijou-lhe e caiu
desfalecido no seio da amada. Após o reencontro, Sheryl contou a Tony o que
aconteceu. Ela fora presa e recebeu a visita da advogada, Doutora KateWhells e então lhe disse como a advogada lhe havia instruído, mas que elanão faria isso em nenhuma hipótese. Tony levantou-se bruscamente, sentou-seà cama e lhe disse:-Sarah, a advogada está certa. Você precisa contar exatamente
isso.
-Mas isso será a sua ruína, Tony. Eu não posso ser a
causadora disso.
-Meu amor, veja. Eu já estou arruinado. -Concluiu.
-Mas se eu inventar uma coisa absurda dessa a sua pena poderáaumentar e as coisas podem piorar bastante.
-Não. As coisas não tem como piorar. Eu irei pagar por todos
os meus crimes. Se a polícia me pegar eu serei preso, condenado e
executado. Com toda a certeza. Não existe nada que ninguém possa fazer parame ajudar. Eu sou um assassino e se for pego, pagarei pelos meus crimes.Você sabe como as nossas leis são rígidas e não existe advogado neste mundoque consiga reduzir a minha pena por tais atrocidades que cometi.Sheryl ficou triste, abaixou a cabeça e respirou fundoenquanto Tony continuava:
-Eu terei que pagar pelo que eu fiz, mas você não. Você não
fez nada. Apenas apaixonou-se por mim. Você não é cúmplice dos meus crimes.-Não é isso que a polícia pensa.
-Justamente! Ninguém sabe o que aconteceu realmente entre nósdurante esses quatro anos que você ficou comigo, somente nós
dois.-Tony, eles estão alegando que fui estuprada por você. Que a
Valentina é o fruto de um estupro. Isso não é verdade.
-Eu sei, você sabe, mas eles não. -Disse levantando-se da
cama e vestindo lentamente as roupas. -Querida, presta atenção; Se vocêdisser o que a doutora Whells sugeriu pode haver uma chance para nós.-Como?
-Você ficará na posição de vítima. Não será condenada. Sevocê alegar que, durante esses quatro anos fora mantida como minha refém emcárcere privado, estuprada e ameaçada, o júri vai lhe considerar inocente evocê não será presa, muito menos condenada.-Tony, não é tão simples. Aqueles policiais foram até a nossa
residência em Floyd e viram como vivíamos. Eu não estava em cárcere
privado, eles viram.-Sim, minha querida, mas isso será a palavra deles. Se a
doutora Whells for convincente e você firme no que ela lhe instruir issonão vai acontecer.-Eu não posso fazer isso, Tony. Me desculpe! -Tony se
recompôs, sentou-se novamente à cama, segurando os dois braços da amadasuavemente e lhe disse.-Sarah, se você disser a verdade, que ficara como refém
apenas um ano e depois disso passou a conviver comigo, a me amar e a meaceitar como eu era eles poderão alegar duas coisas, ou insanidade oucumplicidade de assassinato.-E o que acontecerá comigo?
-Você será presa, se for acusada de cúmplice ou internada nomanicômio judicial se for considerada insana. Veja, nas duas hipóteses vocêestará presa e se você for presa ai sim, a nossa vida acabou. Eu nãopoderei colocar em execução um plano para que possamos ficar juntos esermos felizes. Eu, você e a nossa filha. Você precisa estar em liberdade,inocentada e de preferência como vítima. Se você for presa será o fim. Decerta forma, eles não tem certeza que estou morto. Meu corpo nunca foiencontrado e eles são espertos. Lhe confesso que ter vindo até aqui foi umrisco imenso, mas eu não poderia lhe deixar sofrer e apenas vim para lhedizer que estou vivo.-Ah meu amor, este foi o melhor presente que pude receber
hoje.
-E saber que você me ama foi o meu. Porém não coloque tudo a
perder. Quando será o seu julgamento?
-Daqui a dois meses.-Então. Tentarei permanecer escondido e sempre irei lhevisitar. Por motivos de segurança não irei lhe revelar o meu esconderijo,até porque seria extremamente perigoso você ir ao meu encontro. Valentinanão pode saber que estou aqui, pelo menos por enquanto. Ela é apenas umacriança e as crianças não sabem mentir como nós.-Eu sei.
-Eu a amo e estou sofrendo muito por estar longe dela, maspor segurança é melhor ela não saber por agora, você entende?
-Sim, entendo. Mas... Qual é o plano, Tony? Eu preciso saber.
Ao dizer isso ouviu a porta da sala se abrir e pelo barulhoviu que seus pais haviam chegado com Valentina, ela muito assustada correumais que depressa para verificar se a porta do seu quarto estava realmentetrancada enquanto vestia as roupas apressadamente. Lembrou-se do banheiroque havia no seu quarto, mas alguém poderia entrar então olhou para o tetoe viu o sótão, mostrando para o Tony que abriu rapidamente e escondeu-selá, enquanto ela ouvia passos na escada:-Sheryl... Sheryl você está em casa? Responda!
-Sim... Sim mãe! Estou tomando banho. -Correu para o banheiroe abriu o chuveiro rapidamente.
-Por quê a porta está trancada? Você está bem? -Disse
forçando a maçaneta da mesma.
-Sim mãe, está tudo bem. Apenas tranquei por precaução.
-Tudo bem. Estarei lá embaixo preparando o jantar. Desçaassim que terminar, Valentina quer lhe mostrar algo que seu pai comproupara ela.-Tudo bem, já estou terminando. -Entrou no chuveiro e tomou
um banho de verdade para que ninguém percebesse enquanto Tony permanecia nosótão imóvel. Ela abriu o sótão, subiu e lhe disse:-Tony, aconteça o que acontecer não saia daí.
-E agora? como sairei daqui? Não posso ficar aqui, éarriscado.
-Eu sei. Calma, darei um jeito. Mas pela hora creio você terá
que passar a noite aqui.
-Não Sarah. Querida, veja, eu adoraria. Mas não existe
possibilidades e...
-Não posso falar agora. Se eu demorar minha mãe vai
desconfiar. Fique ai que eu já volto. Olhou para ele e soltou um beijo, que
fez o mesmo e desceu em seguida.Sheryl chegou à cozinha e talvez, por mera desconfiança,
achou que os seus pais a olhavam como se soubessem de algo, mas isso seriaimpossível. Procurou agir com naturalidade, mas a sua mãe parecia sim estarpercebendo algo e lhe perguntou:-O que está havendo, Sheryl? Você parece assustada.
-Não, nada. Estava apenas preocupada com a faculdade.-E por falar nisso, já decidiu quando vais voltar?-Ainda não. Era justamente sobre isso que eu estava pensando.Sentou-se à mesa, jantou, ficou um tempo por ali e logo subiu. Lembrara deTony e pensou em levar-lhe algo para comer. Já fazia mais de uma hora que omesmo encontrava-se no sótão, mas tinha que ser discreta para que os seuspais não percebessem e principalmente a pequena Valentina. Quando seus paisforam para a sala de estar, Sheryl rapidamente pegou alguma comida e subiuapressadamente para não ser percebida. Entrou no seu quarto, fechou aporta, trancou e lentamente abriu o sótão. Tony estava tenso e assustado,porém sua amada lhe trouxe a comida, conversou rapidamente com ele e desceuem seguida para que seus pais não desconfiassem. Ficou por ali um tempo elogo em seguida foi para o seu quarto com a pequena Valentina, queconversara um pouco com ela:-Mamãe, o papai vai voltar?
-Vai filha. Está perto do papai voltar, mas você não podecontar isso a ninguém, certo?
-Por quê?-Porque senão os homens maus pegam ele e ai nós nunca mais overemos. Nós não queremos isso, não é?
-Não.
-Então, este será o nosso segredo.-Tudo bem. -Disse rindo-se e apertando os olhos. Tonyescutava tudo do sótão emocionado. Tinha vontade de descer dali, pegar afilha nos braços, beijá-la, apertá-la e lhe dar muitos mimos, mas sabia quenão poderia fazer aquilo. Passados alguns minutos a pequena Valentinadormiu e Tony finalmente pôde descer do sótão. Ficou ali mais algum tempomas quando se deu conta era quase meia noite. Hora perfeita para ele sairsem ser percebido. Deu mais um beijo em Sheryl, outro na pequena Valentina
que dormia profundamente e saiu pelo mesmo lugar que entrou, a janela doquarto de Sheryl. Aquela noite custou a passar para Sheryl. Ela estavafeliz e ao mesmo tempo tensa. Sorria quando pensava alto:-Tony está vivo! Meu Tony!
Passaram-se alguns dias e agora faltava muito pouco para o julgamento de
Sheryl. Ela estava disposta a mentir para garantir a sua absolvição mascontinuava dividida e principalmente com medo de errar, pelo fato de estarmentindo. Porém haveria de concordar com o Tony e com a doutora Kate,precisava mentir para que pudesse, enfim, viver feliz com a sua filha e ohomem que ela amava. Tony sempre que podia vinha visitar Sheryl, da mesmamaneira. As vezes à tarde, pois esse horário era muito difícil alguém estarem casa. Num desses dias, Tony chegou, sentou-se com Sheryl à mesa dacozinha, onde faziam um lanche e conversavam. Foi então que ele começou acolocar seu plano em ação:-Meu amor, veja. Nós nunca poderemos ser felizes aqui, ou em
qualquer outro estado do país. Sim, moramos em Floyd por muito tempo masfomos descobertos,-Sim, eu sei. E o que faremos? -Perguntou assustada.
-Nós teremos que sair do país-O quê?-Você estaria disposta a isso?-Tony, como sairemos do país? Para onde iremos?-Escuta. Eu tenho um amigo, que é como um irmão para mim. Nosconhecemos na prisão, quando cometi um pequeno delito há algum tempo atrás.O nome dele é Sergei Adamovic. Eu não me lembro porque ele foi preso. Seique faltava um tempo para a sua extradição e fizemos amizade na prisão. Saiantes dele, mas através de algumas amizades influentes, consegui tirá-lo delá antes do tempo.-Uau!-Ele me agradeceu muito e disse que se algum dia euprecisasse dele para alguma coisa, ele estaria disposto a me ajudar. No que
fosse.-Ele sabe que você assassinou 24 mulheres?
-Não sei. Creio que sim. Meu rosto apareceu em todos osjornais e programas de televisão dos EUA e talvez do mundo.
-E se ele for hostil com você?
-Não. Não será, meu amor! Eu vou entrar em contato com ele econtar apenas o necessário. Sei que correrei um risco, mas se não
arriscarmos jamais saberemos.-Ele pode lhe entregar.
-Eu sei! Mas só saberemos se tentarmos.-Isso é verdade! -Afirmou.-Não podemos ficar a vida inteira nos escondendo. Se vocêsair daqui sozinha todos irão desconfiar. Podem até colocar alguém em seurastro e ai então tudo estará perdido.-Não fala isso nem de brincadeira. Eu não sei viver sem você,
Tony. -Disse olhando-o fixamente e segurando nos seus braços.
-Jamais! Você nunca irá me perder, meu amor. Mesmo que eu
morra, estarei sempre ao seu lado. Eu prometo.
Fez-se um silêncio e Sheryl abaixou a cabeça para chorar.
-Não! Não chora meu anjo. Venha cá. -Disse trazendo-a paraperto de si. -Veja. Para todos os efeitos eu estou morto. Tony Tramell estámorto! Eles não irão procurar por alguém que já morreu, ao menos que tenhauma pista de que esse alguém possa estar vivo.-Tony. Eles nunca acharam o seu corpo. Você acha que eles
acreditam piamente que você esteja mesmo morto?
-Eu sei que não! E sei que não vão descansar enquanto não
encontrarem o meu corpo, ou a mim. Por isso não há saída. Temos duasopções. Ou viveremos assim, às escondidas até sermos descobertos ouarriscamos uma vida fora desse país com a possibilidade de reconstruirmosas mesmas, pelo menos por um tempo bem mais longo. Mas eu só poderei tomartoda e qualquer decisão se você concordar comigo. O que você me diz?-Tony. Isso não têm a mínima chance de dar certo. Comoiremos? Seremos descobertos. Meu amor, a sua aparência é única. Você tem
traços marcantes e completamente notórios a todos. Não existe possibilidadede sairmos do país.-Existe sim. Eu irei antes. Clandestinamente. Você só precisa
de uma identidade falsa e o resto lhe instruirei melhor após conversar como Sergei.-E se for uma furada, Tony? Seremos presos no ato.
-Meu amor, é um risco! Você aceita ou não?-Estou muito receosa. Não vou mentir. Mas com você eu vou atépara o fim do mundo se preciso for. Somos uma família e precisamos ficarjuntos. Até que a morte nos separe. -Tony sorriu tenro apertando os olhos esuspirando respondeu:-Nem isso meu amor. Nem a morte irá me separar de você. Pois
aonde quer que você esteja eu estarei ao seu lado. Sheryl o beijou e quandocomeçaram a dar intensidade aos beijos escutou alguém batendo à porta. Tonylevantou assustado e correu para o quarto de Sheryl e a mesma foi-serecompor enquanto gritava:-Espera um momento. -Quem é?
-Oficial Jones White.Sheryl entrou em pânico. Pensou no ato que o oficial teria visto o Tony
entrar e que iria pegá-lo, porém tentou manter a calma. Abriu a porta eperguntou:-O que deseja, senhor Jones?
-Podemos conversar?-Sobre o que?-Conversa de rotina, apenas.-Senhor Jones, tudo que eu sabia disse na delegacia. Creioque não tenha mais nada a dizer.
-Calma senhorita. Quero apenas conversar.
O jovem oficial que parecia ter seus 28 anos olhou para Sheryl com brilho
nos olhos e ela percebendo que não seria nada sobre o Tony, ou melhor,quase nada, resolveu deixá-lo entrar:-Oficial, entre, mas seja breve. Eu preciso sair.
-Não tomarei seu tempo, prometo.Tony estava tenso no quarto de Sheryl e tentava ouvir o máximo que pudesse
daquela conversa segurando a pistola que havia trazido consigo porprecaução.-Senhorita Sheryl, ouvimos rumores de alguém muito parecido
com o Tony Tramell tenha sido visto aqui na cidade, a senhorita sabe dealgo?-Como? Desculpa mas acho que não entendi direito. O Tony? Por
aqui?
-Não temos certeza. Uma pessoa foi ontem à delegacia e
afirmou ter visto o Tony Tramell por aqui. Creio que se o mesmo aparecessea primeira pessoa que ele iria procurar seria a senhorita, correto? Poisvocês tem uma filha em comum.-Isso é loucura! Tony está morto. Agora todo mundo acha que
vê tudo. Isso é realmente o cúmulo do absurdo.
-Foram apenas rumores. Apenas quis saber se a senhorita não
ouviu algo. -Disse com um olhar insinuador.
-Não. Não ouvi nada a respeito. A minha vida é muito agitada.
Veja, agora mesmo, por exemplo, já estou de saída. Algo mais, senhor?-Não. Desculpa. Não quis incomodá-la. Sei que já sofrerademais com toda essa situação.
-Exatamente. -Disse franzindo o cenho.
-Senhorita. Eu poderia lhe fazer um convite?-Que tipo de convite?-Aceitaria jantar comigo amanhã à noite?-Desculpa. Não posso.-Por quê não?-O que o senhor quer? Uma investigação mais formal?-Não. De jeito nenhum! Apenas iniciar uma amizade. Nãotocamos no assunto do Tony Tramell, isso é uma promessa.
-Olha, senhor Jones, não estou confortável com essa situação
e acho que o senhor deveria entender, já que foi um dos oficiais que
realizou a minha prisão na Virgínia. Não existe clima para isso. Não estouapta a novas amizades e muito menos a convites como este. Não por agora.-Entendo. Mas vou deixar o meu cartão. Se a senhorita mudarde ideia, é só ligar.
-Tudo bem! Tenha uma boa tarde. -Disse fechando a porta e
olhando pela janela até ver que o oficial entrava na viatura e saia. Sherylera uma linda mulher e sim, qualquer homem se interessaria por ela, mesmoque fosse o oficial envolvido no caso Tony Tramell. Desde a primeira vezque viu Sheryl, encantou-se por ela. Mesmo envolta naquela situaçãoinusitada e incompreensível aos olhos de muitos. O oficial Jones desejavadescobrir o paradeiro de Tramell e prendê-lo o mais rápido possível parapôr um final nessa história, porém ele não sabia que isso só despertaria oódio de Sheryl pelo mesmo, pois Tony era sim, definitivamente o homem queela amava. Quando o oficial saiu dali, Tony desceu as escadas do quarto deSheryl armado e furioso. Segurava a pistola na mão direita e tinha rubor norosto, olhos abertos e respiração ofegante. Fora até a sua amada e lhedisse:-O que este maldito queria com você? Eu escutei tudo lá de
cima e me controlei para não matá-lo aqui mesmo.
-Ah meu amor. Está com ciúmes? -Disse rindo-se.
-O que você acha? Eu escuto um cretino lhe convidando parasair e não posso fazer nada. Ao menos socar-lhe o rosto.
-Calma, Meu amor! Ninguém vai me roubar de você. É você quem
eu amo e isso ninguém vai mudar.
O rubor na face do Tony ia desaparecendo e o semblante
irritado ia dando lugar a um sorriso tênue e cheio de felicidade. Os olhosverdes dele brilhavam como esmeraldas e abraçando a sua amada lhe disse:-Isso é o que me conforta e me dá forças para seguir adiante.Pelo seu amor, pelo amor da nossa filha.
-Sim. Eu o amo muito, mas veja, precisamos ter cuidado, Tony.
Ele afirma que uma pessoa vira alguém muito parecido com você. Nós sabemosque, encontrar uma pessoa parecida com você é um fato deveras irreal. Vocêtem características únicas. Se alguém disse isso foi porque de certa forma,você se descuidara ao vir me visitar.-Mas não é possível! Eu ouvi quando ele disse isso e fiquei
intrigado.
-Sim, eu fiquei intrigada também e mais do que isso,
extremamente preocupada. Tony, se lhe descobrem estamos perdidos. Você será
preso e provavelmente executado. Serão três vidas destroçadas. A sua, aminha e a da nossa filha, pense nisso.-Sim meu amor, você está certa. O que devo fazer agora?
-Mude de esconderijo e fique uns dias sem vir me ver.-Mas isso será péssimo.-Sim, para mim também. Mas não podemos correr este risco. Oque você prefere? Ficar uns dias sem me ver ou ser preso e não me ver mais?Tony, eu não quero nem pensar nisso. Me causa dor e sofrimento porantecipação.-Eu entendo, minha querida.
-Veja, o meu julgamento é a semana que vem. Se eu forinocentada estarei livre e assim poderemos colocar o nosso plano em ação.Fugir para a Rússia. Lá será identidade nova, vida nova, recomeço... Eu nãoqueria que fosse assim. Queria que a justiça lhe desse uma segunda chance enós assim vivermos livres, perto dos meus pais, sem precisar nos esconder,mas infelizmente as coisas as vezes fogem do nosso entendimento.-Você merecia um homem melhor que eu, não um assassino. -Disse baixando os olhos.
-Não diga isso nunca mais, ouviu? Nem de brincadeira. Tony,
no começo eu também achava isso de você. Eu tinha medo pelo que eu sabia,mas de certa forma não era o que eu sentia. Sei que as coisas foram tomandorumos inusitados e incompreensíveis aos olhos de quem quer que fosse.Ninguém entenderia o meu sentimento por você. Algumas pessoas diriam queera carência por estar tanto tempo presa, outras diriam que a minhainsanidade houvera aflorado, mas eu e você sabemos o que nos une. Nóssabemos que realmente nos amamos e isso é o que importa.
-Eu sei meu amor, mas...
-Não! Interrompeu. -Não me diga nunca mais que eu merecia umhomem melhor. O homem que eu quero está aqui na minha frente. Com todos oserros, com todas as condenações e com todo esse amor verdadeiro que pulsaai dentro e sei que é por mim.-Você é única, Sarah! Minha Sarah! Eu te amo
incondicionalmente...
-Eu também. Agora vá. Daqui a pouco vai escurecer e meus pais
chegarão. Se eles virem você aqui estaremos perdidos. Mude o seu
esconderijo, faça como te falei e fique por lá uns tempos. Tony, pelo amorde Deus, tome cuidado. Eu não estou com um bom pressentimento.-Calma meu amor, eu sou muito astuto.
-Eu sei, isso me tranquiliza mais. A sua astúcia é realmenteimpecável.
-Treinamento de guerrilha, madame! -Disse ironizando.
-Sim, senhor. Fez um gesto de continência e sorriu. -Agoravá, senhor guerrilheiro. Vá, esconda-se muito bem e só apareça aqui nasexta-feira da semana que vem, pois o meu julgamento será na quarta-feiraque antecede e assim faremos um plano de guerra para a nossa fuga. -riu-se-Certamente. Falarei com Sergei e quando vier aqui já terei aresposta.
-Cuidado com o que você fala e como você fala. Ele pode lhe
entregar à polícia. Seja melindroso e meticuloso.
-Sim, senhora. -Agora foi ele quem fez continência.
Sheryl sorriu e ficando na ponta dos pés beijou-lhe e disse:-Agora vá e... Comporte-se hein? Não quero saber do senhor em
bares pela madrugada flertando com as garotas de
Springfield. -Riu-se-Jamais! Franziu o cenho. -Queria matar aquele maldito
oficial que estava querendo lhe seduzir.
-Seduzir-me? -Gargalhou. -Nunca! Eu só tenho olhos para você,
senhor Tramell. -Disse acariciando-lhe a grande face.
-E eu para você, minha doce garota!-Vamos! Já está tarde. Olha... Eu te amo!-Eu também te amo.-Contando os dias...-Contando os minutos...Assim, Tony saiu às escondidas. Sheryl sentou-se à mesa, suspirou e os
risos da tarde agradável com o Tony davam lugar a um semblante maispreocupante. Sentia um frio no estômago quando lembrava-se de coisas como,o seu julgamento e a sua fuga, mas estava decidida a isso. Seria a únicamaneira de recomeçar uma vida ao lado do seu grande amor e da sua filha.Seria a única maneira de ser feliz.Finalmente chegara o dia do julgamento de Sheryl. Ela estavanervosa e apreensiva, porém confiante. Instruída pela sua advogada, teriaque mentir para conseguir sua liberdade, mesmo que provisória, pois essesprocessos costumavam ser longos e enfadonhos, devido às constantesinvestigações e contradições de algumas testemunhas. Sheryl estava arrumadae partiu. Esperava ser questionada. Estava tensa, nervosa e insegura. Adoutora Kate tentava deixá-la o mais calma possível e então iniciou-se. Eranotório a todos ali presentes a apreensão de Sheryl, mas muita genteentendeu que fora emoções causadas devido ao sofrimento. O promotor começoua fazer perguntas constrangedoras a Sheryl e a mesma respondia apreensiva.A advogada, à Data vênia, interrompia alegando abuso devido às perguntasconstrangedoras e
Tony saiu pela janela e Sheryl ficou ali deitada. Tentou dormir novamentemas não conseguiu. Ainda era cedo, mas ela estava apreensiva. Não sabia oque seria daqui pra frente, sem notícias do Tony. Sabia que os diasseguintes seriam um tormento. Seriam dias decisivos, dias que mudariam parasempre a sua vida. Em apenas um mês sua vida daria uma reviravolta em 360graus. Seria vida nova e isso incluía deixar tudo para trás, inclusive osseus pais. Ela se sentia triste, mas estava realmente decidida. Não iriadar pra trás agora. Desistir do Tony seria desistir do sentimento que elajulgava ser amor de verdade, seria desistir de si mesma, já que ele era oúnico que a entendia, que a protegia e que com ela possuía uma cumplicidadeúnica, um magnetismo diferente. Sheryl sentia calafrios só de pensar emTony. Respirava ofegante e seu olhar se per
Após escrever a carta Sheryl respirou fundo, guardou-ajuntamente com as outras coisas no sótão e ficara por ali pensando emalguns detalhes finais.Finalmente chegara o grande dia. O dia da sua partida e elajá estava tão ansiosa que nem comer direito naquele dia conseguiu. Estavatriste também, pois sabia que por tão cedo veria os seus pais, porémlembrava-se dos quatro anos que passara afastada dos mesmos e saberia queuma hora isso teria que acontecer. Era realmente ruim por esse lado, mas jáestava com tudo pronto. Seus pais chegaram normalmente como todos os dias ede nada desconfiaram. As coisas seguiram como de costume e após tomar cafécom seus pais Sheryl foi com Valentina para o seu quarto. A criança dormiucomo de costume e Sheryl andava de um lado para o outro, com a portatrancada. Era quase meia noite e ela teria que partir
Em Springfield, Steven e Ellen sofriam com a decisão deSheryl. Ellen estava apreensiva e achava que era hora de procurar apolícia, já que havia se passado alguns dias e eles não tiveram um contatosequer. Steven, pacientemente disse à esposa:-Calma, querida! A Sheryl vivia me dizendo que uma hora iriapartir. Ela precisava desse tempo, dessa mudança. Veja, vamos esperar pelomenos dois meses. Se ela não der notícias em dois meses, procuraremos apolícia, tudo bem?-Dois meses? Você enlouqueceu? Em dois meses a minha filha ea minha neta podem ter sido assassinadas, raptadas, ou... Sei lá o que.Melhor nem pensar no pior.-Ellen, escute. A Sheryl nos deixou uma carta. Você achamesmo que se ela fosse assassinada, raptada ou sei lá o quê teria escrito amesma?-Steven, quem lhe garante que ela não foi coa
Em Veliky Novgorod os dias estavam ensolarados porém frios. Apequena Valentina estava muito gripada e os pais ficaram muito preocupados.Já havia tomado medicamentos mas a tosse e febre alta não regredia. Sherylestava triste e apreensiva e Tony também. A pequena precisou ficarhospitalizada e ambos não conseguiam mais concentrar-se em nada. Tonytrabalhava, mas fechava o estabelecimento mais cedo para ficar no hospitalcom Sheryl e a filha. Todos os dias eram assim. Finalmente depois de umasemana, a pequena teve alta e saiu do hospital. Sheryl e Tony comemoraram erespiraram aliviados. O telefone tocou, era Dasha. Sheryl ficou muito felizao falar com a amiga e a convidou, juntamente com Sergei para passar unsdias lá e os mesmos concordaram. Arrumaram as malas e caíram na estrada. Aochegar foram muito bem recebidos pelos donos da casa. Dasha e Sergeiestavam muito feli
O dia em Springfield amanhecera frio e nublado. Ellen e Stevepareciam mais conformados embora não tivessem mais nenhuma notícia daSheryl. A doutora Kate segurava o celular, olhava para o visor e pensava emligar para o Jones. Digitou os números, olhou novamente para a tela edesligou. Foi até a cozinha, tomou um gole de café e depois retornou para oquarto decidida a ligar. Ligou e notou uma certa frieza do oficial para coma mesma. Ficou intrigada porém pensou que, por ser uma segunda-feira, elepoderia estar atribulado e mal humorado, então resolveu dar um tempo eligar novamente no final de semana. Havia gostado muito de sair com oJones, mesmo achando estranho as perguntas que ele lhe fizera todasrelacionadas a sua cliente, Sheryl Madison. Infelizmente naquela noite, elaestava um pouco alta pelo efeito da bebida, pois deveria ter-se aprofundadomais para saber o porqu
Quando Sheryl falou com a mãe ao telefone, eraaproximadamente dez da noite. Nesta mesma noite, em Springfield, o oficialJones não se encontrava em casa. Chegara aproximadamente meia noite,embriagado e fora dormir sem escutar a secretária eletrônica. Não imaginavao que acabara de gravar. No dia seguinte, ao ouvir toda a conversa, quaseteve um surto quando percebeu a voz de Sheryl ao telefone e voltou agravação inúmeras vezes. Sabia que não podia partilhar aquilo com ninguém.Lembrou-se do oficial Larry, que já fizera parceria com ele em algunscasos. lembrou-se que o mesmo lhe fora bastante solícito no passado e atépensou em comentar, mas sabia que se o fizesse o tenente Oliver poderiatomar conhecimento e sua carreira estaria arruinada. Definitivamente issonão poderia acontecer. Se a história da escuta e da investiga
Em uma madrugada de domingo, fazia bastante frio em VelikyNovgorod. Era lindo de se ver as luzes no céu semelhante à aurora boreal. -Meu Deus, que linda paisagem! -Dizia Sheryl. Olhava para a cama e via osmaiores amores de sua vida, Tony e a pequena Valentina, dormindo comoanjos. Ela perdera o sono, desceu para fazer um café. Era aproximadamentecinco da manhã. Ela foi até a cozinha, ligou a cafeteira e ficou ali apensar enquanto a água era aquecida. Franzia o cenho preocupada com aspalavras que ouvira da sua mãe. Estava tudo muito bem, mas ela sentia a suafelicidade ameaçada desde que ouvira tais coisas. Aquele oficial nunca atirara da cabeça e ela não poderia imaginar que a sua obsessão chegaria atal ponto. Parecia uma sina maldita. Ele a prendera da primeira vez e agorapoderia muito bem estar lhe "caçando". Não estava preparad