Finalmente chegara o dia do julgamento de Sheryl. Ela estava
nervosa e apreensiva, porém confiante. Instruída pela sua advogada, teriaque mentir para conseguir sua liberdade, mesmo que provisória, pois essesprocessos costumavam ser longos e enfadonhos, devido às constantesinvestigações e contradições de algumas testemunhas. Sheryl estava arrumadae partiu. Esperava ser questionada. Estava tensa, nervosa e insegura. Adoutora Kate tentava deixá-la o mais calma possível e então iniciou-se. Eranotório a todos ali presentes a apreensão de Sheryl, mas muita genteentendeu que fora emoções causadas devido ao sofrimento. O promotor começoua fazer perguntas constrangedoras a Sheryl e a mesma respondia apreensiva.A advogada, à Data vênia, interrompia alegando abuso devido às perguntasconstrangedoras e a pior de todas foi esta:-Senhorita Madison, por que a senhorita trocou a sua
identidade? Por que todos em Floyd a conheciam como Sarah Young?-Eu fui obrigada a isso. -Respondeu prontamente.-Será? Dois oficiais aqui presentes, o senhor Jones White e oTenente Oliver Stuart, oficiais esses que realizaram a vossa prisão emFloyd, não afirmam ter visto isso. Muito pelo contrário. Eles afirmam que asenhorita vivia com o Anthony Tramell de livre e espontânea vontade, comoum casal aparentemente normal.-Protesto! -Disse a doutora Kate. -O senhor está coagindo a
minha cliente.
-Protesto indeferido, prossiga. -Disse o juiz. O promotor
então pediu que se apresentasse as testemunhas. O tenente Oliver Stuart foifirme em seu depoimento e disse tudo que vira ao realizar a prisão deSheryl, porém o oficial Jones White entrou em contradição quando viu oolhar da mesma. O sentimento falou mais alto e ele não sabia ao certo se aSheryl estava com o Tony Tramell de livre e espontânea vontade ou se estavapor coerção. Isso foi o que bastou para o veredicto das testemunhas. Houveum tempo para uma pausa e o julgamento procedeu normalmente. Apóstestemunhas ouvidas o juiz então deu a sentença:-Declaro, por decisão unânime do júri e por falta de solidez
nas provas apresentadas a ré, Sheryl Ann Madison, que fora acusada defalsidade ideológica e cumplicidade de assassinato praticado por AnthonyRichards Tramell. Inocente!Sheryl deu um grito e abraçou a advogada que vibrara também.
As duas saíram dali confiantes e a doutora dizia:
-Essa foi por pouco.
-Obrigada, doutora. És uma excelente advogada.-Não há de quê. Embora saiba que a sua história seja bemdiferente da que apresentamos, são ossos do ofício. De certa forma, eu lheadmiro. Não sei se teria a sua coragem. Nem por todo amor desse mundo.-Se um dia chegares a amar alguém, doutora, verá que o amorverdadeiro às vezes supera as razões e muitas vezes até a realidade. Estáalém da vida, além da morte, além de muita coisa. Chega ser sublime, mesmoem seu lado mais negro.A doutora Kate ficou séria fitando a jovem que praticamente
recitava um poema com total veemência dos seus sentimentos e então esboçouum sorriso:-Eu desejo que você seja feliz, Sheryl. E se precisar de mim
novamente, é só chamar.
-Pode deixar. Chamarei sim. Muito obrigada, mais uma vez. -
Disse abraçando-a.
Sheryl mal podia esperar pela sexta-feira. Aqueles dois
curtos dias seriam como uma eternidade para ela. Ver o Tony e lhe contarsobre a primeira vitória alcançada seria o marco da felicidade. -Sim, ascoisas estão dando certo e os ventos estão favorecendo para nós. -Assim elapensava alto.Sorria, suspirava e mal podia esperar pela resposta do seu
amado. Agora era só executar o plano de fuga e cair na estrada, afinal decontas ela estava livre, mas era a mulher de um foragido, caso a sua mortefosse desmascarada e a mulher de um foragido não deixa de ter esta sina,viver perigosamente. O medo de Sheryl era apenas a pequena Valentina. Sealgo desse errado, seria muito sofrimento para a pequena. Ela ficavaapreensiva ao lembrar desse detalhe. Sabia que estaria expondo a sua filhaa situações deveras constrangedoras, mas sim, isto também seria um risco.Já havia pensado em deixar a sua filha com os seus pais, mas a pequenacresceria sem os pais? Não! Isso definitivamente estava fora de cogitação.Valentina não tinha culpa de ter pais contraventores, pois, a Sheryl seconsiderava contraventora, já que mentira para a justiça a fim de ficarlivre e então fugir com o Tony, que por sua vez era um assassino. As provasque a polícia tinha contra Tony Tramell, o colocaria na cadeia com sentençacondenatória e até mesmo execução, já que maníaco de mulheres é odiado porunanimidade. A pergunta que não queria calar era; O que fez Tony Tramell,um assassino frio e calculista, determinado a exterminar mulheres,apaixonar-se por Sheryl Madison? Uma mulher que seguia o perfil exato detodas as mulheres por ele assassinadas. Cabelos pretos, lisos e longos,
franja grande em cima do olho, olhos azuis e beleza surreal. Claro, detodas as mulheres que o Tony assassinara, nenhuma delas se assemelhava abeleza de Sheryl. Tinham de certo, traços semelhantes. Todas magras,esbeltas e bonitas, porém a Sheryl possuía uma beleza única. Um rostoiluminado, semelhante a uma egípcia. Tony por várias vezes dizia que elaparecia uma deusa egípcia bela e sedutora e além disso tudo possuía umainteligência fora do comum, poder de persuasão de sobra, o que ela tentoufazer no começo a fim de dominar o Tony, acabou por tomá-la de tal formaque ela já não sabia mais distinguir ficção de realidade. A única coisa quea Sheryl sabia era que amava aquele homem e estava disposta a fazer o quefosse para viver ao seu lado. Se fosse preciso mentir, ela mentiria. Sefosse preciso fugir, ela fugiria e com esse pensamento manteve-se firme emsua decisão.Tony entrou em contato com Sergei. Porém como era de sua
astúcia ele resolveu omitir os crimes. Ninguém ajudaria um maníacoassassino de mulheres, por mais amigo que ele fosse. Omitindo tais crimes,surgiria a dúvida e para ele agora a dúvida era melhor que a certeza. SeSergei tivesse certeza que Tony era um assassino, poderia entregá-lo, masse tivesse dúvida, jamais o faria, até porque, como um assassino demulheres estaria convivendo com uma bela mulher e uma criança? Qualquerser em sã consciência ficaria a dúvida e com Serguei Adamovic não foidiferente. Ele conversou com o Tony e se comprometeu em ajudá-lo. Instruiuem qual navio o Tony deveria entrar clandestinamente e aportar em Moscou.Chegando lá disse-lhe o lugar que o encontraria. Sergei também disse estarcasado e que tinha uma filha da idade da pequena Valentina, chamada Irina.Os dois conversavam pelo telefone como velhos amigos que eram e o Tonytambém teria boas notícias para a sua amada. Sexta-Feira chegara e Sherylmal podia se conter para encontrar-se com Tony. Estava aflita e com muitassaudades, ao mesmo tempo tendo que levar o oficial Jones em "banho-maria",sempre adiando os encontros e fingindo uma amizade, afinal ele, de certaforma, livrara a sua pele no seu depoimento confuso e incerto. As horaspareciam não passar. Sheryl ficou em casa o dia inteiro alegando estaradoentada. Sua mãe ofereceu-se para ficar com ela, mas ela disse que estavaapenas estafada psicologicamente e precisava ficar sozinha. Trancou todasas portas, tomou um banho demorado, arrumou-se e perfumou-se. Colocou umvestido branco, porém simples para não causar suspeitas e ficou ali no seuquarto, com a janela aberta a esperar o Tony. Adormeceu esperando e quandoabria os olhos lentamente viu alguém beijando seu rosto. Levantou-seassustada mas logo sorriu ao ver que era o próprio. Como ele estava lindo,assim ela pensava e então falou:-Se essa fosse a minha última imagem antes de morrer, eu
morreria feliz. Você está lindo!
-Eu não acredito que você roubou a minha mente e as minhas
palavras. Você é linda e eu quem morreria feliz ao ver você dormindo tãoinocentemente.Os olhos de ambos brilhavam, era um sentimento único.
Palavras já não cabiam mais para aquele momento mágico em que eles seolhavam como se estivessem hipnotizados. Algo que não sabiam controlar.Apenas olharam-se e os olhares foram dando lugar a toques, beijos e maisuma vez renderam-se ao amor em sua plenitude, sem preocupar-se comabsolutamente nada. Nem com uma visita inusitada e tampouco com a situaçãoem que viviam. Sheryl e Tony viviam perigosamente ao extremo. Qualquerdescuido seria fatal,seria mortal, mas eles estavam confiantes. Sheryldesabotoava a camisa de Tony com pressa e beijava seu peito, encostava acabeça nele e continuavam a beijar-se, Tony a levantava em seus braços comose estivesse a levantar uma pluma devido a sua força e tamanho, em seguidaa envolvia e a tocava, tirando lentamente o seu vestido branco. O jeitocomo eles se olhavam era mágico, era como se pudessem ler ambas as mentes.Tony era másculo e viril. Colocava a arma em cima da escrivaninha,cuidadosamente, virando-se em seguida para dar continuidade às carícias emsua amada, pegando-a nos braços como se fosse uma garotinha e levando-apara a cama e para o amor. O tempo parecia não passar quando estavam juntose entre sussurros ofegantes, eles apenas entregavam-se. Ver um homem como
Tony Trammel, um assassino sanguinário e impiedoso, entregando-se daquelamaneira, rendendo-se a uma mulher daquele jeito, era realmenteinacreditável. Fazia, de certa forma, surgir dúvidas a respeito do seu realcaráter. Eram fatos inexplicáveis. Os dois se amaram, descansaram e depois,sentaram-se à cama para executar a primeira parte do plano:-O meu julgamento foi um sucesso, meu amor. -Disse cobrindo-
se com o lençol.-Sim, eu soube.
-Como? -Indagou curiosa.-Eu sempre sei de tudo.-Então, senhor "Sabe tudo" me conte novidades. Por favor,novidades boas.
-Boas não, Excelentes! O Sergei vai me ajudar. Um navio
partirá para Moscou daqui há exatos quinze dias. Ele me instruiu sobretudo. Hora e local que deverei partir. Entrarei clandestinamente nestenavio e chegarei a Moscou, de lá seguirei para Novosibirsk. Será uma viagemarriscada e desconfortável, mas quando chegar ao destino final, viveremos abonança. Aqui estão os seus documentos. Seu nome agora é Tânia Clarckson ea Valentina Chelsea Clarckson. Você precisa instruí-la para que não entreem contradição com o nome. Agora a parte principal. Você não pegará um voopara Moscou, mas para outra cidade da Rússia, Novosibirsk, esta é a cidade.Sergei vai estar lhe esperando lá. Você verá uma placa Sergei Adamovic.Procure-o e identifique-se, ele fala inglês fluente, como nós. Você meencontrará na casa dele. Estarei lá esperando por você. Ele também é casadoe tem uma filha da idade da nossa Valentina.-Tony, estou com medo. Como você entrará neste navio?
-Não se preocupe. Entrar sem ser percebido nos lugares é aminha especialidade, embora seja difícil de acreditar. Eu sei que seráarriscado, meu amor, mas é agora ou nunca. Se arriscarmos e perdermos, pelomenos viveremos algum período juntos, até a nossa filha crescer mais e teralgum entendimento das coisas. Se não arriscarmos e continuarmos vivendoeste amor clandestino aqui nos EUA seremos descobertos e será a nossaruína. Talvez nunca mais toque essa pele, esses cabelos, esse rosto. -Dissetocando-a.-Não. Nós iremos arriscar sim. Sem dúvida alguma.
-Então preste atenção. Vou lhe explicar passo a passo o quedeverá fazer. Daqui há quinze dias partirei. Infelizmente não terei comolhe avisar que cheguei. Quinze dias depois você vai partir, ou seja, um mêsapós a minha partida. Antes você precisa se organizar. Não leve muitacoisa, não levante suspeita. Pegue a Valentina na escola neste dia e saia anoite. O seu voo será pela madrugada, horário perfeito para ninguémdesconfiar.-Como vou sair de casa essa hora?
-Da mesma maneira que eu entrava. Pela janela. Siga peloatalho de mato e sairá no meio da cidade. Coloque um disfarce, um chapéu,algo do tipo e tome o primeiro táxi que aparecer rumo ao aeroporto.-Tony, será perigoso. Eu e a Valentina apenas...-Não. Se você seguir exatamente o que estou lhe falando nãoserá. Tranque a porta do seu quarto e saia pela janela com a Valentina.-Tudo bem.
-Então vais pegar um voo para Novosibirsk. Quando você chegarlá o Sergei estará lhe esperando. Você irá com ele para a sua casa e láestarei lhe esperando. Quando chegares lá, ficaremos por alguns dias edepois partiremos rumo a Veliky Novgorod. Uma cidade russa.-Meu amor, eu não sei falar russo.
-Eu falo pouco. Mas lá também se fala inglês e aos poucosvamos nos ajeitando por lá. Nomes novos, documentos novos, vidas novas.-Difícil será a Valentina ser chamada de Chelsea na escola eaceitar. -Riu-se.
-Eu sei meu amor, mas é a nossa única chance.
-Sim. Terei que ensiná-la.-Infelizmente não é certo. Mas nada em nós é certo. Excetoeste amor que nos une a ponto de enfrentarmos o mundo. -Disse segurando asua mão.
-Sim. Isso me dá ânimo.
-Acho que nem preciso dizer que eu te amo, não é?-Precisa sim. Eu quero ouvir toda hora.-Então prepare os ouvidos porque você vai enjoar.Os dois se beijaram e ficaram ali acertando os
últimos detalhes para a partida de ambos. Sheryl estava notoriamentenervosa e apreensiva. Seria um risco absurdo e ela não sossegaria atéchegar ao seu destino final. No fundo ela sabia que, um dia poderiam serdescobertos, pois nenhuma mentira durava para sempre. Algumas por longostempos e outras por pouco, mas ela acreditava que dessa vez ficaria muitotempo no anonimato, pois estava fugindo para outro país e com documentosfalsos. Caso fosse pega no aeroporto o seu mundo desmoronaria ali mesmo,mas ela não poderia desistir sem ao menos tentar.-Tony, se eu for pega no aeroporto eu prefiro ser presa mas
jamais falarei de você.
-Sarah, pare com isso! Você não será pega. Ninguém suspeita
de você até então. Qual motivos você teria para fugir? Você será Tânia.Quem é Tânia? Claro que uma hora eles irão descobrir. Ligar as peças doquebra cabeça e tentar nos caçar. Mas não será fácil em outro país.Estaremos fora dos EUA. Não será fácil para nós mas também não será fácilpara eles. Confia em mim, meu amor.-Sim. Confio plenamente.-Veja, aparentemente não existem motivos para você fugir.Precisamos ser espertos. Você vai deixar uma carta para seus pais.-Uma carta? Mas... O que vou escrever nesta carta?-Você vai dizer que andou pensando bem e que resolveu dar umtempo. Morar sozinha com a Valentina e reconstruir a sua vida em outracidade. Recomeçar. Mas quer recomeçar sozinha com a sua filha e com as suaslembranças apenas.-Tony, isso é loucura. Eles vão desconfiar.
-Sim, vão. Isso é óbvio. Mas você é uma mulher livre perantea lei. Pode mudar-se para onde quiser. Claro que seus pais irão desconfiare até procurar a polícia. Essa atitude vai se concretizar ainda mais quandovocê não mais procurá-los. É minha querida, são seus pais, eu sei... Masquando chegarmos a Novosibirsk você terá que esquecer que teve uma vida emSpringfield e reconstruir a sua vida literalmente e isso inclui deixar seuspais para trás.-Eu sei. -Disse em tom melancólico.
-Eu não queria que fosse assim, mas infelizmente essa será aúnica maneira de ficarmos juntos. -Tony parou e lembrou de mais umdetalhe:-Outra coisa, essa será a pior parte, mas você terá que
fazer. Eu não queria isso e estou morrendo por dentro só de imaginar, maspensei em muitas coisas esses dias no meu esconderijo e vi que essa poderiaser uma bela saída.-O quê?-Você precisa ganhar a confiança daquele policial desgraçado.-O oficial Jones? Mas... De que maneira?-Meu amor, ele está apaixonado por você. Sinto vontade dematá-lo só em ter que pronunciar tal frase, mas é a verdade. Disse passandoa mão nervosamente sobre os cabelos lisos e suspirando. -Você vai aceitar aamizade dele. Aceite o convite que ele lhe fez há algumas semanas atrás esonde. Você é inteligente. Veja aonde ele está querendo chegar e até queponto ele pensa que eu estou vivo. Se ele souber além do que imagino tereio enorme prazer de matá-lo lentamente.-Não, Tony. Se você matá-lo tudo irá se complicar.
-Por agora não. Mas eu vou. Essa oportunidade não vou deixarpassar. -Disse arregalando os olhos.
-Tony, vamos pensar apenas em nós, tá certo? Lhe confesso que
achei excepcional essa ideia do oficial Jones. Ele com certeza me faráperguntas ao nosso respeito neste jantar e assim verei até onde ele sabe.-Faça isso, mas cuidado.
-Terei.-Ah e... Comporte-se, mocinha! Nada de intimidades com esse
tira maldito.
-Vou fazer de conta que não ouvi isso.
-Estou falando sério. -Franziu o cenho.-E eu mais ainda! Estás a duvidar de mim agora? -Perguntourispidamente.
-Sarah, não vamos brigar, não é? Me irrita, de certa forma
saber que você estará próxima a um imbecil apaixonado.
-Tony, pelo amor de Deus, Tony! O que preciso fazer para lhe
provar que eu só tenho olhos pra você? Será que tudo o que estou fazendonão é o suficiente? Tony olhou para Sheryl sério, mas logo deu lugar a umolhar mais tênue. Segurou-lhe as mãos, beijou ambas, depois beijou-lhe aboca e disse:-Hey, você não precisa fazer nada. Eu sei disso, sua boba.
Não é em você que não confio, é nele.
-Mas ele não terá nada de mim se eu não quiser e eu não
quero. A não ser que ele me sequestre como você fez. -Disse em tom irônico.-Eu o mataria antes disso. -Franziu o cenho com raiva.-Estou brincando. -Riu-se. -Você é louco. Cria situaçõesrealmente inexistentes. Isso não existe, meu amor. Vamos falar sério agora.-Sarah, eu nunca falei tão sério em toda a minha vida. Seesse oficial tentar qualquer coisa com você eu o mato.
Sheryl ainda se assustava com o jeito feroz do Tony, mas no
fundo ela sabia que ele jamais a machucaria. Essa situação também lhecausara um pouco de satisfação, ao ver como o seu amado lhe protegia e lheamava verdadeiramente. Era difícil de acreditar as vezes em tudo aquilo, noamor que ela sentia por um assassino perigoso. Para a maioria das pessoasamar um assassino era como domesticar um tigre. Você o mantém domesticadoaté certo ponto, quando menos se espera ele pode esquecer que está emconvívio amigável e agir selvagemente, edificando as suas verdadeirasorigens, mas Sheryl sabia que o Tony era sim, um tigre feroz para osoutros, mas não para ela e Valentina. As vezes o lado racional falava maisalto e ela se pegava pensando, Por quê o Tony assassinou tantas garotas?Por que cometera tantos crimes? Sendo que durante esses anos de convivênciacom ele, ela pode despertar naquele maníaco frio um amor tão verdadeiro,mas tão verdadeiro que o fizera parar de cometer tais atos. Ela não sabiacomo isso acontecera e nem como cedera a isso. Não se sabia por quantotempo ele ficaria sem matar, pois um assassino nunca para por completo.Matar é como fazer tatuagens. Você faz uma, acha que não vai ter coragem defazer a segunda então faz e quando vai ver já virou um círculo vicioso, umato comum, assim ela pensava. Nunca houvera matado alguém, mas estudavamuito sobre isso. Tony, de certa forma, encaixava-se no perfil de um SerialKiller e que podia muito bem, de uma hora para outra, voltar a fazê-lo, masela também não imaginaria a sua vida sem ele. Sabia que era loucura, sabiaque estava rompendo com tudo e com todos os princípios, que estariarealmente rasgando os parâmetros comuns de sociedade e convivência, mas elanão se importava com isso. O sentimento por aquele homem vencia fronteiras,derrubava barreiras e ela sabia que seria capaz de tudo para estar ao ladodele. Mesmo correndo riscos de todas as partes, mesmo sabendo que no fundopoderia dar errado, mesmo sabendo que se tudo isso desse errado, elaestaria completamente só. Sheryl deixava de preocupar-se com o futuro epassava apenas a viver o presente e o presente era ela, Tony e a pequenaValentina. Estava decidida a isso e nem a razão, nem a lucidez a fariavoltar atrás.Na delegacia, o telefone tocou e o tenente Oliver
prontamente atendeu:
-Delegacia de Springfield, em que posso ajudar?
-O oficial Jones, Ele se encontra?-Sim. A quem devo anunciar?-Sheryl Madison.Houve um instante de silêncio. O tenente pediu a outro oficial que fosse
chamar o colega. O mesmo atendeu em uma sala reservada.-Sim, pois não.
-Oficial Jones?
-Sim.-É Sheryl Madison.-Sheryl? Tudo bem? O que aconteceu?-Nada. Apenas ligando para saber se aquele convite parajantar ainda está de pé.
O oficial nem podia acreditar no que acabara de escutar, mal
sabendo que estava sendo vítima de uma conspiração. Sua respiração aceleroue um imenso sorriso brotou do seu rosto.-Sim, claro. Pode ser no sábado?-Combinado. No sábado então.-Às sete?-Às sete.-Então... Passo ai para te buscar.-Tudo bem... Mas com uma condição.-Qualquer uma.-Sem interrogatórios!-Ok, senhorita. Sem interrogatórios.O tenente Oliver percebeu a euforia do jovem oficial e o chamou em sua
sala:-Oficial, posso saber o que a senhorita Sheryl Madison queria
com você?
-Eu a convidei para um jantar a alguns dias atrás, mas ela
estava arisca, arredia e não aceitou.
-Você sabe aonde está se metendo?
-Perdão, senhor. Não entendi.-Ora, Jones, vamos. Desde que efetuamos a prisão desta garotaem Floyd eu vi como a olhava.
-Com todo respeito, senhor. Prisão indevida. Ela foi
inocentada.
-Ela ser inocentada não significa que não tenha culpa. Você
viu perfeitamente em que situação a encontramos. Em uma casa, cozinhando,bastante íntima com o ambiente. Não parecia coagida ou assustada. A criançabrincando tranquilamente no jardim... Ora Jones, não me venha dizer queachou isso normal.-Senhor, ela poderia muito bem ter-se adaptado à situação.
-Se adaptado? -Gargalhou. -Ou você é muito inocente, ourealmente está muito apaixonado. Além do mais, até agora não entendi porquevocê mentiu no julgamento da mesma. O seu depoimento foi a palavra chavepara inocentá-la.-Senhor, eu não tenho certeza...
-Jones. Nós sabemos exatamente o que vimos em Floyd, pelomenos eu sei o que vi. Você lembra como ela ficou desesperada quandorecebeu a notícia que o Tony Tramell estava morto? Nem soube disfarçar. Seela fosse uma vítima de sequestro teria ficado aliviada, Ah, pelo amor deDeus, não se faça de cego.-Senhor, até acreditaria nessa hipótese, mas não de cúmplice
de assassinato.
-Em que hipótese você acredita? Síndrome de Estocolmo?
-Sim. É possível, Não?-Jones, até entendo o fato de você estar apaixonado,encantado com a moça. Sim, ela é uma das mulheres mais lindas que já vi em
minha vida. Realmente, a beleza dela lhe enfeitiçou, como também enfeitiçouo Tony Tramell. Pense comigo, Tony Tramell assassinou vinte e quatrogarotas. Vinte e quatro, Jones. Por quê será que ele não a assassinou?Sheryl Madison ficou quatro anos convivendo aprisionada com Tony Tramell. Oque você acha que eles fizeram todo esse tempo? Jogaram xadrez? Elestiveram uma filha, uma criança linda e saudável. Aparentemente sem traumas.Vinte quatro garotas foram assassinadas, menos Sheryl Madison, estando emcárcere juntamente com as mesmas. Pra mim ela é cúmplice dele, embora nãoaparente.-Senhor, a Sheryl não é assassina. Isso não. Eu a defendi
porque sabia que ela não era uma assassina.
-Não estou dizendo que ela seja uma assassina. Mas ela é
cúmplice de um assassino em série. Eu não acredito que ela não sabia sobre
os seus crimes. A maioria das vítimas foram encontradas enterradas nojardim do primeiro cativeiro, em Wisconsin. Lugar que eles viveram poraproximadamente um ano. Logo após esse tempo os assassinatos cessaram eeles foram morar em Floyd. Das duas uma, ou ela usou de meios psicológicospara tentar deter o Tramell ou usou de sedução mesmo.-Senhor, se os crimes cessaram, o que o senhor acha que
aconteceu nesse tempo?
-Ora Jones, os dois evidentemente apaixonaram-se e viveram
uma vida conjugal. Será que você esqueceu o estado dessa garota quandoanunciamos a morte do Tramell?-De fato, se isso aconteceu, mais uma vez prova-se que ela
nunca foi assassina, muito menos cúmplice de assassinato.
O tenente vendo que ficara sem argumento passou a mão sobre
os longos cabelos brancos, balançou a cabeça, suspirou e disse:
-Jones, eu não tenho nada com a sua vida fora daqui. Você é
maior de idade, mas tenho-lhe como um filho. Sou muito mais velho eexperiente para lhe dar este conselho. Tome muito cuidado. Para mim oTramell não está morto, seu corpo nunca foi encontrado. Eu sei que umaqueda daquelas seria muito pouco provável que ele estivesse vivo, mas nuncase sabe, vindo de um sujeito como o Tramell... Ainda mais que ouvimosrumores de alguém parecido com ele estar aqui em Springfield e ter alguémparecido com ele acho muito difícil. Nunca vi um rosto parecido com o deleem toda a minha vida.-Eu sei, senhor e agradeço a sua preocupação. O senhor quer
dizer, um rosto horrendo como o dele, não é? O sujeito era realmenteestranho.-Tony Tramell é uma máquina de matar, Jones. Extremamente
perigoso. Nunca me enganei a respeito dele. Se por acaso ele estiver vivo esouber que você está saindo com a mãe da filha dele, suposta esposa, vocêestará morto antes mesmo de pensar em prendê-lo. Conheço sujeitos como ele.Arquitetam passo a passo como irão cometer um assassinato. Sagaz, perspicaze astuto. Ele assassinou vinte e quatro mulheres e manteve uma presa porquatro anos sem que ninguém tivesse qualquer pista sequer dele. Vocêacompanhou o caso e viu a dificuldade que tivemos em encontrá-lo e nãoconseguimos prendê-lo. Ele não se rendeu em momento algum, pelo contrário,atirou em nós.-Sim, senhor. Prometo que terei cuidado. -Disse saindo da
sala do seu superior.
O oficial Jones era um homem normal. Não era muito alto,
magro, loiro, olhos claros, usava óculos de grau. Não tinha muitosatrativos, mas era muito assediado por algumas garotas que ali o conhecia.Totalmente diferente de Tony Tramell que era extremamente alto, forte etinha uma aparência assustadora e ameaçadora, devido à grande dimensão doseu maxilar. Cabelos lisos que as vezes caiam sobre os olhos, sobrancelhasgrossas e faces coradas. Tony Tramell era o tipo de homem que, ostentava umparadoxo de aparência, possuía traços angelicais e ao mesmo tempoameaçadores. Qualquer pessoa que o visse, pararia certamente para olhar seuenorme rosto, mas para Sheryl ele era o homem mais lindo que ela já vira.Diferente, sedutor e enigmático.O jantar de Sheryl e Jones seria no sábado, Tony Tramell
partiria no dia seguinte, clandestinamente, em um navio. Este dia estavasendo tenso e perturbador para Tramell que, no seu esconderijo, andava deum lado para o outro, segurando a pistola cromada com a mão esquerda e umagarrafa de cerveja na outra. Bebia, chutava tudo que encontrava pela frentee às vezes coçava a fronte com o cano da arma. Sabia que partira dele aideia de Sheryl ir ao encontro do oficial Jones e que, mais que tudo, eleconfiava plenamente nela. Sabia que o sentimento era verdadeiro e que elajamais se deixaria seduzir por um borra-botas daqueles, assim ele pensava.Respirou fundo, fumou um cigarro, coisa que ele não fazia há tempos edepois sentou-se no chão para pensar mais calmamente. Ele e Sheryl além deamantes, eram cúmplices, de certa forma. Eles estavam juntos por apenas umideal, a felicidade. Buscavam reconstruir suas vidas e nada iria osatrapalhar. Tony sabia que era difícil, mas precisava controlar a sua ira
para não colocar tudo a perder. Ele prometeu a Sheryl que até o dia da suapartida não iria sair do seu esconderijo, mas estava difícil ficar alisabendo que a sua amada estava jantando com aquele oficial que ele sentiavontade de exterminar. Levantou-se, bebeu mais uma garrafa de cerveja,colocou a arma na cintura, por baixo de um casaco e resolveu sair paraespionar. Ele teria que observar as intenções daquele oficial.Enquanto isso, no restaurante que não ficava longe da casa de
Sheryl, ela e o oficial Jones chegavam ao mesmo. Sentaram-se, pediram DryMartini e iniciaram uma conversa:-Você nasceu aqui? -Perguntou o oficial.
-Sim, nasci e me criei aqui em Springfield, mas sabe, pensoem ir embora.
-Para onde?
-Para Vermont ou mesmo Winscosin. Ainda não sei.-Vermont? Uau! Vermont é muito frio. Pensei que gostassedaqui.
-De certa forma sim. Minha família é daqui, algumas amigas...
Mas eu gosto de mudar. Aliás...Depois de certos acontecimentos em minhavida mudei bastante.-Sim! Dá para perceber.
-Como? Você nem me conhece. -Questionou.-Estou conhecendo hoje, formalmente. Mas já lhe conhecia devista.
-Sério?
-Sim. Sempre a via em algumas casas noturnas, mas nunca meaproximei.
-Por que não? Eu não sou um monstro. -Riu-se
-Você sempre cercada de amigas. Era difícil chegar, sabe?-Sei. -Respondeu irônica.O oficial fazia rodeios para, de certo, chegar no assunto preferido, O
Tramell, mas não sabia como abordar ao certo, então ensaiou uma pergunta,mesmo sabendo que poderia levar um fora:-Sei que prometi não fazer interrogatório, mas seria
impossível não lhe perguntar isso. Você... Apaixonou-se pelo Tramell?-Como?
-Muitas pessoas dizem que vocês viviam maritalmente.Sheryl pensou bem antes de responder, pois se fosse muito racionalpareceria mentira e se falasse pelos sentimentos seria pior, talvezentregasse tudo que ele queria realmente saber.-Sabe, existem situações que você simplesmente se adapta, por
achar que não mais haverá saída.
-Acho que entendo.-O Tony sempre foi muito amável comigo e isso de certa formame ajudou.
-Mesmo quando ele a estuprou?
Sheryl corou. Sentiu raiva na hora e pensou em sair dali, mas se assim o
fizesse estaria demonstrando fraqueza. Respirou fundo e lhe respondeu:-Quem lhe disse que eu fui estuprada? Como você sabe o queaconteceu lá?
-Não, eu não sei. As pessoas falaram e...
-As pessoas falam demais. Coisas que elas não sabem. -Interrompeu. -Embora não deva falar sobre isso, nós tínhamos combinado,nada de interrogatórios, lembra? Eu vou lhe falar. Uma noite eu bebi demaise o Tony também. Eu não lembro direito o que aconteceu, só lembro queacordei semi nua, ao seu lado, em sua cama. Isso foi tudo.-E você não considera isso um estupro?-Não. Eu não fui coagida a nada. Se algo aconteceu, foi delivre e espontânea vontade de ambos. Eu não acordei machucada, arranhada ouagredida de nenhuma maneira. Apenas não me lembro o que aconteceu. -Mentiu!-Entendi. Mas devo lhe dizer que ele aproveitou-se de você.De certa forma, o álcool a deixou vulnerável.
-Oficial, eu não sou nenhuma criança e se me permite eu não
quero mais falar sobre isso. O Tony Tramell foi um assassino mas ele é o
pai da minha filha e está morto agora.-Será que ele está realmente morto? -Disse levantando a
sobrancelha.
-Sim, claro que sim. Por quê? não estaria? Sabes de algo?
-Veja Sheryl, nós nunca encontramos o corpo do Tony Tramell,embora aquela queda tenha sido realmente fatal. As chances seriam poucas deele ter escapado com vida, mas vindo do Tony Tramell esperaríamos tudo. Nãoé a primeira vez que ele comete delitos.-Como assim?
-Tony Tramell já havia sido preso antes por vandalismo, usoindevido de armas de fogo e pelo espancamento de um rapaz que ele brigou emum clube. Segundo informações, eles brigaram por causa de uma mulher, nãosei ao certo, mas isso faz tempo. Tony Tramell deixou o rapaz em coma.-Nossa! -Fingiu espanto.
-Até ai tudo bem... Mas daí a virar assassino de jovensgarotas? Realmente não dá para entender. Dizem que ele começou a exterminarmulheres, depois de ter sido traído por uma antiga namorada, mas também nãosei se isso é verdade, já que a família dessa primeira jovem assassinadaafirma nunca ter visto a filha com Tramell antes.-Realmente. São histórias difíceis de acreditar.
-Por Quê? Ele não era assim com você?-Não. Como eu lhe disse, ele sempre fora muito amável comigo.-Então você deu sorte. Ele deve ter simpatizado contigo. TonyTramell matou impiedosamente vinte e quatro jovens. Garotas assim comovocê. Simpáticas, bonitas, estudantes que tinham um futuro pela frente. Atéhoje não consigo entender, por que ele não a matou?-Olha, eu não sei. Mas toda essa história está me deixando
tensa, melhor eu ir embora.
-Não. Calma, Sheryl, Me desculpa. Nossa como fui estúpido.
Não vamos deixar o Tony Tramell atrapalhar o nosso jantar, afinal decontas, ele está morto e nós estamos aqui, vivos e salvos. -Ironizou. -Pelomenos, eu acho!Sheryl sentiu nojo do oficial ao perceber tal sarcasmo. Tony estava maisvivo que nunca e era com ele que ela ficaria. -Babaca! -Pensava enquantoolhava para ele, mas resolveu ceder para que o mesmo não desconfiasse desuas intenções.-Tudo bem. Vamos pedir o jantar então. -Disse Sheryl.
-Vamos sim. -Riu-se.Tony partiu rumo a casa de Sheryl, sabia que era arriscado, mas como
partiria no dia seguinte não poderia deixar de vê-la, ainda mais estando nacompanhia daquele oficial. Chegou lá mas não entrou. Ficou escondido atrásde uma árvore esperando Sheryl chegar para assim entrar pela janela, comosempre fazia. Sheryl chegou e ao estacionar o carro o oficial fez menção debeijá-la, mas ela logo afastou-se e disse:-Não. Ainda não é hora. Me desculpe mas não estou preparada.
-Tudo bem, Sheryl. Espero o tempo que for necessário. Eu lheentendo.
-Boa noite, oficial Jones.
-Boa noite, Sheryl. -Disse dando a partida em seu carro.Tony assistiu furioso a quase tudo. Apontou a arma para o carro do oficial,simulou um tiro, mas respirou fundo e decidiu controlar-se. Teria todo otempo do mundo para matá-lo quando fosse a hora. Deu mais um tempo ali eentão pulou a janela do quarto de Sheryl. Essa, tomava banho demoradamente,pensando nas coisas que o oficial a dissera a fim de lhe abalar opsicológico. O assunto Tony Tramell mexia com ela de todas as formas...Elapensava enquanto a água tépida lhe caia sobre os cabelos. Valentina dormiano quarto de baixo com os seus pais. Sheryl terminou o banho, enrolou-se natoalha, penteou os cabelos na frente do espelho e quando abriu a porta dobanheiro para vestir-se, deu de cara com o Tony em pé, diante dela,encostado na janela. Na hora ela não reparou que era ele e o susto a fezgritar alto, muito alto. Tony assustou-se e aproximou-se para que ela nãogritasse, porém o pai de Sheryl ouviu e bateu à porta:-Sheryl, querida. Está tudo bem?
-Sim, pai, está sim. Pensei ter visto um morcego.
-Tudo bem, filha. Volte a dormir. Aqui não tem morcegos. -Saiu rindo-se e balançando a cabeça.
Sheryl mais que depressa trancou a porta do seu quarto e assustada disse aTony:-Você quer me matar? Pelo amor de Deus, Tony, Essa foi por
pouco.
-Desculpe, meu amor. Deveria ter avisado, mas não tive como.
-Tudo bem, eu adorei lhe ver.-O que você tem? Parece um pouco triste.-Tony, amanhã você parte, estou tensa, preocupada, receosa.-Hey, relaxe! -Disse segurando-lhe a cabeça. -Vai dar tudocerto, meu anjo. Não fica assim, tá bem?
-Tudo bem, querido. -Ensaiou um sorriso.
-Sarah, aquele cretino tentou beijá-la?-Você viu?-Sim e por pouco não atirei nele.-Tony, se você fizesse isso estaríamos acabados.-Eu sei, por isso me controlei.-Se você viu isso você também deve ter visto que eu nãocorrespondi, não foi?
-Sim, eu vi tudo. A vontade que eu tenho é de esganá-lo. -
Disse esmurrando a parede.
-Hey, não faça barulho! Vai acordar a todos. Ele disse
barbaridades ao seu respeito.
-O que aquele desgraçado disse? -Suspirou.
-Ah, que você já tinha sido preso por vandalismo e uso dearmas, sei lá... Mas uma coisa que ele disse me deixou intrigada.-O que foi?
-Que você espancou um rapaz em uma casa noturna por causa deuma mulher.
-Foi mesmo? -Gargalhou ironicamente.
-Qual é a graça, Tony?-Ele disse que a garota era minha namorada?-Namorada não, que ela estava com você, não sei. Algo dotipo.
-Esse tira é um imbecil. -Disse ainda rindo. -Eu nunca vi
aquela garota em toda a minha vida. Ela estava sozinha na danceteria e obabaca a estava importunando. Eu pedi que a deixasse em paz e elecontinuou, então fui obrigado a espancá-lo, apenas isso.-Então você o espancou para defender a garota? Apenas?
-Exatamente.-Não foi o que o oficial Jones disse. Ele mencionou que vocêe o rapaz disputavam a tal garota.
-Que cretino! -Riu com furor. -Este idiota está passando de
todos os limites. Será a morte mais lenta e dolorosa que lhe darei. Ele comcerteza lhe disse isso para acabar despertando desconfiança em você, porqueno fundo ele sabe que tens algum sentimento e vejo que ele conseguiu.-Não, Tony. Não conseguiu. Coisa bem pior ele me disse e eunão me abalei em nenhum segundo.
-O que ele disse, Sarah?-Disse que você assassinou vinte e quatro garotas depois deser traído por uma suposta namorada, mas que não tinha provas e também mequestionou várias vezes sobre o fato de você não ter me assassinado. Meperguntou qual a sensação de ter sido estuprada por você e...Ao ouvir tais coisas, Tony ajeitou a arma na cintura e foi andando emdireção à janela para sair. Sheryl foi atrás dele desesperada, segurou-lhepelo braço e disse:-Tony, aonde você pensa que vai?
-Vou atrás daquele miserável matá-lo agora. Ele passou detodos os limites.
Se você fizer isso acabou! Será o fim para nós dois! Nós
três, eu você e a nossa filha. Entendo a sua raiva mas você precisa secontrolar. Ele não passa de um imbecil, é você que eu amo.-Sarah, eu não posso permitir isso. Esse oficial desgraçado
precisa de uma lição. Sabe, não vou atirar nele vou espancá-lo até a morte.-Tony, pare! Olha para mim. -Disse segurando-lhe a grandeface. -Amanhã você vai para Novosibirsk. O que você quer? Ir para lá comigopara recomeçarmos uma vida ou ser pego e nunca mais me ver? Pensa! Eu seique você está com razão, no seu lugar eu ficaria do mesmo jeito ou atépior. Mas é você que eu amo. Nem ele, nem ninguém irá me persuadir a lhedeixar, ou a lhe esquecer. Digam o que quiserem, façam o que fizerem, vocêé o homem que eu amo e escolhi para ser feliz, será que está difícilentender isso?-O que você soube hoje não muda nada?
-Sim, muda!-Muda?-Claro! eu só lhe admiro mais por saber que você espancou umbabaca que perturbou uma garota. Se fosse eu ficaria eternamente grata avocê.-Mas... E o resto? O vandalismo, os assassinatos...
-Tony, já falamos sobre isso. Eu sei que você assassinou etambém não sei como, mesmo sabendo disso, me apaixonei por você. Não sei...Você não é mais assassino, não precisa mais disso para provar nada. Se vocêteve trauma por causa de alguma namorada, esse trauma foi superado e sedepender de mim estará superado para sempre, eu nunca lhe trairia Tony,você é tudo para mim. Homem perfeito, pai maravilhoso, me protege, cuida demim, o que mais posso querer da vida?Tony emocionou-se, abriu o casaco, colocou a arma em cima da escrivaninhado quarto de Sheryl e a tomou nos seus braços, beijando-lhe a cabeça:-Meu amor, você me desarma em todos os sentidos. Minha vida évocê. Você e a nossa pequena.
-E a minha, vocês! Não posso te perder, então, sossega! Deixa
para pegar o oficial Jones depois.
-Você está certa, aliás, você sempre está certa. -Disse
levantando-a em seus braços.
-É, mas eu não gostei dessa história de você brigando por
causa de namoradinha não viu?
-Ah, sua boba! Está com ciúmes é?
-E se eu lhe disser que estou?-Mas, nós nem nos conhecíamos...-Então você admite que realmente estava? -Perguntou franzindoo cenho.
-Até que a garota era bonitinha, mas... Não! -Riu-se muito. -
Só demorei para responder porque acho lindo você sentindo ciúmes de mim. Àsvezes é inacreditável.-Pare de brincar! -Disse esboçando um sorriso e dando de
costas para seu amado que lhe pegou por trás e lhe beijou o pescoço.-Espere, Tony. Preciso me vestir.
-Vestir-se, para quê? Está linda nessa toalha branca. Venhacá meu amor, deixa eu lhe sentir.
Foi o que bastou para os dois, novamente entregar-se a todo
vapor. Já passava da meia noite, mas Sheryl e Tony não podiam resistir.Valentina dormia com os avós e aquele quarto seria, naquele momento, ocenário perfeito para uma semi despedida. Sheryl ficaria mais de um mês semver Tony e isso a machucava muito. Ela ficaria não apenas sem ele, mas semnotícias dele até o dia da sua fuga. Não pensava em nada naquele momento,somente em estar nos braços daquele homem másculo, misterioso e envolvente.Com ela, Tony era o mais amável dos amantes, de certa forma ele a faziasofrer, mas de prazer e ansiedade. Ele a fazia chorar, mas de saudade dosmomentos loucos e únicos que passavam juntos. Sheryl sabia que seus paisestavam em casa e dormiam no quarto abaixo, mas ela nem se importava. Oimportante era estar com seu amado, entregando-se de corpo e alma. Algunsgemidos e sussurros as vezes eram abafados pela mão do próprio Tonyfechando-lhe a boca, a fim de que ninguém escutasse e então tudo seperdesse:-Calma, querida! Em breve vamos poder gritar e expressar todo
o nosso amor, falta pouco. Também quero extravasar. -Disse olhando nos seusolhos enquanto a amava.
-Me beija, Tony.-Isso é um pedido?-É uma ordem! -Riu-se-Mas seu desejo é uma ordem, senhorita! -Beijou-ademoradamente. E assim nem viram quando o dia amanhecera.Eram cinco e meia da manhã, o dia estava parcialmente claro,
Tony despertou assustado, chamando a sua amada que dormia em seu peito.Sheryl acordou sonolenta e disse:-Nossa, perdemos a hora. Tony, você precisa ir.
-Sim, preciso sair daqui agora. O navio parte as nove.Preciso me recompor.
-Meu amor, tenha cuidado. Se alguém lhe reconhece será o fim.
Eu não quero nem pensar nisso.
-Confia em mim. Não vai acontecer nada. Infelizmente não
poderei lhe dar notícias se cheguei bem ou não, mas não se preocupe. Seacontecer alguma coisa, notícias ruins são como vestígios de pólvora, seespalham por toda parte.-Pare com isso. Você falando assim só me desestimula.
-Vai dar tudo certo. -Disse abraçando-a e beijando-a.Tony saiu pela janela e Sheryl ficou ali deitada. Tentou dormir novamentemas não conseguiu. Ainda era cedo, mas ela estava apreensiva. Não sabia oque seria daqui pra frente, sem notícias do Tony. Sabia que os diasseguintes seriam um tormento. Seriam dias decisivos, dias que mudariam parasempre a sua vida. Em apenas um mês sua vida daria uma reviravolta em 360graus. Seria vida nova e isso incluía deixar tudo para trás, inclusive osseus pais. Ela se sentia triste, mas estava realmente decidida. Não iriadar pra trás agora. Desistir do Tony seria desistir do sentimento que elajulgava ser amor de verdade, seria desistir de si mesma, já que ele era oúnico que a entendia, que a protegia e que com ela possuía uma cumplicidadeúnica, um magnetismo diferente. Sheryl sentia calafrios só de pensar emTony. Respirava ofegante e seu olhar se per
Após escrever a carta Sheryl respirou fundo, guardou-ajuntamente com as outras coisas no sótão e ficara por ali pensando emalguns detalhes finais.Finalmente chegara o grande dia. O dia da sua partida e elajá estava tão ansiosa que nem comer direito naquele dia conseguiu. Estavatriste também, pois sabia que por tão cedo veria os seus pais, porémlembrava-se dos quatro anos que passara afastada dos mesmos e saberia queuma hora isso teria que acontecer. Era realmente ruim por esse lado, mas jáestava com tudo pronto. Seus pais chegaram normalmente como todos os dias ede nada desconfiaram. As coisas seguiram como de costume e após tomar cafécom seus pais Sheryl foi com Valentina para o seu quarto. A criança dormiucomo de costume e Sheryl andava de um lado para o outro, com a portatrancada. Era quase meia noite e ela teria que partir
Em Springfield, Steven e Ellen sofriam com a decisão deSheryl. Ellen estava apreensiva e achava que era hora de procurar apolícia, já que havia se passado alguns dias e eles não tiveram um contatosequer. Steven, pacientemente disse à esposa:-Calma, querida! A Sheryl vivia me dizendo que uma hora iriapartir. Ela precisava desse tempo, dessa mudança. Veja, vamos esperar pelomenos dois meses. Se ela não der notícias em dois meses, procuraremos apolícia, tudo bem?-Dois meses? Você enlouqueceu? Em dois meses a minha filha ea minha neta podem ter sido assassinadas, raptadas, ou... Sei lá o que.Melhor nem pensar no pior.-Ellen, escute. A Sheryl nos deixou uma carta. Você achamesmo que se ela fosse assassinada, raptada ou sei lá o quê teria escrito amesma?-Steven, quem lhe garante que ela não foi coa
Em Veliky Novgorod os dias estavam ensolarados porém frios. Apequena Valentina estava muito gripada e os pais ficaram muito preocupados.Já havia tomado medicamentos mas a tosse e febre alta não regredia. Sherylestava triste e apreensiva e Tony também. A pequena precisou ficarhospitalizada e ambos não conseguiam mais concentrar-se em nada. Tonytrabalhava, mas fechava o estabelecimento mais cedo para ficar no hospitalcom Sheryl e a filha. Todos os dias eram assim. Finalmente depois de umasemana, a pequena teve alta e saiu do hospital. Sheryl e Tony comemoraram erespiraram aliviados. O telefone tocou, era Dasha. Sheryl ficou muito felizao falar com a amiga e a convidou, juntamente com Sergei para passar unsdias lá e os mesmos concordaram. Arrumaram as malas e caíram na estrada. Aochegar foram muito bem recebidos pelos donos da casa. Dasha e Sergeiestavam muito feli
O dia em Springfield amanhecera frio e nublado. Ellen e Stevepareciam mais conformados embora não tivessem mais nenhuma notícia daSheryl. A doutora Kate segurava o celular, olhava para o visor e pensava emligar para o Jones. Digitou os números, olhou novamente para a tela edesligou. Foi até a cozinha, tomou um gole de café e depois retornou para oquarto decidida a ligar. Ligou e notou uma certa frieza do oficial para coma mesma. Ficou intrigada porém pensou que, por ser uma segunda-feira, elepoderia estar atribulado e mal humorado, então resolveu dar um tempo eligar novamente no final de semana. Havia gostado muito de sair com oJones, mesmo achando estranho as perguntas que ele lhe fizera todasrelacionadas a sua cliente, Sheryl Madison. Infelizmente naquela noite, elaestava um pouco alta pelo efeito da bebida, pois deveria ter-se aprofundadomais para saber o porqu
Quando Sheryl falou com a mãe ao telefone, eraaproximadamente dez da noite. Nesta mesma noite, em Springfield, o oficialJones não se encontrava em casa. Chegara aproximadamente meia noite,embriagado e fora dormir sem escutar a secretária eletrônica. Não imaginavao que acabara de gravar. No dia seguinte, ao ouvir toda a conversa, quaseteve um surto quando percebeu a voz de Sheryl ao telefone e voltou agravação inúmeras vezes. Sabia que não podia partilhar aquilo com ninguém.Lembrou-se do oficial Larry, que já fizera parceria com ele em algunscasos. lembrou-se que o mesmo lhe fora bastante solícito no passado e atépensou em comentar, mas sabia que se o fizesse o tenente Oliver poderiatomar conhecimento e sua carreira estaria arruinada. Definitivamente issonão poderia acontecer. Se a história da escuta e da investiga
Em uma madrugada de domingo, fazia bastante frio em VelikyNovgorod. Era lindo de se ver as luzes no céu semelhante à aurora boreal. -Meu Deus, que linda paisagem! -Dizia Sheryl. Olhava para a cama e via osmaiores amores de sua vida, Tony e a pequena Valentina, dormindo comoanjos. Ela perdera o sono, desceu para fazer um café. Era aproximadamentecinco da manhã. Ela foi até a cozinha, ligou a cafeteira e ficou ali apensar enquanto a água era aquecida. Franzia o cenho preocupada com aspalavras que ouvira da sua mãe. Estava tudo muito bem, mas ela sentia a suafelicidade ameaçada desde que ouvira tais coisas. Aquele oficial nunca atirara da cabeça e ela não poderia imaginar que a sua obsessão chegaria atal ponto. Parecia uma sina maldita. Ele a prendera da primeira vez e agorapoderia muito bem estar lhe "caçando". Não estava preparad
Jones estava em casa quando de repente recebeu um telefonema.Era o senhor William do aeroporto, dizendo que tinha encontrado algo e ooficial prontamente partiu para lá. Ao chegar viu a filmagem e ficouchocado com o que acabara de ver. Sheryl e Valentina, as três da madrugadaembarcando. Ficou perplexo com o que ouvira do senhor William:-Checamos a lista de passageiros desse dia. O senhor temcerteza que o nome dessa garota é Sheryl Madison?-Absoluta!-Aqui consta como Tânia Clarckson e a criança ChelseaClarckson, suposta filha da mesma.-Eu não acredito. -Respirou apreensivo.-Senhor. O senhor está bem?-Sim, estou. Apenas pensei alto.-Tem mais alguma coisa que eu possa fazer pelo senhor?-Sim, claro. Para onde elas embarcaram?-Para Novosibirsk, na Rússia.-Na Rússia? O senhor tem certeza? -Levantou-se assustado.-Absolut