**Maria Silva**Acordei com a dor de cabeça tão forte que parecia que minha cabeça ia explodir. Eu passei a mão na testa, e o toque gelado e dolorido me fez arrepiar. A lembrança da coronhada de Gabriel estava tão nítida quanto a dor em meu corpo. Eu me lembrei da última coisa que vi antes de desmaiar: Gabriel com o olhar furioso, sua mão cerrada, e então a dor. A dor insuportável. Depois, a escuridão.Olhei ao redor, tentando entender onde eu estava. Estava num avião, o som do motor e o balançar suave da aeronave eram a única coisa que preenchia o silêncio. Gabriel estava na minha frente, a respiração profunda e irregular. Ele estava se recuperando, ou tentando, da raiva que sentia de Bruno. Pude ouvir os gemidos de Gabriel, a dor que ele sentia. Ele estava furioso, mas, ao mesmo tempo, exausto.“Olha o que seu juizinho de merda me fez, eu espero que ele esteja pior que eu depois só atropelamento.”“Atropelamento? Só que você tá falando.”“Tomara que ele tenha morrido. Aquele filho d
**Maria Silva**A casa de Gabriel era imensa, com paredes altas e janelas que pareciam observar cada movimento, assim como me lembrava. Senti-me como uma presa na cova dos leões. O olhar de desprezo vindo da mulher loira, Valquíria, a viúva de Mateus, me atingia como lâminas afiadas. Ao lado dela, a mãe de Gabriel, com a mesma expressão de julgamento, completava o cenário. Era uma atmosfera sufocante, e, ironicamente, Gabriel parecia ser o menos ameaçador ali. Ele se aproximou, sua presença pesada como uma sombra. "Não tente fugir, Maria", ele advertiu, sua voz carregada de falsa tranquilidade. "Você está sendo vigiada 24 horas por dia. Qualquer tentativa será inútil." Eu queria responder, mas as palavras travaram na garganta. Gabriel chamou a mãe, que, sem dizer nada, me conduziu para um quarto luxuoso, o meu cativeiro. Eu ainda estava fraca do ferimento, e isso parecia agradar a todos ali. Ser uma presa ferida tornava mais fácil me manter sob controle. “Não tente nada, garota
**Maria Silva**Gabriel me encarava, parado no meio do quarto, e eu sentia a tensão no ar. Sua voz, geralmente controlada, agora transbordava uma mistura de paixão e obsessão que me deixou sem chão e com medo. De onde tinha vindo aquele amor todo?“Maria, eu trouxe você para cá contrariando a todos, porque estou apaixonado por você.” Soltei uma risada nervosa, tentando disfarçar o incômodo. “Gabriel… Não faça brincadeiras. Você é o meu algoz.”“Você nunca se perguntou o porquê da minha obsessão por você.”“Eu pensei que você queria atingir Bruno. E estava me usando para isso.” Ele parecia o Gabriel que eu tinha conhecido. “Eu só quero encontrar meu filho.” Seus olhos se estreitaram e, por um momento, ele pareceu ofendido. “Você quer que eu traga o menino para cá? Para ficar com você? Eu sei que minha mãe não vai gostar, mas eu posso convencê-la. Ela vai acabar aceitando.” Senti um calafrio percorrer meu corpo. A ideia de Benício estar naquele lugar me aterrorizava. “Não, deixe
**Maria Silva**“Entra no carro.” O motor do carro rugiu assim que cruzamos o portão lateral que eu nunca havia notado antes. A escuridão da madrugada se misturava ao brilho ocasional dos faróis das motos que nos escoltavam, duas na frente e duas atrás. Os homens estavam armados. Eu estava no banco da frente e sua mãe no banco de trás. “Por que estamos saindo assim?” arrisquei perguntar, minha voz trêmula. Gabriel olhou para mim com desdém, mas foi sua mãe quem respondeu, sem sequer se dar ao trabalho de olhar na minha direção: “Não te interessa.” Eu não sabia para onde estávamos indo, o motivo dessa saída repentina, e pior, sabia que qualquer resposta ou insistência minha seria inútil. Apenas me calei e olhei para fora, tentando ignorar a presença opressora de ambos. Enquanto o carro acelerava pelas ruas, notei o som inconfundível de hélices cortando o ar acima de nós. Um helicóptero estava nos seguindo. Virei a cabeça para trás, tentando vê-lo melhor através do vidro, e me
**Maria Silva**A noite era uma mistura de caos e tensão. A mãe de Gabriel resmungava incessantemente, o som de sua voz ecoando pela pequena casa. Cada palavra dela parecia uma faca afiada, cortando o pouco de paciência que ainda me restava. Gabriel, por outro lado, estava inquieto. Ele falava ao celular e pelo rádio quase sem parar, sempre com o cenho franzido, as palavras saindo rápidas e cortantes. “Espero que a polícia não tenha que invadir aqui por causa dessa vagabunda,” ouvi a mãe dele dizer, sua voz carregada de desprezo. Gabriel suspirou, irritado, mas respondeu firme: “Eles não vão subir. Eu não vou deixar.” “Espero mesmo que não. Da última vez que subiram, seu pai foi preso. Ou você quer o mesmo destino e ver seu império cair por causa de uma mulher que ama outro homem?” “Eu não vou ser pego, mama. Confie em mim.” Mas algo na forma como ele falou não inspirava confiança nem nele mesmo. Havia uma tensão no ar que não podia ser ignorada, e isso só piorava o peso e
**Maria Silva**O som do primeiro estrondo foi como um trovão rasgando o local. As paredes tremeram, e eu senti o impacto reverberar pelo chão sob meus pés. Gabriel virou-se para mim, seus olhos cheios de alerta. Algo estava claramente errado. Tínhamos acabado de entrar no que ele chamava de seu “império”, e já parecia que tudo estava desmoronando, literalmente. Outro estrondo soou, mais forte, mais próximo. Um arrepio subiu pela minha espinha. As paredes, velhas e mal conservadas, rangiam sob a pressão, e eu tive medo de que todo aquele lugar caísse sobre nós. As pessoas ao redor começaram a entrar em pânico, correndo de um lado para o outro, gritando. Algumas se jogaram no chão, enquanto outras tentavam fugir para qualquer canto que parecesse seguro. O caos se intensificou. Gabriel me agarrou pelo braço, sua força bruta me puxando para trás de uma pilha de caixas. Ele sussurrou algo entre dentes que eu não consegui entender, minha mente estava turva demais com o barulho e a conf
Maria Silva** O peso do meu corpo pendurado nos canos foi um lembrete cruel de quão frágil minha vida estava naquele momento. Meus dedos ardiam, minhas forças desapareciam, e a única coisa que ecoava em minha mente era o rosto do meu filho. Será que ele se lembraria de mim? Será que ele entenderia por que sua mãe não estava lá para abraçá-lo? As lágrimas escorriam pelo meu rosto, e uma mistura de arrependimento e amor me sufocava. Dizem que, no instante da morte, nossa vida passa como um filme. Era exatamente assim que me sentia: revivendo momentos bons e ruins, tentando sorrir, perdoar e, ao mesmo tempo, não chorar. Meus dedos escorregaram. Senti meu corpo ser tragado pelo vazio. A queda parecia inevitável, mas, de repente, algo firme segurou minha mão. Uma força que não era minha me puxava para cima. Meu coração disparou, e eu fechei os olhos com medo de encarar o que estava acontecendo. “Maria, segura firme! Não vou deixar você cair!” Com um último puxão, senti meus pés t
**Maria Silva**Bruno cruzou os braços, a expressão oscilando entre dúvida e desconforto. “Maria, isso não faz sentido. Ninguém além de mim entra aqui. Como você pode conhecer minha casa?” Sentei-me na beirada da cama, o coração disparado, enquanto minha mente parecia tentar encaixar peças de um quebra-cabeça perdido há anos. Fechei os olhos, buscando no fundo da memória respostas para o inexplicável. E então, como flashes de um filme antigo, as imagens vieram: um riso abafado, uma voz que ainda fazia eco na minha mente, e o som distante de uma música suave tocando ao fundo. “Matheus,” murmurei, mal reconhecendo minha própria voz. “O quê?” Bruno se aproximou de repente, agachando-se diante de mim, o rosto tenso. “O que você disse?” “Matheus,” repeti, agora com mais convicção. Olhei diretamente nos olhos dele, enfrentando a incredulidade que eu sabia que encontraria ali. “Eu estive aqui antes, Bruno. Com Matheus.” O silêncio que se seguiu era quase ensurdecedor. Bruno parecia