**Maria Silva**A sala estava em alvoroço. Débora, com uma garrafa de champanhe nas mãos, ocupava o centro da cena como uma atriz em sua estreia triunfante. Sua voz aguda cortava o ar, anunciando uma notícia que parecia inacreditável. E que fez minhas pernas fraquejaram.“Precisamos comemorar! Ontem à noite, depois de uma noite de amor, Bruno e eu decidimos... marcar a data do casamento!” Aquelas palavras bateram em meus ouvidos como um trovão. O ar parecia rarefeito, e tudo ao meu redor ficou em câmera lenta. Eu olhei para Bruno. Ele abaixou a cabeça, desviando o olhar, como se quisesse se esconder da vergonha que aquele momento trazia. “Data do casamento? Meu filho, isso é verdade?” A voz de Leila, firme e desconfiada, ecoou pela sala. Débora, sem dar espaço para qualquer hesitação, respondeu com um sorriso cortante. “Claro que é verdade, Leila! Não é magnífico?” Ela ergueu a garrafa como se estivesse em um brinde triunfal. “Tomei a liberdade de pegar uma champanhe na sua ade
**Maria Silva**“Bruno…”“Preciso de você, Maria.”“Eu quero você.” Sussurrei quase sem forças.Deitei-me entre as parreiras, com os dedos roçando as folhas ásperas e os olhos fixos no céu tingido de tons dourados e lilases. Sentia o calor da terra sob meu corpo e o toque suave de Bruno ao meu lado. Aquelo era uma loucura. Ele me observava, os olhos tão profundos quanto o oceano, mas havia algo neles que ia além do desejo. Algo que me chamava, me prendia e me assustava.“Eu a amo, Maria.”Eu não queria ceder, não queria me perder nele novamente, mas quem não se perderia com um homem que diz com todas as letras que a ama? A história de Bruno era muito mais complicada do que eu havia imaginado. A sombra de Matheus, Débora e Gabriel pairava sobre nós como nuvens ameaçadoras, e eu não sabia se era capaz de enfrentar aquela tempestade."Maria..." Ele sussurrou, sua voz carregando um peso que parecia roubar todo o ar ao nosso redor enquanto me despia."Não posso, Bruno." Minha voz soou mais
**Maria Silva**A tensão no ar era palpável, e o impacto do soco de Bruno na mesa ecoou como um trovão. O som dos talheres chocando-se contra os pratos intensificou o desconforto, deixando todos à mesa inquietos. Todos os olhares se voltaram para ele, mas os seus olhos verdes, fulminantes como uma tempestade em fúria, estavam cravados em mim. Era impossível desviar ou ignorar aquele olhar carregado de emoção. “Bruno desta vez quem toma a decisão sou eu.”“Por que você quer ficar na fazenda, Maria?” ele perguntou, sua voz grave cortando o som ambiente como uma lâmina. Levantei o olhar, encontrando os olhos dele, cheios de confusão e raiva. Suspirei, já prevendo que essa conversa não terminaria bem. “Heitor me ofereceu um emprego, Bruno. Um trabalho de secretária, algo que eu nunca conseguiria fora daqui sem ter estudado.”“Você não precisa trabalhar.”Antes que eu pudesse continuar, Débora, com sua voz estridente e
**Maria Silva**Os dois dias passaram como um borrão, e eu ainda tentava absorver tudo o que acontecera. Estar na fazenda, longe da correria e das lembranças de onde eu vim, deveria ser um alívio. Mas, ao contrário, meu coração estava dividido, uma mistura de ansiedade e dor. Eu sabia que essa decisão traria consequências, que talvez nunca mais houvesse um caminho de volta. Nunca mais houvesse uma história com Bruno.O ronco distante das hélices do avião começou a se intensificar, sinalizando que a hora estava chegando. Eu estava na varanda, observando ao longe a poeira fina que dançava no ar, levantada pelo vento. Benício brincava ao meu lado, alheio a tudo, e eu tentava manter a compostura. Mas o aperto no meu peito não dava trégua. Leila foi a primeira a vir até mim, sua expressão gentil, mas firme. Ela não parecia ali apenas como a mãe de Bruno, mas como uma mulher que entendia exatamente o que eu estava sentindo. “Mari
**Maria Silva**O aroma das flores do campo misturava-se com o ar fresco da manhã, enquanto eu olhava para a imensidão da fazenda. Uma semana havia se passado desde que a família Alcântara e Leão deixou a casa, era impossível ignorar a saudade que preenchia os dias. Benício sentia falta dos avós e do tio Bruno, e isso me tocava de uma maneira que eu não sabia explicar. Já Débora... Bem, essa era a única ausência que ninguém parecia lamentar. Os dias ali haviam se transformado em momentos de conexão entre mim e Benício. Criamos novas memórias: caminhávamos entre as árvores, ríamos enquanto ele tentava pescar no lago e aproveitamos cada canto daquele paraíso. Ele era minha prioridade, especialmente depois de tudo o que passamos com o transplante de rim. A cada risada e cada momento juntos, eu sentia que estávamos mais fortes, mais unidos. Hoje era um dia importante. Iríamos ao médico para o exame de rotina de Benício, e eu estava ansiosa. Desde o transplante, cada consulta era uma m
**Maria Silva**Os lábios de Heitor eram firmes, mas gentis, e por um momento, tudo ao meu redor deixou de existir. Não era como Gabriel, que sabia usar palavras doces para mascarar sua verdadeira natureza. Nem como Bruno que me fazia esquecer quem eu era. Heitor não precisava de palavras. Ele era um homem de gestos, de ações, e cada uma delas me fazia perceber o porquê de tantas mulheres na vinícola suspirarem ao vê-lo passar. Mas foi só um beijo. Um momento que parecia suspenso no tempo, mas que logo foi interrompido pela realidade que nos cercava. Nós dois sabíamos que era cedo demais para qualquer coisa além disso. Não havia pressa. O silêncio confortável que se seguiu confirmou isso, e eu sorri timidamente antes de afastar os olhos dos dele. Heitor serviu mais uma taça de vinho para cada um de nós. O aroma encorpado preencheu o ar, misturando-se com o cheiro doce do chocolate que ele havia trazido. Peguei um pedaço pequeno e deixei derreter na boca enquanto observava o fogo da
**Maria Silva**Eu estava sentada na minha mesa, digitando lentamente um relatório que Heitor havia me pedido, quando ele entrou no escritório com um sorriso animado no rosto. Só a expressão dele já era suficiente para iluminar o ambiente, mas algo me dizia que havia mais por trás daquele humor contagiante. “Maria, tenho uma boa notícia para você,” ele disse, caminhando até minha mesa. Ele puxou uma cadeira e sentou-se ao meu lado, como fazia quando queria ter uma conversa mais descontraída. “Estou precisando de boas notícias,” respondi com um sorriso tímido. “Está chegando o dia da festa do vinho e da uva. É o evento mais esperado do ano aqui na cidade. A vinícola organiza tudo, e as pessoas vêm de todos os lugares para participar. É uma grande celebração.” “Festa do vinho e da uva?” perguntei, tentando processar a informação. “Isso mesmo,” ele confirmou. “Vai ter música, comida, degustação de vinhos, e até brinquedos para as crianças. É uma tradição por aqui, e este ano pr
**Maria Silva** A princípio, achei que fosse minha mente pregando peças. Talvez a luz fraca do depósito estivesse me confundindo. Mas não, era ele. Gabriel. O homem alto, com sua jaqueta de couro surrada e coturnos que ecoavam no chão frio. Estava ali, materializado diante de mim, entre as sombras dos barris. "Como foi que você me achou?" minha voz saiu trêmula, quase um sussurro. "Você achou que ia fugir de mim até quando?" Ele deu um passo à frente, os olhos escuros fixos nos meus, carregados de algo entre raiva e obsessão. "Eu não estava fugindo de você. Eu só não queria mais te ver," respondi, tentando soar firme, mas meu corpo inteiro tremia. Ele riu, uma risada baixa e perigosa que ecoou pelo galpão. "E você acha que as coisas são assim? Que você não quer mais me ver e simplesmente desaparece com aquele filho da Puta do Bruno?"