Maria Silva**Eu abri os olhos devagar, o peso de uma mão descansando na minha cintura me fez congelar. A respiração quente e o cheiro amadeirado inconfundível estavam ali, ao meu lado. Bruno estava deitado comigo, os olhos fechados, mas as sobrancelhas franzidas, como se também estivesse em uma luta interna. “Bruno, o que você pensa que está fazendo?” minha voz saiu afiada, ainda baixa, mas cheia de indignação.Ele abriu os olhos lentamente, como se meu incômodo não fosse uma surpresa, mas um detalhe incômodo que ele escolhia ignorar. Em vez de se afastar, ele trouxe o rosto mais perto de mim, os olhos fixos nos meus com uma intensidade que me fez estremecer.“Só... não fala nada,” ele murmurou, como se o pedido fosse mais uma necessidade do que uma escolha. “Preciso só... sentir o seu cheiro por um momento.”Eu podia sentir meu coração martelando, um misto de irritação e aquele calor que ele sabia provocar. Eu sabia que deveria ter me levantado, expulso ele imediatamente, mas havia
**Maria Silva**Heitor estava parado ali, o chapéu sombreando seu rosto, mas com um sorriso de leve reprovação.“Essas uvas estão quase prontas para a colheita. Se você quiser, posso te trazer algumas. Mas essas daqui…” Ele fez uma pausa, como se escolhesse as palavras com cuidado. “Elas não são para você.”Soltei a mão das uvas, sentindo uma leve vergonha e dando um sorriso tímido.“Desculpe, eu estava só... curiosa.”Heitor assentiu, os olhos carregados de uma expressão quase acolhedora e observadora.“Curiosidade é o que faz a vida interessante, Maria. Espero que, durante esses dias aqui, você consiga aproveitar a calma desse lugar. E matar sua curiosidade com as uvas.”O vento frio soprou pelo parreiral, e senti uma tranquilidade que parecia incomum para mim. A presença de Heitor tinha algo reconfortante, como se a própria calma daquele lugar fosse refletida nele. Talvez esses dias na fazenda fossem mesmo o que eu precisava para organizar a cabeça. Olhei para ele mais uma vez, per
**Maria Silva**Eu e Heitor olhamos um para o outro e rimos, a expressão de Bruno era de um homem furioso, mas Maria não conseguiu se segurar e caiu na gargalhada. Bruno ficou irritado, seus olhos pareciam que iam explodir de raiva. Mas em minha espontaneidade, não consegui controlar o riso. O que poderia ter sido uma situação tensa se transformou em algo mais leve diante do olhar de fúria de Bruno, o que só fazia a cena parecer ainda mais ridícula para Maria.“Não estou achando graça nenhuma,” ele bufou, “espero que não demore, ninguém é obrigado a ficar esperando por vocês dois?” Bruno murmurou, quase com raiva.Eu sorri sem culpa, tentando me recompor. “Desculpe, vossa excelência, vamos acatar as suas ordens, longe de nós sermos mandados para a prisão por não ter cumprido sua sentença.”“Maria, não me irrite.”Bruno bufou, desconfortável com a situação. Ele sempre teve o controle sobre tudo, mas naquele momento parecia estar completamente fora de si. Pude sentir que ele não lidava
**Maria Silva**A noite estava encantadora, e Heitor havia preparado tudo com uma perfeição de tirar o fôlego. O quintal da fazenda estava iluminado com luzes penduradas sobre a lareira ao ar livre. Do calor do fogo vinha o aroma acolhedor da madeira queimada, e uma travessa de marshmallows com varinhas de madeira nos esperava, junto a canecas de chocolate quente e algumas mantas confortáveis para nos aquecer do frio.A cena era como de um sonho. Benício, em seu entusiasmo infantil, estava no colo de Bruno, que vinha logo atrás de mim. Descemos o pequeno degrau em direção à lareira, e logo Heitor apareceu com um violão nas mãos, começando a tocar e cantarolar. A cada melodia, mais pessoas se juntavam a nós — trabalhadores da fazenda, alguns dos funcionários da casa, todos pareciam conhecê-lo bem. Era fácil ver que Heitor era muito querido ali, e aquela reunião ao redor do fogo tinha algo de mágico e reconfortante, como se fôssem todos uma grande família. "Assim ele parece o homem per
**Maria Silva**“Que merda é essa aqui, Bruno?”O quarto estava escuro, o silêncio profundo, e somente a voz dela com a sua sombra na porta aberta. Ela procurou pelo interruptor e ligou a luz. Débora estava ali, parada na entrada, e logo o silêncio foi invadido por sua voz irritada.“O que está acontecendo aqui?” ela vociferou, os olhos faiscando. Bruno estava ali, no meu quarto, agora sentado ao lado da minha cama. Não esperávamos por esse show. Benício, já havia acordado com o susto e agora se agarrava a mim, assustado. Peguei-o no colo, tentando acalmá-lo enquanto observava aquela cena caótica.“Diga, Bruno,” Débora disparou, com a voz mais cortante que uma faca, “o que esta mulher está fazendo no seu quarto?”“Esse quarto é meu, e se puderem fazer o show de vocês longe do meu filho.”“O que essa prostituta está falando?”Bruno, aparentemente ainda meio sonolento, suspirou e olhou para ela com um olhar que parecia carregado de culpa e desculpas. “O Benício queria que eu ficasse a
**Maria Silva**Ao amanhecer, senti uma calma estranha, como se algo em mim estivesse decidido a mudar. Eu estava ansiosa, não podia negar. A enfermeira me garantiu que cuidaria bem de Benício enquanto eu estivesse fora, e eu sabia que precisava desse tempo para espairecer. Ou iria enlouquecer. Embora meu coração estivesse pesado, não pude evitar a sensação de alívio por ter algumas horas longe das tensões da casa.Troquei de roupa, tentando me convencer de que aquele passeio com Heitor seria uma forma de fugir de tudo, mesmo que por algumas horas. Assim que abri a porta do meu quarto, dei de cara com Bruno no corredor, como se o destino tivesse traçado esse encontro ou que a bola de cristal dele estava ligada. Ele estava saindo do quarto, e quando nossos olhares se cruzaram, o desejo de falar com ele se misturou ao medo. Não havia como evitar. Ele se aproximou com uma expressão séria, determinada, mas eu sabia que suas palavras seriam tanto um alívio quanto uma tortura."Maria, preci
**Maria Silva**A mão de Heitor acariciava meu rosto, o toque dele era cálido e provocante, como se quisesse fazer surgir ali uma faísca inevitável. Ele se aproximou, e meus lábios se entreabriram em expectativa. Seus olhos fixos nos meus pareciam contar histórias silenciosas, trazendo algo de suave e tentador ao mesmo tempo. Senti o coração bater mais rápido, e naquele instante me perdi, querendo sentir o gosto dele, o calor do beijo que parecia se aproximar lentamente.Mas Heitor se afastou, me olhando com um brilho nos olhos. De alguma forma, ele sabia exatamente como mexer comigo sem ultrapassar os limites.“O que acha de pedirmos uma pizza?” Ele falou, rompendo a tensão que crescia entre nós. A voz dele soava despreocupada, mas eu podia jurar que por trás daquele convite havia o mesmo desejo que eu sentia.“Eu acho…” murmurei, sem saber ao certo como responder. E antes que pudesse acrescentar qualquer coisa, senti o peso do sono dominar meu corpo. Em um instante, tudo escureceu.
**Maria Silva ** Levantei-me do sofá, sentindo o olhar de Bruno me perfurar. Ele estava furioso, mas eu não movi um músculo para me explicar. Por que deveria? Nada que eu dissesse mudaria a maneira como ele já havia decidido me julgar. Eu ajeitei minha roupa, ignorando sua expressão severa, e olhei para Heitor, que, com um suspiro pesado, se levantou. "Ontem ficou tarde, e achei melhor que Maria descansasse por aqui. Foi só isso, Bruno." A voz de Heitor era firme, não dando vazão para discussões. Ele não mencionou minha bebedeira, as conversas ou qualquer outra coisa. Apenas aquilo que era necessário. Bruno, no entanto, não se dava por satisfeito. Seus olhos continuavam faiscando. "Fiquei preocupado. Vocês não voltaram, não avisaram, passaram a noite fora... Decidi vir até aqui para ver se estava tudo bem. Mas pelo visto, a situação era... bem diferente do que eu imaginava. Belo amigo você Heitor." A insinuação foi clara, mas eu apenas ergui o queixo. Não era uma surpresa que