**Maria Silva**Quando aquele homem colocou a mão sobre a minha boca, meu coração começou a martelar como se quisesse escapar do peito. Suas palavras eram baixas, quase um sussurro que tentava me acalmar: “Shi. Não diga nada. Vou tirar a mão de sua boca.” Assim que ele relaxou os dedos, soltei um grito desesperado, “Socorro…”Mas ele rapidamente tapou minha boca de novo, abafando o som. Com um impulso que nem sabia que possuía, usei a única defesa que tinha: minha mão deslizou até os testículos dele, e eu apertei com toda a força. Ele grunhiu, os olhos arregalados de dor.“Por que você fez isso?” ele arfou, a voz embargada.“Porque você está tentando me sequestrar!” repliquei, meu corpo estava tenso e pronto para atacar de novo se fosse necessário.Ele deu um passo para trás, ainda segurando entre as pernas, o rosto contorcido em dor. “Eu não estou tentando te sequestrar,” sussurrou, com dificuldade. “Me pediram para levá-la para ver uma pessoa.”“Que pessoa? Quem é você?”Eu o obser
**Maria Silva**Saí do hospital com passos firmes, mas meu coração batia em uma cadência frenética. Cada detalhe do plano de Bruno estava em execução, como uma peça de teatro bem ensaiada. O helicóptero ergueu voo, carregando um homem que todos acreditavam ser Bruno de Alcântara e Leão. Outra aeronave sobrevoava a área, enquanto as notícias falavam sobre o acidente de caminhão com o juiz implacável, mas cuidadosamente ocultando o tiroteio. Diziam que um dos homens havia morrido no hospital e que Bruno lutava entre a vida e a morte.Eu e Leila desempenhamos nossos papéis com perfeição. Saímos do hospital em lágrimas, nos arrastando até o carro na entrada, visivelmente abaladas, como mandava o plano. Débora, sempre disposta a se colocar em cena, assumiu o papel de porta-voz, transmitindo o boletim médico aos jornalistas. Era tudo uma farsa, é claro. Bruno ainda estava no hospital, oculto na ala segura que Leila havia reservado para ele. E o pai de Bruno já estava a caminho de São Paulo
**Maria Silva**Acordei lentamente, sentindo uma sensação estranha no braço. Estava deitada em uma cama, e uma bolsa de soro pendia ao meu lado. As paredes brancas e as cortinas me indicaram que eu ainda estava no hospital. Leila estava ali, sentada em uma cadeira próxima, com um semblante cansado, mas sereno. Ela se aproximou assim que percebeu que eu estava acordada.“O que aconteceu?” Minha voz soou baixa, mas carregada de preocupação. “Leila, por favor, não me esconda nada. Como estão Benício e Bruno? Estou com tanto medo de ouvir suas palavras.”Leila suspirou, tentando me tranquilizar. “Calma, querida. Houve uma complicação na cirurgia, mas nada fora de controle.”“Qual dos dois?” Senti o pânico crescer. “Ele está vivo?”“Sim, ninguém morreu, Maria.” A voz dela era baixa, tentando me acalmar. “Bruno teve um sangramento durante a retirada do órgão, mas foi contido. Ele precisou de uma transfusão de sangue e está na UTI. Precisa se recuperar antes de podermos vê-lo.”Suspirei, o a
**Maria Silva**Eu não queria enfrentar Débora. Passei dez dias no hospital sem ver Bruno, evitando qualquer tipo de problema. Meu foco era apenas Benício, que se recuperava muito bem."Mamãe, quando vamos embora daqui?""Eu ainda não sei, meu amor. Só quando o médico nos der alta."A porta do quarto se abriu, e lá estava Bruno, parado e nos observando. Ele já não estava com a roupa do hospital; vestia uma calça de moletom, camiseta e chinelos."Tio Bruno! Você veio me ver! Estava com saudades!" Os dois se abraçaram, e senti uma pontada no peito, percebendo que eu teria que abrir mão desses momentos. Eu havia tomado minha decisão: Benício faria parte da família Alcântara e Leão, mas eu, não. Não iria mais à casa deles. "Eu vim dar uma boa notícia para vocês.""Oi, Bruno. Você está bem?" Perguntei, querendo ter certeza. *Quer dizer, se recuperou bem?”"Sim, estou bem melhor. Por que não foi me ver? Esperei, mas você não apareceu.""Eu estava com Benício, cuidando dele." Menti.Levant
**Maria Silva**O sol despontava suavemente no horizonte, tingindo o céu com tons alaranjados, enquanto o avião pousava na pista deserta. Senti uma leve ansiedade se misturar à expectativa. Que lugar era aquele? O cheiro de grama fresca e o ar frio denunciavam que estávamos longe das cidades movimentadas e quentes. Assim que a porta do avião se abriu, Bruno saiu primeiro, me lançando um olhar de incentivo e estendendo a mão para mim.“Esse lugar é perfeito,” murmurei, absorvendo o ambiente.“Eu sabia que você ia gostar.” Ele sorriu, orgulhoso da surpresa.Aceitei sua mão e desci as escadas do avião. No colo, segurava Benício, que dormia profundamente, exausto de toda a viagem. A enfermeira ao nosso lado me ofereceu ajuda, mas recusei, sentindo uma estranha necessidade de manter meu filho perto de mim naquele lugar estranho e fascinante. A paisagem era diferente de tudo que eu já tinha visto. O verde da grama se estendia até se perder no horizonte, interrompido apenas pelas imponentes
Maria Silva**Eu abri os olhos devagar, o peso de uma mão descansando na minha cintura me fez congelar. A respiração quente e o cheiro amadeirado inconfundível estavam ali, ao meu lado. Bruno estava deitado comigo, os olhos fechados, mas as sobrancelhas franzidas, como se também estivesse em uma luta interna. “Bruno, o que você pensa que está fazendo?” minha voz saiu afiada, ainda baixa, mas cheia de indignação.Ele abriu os olhos lentamente, como se meu incômodo não fosse uma surpresa, mas um detalhe incômodo que ele escolhia ignorar. Em vez de se afastar, ele trouxe o rosto mais perto de mim, os olhos fixos nos meus com uma intensidade que me fez estremecer.“Só... não fala nada,” ele murmurou, como se o pedido fosse mais uma necessidade do que uma escolha. “Preciso só... sentir o seu cheiro por um momento.”Eu podia sentir meu coração martelando, um misto de irritação e aquele calor que ele sabia provocar. Eu sabia que deveria ter me levantado, expulso ele imediatamente, mas havia
**Maria Silva**Heitor estava parado ali, o chapéu sombreando seu rosto, mas com um sorriso de leve reprovação.“Essas uvas estão quase prontas para a colheita. Se você quiser, posso te trazer algumas. Mas essas daqui…” Ele fez uma pausa, como se escolhesse as palavras com cuidado. “Elas não são para você.”Soltei a mão das uvas, sentindo uma leve vergonha e dando um sorriso tímido.“Desculpe, eu estava só... curiosa.”Heitor assentiu, os olhos carregados de uma expressão quase acolhedora e observadora.“Curiosidade é o que faz a vida interessante, Maria. Espero que, durante esses dias aqui, você consiga aproveitar a calma desse lugar. E matar sua curiosidade com as uvas.”O vento frio soprou pelo parreiral, e senti uma tranquilidade que parecia incomum para mim. A presença de Heitor tinha algo reconfortante, como se a própria calma daquele lugar fosse refletida nele. Talvez esses dias na fazenda fossem mesmo o que eu precisava para organizar a cabeça. Olhei para ele mais uma vez, per
**Maria Silva**Eu e Heitor olhamos um para o outro e rimos, a expressão de Bruno era de um homem furioso, mas Maria não conseguiu se segurar e caiu na gargalhada. Bruno ficou irritado, seus olhos pareciam que iam explodir de raiva. Mas em minha espontaneidade, não consegui controlar o riso. O que poderia ter sido uma situação tensa se transformou em algo mais leve diante do olhar de fúria de Bruno, o que só fazia a cena parecer ainda mais ridícula para Maria.“Não estou achando graça nenhuma,” ele bufou, “espero que não demore, ninguém é obrigado a ficar esperando por vocês dois?” Bruno murmurou, quase com raiva.Eu sorri sem culpa, tentando me recompor. “Desculpe, vossa excelência, vamos acatar as suas ordens, longe de nós sermos mandados para a prisão por não ter cumprido sua sentença.”“Maria, não me irrite.”Bruno bufou, desconfortável com a situação. Ele sempre teve o controle sobre tudo, mas naquele momento parecia estar completamente fora de si. Pude sentir que ele não lidava