AnaPercebo que não estou em meu apartamento, olho em volta desanimada e vejo minha antiga sala, naquela casa, a mesma que o maldito do Zeca colocou fogo.Estou deitada há dias sem ao menos me levantar da cama, não tenho vontade de fazer mais nada. Sinto todo mal cheiro do meu cabelo que não foi lavado nos últimos quinze dias, minhas roupas quase fazem parte do meu corpo, pois, também não tenho trocado, sei que estou um trapo! Pego o controle com a mão para trocar de canal, a porta da sala se abre. Ela entra, minha mãe, toda extravagante como sempre, com suas unhas longas bem pintadas num tom de roxo e roupas justas demais.— Pelo amor se Deus, Ana! Você não vai continuar nesse estado deplorável — fala num tom bravo quando me vê.Fico parada olhando pra ela, não acreditando que é ela, minha mãe. Como senti saudades!— Vou contar até três e você vai levantar essa bunda do sofá e tomar um banho, assim não vai conseguir segurar o namorado por muito tempo. Bem típico de você né? — ela usa
AnaMarco segue para o restaurante e vou para o apartamento de Lili. Ela deve estar no maior mau humor, o final da gravidez não tem sido fácil e ficar sem Lucas por perto a desestabiliza. Como o bebê está para chegar ele conseguiu tirar férias, ou seja está minando bastante minha amiga, mas hoje ele tinha algo para resolver em uma cidade que fica a uns 75 km, então Lili deve estar se sentindo sozinha.Chego ao seu apartamento e aperto a companhia várias vezes e ela não atende. Bato na porta, grito e nada. Começo a me preocupar. Me lembro da chave que ela passou a deixar no vaso de planta depois que ela e Lucas resolveram morar juntos. Lili disse que Lucas sempre perdia suas chaves. Então uso desta estratégia, confiro nas plantas e sinto um enorme alívio ao encontrar as chaves bem ali.Abro a porta e vejo que a sala está vazia.- Lili!- chamo.Ouço alguns gemidos vindo do quarto e corro até lá.- Ai meu Deus, nem acredito que você está aqui - ela fala em lágrimas.Encontro minha amiga
AnaMeu coração está transbordando com o nosso grande dia, dia em que nossas vidas estarão unidas para sempre, nosso casamento. Não imaginava que as coisas fossem acontecer tão rápido entre a gente, mas na verdade descobri que o mais importante não é sobre o tempo que se conhece alguém, mas sobre o quanto essa pessoa tem feito a diferença em sua vida enquanto esteve contigo. Decidimos por uma cerimônia simples, apenas com a presença de um juiz, além da família de Marco, obviamente minha amiga Liliane e Lucas, e alguns poucos amigos. Eu não queria todo aquele glamour de um casamento convencional e religioso, Marco também não. Helena escolheu um espaço para eventos, um lugar incrivelmente lindo, ao estilo castelos Vitoriano, e confesso que mesmo achando exagerado, acabei aceitando e amando.O dia amanheceu bastante frio e chuvoso, bem diferente do que uma noiva tradicional sonha para este grande dia, mas enquanto analiso a chuva fina cair ao lado de fora, muitas coisas passam em minha
AnaAcordo sentindo todas as partes do meu corpo dolorida, acho que fiquei horas demais trabalhando na mesma posição em frente ao notebook. Depois que aceitei fazer algumas alguns trabalhos de campo, tenho me desdobrado. Apesar de não ser o que eu gosto, Marco tem me incentivado bastante com isso. Por falar nele, não o vi chegar ontem, o FontanniDuo está participando de um concurso dos melhores restaurantes da cidade e por isso o movimento triplicou além de que ele passa boa parte do tempo que sobra de folga, criando pratos novos. Nossos horários estão se desencontrando. Bufo ao notar a cama vazia, o que significa que ele talvez tenha saído cedo. Mas quando sinto um cheiro familiar invadir o quarto, sei que ele está aqui, em seu lugar favorito da casa, a cozinha.Tomo um banho rápido, pois, estou em cima do meu horário, visto um vestido de mangas compridas preto com bordados. Tenho aprendido a me vestir melhor, de forma mais elegante, meus cabelos estão presos no alto. Me abaixo par
Ana— Ana Jully! — ele fala meu nome com seu tom de voz grave.Não lhe encaro, tento olhar apenas para frente contando ansiosamente cada andar que o elevador irá subir até chegar na redação.— Olá... Nicolas — digo formalmente, para parecer educada.Sem notar estou esfregando as mãos, mais precisamente em minha aliança.— Então você se casou mesmo, com o falso... Mateo — ele ri de forma sarcástica.— Sim, eu me casei — tento não estender nosso diálogo e já aproveito para colocar as coisas em seu devido lugar. Lhe encaro: — E agora você está aqui e será o meu chefe. Vamos tentar tornar as coisas menos esquisitas, afinal somos adultos e civilizados.Ele me observa e confesso que isso me deixa irritada. Ainda mais que ele me analisa da cabeça aos pés.— Você está muito bem, senhora Jully.— novamente fala com sarcasmo ao me chamar pelo nome que odeio e ainda por cima como senhora. Parece não ter ouvido nada do que eu disse.Pela primeira vez o encaro nos olhos.— Olha aqui, Nicolas! — fal
AnaAcordo me sentido fraca, tento me lembrar do que aconteceu. Aos poucos me recordo da queda. Olho para os lados e parece que estou em um hospital, em uma enfermaria, meu braço esquerdo está imobilizado por uma tipóia e ainda dói um pouco.— Você rompeu os ligamentos do ombro. Precisará de bastante repouso para não fazer uma cirurgia. — Esta voz me é familiar, olho rapidamente e vejo a figura de Nicolas ao meu lado. Bufo:— Droga!Ele continua:— Precisou levar pontos no braço, mas seu tornozelo está bom, não houve torção.Aos poucos tudo fica nítido em minha mente, e a única coisa em que penso é em Marco, e se ele soube da minha queda, afinal ele já teve muito problema por hoje.— Avisaram meu marido?Quando termino a frase, Liliane entra no quarto, minha amiga parece preocupada comigo.— Ana, pelo amor de Deus como você está?Ela se aproxima e com seu jeito bronco me abraça. E é claro que dói. Eu gemo.— Vou ficar bem, eu acho.Somente neste momento minha amiga nota a presença d
AnaAcordo e ouço batidas de leve na porta, na sequência vejo a figura de Mara, uma senhora baixinha de cabelos escuros presos em um coque, ela tem me ajudado com a casa alguns dias da semana e até havia me esquecido que hoje ela vinha.- Senhora, Ana. Fiquei sabendo o que houve. Como está? - ela pergunta preocupada.Mesmo decepcionada por não ser o meu marido na porta, tento ser o mais gentil possível com ela, Mara é uma pessoa muito agradável.- Estou bem melhor, obrigada por se importar.Ela não parece muito convencida.Na verdade, meu braço está ótimo de verdade, mas meu coração está destroçado. Acordei com uma forte angustia no peito, dormi longe de Marco não foi nada bom.- Humm, vai precisar de algo?Faço gesto de cabeça de que no vou precisar de nada. Tento me levantar e ela se aproxima para me ajudar.- Mara, você sabe se meu marido já acordou? - pergunto temerosa em saber sua resposta.Fico imaginando se ela presenciou a mesma cena que eu vi ontem a noite, pelo menos me liv
AnaSaio da sala de Nicolas ainda um pouco surpresa com sua atitude. Pelo menos sinto que ele não se tornará mais um problema entre mim e Marco. Passo rapidinho na sala de minha amiga e lhe conto sobre minha conversa com ele. Lili fica tão surpreendida quanto eu. Depois da nossa conversa, ela me mostra um vídeo da pequena Lígia que já está ficando de pé sozinha, juntas rimos e babamos da fofura que ela é. Depois minha amiga insiste que eu devo ir atrás do meu marido e acertar as coisas. Por mais que eu saiba que Lili tem razão, sinto muito medo, pois nossa briga da noite anterior foi feia e as lembranças de Marco, completamente apagado de bêbado não foi nada bom de se ver. Minha amiga me dá um forte abraço. Não sei o que seria de mim sem ela. Nos conhecemos a pouco mais de cinco anos, mas Liliane tem se tornado como uma irmã.— Tudo irá se resolver, basta ter paciência. Vocês se amam, e o amor sempre vence! — Lili fala em meu ouvido enquanto me abraça. Me surpreendo ouvir minha ami