"Ouvi a enfermeira que cuida de mim dizendo para a cozinheira que a casa dela está cheia de ratos. Que ela conseguiu veneno para matar os roedores que estavam aparecendo no quintal da casa. Essa enfermeira me dá os remédios sem se certificar se realmente os tomei. É claro que não! Quando ela põe na minha boca, espero ela sair de perto para cuspi-lo fora. Tenho certeza que ela está junto com minha Tia Beatrice e com Carmem para me matar. Aliás, o que Tia Beatrice ainda faz no Brasil? Ela odeia isto aqui."
"Não consigo esquecer o que achei dentro das caixas do meu pai. Eu me sinto imundo. Por isso que quando tomo banho, vejo uma lama negra saindo de meu corpo sem conseguir limpá-la. Agora eu sei porque Tia Beatrice quer me matar... ela e Carmem. As duas! Agora eu sei porque eu preciso morrer.""Consegui o frasco do veneno que a enfermeira comprou. Esperei que ela saísse para almoçar e o pegueTudo a minha volta escureceu. Eu tentava descer as escadas do prédio o mais rápido que podia. Não havia tempo para esperar o elevador. Vi Marcus passar por mim com a velocidade da luz, desesperado descendo a escada pulando quatro degraus por vez enquanto minhas pernas só me permitiam descer de dois em dois. Tudo em mim estava trêmulo. Minhas pernas estavam trêmulas, minha respiração ofegante. Eu não sentia minhas mãos... A última coisa que vira fora Eleonor saindo da cozinha desesperada gritando por socorro e Beatrice histérica na porta do apartamento. Estávamos todos em choque. Eu descia e descia, mas os degraus não terminavam. Tentei me recompor, mas não conseguia. A única coisa que sabia era que Andreas tinha pulado da janela e então logo em seguida não consegui pensar em mais nada.Quando finalmente cheguei no primeiro andar e me direcionei a &aa
Entretanto, meu pesadelo ainda não havia terminado, viveria consumida dentro dele pelos próximos anos. A verdade é que eu estava com muito medo e não sabia ao certo se conseguiria superar todo o trauma, mas resolvi focar em manter-me otimista.Como manda o figurino ao chegar no hospital, dei duas batidinhas na porta da sala de Marcus que prontamente veio abrir, o que era bem atípico.- Entre por favor, Nicole.Seu perfume amadeirado continuava sendo sua marca registrada. Suas roupas pareciam mais impecáveis do que normalmente eram e mesmo que eu não soubesse como havia sido seus últimos dias com Juliana, era óbvio que suas olheiras o entregavam. Ele estava abatido, mas não menos arrumado, cheiroso ou estiloso.- Sente-se por favor.... - Ele pediu meio apreensivo.Olhei para Marcus tentando saber o que queria. Sim, tínhamos muitas coisas para conversar, mas precis&aac
BANDEIRA BRANCA O alarme do relógio tocava insistentemente. Estiquei o braço para desligá-lo mas a única coisa que consegui foi derrubá-lo junto com o abajur em cima da cabeceira, ao lado da cama. A minha cabeça latejava e o gosto ruim na boca provocava um embrulho no estômago. Assim que meus pés encostaram no chão, olhei para minha unha vermelha que mesmo com todo o esforço para não borrá-la após a manicure, tinha sido em vão. Além disso, meu calcanhar estava inchado, provável efeito colateral de uma noite regada a álcool e devassidão.
ESSE LIVRO FOI TOTALMENTE REVISADO E SE ENCONTRA NO FORMATO FÍSICO PELO DIRECT DO I*******M: @MONIQUEMM18 .... Após vinte dias de férias em Paris, finalmente pisei em solo brasileiro. Eu estava cansada, porém extremamente feliz e ansiosa para rever minha família e os amigos. O calor sufocante do verão já podia ser sentido logo no portão de desembarque, e não demorou para que eu avistasse minha mãe com o rosto ansioso e com os olhos lacrimejados a minha espera.Assim que dona Suely me viu, veio com passos largos e rápidos em minha direção. Nós nos abraçamos demoradamente com abraços sau
Logo que entrei na ampla cozinha, tirei a sapatilha e, apesar do calor que fazia lá fora, senti o gélido piso de porcelanato branco sob meus pés descalços, sendo tomada pelo cheiro da carne assando na churrasqueira.Olhei ao redor e, no entanto, nada havia mudado.A decoração moderna da cozinha que mamãe havia planejado no ano anterior continuava do mesmo jeito, com cadeiras acrílicas pretas e luminárias metálicas presas ao teto que combinavam perfeitamente com os móveis em marcenaria ao lado das bancadas de granito, fazendo-me sentir novamente em casa e não mais em um quarto vazio de hotel no centro de Paris.Eu já podia ver meus tios e primos na varanda do outro lado do aposento, assim como ouvia também o DVD do meu sambista favorito tocar ao fundo, enchendo a residência com o animado ritmo do samba.Tio Jorge, que chamávamos carinhosamente de tio Buda
Após uma recepção familiar calorosa, era hora de tomar banho, trocar de roupa, desfazer as malas, distribuir os presentes e finalmente descansar, afinal voltar para a rotina pesada do trabalho exigia organização e planejamento.O celular comercial que usava ao longo do ano fora deixado propositadamente em casa e desligado durante todo o tempo que estive fora. No entanto, ao ligá-lo, ele apitava sem interrupções, mostrando na tela trinta e cinco mensagens ao todo, de diversos pacientes particulares que aguardavam respostas sobre a minha disponibilidade de atendimento em domicílio, e embora o e-mail também não estivesse muito diferente disso, deparei-me com a caixa de entrada transbordando com assuntos pendentes do hospital.Dei uma olhada rápida e vi que os e-mails eram variados. Entre eles havia a planilha de escala mensal, sugestões de cursos e especializações, reuni&o
Na semana seguinte, quando cheguei ao hospital para iniciar o plantão que duraria longas doze horas, não escondi a felicidade em rever alguns colegas, sendo recebida afetuosamente pelos mais próximos, aqueles com quem tinha mais afinidade e que consequentemente dividiriam o dia comigo.—Bom dia, Nicole. Seja bem-vinda. Aproveitou as férias? - perguntou uma das recepcionistas com um invejável bom humor às seis e quinze.Trocamos algumas palavras antes de direcionar-me ao vestiário. Apesar de ser cumprimentada mais três vezes por enfermeiras e técnicas que, assim como eu, chegavam para trabalhar, sabia que encontraria mais conhecidos pelos arredores do hospital.Olhando-me no espelho, estava pronta oficialmente para retornar à rotina de plantões, devidamente uniformizada de branco, com o cabelo preso em coque, as canetas esferográficas no bolso do jaleco, cujo tamanho era acima do j
O carro de Marcus era um Corolla, ano 2014, preto, quatro portas, teto solar, painel reluzente e bancos de couro que faziam com que qualquer pessoa se sentisse extremamente confortável ao ponto de querer residir no automóvel. O aroma interno refrescante quase fez com que eu esquecesse dos reais motivos de estar ali dentro.Em um clique, o DVD Player se abriu, colocando-se para fora do painel e ligando automaticamente, tocando o ritmo inconfundível da música “Think”, da banda inglesa “Kaleida”, deixando-me incrédula na coincidência que me cercava. Além da música ser uma das mais tocadas nas rádios, por causa do filme que estourou na bilheteria dos cinemas, há o ator Keanu Reeves, interpretando o personagem John Wick, e a música que era uma das minhas favoritas para malhar.A situação como um todo parecia demasiadamente estranha. Marcus e eu ouvíamos a mes