Além dos livros que avistei nas estantes, havia outra repleta de discos de vinil. Eu só tinha visto discos assim durante a minha infância, e depois, por alguma razão, eles se tornaram acessíveis somente para colecionadores.
Será que Beatrice era uma colecionadora? Dei uma rápida olhada e deduzi que eles giravam em torno de trezentos a dois mil discos que, como os livros, estavam todos organizados, plastificados e separados por gênero musical. Era realmente impressionante.Mas não eram somente os discos e os livros que preenchiam o aposento. Na verdade, o escritório, que mais parecia uma biblioteca, também tinha uma estante vasta de CDs de todos os tipos de cantores.Essa estante ficava ao lado de uma curiosa estátua da deusa Vênus, que media mais ou menos um metro e meio de altura.A concha em que ela se apoiava de pé, com o corpo totalmente nu, apenas tendo o seu longoO progresso de Andreas durante meus dias de plantão fora muito pequeno. Quase imperceptível, mas ele existia, e isso me deixava totalmente otimista.A música de fato, teve efeito positivo durante seu sono. A leitura tinha sido ouvida com interesse, por mais que ele não demonstrasse. Eu sabia que ele me ouvia. Eu podia sentir que ele despertava lentamente de volta à vida nos últimos dois dias.Todo o processo levaria tempo. Tempo que nós tínhamos. Tempo que eu esperaria.No entanto, minha missão agora era outra. Eu me encontraria com Carmem para conversarmos mais sobre seu ex-marido, com o objetivo de poder conhecê-lo e ajudá-lo ainda mais.Eu decidira que o diário encontrado na caixa de fotografias de Andreas seria lido junto dele e para ele. Não teria sentindo algum ler escondida coisas que só diziam respeito a ele.A minha intenção era fazer com q
Saí da casa de Carmem com a cabeça explodindo de tanta informação e enjoada de tanto chá e biscoito amanteigado, mas era impossível ser rude ou mal-educada com a anfitriã. Ela, sem dúvida, era uma mulher rara e tinha me tratado tão bem que qualquer coisa que eu fizesse para magoá-la, jamais me perdoaria.Entretanto, durante a conversa, Carmem mencionou que Beatrice havia me fornecido inúmeras fotos de Andreas e da família, porém em momento algum o diário foi citado. Parecia que ele realmente estava esquecido, se é que elas sabiam de sua existência. Por dúvida, resolvi não falar nada.Os meses se passaram do melhor jeito possível. Andreas e eu interagíamos mais intimamente. Eu sentia que estava perfurando a bolha na qual ele tanto se escondia.Confesso que a leitura do livro de Ítalo Calvino nos aproximou bast
"Ouvi a enfermeira que cuida de mim dizendo para a cozinheira que a casa dela está cheia de ratos. Que ela conseguiu veneno para matar os roedores que estavam aparecendo no quintal da casa. Essa enfermeira me dá os remédios sem se certificar se realmente os tomei. É claro que não! Quando ela põe na minha boca, espero ela sair de perto para cuspi-lo fora. Tenho certeza que ela está junto com minha Tia Beatrice e com Carmem para me matar. Aliás, o que Tia Beatrice ainda faz no Brasil? Ela odeia isto aqui.""Não consigo esquecer o que achei dentro das caixas do meu pai. Eu me sinto imundo. Por isso que quando tomo banho, vejo uma lama negra saindo de meu corpo sem conseguir limpá-la. Agora eu sei porque Tia Beatrice quer me matar... ela e Carmem. As duas! Agora eu sei porque eu preciso morrer.""Consegui o frasco do veneno que a enfermeira comprou. Esperei que ela saísse para almoçar e o pegue
Tudo a minha volta escureceu. Eu tentava descer as escadas do prédio o mais rápido que podia. Não havia tempo para esperar o elevador. Vi Marcus passar por mim com a velocidade da luz, desesperado descendo a escada pulando quatro degraus por vez enquanto minhas pernas só me permitiam descer de dois em dois. Tudo em mim estava trêmulo. Minhas pernas estavam trêmulas, minha respiração ofegante. Eu não sentia minhas mãos... A última coisa que vira fora Eleonor saindo da cozinha desesperada gritando por socorro e Beatrice histérica na porta do apartamento. Estávamos todos em choque. Eu descia e descia, mas os degraus não terminavam. Tentei me recompor, mas não conseguia. A única coisa que sabia era que Andreas tinha pulado da janela e então logo em seguida não consegui pensar em mais nada.Quando finalmente cheguei no primeiro andar e me direcionei a &aa
Entretanto, meu pesadelo ainda não havia terminado, viveria consumida dentro dele pelos próximos anos. A verdade é que eu estava com muito medo e não sabia ao certo se conseguiria superar todo o trauma, mas resolvi focar em manter-me otimista.Como manda o figurino ao chegar no hospital, dei duas batidinhas na porta da sala de Marcus que prontamente veio abrir, o que era bem atípico.- Entre por favor, Nicole.Seu perfume amadeirado continuava sendo sua marca registrada. Suas roupas pareciam mais impecáveis do que normalmente eram e mesmo que eu não soubesse como havia sido seus últimos dias com Juliana, era óbvio que suas olheiras o entregavam. Ele estava abatido, mas não menos arrumado, cheiroso ou estiloso.- Sente-se por favor.... - Ele pediu meio apreensivo.Olhei para Marcus tentando saber o que queria. Sim, tínhamos muitas coisas para conversar, mas precis&aac
BANDEIRA BRANCA O alarme do relógio tocava insistentemente. Estiquei o braço para desligá-lo mas a única coisa que consegui foi derrubá-lo junto com o abajur em cima da cabeceira, ao lado da cama. A minha cabeça latejava e o gosto ruim na boca provocava um embrulho no estômago. Assim que meus pés encostaram no chão, olhei para minha unha vermelha que mesmo com todo o esforço para não borrá-la após a manicure, tinha sido em vão. Além disso, meu calcanhar estava inchado, provável efeito colateral de uma noite regada a álcool e devassidão.
ESSE LIVRO FOI TOTALMENTE REVISADO E SE ENCONTRA NO FORMATO FÍSICO PELO DIRECT DO I*******M: @MONIQUEMM18 .... Após vinte dias de férias em Paris, finalmente pisei em solo brasileiro. Eu estava cansada, porém extremamente feliz e ansiosa para rever minha família e os amigos. O calor sufocante do verão já podia ser sentido logo no portão de desembarque, e não demorou para que eu avistasse minha mãe com o rosto ansioso e com os olhos lacrimejados a minha espera.Assim que dona Suely me viu, veio com passos largos e rápidos em minha direção. Nós nos abraçamos demoradamente com abraços sau
Logo que entrei na ampla cozinha, tirei a sapatilha e, apesar do calor que fazia lá fora, senti o gélido piso de porcelanato branco sob meus pés descalços, sendo tomada pelo cheiro da carne assando na churrasqueira.Olhei ao redor e, no entanto, nada havia mudado.A decoração moderna da cozinha que mamãe havia planejado no ano anterior continuava do mesmo jeito, com cadeiras acrílicas pretas e luminárias metálicas presas ao teto que combinavam perfeitamente com os móveis em marcenaria ao lado das bancadas de granito, fazendo-me sentir novamente em casa e não mais em um quarto vazio de hotel no centro de Paris.Eu já podia ver meus tios e primos na varanda do outro lado do aposento, assim como ouvia também o DVD do meu sambista favorito tocar ao fundo, enchendo a residência com o animado ritmo do samba.Tio Jorge, que chamávamos carinhosamente de tio Buda