Carmela abriu a porta e me deparei com o quarto grande e ao mesmo tempo aconchegante. O teto era arredondado, certamente fazendo parte de uma das torres. Haviam enormes janelas em vidros quadriculados, que ocupavam quase todas as paredes. Na parte superior de cada uma delas vitrais em tons rosa com gravuras em formatos geométricos, algumas parecendo flores. A pintura era branca, puxado a um tom mais gelo, fosco. Tinha um lustre retrô pendendo do teto, quase sobre a cama. Esta, por sua vez, tinha um bom tamanho, um pouco menor que a do meu quarto em Alpemburg. A cabeceira era alta e estofada em branco com detalhes dourados, sendo coberta na parte de cima por um metal ouro envelhecido. Ao fundo da cama ficava uma das janelas e as outras duas na lateral direita. Tinha duas mesas de cabeceira com abajures minimalistas. Um grande recamier rosa estofado ficava aos pés da cama, que estava com lençóis e travesseiros com fronhas brancas e uma colcha em tom rosa envelhecido, combinando com a de
Estreitei os olhos e o rei começou a chamar-lhe a atenção. Sinceramente, não entendi a forma rude com a qual o homem me tratava, mas respondi de forma dócil: — Água, por favor, Alteza! — Temos espumantes de qualidade também. — Seguiu afrontoso. — Catriel! — A rainha chamou-lhe a atenção. — Prefiro não, Alteza! Não quero correr o risco de beber o juízo e sair por aí nua, mostrando meu bumbum ao mundo inteiro! — Devolvi a gentileza. — Oh, não! Você viu o bumbum dele? — A rainha lamentou, rindo divertidamente. Olhei na direção dele, sorrindo debochadamente, sem confirmar. Catriel não riu. Foi até o homem que preparava as bebidas e trouxe-me o copo de água antes que o serviçal o fizesse. Quando fui pegar da mão dele, nossos dedos se encontraram e senti sua pele gélida, talvez mais cortante que seu belo par de olhos azuis. — Obrigada, Alteza! — agradeci. Ele não disse nada. Seguiu com o olhar fixo no meu, sem sequer mostrar os dentes, com o semblante fechado. — Pode me chamar de
— Catriel, o que está acontecendo com você, porra? — Lucca levantou, vindo na minha direção.Estiquei meu braço, não deixando Lucca se aproximar:— Não se preocupe, Lucca... Não vou chorar por conta das “mal agradadices” de seu irmão. Não sou uma pobre princesa indefesa, caso pense isto de mim. Já passei por muita coisa na vida e superei. Não será um príncipe recalcado como você. — Apontei o dedo indicador na direção de Catriel. — Que me diminuirá enquanto mulher. Tenho total consciência que não lhe fiz nada. Só se sonhou comigo e lá, na sua imaginação com a minha pessoa, causei algum desconforto à vossa Alteza.— Odeio pessoas que bebem a consciência, causando o mal a terceiras, que não tem culpa alguma. — Catriel foi um pouco mais claro.— Eu não preciso e não irei discutir minha vida pessoal com você. Não lhe devo satisfações.— Mas espero que tenha dado ao homem que atropelou.Arqueei a sobrancelha, completamente atônita:— Não é da sua conta.— Aqui as leis são severas com relaçã
Lucca ficou em silêncio e seguimos um tempo sem dizer nada, pelo caminho suntuoso, cercado de árvores esplendorosas e altas, cheias de folhas, que balançavam com o vento fresco vindo do mar.— Se eu dissesse que nunca havia bebido antes, acreditaria em mim? — perguntei, apertando levemente o braço dele, apreensiva.— Sim, acreditaria. Porque sei que a imprensa só mostra o que vê e o que quer que suponhamos que aconteceu.— Você... Leu o que escreveram sobre mim?— Sim.— E pelo visto seu irmão... E certamente seus pais.— Sim — confirmou de novo de forma monossílaba.— Sabe aquele momento que você planeja uma coisa e dá tudo errado? Então... Foi o que aconteceu naquela noite. O paparazzi não era para estar ali. Para começar eu nem deveria ter bebido e sequer sabia que os espumantes estariam ali.— E seu segurança? Qual a relação de vocês?— Amigos.— Mas... Não cheguei a ver imagens, mas a notícia que se espalhou, de forma sensacionalista, era de que tinham um caso.— Um caso? — Eu ri
— E este? — perguntei, tentando tocá-lo, ao passo que o animal foi para trás, arredio.— Esta... — ele me corrigiu.— Olá, “Otária” — brinquei, admirando a égua. — Ela é... Linda.— Bem, meu irmão ficaria um pouco ofendido se ouvisse você chamando a égua dele de Otária. — Lucca foi irônico.Afastei-me imediatamente do animal, receosa:— Pensando melhor, nem é tão bonita! — Dei de ombros.A égua passou a relinchar e Lucca foi até ela, alisando-a até que se acalmasse.— Está tudo bem, Tempestade.— Tempestade?— Sim, esta é nossa bela Tempestade.— Nem parecido com Otária... — Arqueei a sobrancelha, analisando o animal perfeito.Sabe aquele sonho do príncipe chegando num cavalo branco? Então...— Por que o seu cavalo não é branco? — perguntei para Lucca.— Porque... Ele é marrom? — A resposta dele veio junto com uma quase pergunta.— Cavalos brancos são mais bonitos.— Discordo. Prefiro os marrons.— Quando você aparecer em Alpemburg para me salvar, por favor, use Tempestade e não Otári
— Max? — vociferei. — O que está fazendo aqui?— Você... Nos seguiu? — Lucca enrugou a testa, perplexo.— Alteza, prezo pela sua segurança. Jamais a deixaria sair sozinha com o príncipe desconhecido.— Ele... Não é desconhecido — argumentei.— O conhecemos há menos de 24 horas — lembrou.— Ele é um príncipe. Vem de uma família real, pública... Jamais me faria algum mal — aleguei.— Poderia matá-la e jogar o corpo no mar, Alteza. Jamais a encontraríamos. E sequer saberíamos a quem culpar.— Há câmeras pelos mais variados lugares aqui, Max. — Lucca alterou a voz. — Tenta me acusar do que, exatamente?— Não estou acusando, Alteza. Mas o rei de Alpemburg me pediu que fizesse bem meu papel de garantir a segurança de sua filha. E assim o farei. Já tiraram minha arma. E sinceramente não fiquei satisfeito com esta decisão que tomaram. Seguirei a princesa, por onde for, quer queiram, quer não.Dei passos largos, me afastando de Lucca e passando por Max, furiosa. Assim que saí do estábulo, fui
Virei-me para Max e lamentei, suspirando:— Ele é gay!— Sim, é — confirmou.— Já tinha se flagrado disto desde que o viu? Claro... — Lembrei dele ter convidado Max para irem ver a segurança do castelo e ri, balançando a cabeça. — Acho que ele está a fim de você, Max!— Não achei que ele fosse... Mas agora, vendo o olho maquiado... E lembrando da situação dele correndo nu, acusado de ter um caso com a duquesa...— Exato! Tudo planejado para tirar o foco de sua sexualidade e não desconfiarem de nada. Melhor fingir que come todas as mulheres do que assumir o que ele realmente é. Deve ser difícil para um príncipe assumir que é gay. Detesto admitir, mas tenho pena de Catriel. E o entendo.— A parte boa é que ele disse que não tem câmeras no quarto andar... — Max puxou-me pelo braço, agarrando-me enquanto abria a porta e me botava para dentro do quarto.Eu ainda estava abraçada a ele quando acendi a luz e deparei-me com Odette dormindo na minha cama, usando um bonito vestido vermelho e ain
Olhei para Catriel todo sujo de tinta e dei um passo para trás, tocando na tela, que tremulou e caiu sobre a segunda, que tentei segurar, derrubando três delas no chão.Mordi o lábio, nervosamente, olhando na direção dele:— Me desculpe!Ele chegou perto do estrago que fiz e percebi que o suco que eu trazia na mão também havia caído, sobre o trabalho dele.— Eu sinto muito, Alteza! — Abaixei-me e tentei juntar, mas ele impediu-me, pondo o pé sobre a tela e oferecendo-me a mão para que eu pudesse levantar.Aceitei a mão dele, levantando sem ver que a ponta do robe de seda estava sob o pé de Catriel.Agora eu estava somente de camisola rendada, curta e transparente, com o robe no chão e as mãos completamente sujas com a tinta que tinha também nas dele.Observei meus dedos enquanto ele esfregava as mãos, misturando as cores, sem mostrar os dentes ou olhar na minha cara.— Eu... Estava sem sono e fui fazer um suco... Então...— Não foi avisado que não deveria vir para esta ala?— Na verda