Grindan ainda gritava quando Wulfgar abriu os olhos assim que percebeu que tocava o chão novamente, o estômago de Gabriel revirando, o que parecia querer manda-lo para longe dali como alguém que recebesse um golpe de maça ou martelo, mas não havia tempo para aquilo, ainda mais quando Sofia quase despencava de onde estavam. Ela parecia ter aterrissado na beirada do alto do prédio onde estavam naquele momento, e mal havia sido puxada para perto de Wulfgar/Gabriel quando ouviram e sentiram a explosão. Ela parecia vir de um prédio do outro lado da rua, quase em frente, afinal os estilhaços, o calor e a onda de impacto parecia tê-los alcançado.
Era o prédio do museu que agora explodia na frente de policiais e bombeiros e de alguns repórteres que já haviam se posicionado nas redondezas. Provavelmente estivessem na festa e n&
Dezoito horas. Em uma sexta feira como todas as outras, qualquer um ficaria feliz naquele momento, por maiores que fossem as filas dos transportes públicos e os congestionamentos. Mas enquanto todos se preparavam para ir para suas casas, Sofia deixava a redação para o segundo turno de trabalho. Pensava quando, em seus anos de faculdade, sonhou que chegaria àquele ponto – presa em um carro com o ar condicionado quebrado, com o motorista e o fotógrafo indo em direção a mais uma cobertura das noitadas da Lapa, para mais uma noite mal dormida sabia-se lá ao som do quê. Abriu o laptop e acessou os dados da pauta – cobertura da final de um festival de bandas. Riu. Alguns poucos anos atrás era ela nos palcos dos festivais universitários. E quando poderia imaginar que justamente o fato de já ter participado de uma banda de folk metal a levaria &agr
Sofia acordou com uma luz branca em seus olhos e um falatório generalizado ao seu redor. Tentou se mover, mas algo prendia seu braço... Havia uma agulha, um tubo e uma garrafinha de soro com glicose. Ao longe, reconheceu a amiga, gesticulando intensamente, o jeito nervoso de sempre. Ao lado de Milena estava Gabriel, as roupas molhadas cobertas por um cobertor cinza de lã, os olhos verdes arregalados, a expressão de pânico. À direita dos dois, outras duas figuras estranhas que lembrava vagamente de ter visto na praia, assim que abriu os olhos. Dois homens altos, de cabelos longos e claros... Quem eram eles? Teriam sido eles que a resgataram? Sim, porque se não fossem, por qual outra razão estariam ali parados, carrancudos como duas estátuas? Mas se foram eles então... Por que estavam secos?Aquilo tudo já dava voltas em sua cabeça q
Apesar do calor absurdo que agora Sofia sentia, chovia. Uma chuva fina, nada que a impedisse de correr no calçadão de Copacabana em plena segunda-feira. Como era reconfortante colocar os headphones, ligar o som e correr na chuva fina, sem se preocupar com os carros no trânsito lento da Avenida Atlântica, sabendo que não havia horário para cumprir naquele dia, sem reuniões de pauta com as críticas avassaladoras de Irene, sua editora, sobre as pauta passadas, as fotos de Carlos e os cinco minutos de atraso graças à fila enorme na frente dos elevadores do prédio...Porém, Sofia tinha algo pior do que os ataques histéricos de sua chefe para se preocupar, enquanto corria supostamente para relaxar. A verdade é que seu cérebro parecia funcionar ainda mais rápido pensando em uma explicação
Sofia ainda ficou um tempo sentada no canto da cozinha observando os cacos espalhados pelo chão, tentando se recuperar do susto que a reação desesperada do jovem lhe causou. Também, não deveria ser algo fácil, descobrir que estava morto, ainda mais quando parecia estar tão vivo.Levantou e caminhou até a porta da cozinha, olhou para o corredor. Lá estava ele, sentado no chão da sala, as longas pernas esticadas cobertas por uma calça de couro e botas que vinham até quase os joelhos, as mãos cheias de anéis na testa, revirando os cabelos. Ao seu lado, agachado, estava o ruivo, o olhar de uma profunda raiva em sua direção. Mas se ele pretendia assustá-la, não conseguiu, e ela foi em direção aos dois.- Desculpem dar essa notícia assi
Dez minutos para as seis da tarde, e Sofia já estava no elevador, descendo para se encontrar com Gabriel. Mas ela não estava sozinha.- Por que gostam tanto de se prender dentro de caixas? – Perguntou Wulfgar, os olhos esbugalhados de pavor ao sentir o elevador descer.- Pois eu não obriguei ninguém a entrar aqui! – Respondeu Sofia, irritada.- Eu sei que não queria que fôssemos, mas se é verdade que o garoto pode ajudar, é claro que nós vamos. – Disse Wulfgar, com ar de tédio.- Como quiserem... – Começou Sofia, a expressão de quem não se importava, mas logo depois acrescentou, séria – Mas saibam que eu não poderei ficar falando com vocês na rua. Então,
Sofia saiu do carro e olhou para os dois lados para se certificar que ninguém a reconheceria como a desinibida do carro, antes de caminhar até o portão do prédio. Por sorte, só a dona Cotinha andava com seu pequinês histérico ao longe, e Grindan, que estava sentado na sarjeta ao lado de Wulfgar, caído, o que a preocupou.- O que aconteceu? – Perguntou Sofia.- Eu não sei... Caiu assim quando o empurrei para fora.- Ele desmaiou? – Perguntou Sofia.- Já viu alguém desmaiar de olho aberto? Além do que, acho que não desmaiamos... Ou será que sim? Esse negócio de ultrapassar paredes é muito ruim, deve ter sido demais... – Dizia Grindan enquanto Sofia lutava para não te
Sofia acordou com um acorde distorcido de guitarra.- A caixa! – Disse Wulfgar, apontando ainda um tanto assustado para o celular que piscava, tocava e vibrava em cima da mesa.Sofia respirou, admitiu que havia acordado e estendeu a mão para pegar o celular sem muito ânimo. Era uma mensagem de Gabriel.Espero que seu dia seja tão bom quanto a noite de ontem foi para mim. Boa volta ao trabalho. Gabriel.Sofia meneou a cabeça, aquela sensação de ressaca moral pelo que fizera com Gabriel na noite anterior, e que agora fazia com que ele se sentisse no direito de lhe mandar mensagens melosas. Ela não queria mensagens melosas. Talvez um desejo de boa volta ao trabalho sim, mas....De repente, Sofia se le
Sofia não sabia muito bem o que se passava com ela.Primeiro, foi a sensação de um esvaziamento, como se algo escoasse dela por todos os poros, juntamente com o suor que escorria frio por seu rosto, ao mesmo tempo em que tinha vontade de deixar o peso do corpo levá-la ao chão, enquanto ainda tentava chamar o nome de Wulfgar.Por que sentia aquilo? Não sabia. Da mesma forma que não sabia porque seguiu o som de um cachorro que rosnava para a esquerda, correndo o quanto podia para então, bem adiante, avistar aquela cabeleira loira indo em direção à praia.Tentou mais uma vez se perguntar por que fazia aquilo. Por que corria pela rua cansada, depois de um dia inteiro de trabalho atrás de um fantasma de gênio extremamente difícil que havia menos