Dez minutos para as seis da tarde, e Sofia já estava no elevador, descendo para se encontrar com Gabriel. Mas ela não estava sozinha.
- Por que gostam tanto de se prender dentro de caixas? – Perguntou Wulfgar, os olhos esbugalhados de pavor ao sentir o elevador descer.
- Pois eu não obriguei ninguém a entrar aqui! – Respondeu Sofia, irritada.
- Eu sei que não queria que fôssemos, mas se é verdade que o garoto pode ajudar, é claro que nós vamos. – Disse Wulfgar, com ar de tédio.
- Como quiserem... – Começou Sofia, a expressão de quem não se importava, mas logo depois acrescentou, séria – Mas saibam que eu não poderei ficar falando com vocês na rua. Então,
Sofia saiu do carro e olhou para os dois lados para se certificar que ninguém a reconheceria como a desinibida do carro, antes de caminhar até o portão do prédio. Por sorte, só a dona Cotinha andava com seu pequinês histérico ao longe, e Grindan, que estava sentado na sarjeta ao lado de Wulfgar, caído, o que a preocupou.- O que aconteceu? – Perguntou Sofia.- Eu não sei... Caiu assim quando o empurrei para fora.- Ele desmaiou? – Perguntou Sofia.- Já viu alguém desmaiar de olho aberto? Além do que, acho que não desmaiamos... Ou será que sim? Esse negócio de ultrapassar paredes é muito ruim, deve ter sido demais... – Dizia Grindan enquanto Sofia lutava para não te
Sofia acordou com um acorde distorcido de guitarra.- A caixa! – Disse Wulfgar, apontando ainda um tanto assustado para o celular que piscava, tocava e vibrava em cima da mesa.Sofia respirou, admitiu que havia acordado e estendeu a mão para pegar o celular sem muito ânimo. Era uma mensagem de Gabriel.Espero que seu dia seja tão bom quanto a noite de ontem foi para mim. Boa volta ao trabalho. Gabriel.Sofia meneou a cabeça, aquela sensação de ressaca moral pelo que fizera com Gabriel na noite anterior, e que agora fazia com que ele se sentisse no direito de lhe mandar mensagens melosas. Ela não queria mensagens melosas. Talvez um desejo de boa volta ao trabalho sim, mas....De repente, Sofia se le
Sofia não sabia muito bem o que se passava com ela.Primeiro, foi a sensação de um esvaziamento, como se algo escoasse dela por todos os poros, juntamente com o suor que escorria frio por seu rosto, ao mesmo tempo em que tinha vontade de deixar o peso do corpo levá-la ao chão, enquanto ainda tentava chamar o nome de Wulfgar.Por que sentia aquilo? Não sabia. Da mesma forma que não sabia porque seguiu o som de um cachorro que rosnava para a esquerda, correndo o quanto podia para então, bem adiante, avistar aquela cabeleira loira indo em direção à praia.Tentou mais uma vez se perguntar por que fazia aquilo. Por que corria pela rua cansada, depois de um dia inteiro de trabalho atrás de um fantasma de gênio extremamente difícil que havia menos
E então, como Sofia já desconfiava, e como já era de costume desde que Wulfgar havia chegado, ela sonhou. Mas desta vez, foi diferente. Muito diferente.Estava deitada em uma espécie de cama de pedra. Parecia estar dormindo, mas estranhamente sabia tudo o que acontecia ao seu redor. Havia um fogo azul que circundava o local onde estava, através do qual Wulfgar conseguia passar, como se não houvesse nada ali, aproximando-se dela para então beijá-la.Não era um beijo erótico, daqueles de cinema. Para dizer a verdade, era um beijo bastante sutil, delicado, como o do príncipe na Bela Adormecida ou na Branca de Neve. Sim! Era o tipo de beijo que os príncipes davam para acordar as princesas. E era o que acontecia com ela.Sofia abria os olhos e se levantava. P
Havia muita neblina, apesar de estar claro. Mesmo assim, parecia impossível perceber alguma coisa naquele mar de névoa.Mas o fato é que até aquele instante havia vagado em nuvens brancas e cinzas que agora davam a perceber algumas formas ao longe. Parecia... Não, com certeza, era uma floresta. Podia sentir as folhas debaixo dos seus pés, ouvia o farfalhar delas sob a barra do vestido, longo. Ouvia o piado de uma ave, sentia o cheiro da madeira e principalmente, o frio da neblina.E era só.Não havia mais nada ali. Ou melhor, aquilo parecia o nada, a sensação de que ela mesma havia se convertido em nada, que sua existência não passava de bruma, e principalmente, que estava só. Talvez como nunca havia se sentido em toda a sua vida. E conforme tentav
A lua cheia de duas noites atrás agora já começava a diminuir no céu. Talvez a maioria das pessoas ali presentes não reparasse nisso, mas Wulfgar sim.Na verdade, ele reparava em cada detalhe do local enquanto Milena tagarelava com Sofia, que ainda o olhava com aquele ar um tanto espantado, um tanto enigmático. O que teria acontecido com ela? Não parecia ser o medo de um esbarrão, afinal, ela mesma que havia insistido em tocá-lo antes... Será que a ama havia dito alguma coisa? Ou pior! Será que ela havia percebido a real intenção dele?Naquela hora, Wulfgar abaixou a cabeça, envergonhado, e pensou que uma das poucas coisas boas em se estar morto era que como um bom defunto, não deveria corar. Na verdade, aquela não era exatamente uma ótima qualidade para um
A luz do sol surgia tímida, rompendo o céu de um azul escuro, acinzentado, quando finalmente Sofia dormiu, um sono profundo, após a estranha euforia que parecia ter tomado conta da moça desde que deixou Gabriel falando sozinho e a fez prometer ajuda a Wulfgar. Aquela estranha euforia que vinha sabia-se lá de onde, e que a fazia tremer por dentro, mas não por medo, e sim por qualquer outro motivo que Sofia não sabia qual era, mas tinha algo a ver com a certeza de que a partir do momento em que conheceu Wulfgar, sua vida nunca mais seria a mesma.Não que aquilo fosse algo fácil de lidar. Muito pelo contrário, era um grande peso para ela, mas era impossível negar que por alguma razão ainda desconhecida, estava envolvida naquilo até a raiz dos cabelos. O mais estranho porém é que, por mais que aquela euforia a dei
Enquanto Wulfgar pensava todas essas coisas, Sofia sonhava.Havia uma batalha e Wulfgar estava nela, lutando bravamente contra um homem de quem ela não conseguia ver o rosto. Havia muita gente entre os dois, e até que ela o alcançasse, ele já estava caído, agonizante em seus braços.Um grito de dor saiu da sua boca, a sensação de desespero já conhecida. Mas não àquele ponto...Sofia então, pegou a espada do lado de Wulfgar, ergueu-a e cravou em seu próprio peito.A dor a fez acordar. Estava no sofá de casa, a cabeça recostada no ombro dele.- Shhh... Calma. – Dizia ele enquanto Sofia ainda olhava ao redor, assustada. – Foi apenas mais um sonho.<