De repente tudo ficou mais calmo, silencioso e frio.
Não havia nada ao redor de Sofia senão as nuvens que passavam por ela, que permanecia parada no alto de uma montanha. O vento batia em seu rosto, passava por seus cabelos enquanto Sofia mirava a imensidão verde que surgia bem mais abaixo. Lá, entre as árvores e rios havia algo que a chamava. Algo que visto dali parecia tão pequeno, tão simplório, delicado... Algo que ela deveria proteger. Em algum lugar estava ele, os cabelos loiros ao vento, o sorriso tímido, mas espontâneo, um braço forte, uma mente voltada para a estratégia, mas um coração voltado para o bem, o que transparecia naqueles olhos azuis tão límpidos. Era earl Wulfgar, filho de Raewald. Seu herói. Marcado pelas senhoras do destino como o homem que deveria abraçar a morte. E
As imagens rodopiavam na cabeça de Sofia. A visão que tinha do alto da montanha, o punhal, Wulfgar ressuscitando ao beber de seu sangue, aquela louca, o gosto de sangue em sua boca, a luta, a voz de Wulfgar a chamá-la, aquela sensação de ser beijada, a espiral que se formara ao seu redor conforme ela caía, a dor em seus pulmões, e o ar batendo em algo nas suas costas enquanto ela e Wulfgar pairavam no ar envoltos em luzes branca, dourada e lilás...De repente Sofia abriu os olhos, erguendo-se em um salto e levando as mãos até as costas para logo depois respirar um pouco mais aliviada. Não havia nada ali. E não parecia haver luzes de discoteca ao seu redor. Por sinal, o redor era conhecido. A cama coberta com o edredom rosa, as cortinas brancas, a luz do sol entrando pela janela e o que faltava para se reconhecer em casa: a figura
Wulfgar lutava para se controlar. E não era fácil. Ainda mais com os dedos de Sofia a percorrer seus braços, como que brincando de desenhar suas cicatrizes. Ela parecia encantada com o que via, com o que tocava, em um verdadeiro estado de graça ali, deitada ao seu lado, como uma manhã fresca de sol de primavera após um longo inverno. Tudo o que ele mais queria estava ali, ao alcance de suas mãos, invadindo sua alma a ponto de quase explodir, e ele sabia que aquela não parecia uma possibilidade tão absurda a se julgar por todas as lâmpadas que já haviam estourado naquela noite. Em outros momentos, sentia como se pudesse afundar naquela cama, como já havia acontecido antes, o que seria ridículo. Mas nada se comparava ao medo de simplesmente levar Sofia a um desmaio ao tocá-la como também era comum antes de aprender a se equilibrar.
Milena deixou escapar um grito quando as luzes de seu quarto (que ainda não haviam sido estouradas ou queimadas) começaram a fraquejar exatamente quando uma espécie de grito de Sofia chegou até seu quarto, acompanhado de um som que parecia algo entre um rugido e a voz de Wulfgar.- Ele vai matar a Sofia! Gabriel, precisa fazer alguma coisa!- E receber outro peso de mesa na cabeça e ganhar outros cinco pontos? Milena, pode ficar calma que o que está acontecendo naquele quarto não é um dos ataques do Wulfgar.- Pior! Já imaginou o que pode acontecer quando...- Prefiro não imaginar, mas a se julgar pela natureza dos envolvidos, acho que é melhor desligarmos os aparelhos elétricos. – Disse ele desligando o compu
Eram exatamente sete horas quando a campainha tocou no apartamento de Sofia e Milena.- A porta! – Gritou Milena, enquanto lutava para fechar o colar que parecia mais teimoso do que qualquer um dos fantasmas que estivesse no quarto com Sofia, o que significava que ela mesma teria que atender a campainha que tocava insistentemente.Milena então levantou a barra do vestido cor de ouro velho que vestia e correu até a porta que abriu sem ao menos olhar quem era, até porque pela hora só poderia ser uma pessoa.- Prendeu o dedo na campainha? – Perguntou ela para Gabriel. Mas não era o mesmo Gabriel com o qual estava acostumada.Gabriel tinha os longos cabelos castanhos presos em um coque, o que de certa deixava os incríveis olhos verdes a mostra, aind
Grindan ainda gritava quando Wulfgar abriu os olhos assim que percebeu que tocava o chão novamente, o estômago de Gabriel revirando, o que parecia querer manda-lo para longe dali como alguém que recebesse um golpe de maça ou martelo, mas não havia tempo para aquilo, ainda mais quando Sofia quase despencava de onde estavam. Ela parecia ter aterrissado na beirada do alto do prédio onde estavam naquele momento, e mal havia sido puxada para perto de Wulfgar/Gabriel quando ouviram e sentiram a explosão. Ela parecia vir de um prédio do outro lado da rua, quase em frente, afinal os estilhaços, o calor e a onda de impacto parecia tê-los alcançado.Era o prédio do museu que agora explodia na frente de policiais e bombeiros e de alguns repórteres que já haviam se posicionado nas redondezas. Provavelmente estivessem na festa e n&
Dezoito horas. Em uma sexta feira como todas as outras, qualquer um ficaria feliz naquele momento, por maiores que fossem as filas dos transportes públicos e os congestionamentos. Mas enquanto todos se preparavam para ir para suas casas, Sofia deixava a redação para o segundo turno de trabalho. Pensava quando, em seus anos de faculdade, sonhou que chegaria àquele ponto – presa em um carro com o ar condicionado quebrado, com o motorista e o fotógrafo indo em direção a mais uma cobertura das noitadas da Lapa, para mais uma noite mal dormida sabia-se lá ao som do quê. Abriu o laptop e acessou os dados da pauta – cobertura da final de um festival de bandas. Riu. Alguns poucos anos atrás era ela nos palcos dos festivais universitários. E quando poderia imaginar que justamente o fato de já ter participado de uma banda de folk metal a levaria &agr
Sofia acordou com uma luz branca em seus olhos e um falatório generalizado ao seu redor. Tentou se mover, mas algo prendia seu braço... Havia uma agulha, um tubo e uma garrafinha de soro com glicose. Ao longe, reconheceu a amiga, gesticulando intensamente, o jeito nervoso de sempre. Ao lado de Milena estava Gabriel, as roupas molhadas cobertas por um cobertor cinza de lã, os olhos verdes arregalados, a expressão de pânico. À direita dos dois, outras duas figuras estranhas que lembrava vagamente de ter visto na praia, assim que abriu os olhos. Dois homens altos, de cabelos longos e claros... Quem eram eles? Teriam sido eles que a resgataram? Sim, porque se não fossem, por qual outra razão estariam ali parados, carrancudos como duas estátuas? Mas se foram eles então... Por que estavam secos?Aquilo tudo já dava voltas em sua cabeça q
Apesar do calor absurdo que agora Sofia sentia, chovia. Uma chuva fina, nada que a impedisse de correr no calçadão de Copacabana em plena segunda-feira. Como era reconfortante colocar os headphones, ligar o som e correr na chuva fina, sem se preocupar com os carros no trânsito lento da Avenida Atlântica, sabendo que não havia horário para cumprir naquele dia, sem reuniões de pauta com as críticas avassaladoras de Irene, sua editora, sobre as pauta passadas, as fotos de Carlos e os cinco minutos de atraso graças à fila enorme na frente dos elevadores do prédio...Porém, Sofia tinha algo pior do que os ataques histéricos de sua chefe para se preocupar, enquanto corria supostamente para relaxar. A verdade é que seu cérebro parecia funcionar ainda mais rápido pensando em uma explicação