A lua cheia de duas noites atrás agora já começava a diminuir no céu. Talvez a maioria das pessoas ali presentes não reparasse nisso, mas Wulfgar sim.
Na verdade, ele reparava em cada detalhe do local enquanto Milena tagarelava com Sofia, que ainda o olhava com aquele ar um tanto espantado, um tanto enigmático. O que teria acontecido com ela? Não parecia ser o medo de um esbarrão, afinal, ela mesma que havia insistido em tocá-lo antes... Será que a ama havia dito alguma coisa? Ou pior! Será que ela havia percebido a real intenção dele?
Naquela hora, Wulfgar abaixou a cabeça, envergonhado, e pensou que uma das poucas coisas boas em se estar morto era que como um bom defunto, não deveria corar. Na verdade, aquela não era exatamente uma ótima qualidade para um
A luz do sol surgia tímida, rompendo o céu de um azul escuro, acinzentado, quando finalmente Sofia dormiu, um sono profundo, após a estranha euforia que parecia ter tomado conta da moça desde que deixou Gabriel falando sozinho e a fez prometer ajuda a Wulfgar. Aquela estranha euforia que vinha sabia-se lá de onde, e que a fazia tremer por dentro, mas não por medo, e sim por qualquer outro motivo que Sofia não sabia qual era, mas tinha algo a ver com a certeza de que a partir do momento em que conheceu Wulfgar, sua vida nunca mais seria a mesma.Não que aquilo fosse algo fácil de lidar. Muito pelo contrário, era um grande peso para ela, mas era impossível negar que por alguma razão ainda desconhecida, estava envolvida naquilo até a raiz dos cabelos. O mais estranho porém é que, por mais que aquela euforia a dei
Enquanto Wulfgar pensava todas essas coisas, Sofia sonhava.Havia uma batalha e Wulfgar estava nela, lutando bravamente contra um homem de quem ela não conseguia ver o rosto. Havia muita gente entre os dois, e até que ela o alcançasse, ele já estava caído, agonizante em seus braços.Um grito de dor saiu da sua boca, a sensação de desespero já conhecida. Mas não àquele ponto...Sofia então, pegou a espada do lado de Wulfgar, ergueu-a e cravou em seu próprio peito.A dor a fez acordar. Estava no sofá de casa, a cabeça recostada no ombro dele.- Shhh... Calma. – Dizia ele enquanto Sofia ainda olhava ao redor, assustada. – Foi apenas mais um sonho.<
Wulfgar e Sofia permaneceram juntos, olhando um para o outro, até Sofia dormir. Não havia mais o que ser dito. Não depois de tudo o que havia acontecido. De alguma forma, ela era responsável por ele, não havia como negar.Ela era uma feiticeira. Uma Valquíria, talvez. Aquilo poderia parecer assustador, especialmente considerando que não sabia o que havia feito para trazer Wulfgar de volta, mas de alguma forma, apesar da agitação inicial e do susto ao descobrir que podia se comunicar com uma deusa, aquilo lhe dava uma tranqüilidade que nunca havia sentido antes na vida. Era com se aquilo explicasse tudo e lhe desse confiança de que, no momento certo, ela faria o que deveria ser feito, ainda que não soubesse exatamente o quê.Nesse ponto, uma certa ansiedade ameaçava cruzar seus pens
Era noite. A lua já ia alta no céu, cheia, cândida, rodeada de estrelas que podiam se entrevistas através da cortina branca esvoaçante do quarto de Sofia. Uma típica noite de verão. Mas estava frio. Um frio incomum que subia pelo corpo de Sofia e a envolvia de uma maneira tão... Agradável.O cetim do lençol escorregava debaixo de seu corpo, enquanto seus dedos deslizavam por uma superfície estranha, como se pudesse se desfazer ao toque de suas mãos, mas ao mesmo tempo dotada de uma forte energia estática e com a forma de costas e braços bastante fortes.Sentia algo fino como gaze tocar seu corpo, subindo até o pescoço, ao mesmo tempo que sentia pontos de uma leve tensão energética, tão suave que não poderia chamar de choque, até po
Sofia abriu os olhos no dia seguinte sem a menor vontade de acordar. Havia tido uma noite péssima com vários sonhos em que as palavras de Wulfgar pareciam tomar forma, lembrando-a de uma vida juntos cheia de altos e baixos, mas também de um amor e confiança que eram evidentes em seu olhar. Aquele olhar que agora lhe revirava o estômago apenas de lembrar, quanto mais ao pensar em encarar. E foi assim que finalmente se decidiu a se levantar da cama: com medo.Bem, ao menos no seu quarto ele não estava. Também, depois da discussão da noite anterior, e com Milena dormindo encolhida em um canto da sua cama... Havia feito a amiga dormir ali justamente em uma das suas poucas noites de folga do hospital. Ao menos, aquilo assegurava que ele não estava por perto.Praticamente se arrastou para o banheiro, onde se arrumou, e
Milena finalmente conseguiu localizar o celular, e fazendo-o de lanterna, seguiu até a sala de onde parecia ter vindo o ruído, e se ainda havia alguma dúvida sobre o que havia acontecido ela desapareceu diante da visão do fantasma, antes invisível para ela, debruçado sobre Sofia desmaiada no chão. Wulfgar balançava Sofia, como se pudesse acordá-la, o corpo trêmulo (se é que poderia se chamar aquela nuvem de corpo), a voz grave entrecortada, como se chorasse (se fosse capaz de chorar), vociferando um bando de palavras que não faziam sentido algum para Milena.Só havia uma coisa que fazia sentido para ela, e era que ele ia matar Sofia daquele jeito. Então ela se jogou ao lado da moça, puxando-a para junto de si, para a surpresa de Wulfgar que parecia não ter gostado nem um pouco daquilo e fazia menç
Eram sete horas da manhã de segunda feira e Milena estava sentada em uma mesa de um quiosque na praia de Copacabana quando Gabriel chegou, correndo.- Ok, Milena, espero que realmente seja um bom motivo para me tirar da cama a esta hora no meu dia de folga.- Bom dia para você também Gabriel. – Disse Milena olhando-o por cima dos óculos escuros antes de puxar uma cadeira. – E se não é um bom motivo, é um motivo muito sério.- O que a Sofia aprontou dessa vez? – Perguntou ele se sentando.- Eu não diria dessa vez, nem exatamente que foi a Sofia... – Começou Milena de maneira confusa.- Vai com calma, Milena. O que aconteceu?- E se
Eram duas horas da manhã e Sofia ainda estava acordada. Fazia tempo que Gabriel havia ido embora e Milena foi dormir para encarar um plantão no dia seguinte. Sinceramente não conseguia compreender como ainda tinham estômago para fazer tudo como se nada estivesse acontecendo. Quanto a ela, não conseguia dormir e encarava o computador, sozinha em seu quarto, pois ainda não confiava em Wulfgar para ficar ao seu lado, ainda mais agora que ele se enchia de esperança. Uma esperança que parecia depender apenas dela.Trazer o fantasma de volta à vida! Era só o que lhe faltava! Já não bastava toda aquela coisa assustadora de sonhar com Wotan lhe dizendo que o Valhalla estava perdido para ele e que haviam sido punidos justamente por tentar fazer aquilo, tinha que tentar de novo? Ainda que conseguissem achar os corações de Wulfg