Enquanto estive no hospital, recebi vários folhetos, com explicações sobre a malária e como ela evolui, até para saber como cuidar.
Na minha recuperação, pude visitar uma biblioteca pública e pesquisar a história e a geografia da região, por saber que poderia aproveitar ao máximo o lugar.
Sobre a malária, era uma coisa desconhecida e perigosa para mim, mas depois de conhecer o tratamento e saber que, se seguisse as recomendações médicas, não abuse dos horários e locais mais infestados, foi possível controlar e sobreviver em boas condições.
Na mineração, ela é vista como companheira inseparável do garimpeiro e assume várias formas, sendo as mais comuns na região o vívax e o falsíparum.
A malária é transmitida pela fêmea do mosquito anofilis, quando é infectada pelo vírus denominado plasmódio. Da saliva do mosquito, o parasita vai para a corrente sanguínea do indivíduo, até se alojar em seu fígado.
Após uma semana de gestação, aparecem os primeiros sintomas, como calafrios e aumento da temperatura corporal.
Nesse estágio, ocorrem convulsões e a pele fica espinhosa, seguida de náusea, tontura e dor de cabeça. O paciente sofre e perde toda a vitalidade.
A partir dessa fase, o suor torna-se abundante e a temperatura corporal cai, repetindo essa situação, em períodos que variam de vinte e quatro a quarenta e oito horas.
O fígado é o órgão mais danificado e incha e o paciente está fraco e sem apetite.
O medicamento existente é feito de quinino, a hidroxicloroquina. São pílulas fortes que podem destruir a doença.
Como o órgão mais afetado é o fígado, não se pode beber álcool ou qualquer outro medicamento, pois pode diminuir o seu efeito e a malária volta.
Muito descanso é indicado e, aproveitei o fato de estar em recuperação, para conversar com as pessoas da região, conhecer suas características e saber o que era o garimpo do rio Madeira.
Naquela época, os livros de história e geografia que li, me ajudaram muito por estar na região.
Fiquei sabendo que milhares de garimpeiros como eu, vindos de Serra Pelada, já estavam instalados lá. Houve uma confusão tremenda, sem lei ou ordem como aquela. A lei que prevalecia era a vontade dos próprios garimpeiros, e o que importava era o ouro, com sua magia e ilusão.
Perguntei a algumas pessoas como começou a mineração ali e me disseram que por volta do ano mil novecentos e setenta e nove começaram a espalhar boatos de que o rio Madeira era rico em ouro. Aos poucos chegaram pessoas de fora e se juntaram à beira do rio, iniciando assim as primeiras escavações nas praias e nos barrancos. O próprio governo fez pesquisas e descobriu que havia ouro em todo o rio.
Como não poderia haver paralisação do rio, por ser navegável de Porto Velho ao Amazonas, então o governo liberou a área de Abunã a Porto Velho, por ser uma rota pouco navegável, devido às corredeiras e, porque na metade do ano, as águas caem tão baixo que a navegação neste trecho é quase impossível.
Eu me perguntei o que é o ouro, esse metal amarelo que atrai o homem desde o início de sua história e o envolve nas mais diversas confusões?
Muita coisa poderia ser respondida, mas por ser rara na natureza, representa riqueza; por ser brilhante, representa beleza; porque é caro, representa poder.
O ouro está ligado as grandes conquistas, grandes tragédias e amor.
Desperta nas pessoas que a possuem a ganância, a luxúria, a vaidade e, nos outros que não a possuem, a ganância, a inveja e o desdém.
Por esta razão, esta gama de sentimentos que envolve o ouro, torna-o misterioso e atraente, transformando para sempre aquele que o possui.
Eu me considero prisioneiro de seu poder, porque já provei seu mel e seu poder e, sei que é difícil se libertar, como a um vício.
Existe na natureza em várias formas; livre, incrustado em rochas, grãos ou pepitas e nas areias dos rios.
No rio Madeira, encontra-se misturado nas areias do fundo do rio, em partículas finas.
O mercúrio é usado na mineração para dissolver e aglutinar ouro, isolando-o da areia e de outras impurezas.
Transcrevo algumas páginas do livro do historiador de Porto Velho Amizael Gomes da Silva, escrito em seu livro Amazônia Porto Velho, sobre a história da região, com o objetivo de divulgar um pouco de sua história, por ele devidamente autorizado.
SANTO ANTÔNIO
O Padre João Sampaio fundou aldeias catequéticas na Madeira e auxiliado pelo governador de Santa Maria de Belém do Grão Pará, João da Maia Gama, iniciou o seu percurso até chegar à cascata do Aroaya em março de 1723, visando a difusão da sua fé.
No entanto, foram muitas as lutas entre os que tentaram, e sempre conseguiram, subjugar os indígenas para o trabalho escravo. E assim, a feroz Torá, os Mura não menos valentes, os Caripunas, os Pamas e outras nações indígenas foram tomadas à força, aldeões ou não.
Também chamada de devassa, visava limpar a região onde abundava o cacau, especialmente na presença dos Mura, lutada por todos - farmacêuticos oficiais, religiosos ou civis em geral - e defendida apenas por alguns membros da igreja, que consideravam tal guerra desnecessária.
PRIMORDIOS
No início, os tapiris eram construídos com telhados de colmo e rodeados de toras de madeira, ruas irregulares, no meio da mata e próximo à margem do rio.
No centro fica a igreja, também construída com o mesmo material, fortemente amarrada com embiras ou vinhas.
Em 1748, Manoel Félix de Lima, que fugia do Mato Grosso, descendo o Madeira, teria falado sobre as ruínas da aldeia de Santo Antônio das Cachoeiras, quando chegou a Belém.
Os ataques dos Mura, enganados e enfurecidos pelos portugueses, fizeram-nos fugir, pois diariamente aqueles selvagens trespassavam as flechas da aldeia, vingando os seus parentes levados como escravos para Belém; mudaram-se para Camuã, local logo acima da foz do rio Jiparaná.
Lá, sem apoio oficial, em uma região imprópria para a fundação de uma aldeia, os moradores da missão adoeceram.
Segundo os jesuítas, os Mura perseguiram-nos até à aldeia de Borba, chamada na época do Trocano e até ao ano de 1784, quando os padres decidiram adquirir dois pequenos canhões, com os quais se defenderam dos ataques selvagens.
Há muito tempo Santo Antônio estava abandonado. Os casebres teriam sido arrasados e, dos jesuítas, depois expulsos por Pombal, só havia notícia e o nome da cachoeira - Santo Antônio.
SANTO ANTÔNIO - A VILA - O MUNICÍPIO
Somente em 25 de janeiro de 1873, o governo da província de Mato Grosso decretou a criação da colonia Santo Antônio e, em 7 de julho, foi instalado o coletor de impostos. Naturalmente, devido ao fluxo de migrantes para coletar látex.
Segundo Osvaldo Cruz, que lá esteve como sanitarista em 1910, a aldeia então não tinha esgoto, água encanada e iluminação pública de qualquer espécie; gado foi abatido no meio da rua e lixo também foi jogado na via pública.
E em 26 de março de 1912, foram nomeados membros de uma comissão encarregada de instalar a sede do distrito de Santo Antônio ...
Com o despertar da aldeia, hoje cidade, a iluminação elétrica foi inaugurada no ano seguinte à transformação em município e, em 1914, foram inauguradas escolas públicas na sede e na Abunã.
A cidade mal nascera, já se encontrava no auge da morte e não resistiu ao crescimento de Porto Velho, que levou os seus habitantes até, com a extinção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, em 1966, a última casa que fora fechada - a estação.
Embora aquela casa voltasse a ser habitada por particulares, a cidade daquela época legou a Rondônia apenas a sua história de tantas tribulações, a igreja do santo que lhe deu o nome, e o cemitério, agora ampliado para receber os mortos de Porto Velho ...
TEOTÔNIO
A preocupação do governo português com o ouro da Madeira fez com que tomasse providências para que as viagens fossem feitas através do rio.
A partir daí passaram a escolher um local para colocar um procurador para anotar tudo o que subia ou descia do rio, pagando o imposto ou quinto do ouro extraído do canal do rio e seus contribuintes ou afluentes.
Quem fraudasse o fisco seria deportado para Angola, na África, por dez anos e perderia tudo o que possuía, inclusive escravos.
Em 1757, Teotônio da Silva Gusmão - depois de muita luta - chegou de Belém com um grande grupo, inclusive dois padres carmelitas.
Fundou o acampamento Nossa Senhora da Boa Viagem do Salto Grande. Na verdade, era conhecido pelo nome de seu fundador.
Procurei localizar no mapa o estado de Rondônia e descobri que ele está localizado na Bacia do Amazonas, sendo cortado pelos rios Madeira, Mamoré, Guaporé e outros rios menores. Limita-se ao norte com o Estado do Amazonas, ao sul com o Estado de Mato Grosso e a leste com a Bolívia.
Sua história está ligada à expansão dos pioneiros que deixaram a capitania de Mato Grosso pelos rios Guaporé, Mamoré Madeira e Amazonas, chegando à capitania do Grão-Pará.
Em meados do século 16, Antônio Raposo Tavares em busca de metais preciosos e ampliando os domínios da coroa portuguesa, fez esse percurso até o Grão-Pará.
Por volta de 1616, Francisco Caldeira Castelo Branco ocupou militarmente a foz do rio Amazonas, fundando o Forte da Natividade de Santa Maria de Belém do Grão Pará e iniciou a penetração e construção de fortes na Bacia Amazônica.
A partir de 1669, os jesuítas fundaram a aldeia de Tupinambarana, na foz do rio Madeira, dando início à sua penetração.
Em meados do século 18, o rio Madeira já era atravessado por traficantes de drogas, que também procuravam índios para escravizá-los.
Naquela época, o rio Madeira era conhecido como Caiarí, ou Rio Branco, tendo sido posteriormente transferido para a Madeira pelos portugueses, devido ao grande número de árvores arrancadas das margens e tomadas pelo rio.
Quanto aos índios, eram cerca de trinta e duas tribos desde a foz do rio Madeira até a confluência com o rio Mamoré.
Eles eram ferozes e selvagens, opondo-se ao invasor que os escravizou e matou.
A conquista foi feita pela força militar e pela ação dos padres jesuítas com as tribos.
O padre João Sampaio se destacou ao fundar a aldeia Santo Antônio das Cachoeiras, que foi transferida de vários lugares até finalmente se estabelecer acima da primeira cachoeira.
As principais tribos existentes na época eram Torá, Mura, Caripunã, Pumas e outras.
Muitas lutas foram travadas para limpar a região onde havia muito cacau. Essas operações foram chamadas de devassas.
Por muitos anos, Santo Antônio foi abandonado, devastado pelos índios Mura, como represália pelos atos de crueldade contra sua tribo.
A borracha era conhecida pelos missionários que a usavam para fazer sapatos e outros utensílios.
Belém se tornou o centro do comércio econômico da Amazônia, enquanto o império sofria sua pior crise econômica.
Com isso, grande quantidade de mão de obra foi atraída para as atividades extrativas.
A seca de 1877 empurrou milhares de nordestinos para o Pará e Mato Grosso, contribuindo para a colonização do rio Madeira no Acre.
Ondas de retirantes, atormentadas pela seca, se espalharam por todo o lugar em busca da seiva da seringueira e das riquezas naturais que a selva oferecia.
Os seringueiros chegaram à Bolívia ocupando e cultivando a área.
Essa ocupação se transformou em conflito armado e os brasileiros liderados por Plácido de Castro mantiveram o terreno conquistado.
Um acordo com a Bolívia era necessário para encerrar o conflito, culminando no Tratado de Petrópolis, liderado por Rui Barbosa e que previa a indenização de dois milhões de libras esterlinas e a construção de uma ferrovia do porto de Santo Antônio no rio Madeira até o Rio Madeira. porto de Guajará-Mirim, no rio Mamoré, além de outras cláusulas.
A construção da ferrovia começou em 1872 e não teve sucesso na primeira tentativa.
Somente em 1897 a empresa May, Jequil e Randolph, subsidiária da Madeira-Mamoré Railwai, dos Estados Unidos, chegou a Santo Antônio para reiniciar a recuperação da ferrovia existente.
Em 1907, as contratações de pessoal de todo o mundo se aceleraram, atingindo a marca de vinte e dois mil homens em 1912.
A grande maioria dos trabalhadores morreram de malária, pois a região era considerada a mais inóspita do país.
Ao mesmo tempo, Rondon chegou ao ponto de partida da ferrovia em Santo Antônio, depois de cruzar as regiões mais difíceis, em uma extensão de 1.415 quilômetros de Tabirapoã, no Mato Grosso.
A via aberta para o lançamento da linha telegráfica mais tarde se tornou o eixo da BR-364 que corta de sul a norte o estado de Rondônia, pontilhada por núcleos que depois se transformaram em municípios.
O local escolhido para o início do Caminho de Ferro Madeira-Mamoré foi muito afetado pela malária, estando também muito longe do local de desembarque das mercadorias.
Por isso ficou definido que a ferrovia partiria sete quilômetros antes, já em terras do Estado do Amazonas.
Em seguida, residências, armazéns, porto e outros edifícios foram construídos, dando início a uma nova cidade.
Em 2 de outubro de 1914, o governador do estado do Amazonas, Jonathas Pedrosa, sancionou a lei 757, aprovada pela Assembleia Legislativa, criando o município de Porto Velho, sendo instalado em 24 de janeiro de 1915, tendo como superintendente o Major Fernando Guapindaia.
Em 7 de setembro de 1919, foi elevado à categoria de município pela lei nº 1.011 do estado do Amazonas.
GEOLOGIA Na margem esquerda do rio Madeira, no extremo noroeste do Estado - na região do município de Porto Velho, ocorrem afloramentos de quartzitos associados a filitos, que fazem parte da formação Mutum-Paraná. Os sedimentos formados por arcos e conglomerados, que formam a formação Palmeiral, apresentam uma faixa Leste-Oeste, entre Mutum-Paraná e o rio Candeias. As rochas do embasamento foram submetidas a abundantes movimentos diaclassificados e foram responsáveis pela adaptação de diversos cursos d'água a essas linhas de fraturas e falhas, resultando na presença de níveis de bases locais que favorecem a formação de cachoeiras, como a do Teotônio, no rio Madeira e Samuel, no Jamari no meio de uma área granítica. Segundo Gross Braun, a extensão do vale do rio Madeira, que vai da cidade de Porto Velho até a cidade de Jaciparaná, repousa sobre terrenos sedimentares e não sobre subsolo. Em áreas muito
Cheguei blefado, duro e ainda por cima, chamado pelo mais experiente do garimpo do rio Madeira, de brabo. Como todo recém-chegado que chega, cheguei sem saber nada de mineração fluvial, totalmente diferente do tradicional. No rio, o principal elemento é a água e, o grande sacrifício, é enfiar a ponta da lança no fundo, por meio de um mergulho perigoso e incerto. Nas águas lamacentas e perigosas do rio Madeira, que tem uma corrente que é um verdadeiro tormento para os garimpeiros, estão instaladas as jangadas e dragas; onde os garimpeiros vivem e trabalham. Dos mil e quatrocentos quilômetros do rio Madeira, quase mil quilômetros são navegáveis. Nos quatrocentos quilômetros restantes entre Porto Velho e Guajará-Mirim existem cerca de vinte cachoeiras, formando uma das mais belas obras da natureza. O rio Madeira é formado pela união dos rios Bení e Mamoré com nascentes na Bolívia. O garimpeiro geralmente não tem capital, sua bagagem é a rede e el
Procurei o Felipe, que havia me convidado para trabalhar com ele na mineração, para saber quando partiríamos e, ele me disse, partiríamos na manhã seguinte. O seu plano era ir de carro até Abunã, onde o esperava o seu ferry, e subir o rio até Araras, que ficava a cerca de cinquenta quilómetros, aproveitando o fato de o rio estar cheio. Era abril do ano mil novecentos e oitenta e cinco, e até junho o rio baixava muito, então teríamos pouco mais de dois meses para ficar ali, quando então desceríamos o rio, levando melhor aproveitamento das atividades de mergulho. Na região amazônica, o período de chuvas começa de outubro a março, quando ocorrem as maiores enchentes. É o chamado inverno amazônico, porque quando não chove o dia todo, chove todos os dias. De abril a setembro as chuvas param e o volume dos rios cai muito, mostrando as diversas cachoeiras. Este período também é conhecido como verão. Apesar disso, ocorre algum frio nesta época, causad
Na manhã seguinte, acordamos assim que o sol apareceu, anunciando um novo dia. Assim que nos levantamos, encontramos o café quente, preparado pelo Chico, que havia acordado mais cedo. Ainda viajamos muito, com muita poeira pelo caminho, até que as primeiras casas, as cantinas, começaram a aparecer, indicando a proximidade de uma comunidade. Logo estávamos entrando na aldeia de Abunã, passando pelo cemitério, igreja, armazém seco e úmido, delegacia, posto de saúde e estação de trem. No rio Madeira, havia milhares de balsas por toda parte, formando uma enorme corrutela. Pessoas de todos os tipos circulavam por terra e pelo rio, barcos voadores iam e vinham, parecendo um enorme ninho de vespas. Assim que chegamos, Felipe nos levou até sua jangada, que ficava rio acima, ainda na orla de Abunã. Uma vez lá, encontramos a cozinheira, Dona Maria, a da história do Chico, que tinha caído na água. Eles também esperavam pela nossa chegada,
Já se passaram três meses desde que comecei a escrever este livro. Ainda estou aqui em Boa Vista, agora trabalhando como funcionária em um depósito de artigos diversos, que vende principalmente ferramentas, utensílios domésticos e materiais para a vida na selva. Desta forma, estou sempre em contacto com os garimpeiros, que partem daqui para a sua aventura na selva. Tive a oportunidade de conhecer vários companheiros de outras minas, inclusive Serra Pelada. Muitos me convidaram para ir com eles, mas ainda não é chegada a hora de partir, porque me comprometi com o Jonas e os índios. Depois de terminar de contar minha história, com certeza estarei seguindo meu destino em busca de ouro. Ainda não contei o que aconteceu comigo no rio Madeira, porque estou nessa situação, mas aos poucos você poderá entender melhor a minha vida. As memórias que guardo são o meu tesouro e, por onde vou, levo os meus sonhos, que um dia se tornaram realidade e depois se
Porto Velho para mim parecia uma cidade linda, comparada às palafitas. Suas ruas organizadas e seu comércio regular eram muito diferentes das estradas de terra, das favelas ribeirinhas. Meus olhos se acostumaram com o verde da mata e, meus sentidos, com o equilíbrio das águas, tudo era diferente agora, comecei a ver principalmente, os rostos das pessoas que passavam. Eu estava muito carente e ansioso para encontrar aquele que roubou um pedaço do meu coração. A incerteza sobre sua reação me deixou ainda mais tenso. Dúvidas surgiram em minha mente. Fiz perguntas como estas: - Ela vai me reconhecer? - Não foi tudo apenas uma ilusão? minha cabeça criou uma fantasia? Como não tinha muito tempo a perder, tentei me preparar para ir ao banco. Tomei um bom banho, coloquei minhas melhores roupas, fiz a barba e cortei o cabelo, que estava muito grande e mal cuidado. Aproveitei que ganhei ouro suficiente para depositar na minh
Na hora marcada, fui ao campo de pouso do aeroclube de Porto Velho e Alberto, o piloto, esperava por mim, aquecendo o motor de aço duro, um monomotor Cesna de seis lugares, que nos levaria até Abunã. Como tínhamos muita bagagem para carregar, ele só permitiu mais dois passageiros além de mim. Durante o vôo, ele me contou sobre sua vida como piloto de mineração de ouro, o que aparentemente foi bom, mas na prática havia muitos inconvenientes. Ele citou sua família como exemplo, que ficou muito tempo sozinha durante a viagem e não tinha certeza de vê-lo voltar com vida. Os constantes perigos enfrentados, principalmente devido às condições precárias das pistas, ao clima instável e às grandes distâncias sem pontos de apoio, foram os maiores problemas que sofreu diariamente. Ainda havia o risco causado por passageiros desconhecidos, muitas vezes psicóticos ou violentos, que ele tinha que carregar. O preço cobrado de trinta gramas de ouro, mais o vol
Já fazem quase seis meses que estou aqui em Boa Vista. Nesse período, além de escrever este livro, já visitei algumas vezes os garimpeiros. A mineração aqui cobre uma vasta área de terras e florestas, ao longo da fronteira com a Venezuela. São terras pertencentes à reserva florestal indígena, onde, na realidade, existem poucos índios. Porém, em cada trilha, em cada rio, que desce do maciço venezuelano, encontramos tribos espalhadas e, distantes umas das outras, por milhares de quilômetros. As expedições terrestres são as que mais sofrem para chegar aos locais de extração de ouro, pois são constantemente obrigadas a pagar pedágio aos índios, para passarem por suas terras. São mantimentos, ferramentas, armas e, claro, cachaça, o que deixa os moradores felizes. Devido à imposição da tarifa indígena, por ter sido institucionalizada e, os garimpeiros tiveram que transportar mais cargas, muitas pistas clandestinas foram abertas e a rota para a mineração passou a se