Vincent se sentou, puxou a manga do casaco e da camisa rasgados e empapados de sangue, para analisar o ferimento. Era ruim, sangrava muito, os dentes se cravaram profundamente e, de uma maneira geral, fluidos de demônios eram venenosos, até mesmo a saliva. Tinha que tratar aquilo o mais rápido possível, mas antes tinha que lidar com aquele problema.
Foi então que ouviu gritos de pessoas assustadas. Bash e o outro cão não estavam a vista, tinham dobrado uma esquina, mas havia um rastro de sangue na estrada que denunciava a direção a qual tomaram.
Vincent ficou em pé, ignorando seu braço latejante e a dor excruciante, correndo na direção dos gritos que só aumentavam.
Ao dobrar a esquina, Vincent encontrou caos total. Havia ao menos duas barracas completamente destruídas, espalhando maçãs, batatas e ovos para todos os lados. Pessoas corriam e gritav
Sam achava que Vincent já era naturalmente pálido, sua pele sempre teve um tom sobrenaturalmente branco, a mesma cor de açúcar e sal. O feiticeiro, certa vez, o explicou que era devido a uma condição rara que tinha, chamada albinismo. Achava que não era possível que a pele de Vincent se tornasse ainda mais clara, estava errado.Se havia uma cor ainda mais clara que o branco, então certamente era essa a cor que o feiticeiro exibia naquele exato momento. Havia uma fina camada de suor cobrindo o corpo de Vincent, suas veias pareciam tingidas de tinta preta, serpenteando obscuramente por sua pele quase transparente, subindo pelo braço ferido, até o pescoço, feito garras de sombras.Vincent estava deitado em sua cama, havia uma compressa fria em sua testa, June trabalhava incansavelmente na ferida horrenda no braço do feiticeiro. Ela havia limpado o sangue seco, fez Vincent tomar uma
Depois do jantar, Eleanore ficou em sua cama, sentada sobre o colchão sem saber o que fazer.Ficou ali, apenas encarando o espelho ovalado do quarto sem fazer nada especificamente. Passou-se um tempo, que ela não soube dizer qual, em que Eleanore permaneceu apenas sentada, observando cada mobilha ao seu redor.Quando já achou que havia esperado o suficiente, ela se levantou e pegou a lamparina, indo para o corredor, subindo as escadas para chegar ao quarto de Vincent. Quando estava em frente a porta entreaberta, ela a empurrou com calma, as dobradiças rangeram um pouco, mas o barulho não chegava a ser alto.Eleanore entrou no cômodo e o encontrou estranhamente vazio, exceto por Vincent deitado sobre a cama, reto feito um cadáver com o lençol cobrindo seu corpo até o peito. June não estava ali, o que foi um alívio, já que Eleanore não queria ser tratada novamente como da &ua
June colocou a bandeja sobre as coxas de Vincent, que segurou a colher, com a mão ligeiramente trêmula que ele disfarçou magistralmente. Ele levou a sopa até a boca e comeu três colheradas rapidamente, estava faminto.Depois, lentamente e com uma calma calculada, ele levou o copo d’água até a boca e tomou quase todo o conteúdo em duas grandes goladas.Ele suspirou, para tomar fôlego, antes de tornar-se a se concentrar na sopa.– Obrigado, June. Eu estava mesmo faminto.Ela estalou a língua com aquela carranca característica sustentada em seu rosto juvenil.– Você nunca cuida de si mesmo, Vince. Tá sempre chegando exausto ou machucado.– June – Ele esticou seu braço bom e colocou sua mão no joelho dela, de forma carinhosa e gentil – Não se preocupe.– Como nã
– Quem é agora? – Sam olhou para as grandes portas de carvalho.– Deve ser Dante, meu aprendiz. Deixe-o entrar, Amber – Minerva falou, lançando um olhar firme para o pássaro de fogo. – Garanto que é inofensivo.Bash e Amber trocaram um olhar cúmplice, por mais que a elemental não tivesse exatamente olhos, era possível saber onde estava sua atenção. O familiar anuiu com a cabeça e Amber se dissipou, suas chamas desaparecendo no ar. Logo em seguida, Bash fez um gesto com a mão e as portas duplas se abriram novamente.Parado atrás delas estava um garoto, não muito mais velho que a própria Eleanore. Ele usava uma calça preta justa, botas de couro, uma camisa de cor clara larga e um grosso casaco cor de vinho de veludo. Ele tinha uma pele ligeiramente bronzeada, como quem trabalha no campo, e cabelos castanhos dourados sut
Depois de passar um tempo sanando as dúvidas de Ellie, Vincent decidiu que não podia mais protelar a conversa com sua irmã.Ele a encontrou na sala do térreo tomando chá com Sebastian, que estava praticamente respirando contra o pescoço de Minerva, de tão perto que estava. Ver seu familiar assim tão próximo de sua irmã causou um certo enjoo em Vincent. Ele revirou os olhos, consternado.Vincent pigarreou, chamando a atenção de ambos. Minerva ficou em pé assim que o viu, deixando a xícara de lado, e teve que se concentrar para manter o equilíbrio.– Irmão, há quanto tempo.– Menos do que eu gostaria – disse Vincent friamente, agarrando com mais força a cabeça de corvo metálica de sua bengala. Ainda sentia dores pelo corpo, principalmente o hematoma em suas costas e a ferida no braço
Sebastian percebeu que havia algo de errado quando o rosto de Eleanore se contorceu, o cenho dela se franziu e a boca torceu para o lado, as sardas de seu rosto pareceram se agitar em sua pele. Ele pôde notar uma profunda agonia assolar a menina, seus olhos se arregalaram em completo horror.Então, ela gritou, os vidros das janelas explodiram, assim como o dos frascos pousados sobre as prateleiras. Vincent ergueu os braços e aparou os cacos facilmente, deixando que eles caíssem no chão com um tilintar inofensivo. Em seguida, as chamas lilases das velas aumentaram de uma forma preocupante, começaram a girar formando um sinistro tornado de chamas, que se elevou até o teto alto do castelo. O calor que invadiu o recinto chegou a pinicar a pele, causando um certo incomodo e fazendo brotar suor dos poros.Minerva e Vincent tentavam conter aquele fogo enlouquecido, ambos entoavam feitiços diferentes, mas os
A escuridão foi aos poucos se transformando em algo diferente, paredes cinzentas a cercaram, pequenas camas de colchão fino preenchiam o espaço e janelas cobertas por grades de aço. Crianças desconhecidas a rodeavam, mas ela sabia, de alguma forma, que eles eram todos do orfanato em que morava. Essas crianças a ridicularizavam, chamando-a de aberração, cria do Diabo, até que a jogaram contra o chão e começaram a chutar-lhe a barriga e as costas. Não gritou por socorro, porque, como já sabia, o socorro nunca viria.Tudo ao redor se transformou em névoa, modificando-se. Agora, estava encolhida sobre a cama, uma manta esburacada e mal cheirosa cobria-lhe o corpo, mas isso não era capaz de manter seu corpo aquecido e ela tremia intensamente. Foi quando uma senhora de pele cor de café parou à sua frente, haviam rugas no canto de seus olhos e seus cabelos eram bran
Eleanore abriu seus olhos e a primeira coisa que viu foi o céu noturno. Não, não era o céu, era um par de olhos azuis escuros estampados em um rosto bronzeado.Ela se assustou e se ergueu bruscamente, batendo a cabeça contra a dele.– Ai! – Dante recuou, cambaleando para trás, esfregando a mão contra a sua testa.O coração dela estava disparado no peito. Eleanore olhou ao redor e viu Dante ao lado da cama, Sam estava próximo à ele, flutuando. Amber, em forma de um pássaro, estava pousada na mesa que ficava abaixo da janela do quarto. Todos olhavam atentamente para a ruiva.Ela buscou se acalmar, convencendo-se de que estava no castelo e segura.– Você está bem? – Sam disse ao se aproximar dela.– Eu... – Eleanore pensou sobre o assunto. Ainda estava atordoada pelas lembranças de Vincent