Sam achava que Vincent já era naturalmente pálido, sua pele sempre teve um tom sobrenaturalmente branco, a mesma cor de açúcar e sal. O feiticeiro, certa vez, o explicou que era devido a uma condição rara que tinha, chamada albinismo. Achava que não era possível que a pele de Vincent se tornasse ainda mais clara, estava errado.
Se havia uma cor ainda mais clara que o branco, então certamente era essa a cor que o feiticeiro exibia naquele exato momento. Havia uma fina camada de suor cobrindo o corpo de Vincent, suas veias pareciam tingidas de tinta preta, serpenteando obscuramente por sua pele quase transparente, subindo pelo braço ferido, até o pescoço, feito garras de sombras.
Vincent estava deitado em sua cama, havia uma compressa fria em sua testa, June trabalhava incansavelmente na ferida horrenda no braço do feiticeiro. Ela havia limpado o sangue seco, fez Vincent tomar uma
Depois do jantar, Eleanore ficou em sua cama, sentada sobre o colchão sem saber o que fazer.Ficou ali, apenas encarando o espelho ovalado do quarto sem fazer nada especificamente. Passou-se um tempo, que ela não soube dizer qual, em que Eleanore permaneceu apenas sentada, observando cada mobilha ao seu redor.Quando já achou que havia esperado o suficiente, ela se levantou e pegou a lamparina, indo para o corredor, subindo as escadas para chegar ao quarto de Vincent. Quando estava em frente a porta entreaberta, ela a empurrou com calma, as dobradiças rangeram um pouco, mas o barulho não chegava a ser alto.Eleanore entrou no cômodo e o encontrou estranhamente vazio, exceto por Vincent deitado sobre a cama, reto feito um cadáver com o lençol cobrindo seu corpo até o peito. June não estava ali, o que foi um alívio, já que Eleanore não queria ser tratada novamente como da &ua
June colocou a bandeja sobre as coxas de Vincent, que segurou a colher, com a mão ligeiramente trêmula que ele disfarçou magistralmente. Ele levou a sopa até a boca e comeu três colheradas rapidamente, estava faminto.Depois, lentamente e com uma calma calculada, ele levou o copo d’água até a boca e tomou quase todo o conteúdo em duas grandes goladas.Ele suspirou, para tomar fôlego, antes de tornar-se a se concentrar na sopa.– Obrigado, June. Eu estava mesmo faminto.Ela estalou a língua com aquela carranca característica sustentada em seu rosto juvenil.– Você nunca cuida de si mesmo, Vince. Tá sempre chegando exausto ou machucado.– June – Ele esticou seu braço bom e colocou sua mão no joelho dela, de forma carinhosa e gentil – Não se preocupe.– Como nã
– Quem é agora? – Sam olhou para as grandes portas de carvalho.– Deve ser Dante, meu aprendiz. Deixe-o entrar, Amber – Minerva falou, lançando um olhar firme para o pássaro de fogo. – Garanto que é inofensivo.Bash e Amber trocaram um olhar cúmplice, por mais que a elemental não tivesse exatamente olhos, era possível saber onde estava sua atenção. O familiar anuiu com a cabeça e Amber se dissipou, suas chamas desaparecendo no ar. Logo em seguida, Bash fez um gesto com a mão e as portas duplas se abriram novamente.Parado atrás delas estava um garoto, não muito mais velho que a própria Eleanore. Ele usava uma calça preta justa, botas de couro, uma camisa de cor clara larga e um grosso casaco cor de vinho de veludo. Ele tinha uma pele ligeiramente bronzeada, como quem trabalha no campo, e cabelos castanhos dourados sut
Depois de passar um tempo sanando as dúvidas de Ellie, Vincent decidiu que não podia mais protelar a conversa com sua irmã.Ele a encontrou na sala do térreo tomando chá com Sebastian, que estava praticamente respirando contra o pescoço de Minerva, de tão perto que estava. Ver seu familiar assim tão próximo de sua irmã causou um certo enjoo em Vincent. Ele revirou os olhos, consternado.Vincent pigarreou, chamando a atenção de ambos. Minerva ficou em pé assim que o viu, deixando a xícara de lado, e teve que se concentrar para manter o equilíbrio.– Irmão, há quanto tempo.– Menos do que eu gostaria – disse Vincent friamente, agarrando com mais força a cabeça de corvo metálica de sua bengala. Ainda sentia dores pelo corpo, principalmente o hematoma em suas costas e a ferida no braço
Sebastian percebeu que havia algo de errado quando o rosto de Eleanore se contorceu, o cenho dela se franziu e a boca torceu para o lado, as sardas de seu rosto pareceram se agitar em sua pele. Ele pôde notar uma profunda agonia assolar a menina, seus olhos se arregalaram em completo horror.Então, ela gritou, os vidros das janelas explodiram, assim como o dos frascos pousados sobre as prateleiras. Vincent ergueu os braços e aparou os cacos facilmente, deixando que eles caíssem no chão com um tilintar inofensivo. Em seguida, as chamas lilases das velas aumentaram de uma forma preocupante, começaram a girar formando um sinistro tornado de chamas, que se elevou até o teto alto do castelo. O calor que invadiu o recinto chegou a pinicar a pele, causando um certo incomodo e fazendo brotar suor dos poros.Minerva e Vincent tentavam conter aquele fogo enlouquecido, ambos entoavam feitiços diferentes, mas os
A escuridão foi aos poucos se transformando em algo diferente, paredes cinzentas a cercaram, pequenas camas de colchão fino preenchiam o espaço e janelas cobertas por grades de aço. Crianças desconhecidas a rodeavam, mas ela sabia, de alguma forma, que eles eram todos do orfanato em que morava. Essas crianças a ridicularizavam, chamando-a de aberração, cria do Diabo, até que a jogaram contra o chão e começaram a chutar-lhe a barriga e as costas. Não gritou por socorro, porque, como já sabia, o socorro nunca viria.Tudo ao redor se transformou em névoa, modificando-se. Agora, estava encolhida sobre a cama, uma manta esburacada e mal cheirosa cobria-lhe o corpo, mas isso não era capaz de manter seu corpo aquecido e ela tremia intensamente. Foi quando uma senhora de pele cor de café parou à sua frente, haviam rugas no canto de seus olhos e seus cabelos eram bran
Eleanore abriu seus olhos e a primeira coisa que viu foi o céu noturno. Não, não era o céu, era um par de olhos azuis escuros estampados em um rosto bronzeado.Ela se assustou e se ergueu bruscamente, batendo a cabeça contra a dele.– Ai! – Dante recuou, cambaleando para trás, esfregando a mão contra a sua testa.O coração dela estava disparado no peito. Eleanore olhou ao redor e viu Dante ao lado da cama, Sam estava próximo à ele, flutuando. Amber, em forma de um pássaro, estava pousada na mesa que ficava abaixo da janela do quarto. Todos olhavam atentamente para a ruiva.Ela buscou se acalmar, convencendo-se de que estava no castelo e segura.– Você está bem? – Sam disse ao se aproximar dela.– Eu... – Eleanore pensou sobre o assunto. Ainda estava atordoada pelas lembranças de Vincent
Amber havia ordenado a casa que trouxesse comida para Eleanore, já que, um pouco antes, sua barriga roncara tão alto que fizera suas bochechas pegarem fogo de vergonha.Não demorou muito para que Eleanore estivesse sentada em frente à mesa, uma bandeja de prata estava bem diante dela, com um prato contendo assado, salada e batatas, além de um copo cheio de suco de maçã. Tudo parecia muito delicioso, mas antes de comer, ela voltou a atenção para Dante que, assim como Amber e Sam, continuava no quarto.– Não quer comer nada, senhor Hendrix? – ela perguntou educadamente.Dante ofereceu um sorriso cheio de dentes perolados à ela.– Não se preocupe, bela, estou bem. Além disso, foi você quem sofreu pelo feitiço, precisa mesmo comer.Eleanore comeu o assado, que estava divino. A magia que atuava no castelo cozinhava muito