– Quem é agora? – Sam olhou para as grandes portas de carvalho.
– Deve ser Dante, meu aprendiz. Deixe-o entrar, Amber – Minerva falou, lançando um olhar firme para o pássaro de fogo. – Garanto que é inofensivo.
Bash e Amber trocaram um olhar cúmplice, por mais que a elemental não tivesse exatamente olhos, era possível saber onde estava sua atenção. O familiar anuiu com a cabeça e Amber se dissipou, suas chamas desaparecendo no ar. Logo em seguida, Bash fez um gesto com a mão e as portas duplas se abriram novamente.
Parado atrás delas estava um garoto, não muito mais velho que a própria Eleanore. Ele usava uma calça preta justa, botas de couro, uma camisa de cor clara larga e um grosso casaco cor de vinho de veludo. Ele tinha uma pele ligeiramente bronzeada, como quem trabalha no campo, e cabelos castanhos dourados sut
Depois de passar um tempo sanando as dúvidas de Ellie, Vincent decidiu que não podia mais protelar a conversa com sua irmã.Ele a encontrou na sala do térreo tomando chá com Sebastian, que estava praticamente respirando contra o pescoço de Minerva, de tão perto que estava. Ver seu familiar assim tão próximo de sua irmã causou um certo enjoo em Vincent. Ele revirou os olhos, consternado.Vincent pigarreou, chamando a atenção de ambos. Minerva ficou em pé assim que o viu, deixando a xícara de lado, e teve que se concentrar para manter o equilíbrio.– Irmão, há quanto tempo.– Menos do que eu gostaria – disse Vincent friamente, agarrando com mais força a cabeça de corvo metálica de sua bengala. Ainda sentia dores pelo corpo, principalmente o hematoma em suas costas e a ferida no braço
Sebastian percebeu que havia algo de errado quando o rosto de Eleanore se contorceu, o cenho dela se franziu e a boca torceu para o lado, as sardas de seu rosto pareceram se agitar em sua pele. Ele pôde notar uma profunda agonia assolar a menina, seus olhos se arregalaram em completo horror.Então, ela gritou, os vidros das janelas explodiram, assim como o dos frascos pousados sobre as prateleiras. Vincent ergueu os braços e aparou os cacos facilmente, deixando que eles caíssem no chão com um tilintar inofensivo. Em seguida, as chamas lilases das velas aumentaram de uma forma preocupante, começaram a girar formando um sinistro tornado de chamas, que se elevou até o teto alto do castelo. O calor que invadiu o recinto chegou a pinicar a pele, causando um certo incomodo e fazendo brotar suor dos poros.Minerva e Vincent tentavam conter aquele fogo enlouquecido, ambos entoavam feitiços diferentes, mas os
A escuridão foi aos poucos se transformando em algo diferente, paredes cinzentas a cercaram, pequenas camas de colchão fino preenchiam o espaço e janelas cobertas por grades de aço. Crianças desconhecidas a rodeavam, mas ela sabia, de alguma forma, que eles eram todos do orfanato em que morava. Essas crianças a ridicularizavam, chamando-a de aberração, cria do Diabo, até que a jogaram contra o chão e começaram a chutar-lhe a barriga e as costas. Não gritou por socorro, porque, como já sabia, o socorro nunca viria.Tudo ao redor se transformou em névoa, modificando-se. Agora, estava encolhida sobre a cama, uma manta esburacada e mal cheirosa cobria-lhe o corpo, mas isso não era capaz de manter seu corpo aquecido e ela tremia intensamente. Foi quando uma senhora de pele cor de café parou à sua frente, haviam rugas no canto de seus olhos e seus cabelos eram bran
Eleanore abriu seus olhos e a primeira coisa que viu foi o céu noturno. Não, não era o céu, era um par de olhos azuis escuros estampados em um rosto bronzeado.Ela se assustou e se ergueu bruscamente, batendo a cabeça contra a dele.– Ai! – Dante recuou, cambaleando para trás, esfregando a mão contra a sua testa.O coração dela estava disparado no peito. Eleanore olhou ao redor e viu Dante ao lado da cama, Sam estava próximo à ele, flutuando. Amber, em forma de um pássaro, estava pousada na mesa que ficava abaixo da janela do quarto. Todos olhavam atentamente para a ruiva.Ela buscou se acalmar, convencendo-se de que estava no castelo e segura.– Você está bem? – Sam disse ao se aproximar dela.– Eu... – Eleanore pensou sobre o assunto. Ainda estava atordoada pelas lembranças de Vincent
Amber havia ordenado a casa que trouxesse comida para Eleanore, já que, um pouco antes, sua barriga roncara tão alto que fizera suas bochechas pegarem fogo de vergonha.Não demorou muito para que Eleanore estivesse sentada em frente à mesa, uma bandeja de prata estava bem diante dela, com um prato contendo assado, salada e batatas, além de um copo cheio de suco de maçã. Tudo parecia muito delicioso, mas antes de comer, ela voltou a atenção para Dante que, assim como Amber e Sam, continuava no quarto.– Não quer comer nada, senhor Hendrix? – ela perguntou educadamente.Dante ofereceu um sorriso cheio de dentes perolados à ela.– Não se preocupe, bela, estou bem. Além disso, foi você quem sofreu pelo feitiço, precisa mesmo comer.Eleanore comeu o assado, que estava divino. A magia que atuava no castelo cozinhava muito
O nome afetou Vincent visivelmente. Sua postura relaxada se tornou rígida, ele se empertigou, ficando ereto e virou de costas para Eleanore, cruzando os braços.– O que você viu? – ele perguntou com a voz mais dura.– Vi quando vocês se conheceram na floresta de pinheiros... Eu vi vocês f-fazendo... vocês dois hum... Sabe, como homem e mulher. – Àquela altura o rosto de Eleanore estava da cor de seu cabelo.Vincent se voltou para ela com a expressão suavizada. Seus olhos estavam bem abertos, expondo bastante de sua íris violeta.– Entendi. Você sabe o que estava acontecendo?– Minha tia Eveline me explicou como que se faz... os bebês. Ela sempre disse que era doloroso para as mulheres, que não era uma coisa que nós fossemos gostar, que era desagradável e ruim. Mas a Calliope não parecia... &n
O dia mais curto do ano, a noite mais longa, ela lera isso no livro sobre astronomia. O solstício de inverno era o momento em que a Terra estava o mais distante possível do Sol.Eleanore caminhou pelo seu quarto inquieta, os braços estavam firmemente cruzados à frente do corpo, como se fossem um escudo. Ela ergueu uma de suas mãos e torceu um de seus cachos em seu dedo indicador, enquanto mordia seu lábio inferior.Durante a maior parte de sua vida, Eleanore sabia que tinha apenas um propósito na vida, casar-se, ser a esposa de um homem e gerar seus filhos. Sempre teve a certeza de que era apenas uma garota triste e solitária, porém, completamente ordinária. Foi por estar cansada demais dessa sua vidinha miserável que fugiu de casa, sem qualquer esperança.Jamais esperou que isso fosse leva-la à um castelo mágico, lar de um feiticeiro e de demais criaturas fant&aacu
Vincent desceu as escadas naquela manhã com uma preocupação pairando ao seu redor, feito uma nuvem de tempestade trovejando sobre sua cabeça. E aquilo em nada tinha a ver com o que Minerva falara sobre a suspeita do Conselho da Magia ou sobre Eleanore ser uma Fonte.Aquela noite seria tenebrosa, como todas as outras noites como aquela nos últimos vinte anos. Mesmo sendo ainda bem cedo, ele já podia sentir a marca em seu braço arder.Sebastian estava espalhado em um dos sofás com um sorriso torto nos lábios.– Bom dia, meu feiticeiro favorito – o familiar cantarolou – Dormiu com a ruivinha hoje?– Que?! – Vincent grasnou, perplexo.– Dormiu com a ruivinha, GRA! – gritou Dimitri, que estava empoleirado sobre a lareira.– Quieto, Dimitri – Vincent bramiu para o corvo, enquanto segurava a ponte de seu nariz