Vincent já tinha andando por aquela floresta muitas vezes, reconhecia os pinheiros e as estradas esculpidas na terra. Mas, naquele dia, havia algo de diferente, um cheiro estranho no ar, um gosto metálico que impregnava na boca.
Foi quando viu aqueles corpos caídos no chão, o sangue banhando a terra. Ao chegar mais perto, pôde ver os buracos feitos por facas e outros objetos cortantes. As tendas que antes haviam ali estavam foram queimadas, ou simplesmente destruídas, reduzidas a escombros.
O feiticeiro sentiu como se alguém tivesse lhe arrancado o coração e o reduzido a pó bem diante de seus olhos. O desespero deformava suas feições.
– Callie! – ele gritou a plenos pulmões – Callie! Calliope!
Depois de muito checar os corpos, não encontrando nenhum sobrevivente, apenas mais provas de um massacre
Quando tudo acabou, Vincent estava sozinho, deitado sobre o chão poeirento, o pó das pedras cobria seu corpo e o chão frio à suas costas resfriava sua pele. Cada fibra de seu ser latejava como se fosse se quebrar, seus músculos doíam, a fadiga pesava sobre ele como se chumbo o cobrisse dos pés à cabeça. Estava cansado física, emocional e magicamente. Teria matado Max, tinha certeza disso. Ele queria mata-lo. Queria matar seu irmão que costumava sempre colocá-lo pra dormir, pra quem lia histórias, já que Max não podia ler, com quem treinou magia, com quem costumava trocar confidencias e piadas, com quem fugia de casa para passear a noite pela rua e explorar a floresta. Queria matar aquele que um dia dissera que sua alma era linda, que dissera que Vincent era o mais talentoso dos feiticeiros, seu irmão que afagava carinhosamente seu cabelo quand
Eleanore estava novamente em seu quarto, sem parar de pensar que, a agonia que sentira antes, estava intimamente ligada com a repentina aparição daquela mulher.Por mais que estivesse cansada, já que tinha treinado a manhã toda e em boa parte da tarde, embora seus músculos estivessem fadigas e suas pálpebras pesassem, ela era incapaz de adormecer. Eleanore permanecia andando em seu quarto de um lado a outro, feito um animal enjaulado, movendo a medalhinha que fora de sua mãe pela corrente de ouro.E Vincent? O que será que havia acontecido com ele? Será que, se dormisse, poderia ver através dos olhos dele e descobrir? Não, ela não podia controlar essas coisas.Ela andou pelo cômodo até a mesa embaixo da janela, apoiou suas mãos sobre o tampo de madeira e se inclinou para a janela. O vento frio acariciou seu rosto, agitando seus cachos avermelhados, que tremula
Era novamente aquela fera, bufando ferozmente, a respiração quente e pesada soando audivelmente. Ela ergueu seus olhos e, logo à sua frente, vislumbrou uma figura alta e esguia, a pele de bronze, cabelos negros e olhos... Maximus Lennox.O irmão de Vincent a olhava com pesar, estava assustado, mas acima de tudo ferido.Um rugido feral soou do fundo da garganta de Eleanore e, sem mais nem menos, ela partiu para cima de Maximus. As poderosas patas atingiam o chão de maneira bruta, movendo-se velozmente por aquele lugar que... estava em chamas.Não conseguiu, porém, avançar sobre Maximus, pois este fez um brusco movimento com as mãos e Eleanore foi lançada para o lado, seu enorme corpo atingindo o chão com um estrondo. Ela rosnou e tornou a ficar em pé, os olhos se cravando no feiticeiro.– Então, é nisso que você se transforma, Vince? –
– Vincent! Vincent! Vincent! – Ellie acordou bruscamente ao ouvir os gritos vindos de fora do quarto. Sam não estava mais com ela.Ela se levantou em um átimo, olhou para o feiticeiro, mas ele ainda dormia.Eleanore se dirigiu para a porta, mas antes que pudesse abri-la, ouviu um bater de asas e o corvo pousou em seu ombro, quase matando-a de susto. Ela não o afastou, simplesmente abriu a porta e deu de cara com aquela mulher de ontem, que surgira na sala.Os olhos dela estavam bem abertos e ela parecia bem assustada.Logo em seguida, a porta do quarto de June se abriu e a própria saiu. Não demorou para que Sam surgisse, assim como Bash e Dante. Todos muito curiosos. June estava irritada.– Onde está Vincent? – a mulher perguntou, nervosa.– Primeiro, quem é você? O que você faz aqui? – June questionou, muito séria.&nbs
Vincent havia prometido a si mesmo que não faria isso de novo, que não agiria como o bom samaritano de alguém, que não ofereceria um lar para outro ser novamente. Mas aquela garota era especial, ele sabia, ele sentia isso. Não se podia deixar um alguém tão valioso sofrendo com fome e com frio largado em uma rua molhada. Eleanore soube disso naquele instante, a informação simplesmente invadiu seu cérebro, como se sempre estivesse estado lá.– Gostaria de ir para um lugar seguro, quente e seco, Katarina? – Eleanore ofereceu a mão pálida de Vincent à garota.Por mais improvável que fosse, aquela menina feroz e indomável colocou a mão sobre a sua, deixou que ela a ajudasse a se levantar. Não soltou nem quando já estava em pé.– Você é diferente – ela disse.– Co
Aquele era um dia especial, era o solstício de inverno, a noite mais escura do ano. O outono chegara ao fim, todas as folhas já haviam caído e a neve viria. Mas não apenas isso, era enfim o aniversário de dezoito anos de Eleanore.Estava assustada, para dizer o mínimo. À noite, descobriria se era realmente um ser místico dotado de um forte poder mágico, uma Fonte. Não sabia exatamente que tipo de mudanças isso traria, nem mesmo sabia ao certo o que isso significava.Ela abraçou o próprio corpo, para se controlar. Não podia se permitir ter medo agora, tinha que ser forte e enfrentar o que fosse. “Não pode ficar assim tão assustada, as pessoas se aproveitam do seu medo”. June lhe dissera aquilo certa vez e, agora, mais do que nunca, as palavras faziam sentido. Não podia se dar ao luxo de ser vulnerável.Segurou a medalhinha de s
O feiticeiro segurou a mão dela contra seu peito, Eleanore podia sentir as batidas fortes e firmes de seu coração. Seu olhar era tão intenso, que a ruiva sentia-se incapaz de desviar a atenção, quase como se a íris violeta de Vincent fosse hipnótica.– Hoje é seu aniversário, não é? – ele questionou, olhava tão profundamente nos olhos dela, que Eleanore achou que fosse possível que ele tivesse lido a informação em sua alma.– Aniversário! GRA! – Dimitri grasnou da estante onde estava – Parabéns pra você.– Sim, é hoje. – ela confirmou.– O selo...Eleanore balançou a cabeça, negando.– Não sinto nada diferente. Mas eu nasci à noite, então talvez só vá descobrir nesse momento
– June, posso entrar? – Vincent perguntou, após bater à porta do quarto dela.Não houve resposta, então ele cautelosamente adentrou o cômodo.June estava sentada no parapeito da janela, abraçada as suas pernas, olhando para o jardim dos fundos, para as folhas de Flidas agitadas pelo vento. Uma brisa gélida invernal entrava pela janela e deixava o quarto mais frio, porém, June não parecia se importar.– Podemos conversar? – o feiticeiro pediu.A menina suspirou.– Será mesmo que precisa, Vince? Você sabe o que uma puta significa pra mim e mesmo assim... Achei que Eleanore fosse a última. E agora, isso, meu herbário. Quando vai acabar?– Eleanore não é uma puta. – Vincent esfregou a mão em sua testa, soltando o ar. – June, a Maggie não tinha para onde ir, eu