Camélia volta a baixar o olhar envergonhada e, perante o seu gesto interrogativo, explica-lhe que o advogado Oliver também é seu melhor amigo. É assim que se mantém a par de tudo, pois os três são melhores amigos desde a infância.
—Posso dar-te um conselho? —pergunta com cautela.—Está bem, preciso mesmo —suspira Camélia.—Deixa que o Ariel acorde, saiba de tudo e seja ele a decidir, não tu. Estavas com ele, desconhecias as armadilhas que vos prepararam. Soube que quase te obrigaram a casar para pagar uma dívida —olha-a nos olhos e vê como ela os abre surpreendida, sinal de que não sabia de nada, o que lhe confirma que a família agiu às suas costas—. Não sabias?—Não, não quis que me contassem nada deles —esclarece Camélia.—É melhor manteres-te afastada &mdManuel senta-se à frente dela, que continua a comer tranquilamente sem olhar para ele, concentrada nos seus pensamentos. Ele pigarreia para chamar a sua atenção. Ela levanta o olhar para o observar em silêncio.—Camélia, queria primeiro pedir-te desculpa por não te ter avisado sobre os chocolates. Graças a Deus que te foste embora enquanto levei o Leandro a dar uma volta —começa Manuel, para espanto dela—. Na verdade, ele e eu não somos amigos. É um abusador, reconheço, tinha medo dele. Por isso o seguia em tudo, mas nunca concordei com nada do que te fazia.—Não há problema, Manuel, já passou tudo e ele está preso —responde Camélia com serenidade—. O que fazes aqui, estás doente?—Sim, os meus rins não estão muito bem —responde e muda logo de assunto—. Como está o chefe? Soube
Oliver olha-o sem entender o motivo de tal pedido. Marlon explica-lhe que não lhe cabe na cabeça que aquelas pessoas terríveis sejam realmente os seus pais biológicos. O advogado acena afirmativamente, embora o advirta que nem todas as famílias são como a deles, há muitas muito disfuncionais.—Está bem, sei disso, mas preciso de esclarecer esta dúvida —aceita Marlon, com a esperança de que Camélia não tenha nada a ver com aquela família que quase matou o seu irmão—. Ficaria muito feliz se ela fosse adotada, ou se a tivessem levado. É uma rapariga excecional, não merece nenhum deles, exceto a avó.Umas batidas na porta interrompem-nos. A cabeça da sua esposa e secretária, Márcia, aparece, informando que Enrique Mason quer vê-lo.—Enrique Mason? —perguntam os dois em uníssono.—S
Marlon lê o envelope que Enrique trouxe, repleto de informação sobre as atrocidades que Mailen tem feito ao Ariel durante todos estes anos, factos dos quais ele não tinha conhecimento algum, o que o desconcerta profundamente. Sempre esteve a cuidar do irmão à distância, sem o sufocar. Mas Ariel desaparecia por temporadas e eles presumiam que viajava com as mulheres que conquistava.Quanto mais examina as páginas que Enrique Mason recolheu para sua própria proteção durante todo este tempo, mais lhe custa acreditar no seu conteúdo. Como é possível que os seus guardas não o informassem de nada disto? Tem de ser uma invenção deste homem para se livrar do castigo que imporá à sua família, diz para si mesmo.—Quando é que isto aconteceu? Quando é que esta mulher louca sequestrou o meu irmão? Por que é que o Ar
No hospital, o doutor Félix chega apressadamente com os maqueiros. Sem perder tempo, transfere a cama onde estão Ariel e Camelia, que adormeceu abraçada a ele. Os seguranças escoltam-nos enquanto Félix dá ordens categóricas: ninguém, exceto ele próprio, tratará do Ariel; não haverá enfermeiras, e tanto ele como a sua noiva encarregar-se-ão pessoalmente dos seus cuidados. Como medida de máxima precaução, tranca a porta à chave. Depois, seguindo as instruções de Marlon, adverte a família do Ariel para não o visitarem nem saírem sozinhos.Camelia acorda no meio da noite. Confusa por se encontrar num quarto diferente, tenta abrir a porta para perguntar aos seguranças sobre esta mudança repentina, mas encontra-a trancada. Sem dar muita importância, volta-se e aproxima-se do Ariel, inclinando-se para o beijar sua
As lágrimas escorrem como rios pelas faces de Camelia ao ouvir sua adorada avó. Sente como se aquelas palavras a tivessem despertado, tirando-a do mundo escuro onde se havia refugiado.—Avó, não me repreenda mais, prometo. Eu farei, ficarei ao lado dele enquanto ele me quiser —assegura com renovada coragem ao sentir o apoio da avó—. Não permitirei que a Marilyn nem essas loucas ganhem, não me separarei dele, a menos que ele deixe de me querer.—Bravo, filha, bravo! Luta pela tua felicidade —exclama a idosa—. Camelia, sê egoísta nem que seja uma vez na vida, mereces isso. Ainda que renuncies ao teu nome, a tudo por ele, acredita que vale a pena, minha filha, vale a pena. Tens o meu apoio, não voltarei a deixar-te à mercê deles nunca mais.A idosa faz uma pausa, como se as palavras que está prestes a pronunciar ficassem presas na garganta. Depois
Embora ainda lhe custe acreditar que tudo o que Enrique Mason conta seja verdade, bem no seu íntimo sente que existe algo de verdadeiro nessas provas. Por isso está decidido a ir ao fundo da questão para proteger o seu irmão mais novo, mesmo que seja de si próprio se necessário. Consegue ver a mesma decisão nos olhos do seu irmão Ismael, que se limita a acenar com a cabeça, como se não houvesse necessidade de uma palavra entre eles.—Desde que saímos da escola, só estive com ela até descobrir quem era o Ariel; nesse momento abandonou-me —confessa Enrique—. No próprio dia da formatura, a Mailen começou a perseguir o teu irmão. Quando o Ariel se recusou a aceitá-la de volta, pelo que sei, viajou para o estrangeiro e envolveu-se com um veterano realizador de cinema, que lhe facilitou a entrada na escola de representação. Casou
Enrique suspira, sentindo-se encurralado e sem escapatória. Garante que só soube depois de a Mailen ter raptado o Ariel. Tinha passado quase um mês quando os guardas o capturaram para o interrogar. Não sabia nada desse acontecimento, mas obrigaram-no a contactá-la e assim soube que estava em Malibu. Comunicou isso aos homens do Ariel, que acabaram por o resgatar.—Juro-lhe que não sabia nada desse sequestro, tem de acreditar em mim —garante Enrique, aterrorizado—. Até perguntei aos guardas porque não vos avisavam, e responderam-me que o Ariel o tinha proibido. Que mais podia eu fazer?—Não consigo entender porque é que o Ariel tem estado a sofrer isto sozinho! Não percebo! Será que não confia em nós? —grita Ismael, batendo na mesa.—Eu acho —intervém Oliver, que até àquele momento permanecera em silêncio&
Enrique continua a relatar como, no dia do incidente na aldeia. Depois que ellos se tinham ido com todos os seus homens para levar a Ariel ao hospital. Eles tinham entrado no seu carro e a Mailen amaldiçoava a Camelia por não ter deixado o Ariel com elas, jurando vingança. Olhando fixamente para os Rhys, que o escutavam em silêncio, garante-lhes que aquela mulher está obcecada com o irmão deles e quer fazer com que o Ariel lhe implore para voltar.—E não sei se a história do filho é verdade, mas garanto-vos uma coisa: a Mailen pagava a muitas mulheres, incluindo a Eleonor, para se aproximarem do vosso irmão com a intenção de obter o seu esperma —os olhos dos Rhys abrem-se com incredulidade—. Mas, pelo que sei, nunca conseguiram. No entanto, ela afirma ter um filho dele.—Podes ligar-lhe agora e dizer que as vais ajudar? —pergunta Ismael, arquitetando um pl