Era um sinal. Gabriele nos deixara uma indicação telepática do ponto onde deveríamos encontrá-la antes de ir. Mildred estava certa.
Há pouco experimentáramos, a maga e eu, um novo contato espiritual que durou meros instantes. Nesses delírios, sonhamos sobrevoar Hartsbark completamente nus até encontrar um facho luminoso com o diâmetro aproximado de meu alojamento. Uma vez acordados, passamos a saber instintivamente em que direção se encontrava o sinal de minha noiva no plano real. Horas decorreriam entre aquele breve desmaio e o momento em que Rapskin, Padelah, Dehvorak e eu dividimos com o resto do conselho a sala almofadada onde Kingler e seus companheiros revelaram-nos seus nomes.
Odores típicos de velharia e abandono encheram nossas narinas e nossa paciênc
Mas o debate seguiu adiante, fazendo-me lembrar constantemente do dia em que um rato se despediu de nós. E entre uma conversação e outra, Rapskin requisitou materiais de desenho, quase recebendo um safanão de Lilandra por isso. Discórdias não faltaram e perguntas eram feitas o tempo inteiro. “Como fui parar nas mãos de Mauzehr?” “Até onde Gabriele tinha realmente noção do que acontecia e como poderia ela saber tanto?” Alegou ter sido salva por sujeitos que agora a acompanhavam e que me tirariam daquele inferno. Uma guilda. Que tipo? Possivelmente gente poderosa e influente a ponto de lhe fornecer dados tão importantes como os que me revelou. Deviam saber muito sobre os hospedeiros, as portas, meus sonhos e todo o resto. Era a hipótese mais provável. Havia dois
E lá foi o dia. O canto de um galo acordou Rapskin; um balido de ovelha fez o mesmo comigo. Tudo pronto em nossa cabana. Tudo a postos lá fora. Eu não havia sonhado e muito menos “envelhecido” dessa vez. Que bom. Vi parte do conselho surgir diante de seu estranho templo e sumir no amontoado humano que movimentava Adot internamente sob o sol. Pouco a pouco aquela horda de homens, mulheres, anões, meio-elfos e crianças que já ameaçava iniciar um alvoroço acabou muito bem ordenada; tornada uma bela comitiva de despedida. Cabeças curiosas brotaram em janelas (enfeitando choupanas) enquanto pastores afastavam suas cabras do pelotão recém enfileirado numa campina próxima. Um lavrador parou de misturar sua terra e fincou-lhe o garfo de trabalho porque queria admirar
Em meio à terra aberta e pedregosa... enquanto um aclive se afastava de nós... cinco olmos ganharam destaque por duas razões: eram as únicas árvores daquele imenso terreno e também... (“O que houve?”) ** Caos mental. – Garpot, Padelah! Verifiquem aqueles corpos! Um turbilhão de lembranças jorrou em mim. – Verificar? Por que não vai primeiro? Rapskin me contou de suas aptidões para encontrar armadilhas. Senti enjoo. – Agora eu estava. Graças à maga... graças a mim. Graças àqueles corpos. Mildred acordara de seu transe e regressara ao mundo físico em ordem. Eu nem tanto. Nosso grupo tomou bastante cuidado ao transitar até os cinco olmos adiante porque três deles tinham corpos amarrados ao tronco (um para cada). Corpos nus e semi-esfacelados, quase decompostos. Abrigo de vermes e insetos; banquete para cinco abutres. – Esses aí não tiveram sua sorte, hein, Tirenat? – opinou o ladrão, já de máscara. Observei cada cadáver com atenção. – Acredita que tenhamos encontrado Azlain e Corick finalmente? – sugeriu Rapskin à dama de preto.50
Três ou quatro horas já tinham transcorrido desde nossa partida e nada incomum foi visto até então, exceto nossos achados nus e semi-esfacelados. Era-me inevitável imaginar se haveria um Corick entre eles; talvez um Azlain. Mildred acreditava que nenhum daqueles três infelizes se relacionava à minha situação. Na opinião dela, os bárbaros estupradores teriam me encontrado por mero acaso e procurá-los agora seria contraproducente em todos os sentidos. Tal ponto de vista não só se baseava no conteúdo de nossa comunicação telepática como também na magia pura e simples que aplicou sobre os cadáveres pouco antes de seguirmos jornada adiante. Para mim, nada daquilo era puro e simples. Acessar Mildred em espírito trouxe-me sensações antagônicas perante seus poderes. Digamos que fiquei imensamente perplexo por contatar uma realidade acima de m
Podíamos não ter pás, mas contávamos com espadas, cumbucas e machados que serviram para alargar uma pequena fenda disfarçada entre folhagens e arbustos na base daquela pedra enorme, bem próxima ao chão. Mildred fizera um bom trabalho. – Este buraco está mais escuro do que nosso cocô ambulante! – exclamou Maxis enquanto tirava um grupo de folhas de seu caminho. O anão, claro, não permaneceria calado diante disso. – Ei, rapaz! Achei que tivesse algum amor por sua vidinha insignificante lá no domo. Vejo que me enganei. Se quiser, posso acabar com ela agora. Quer? Basta pedir. – Duoff, não ligue para esse ogro! – pôs-se a apaziguar um dos três lanceiros de túnica.
Escuridão. Amada escuridão. Silêncio. A divisão sugerida no templo de bambu seria posta em prática agora. Seguir gruta adentro com o grupo inteiro traria riscos desnecessários, por isso selecionamos parte de nosso pessoal para vigiar a fenda. Mildred pertenceria a essa trupe, já que sua comunicação espiritual comigo garantiria contato entre todos, mesmo com a separação, pelo menos em teoria. Na prática, ela relutou em aceitar tal proposta, pois queria estar presente de corpo e alma quando o sinal fosse alcançado. Duoff, Iurdok, Zagarith, Rapskin, Juh e um dos lanceiros de túnica juntar-se-iam aos vigilantes enquanto Garpot, especialista em cavernas, lideraria os invasores seguindo indicações minhas referentes ao sinal de Gabriele. Antes de explorarmos a gruta,
Poucos ruídos. Muito cuidado. Apreensão. Medo. Garpot adentrou o buraco antes de todos... besta armada. Edgard seguiu logo atrás... iluminando o caminho... interrompendo-se constantemente para auxiliar uma caveira invisível em seu meticuloso trabalho de verificar armadilhas pelo percurso. Demonstrei objeção ante tal estratégia, visto que nosso murgon poderia acabar realizando o que Dehvorak pretendia por mero acidente. Opinião vã, aliás. Garpot, graças a habilidades exploratórias singulares e aptidões visuais distintas – que só Padelah e Duoff possuíam além dele – , teria de encabeçar o grupo, claro. Nesse ínter