Ana regressaria mais tarde àquele alojamento para anunciar um atraso nos planos da colega. Tal imprevisto, ao contrário do que poderia ser pensado, não ocorreu em virtude da requisição de Dehvorak. Na verdade, foi consequência de um conflito entre Lilandra e Mildred no interior da outra cabana, onde esta havia abandonado o conselho antes de seguir furiosíssima em direção ao templo de bambu.
Avistei-as de longe pela janela. Lilandra em seu vestido amarelo e Mildred (fisicamente pálida como de costume e não cinzenta) trajando sua toga ritualística: vermelha com faixas amarelas pintadas no tecido. Ana pediu que permanecêssemos sob o teto de palha enquanto o impasse não fosse resolvido. Tudo bem
Tanto num período tão curto! Dehvorak se enganara redondamente ao imaginar que Padelah havia me salvado. Quem fez isso foi a própria Mildred ou... como direi? O lado benevolente dela. Difícil explicar. Rapskin não demoraria a aparecer em nosso casebre junto ao resto do grupo que acabava de discutir lá fora. Ana e os outros surgiriam momentos depois me trazendo besouros crocantes numa tigela. Estes, diferentemente dos oferecidos no templo, estavam muito bons. O diálogo privado que partilhei com Lilandra ao terminar minha refeição durou cerca de um quinto de hora. Os outros retornariam instantes mais tarde.Digamos que meus depoimentos tenham sido bastante sinceros em relação às loucuras que experiment
– Conte-nos mais desse sinal. Como pôde senti-lo? – Não há muito além do que Mildred relatou. Vocês viram tudo. Desmaiamos há pouco, cada um num alojamento, instantes após Lilandra me deixar e Rapskin conversar à sós comigo. Compartilhamos um sonho bem curto desde então. Assim que acordamos, sentimos essa coisa. – Fale-nos da coisa. -------------------------------------------------- Liberdade... Deliciosa liberdade. Soltos no ar... Mildred e eu... sobrevoando Hartsbark como dois
Era um sinal. Gabriele nos deixara uma indicação telepática do ponto onde deveríamos encontrá-la antes de ir. Mildred estava certa. Há pouco experimentáramos, a maga e eu, um novo contato espiritual que durou meros instantes. Nesses delírios, sonhamos sobrevoar Hartsbark completamente nus até encontrar um facho luminoso com o diâmetro aproximado de meu alojamento. Uma vez acordados, passamos a saber instintivamente em que direção se encontrava o sinal de minha noiva no plano real. Horas decorreriam entre aquele breve desmaio e o momento em que Rapskin, Padelah, Dehvorak e eu dividimos com o resto do conselho a sala almofadada onde Kingler e seus companheiros revelaram-nos seus nomes. Odores típicos de velharia e abandono encheram nossas narinas e nossa paciênc
Mas o debate seguiu adiante, fazendo-me lembrar constantemente do dia em que um rato se despediu de nós. E entre uma conversação e outra, Rapskin requisitou materiais de desenho, quase recebendo um safanão de Lilandra por isso. Discórdias não faltaram e perguntas eram feitas o tempo inteiro. “Como fui parar nas mãos de Mauzehr?” “Até onde Gabriele tinha realmente noção do que acontecia e como poderia ela saber tanto?” Alegou ter sido salva por sujeitos que agora a acompanhavam e que me tirariam daquele inferno. Uma guilda. Que tipo? Possivelmente gente poderosa e influente a ponto de lhe fornecer dados tão importantes como os que me revelou. Deviam saber muito sobre os hospedeiros, as portas, meus sonhos e todo o resto. Era a hipótese mais provável. Havia dois
E lá foi o dia. O canto de um galo acordou Rapskin; um balido de ovelha fez o mesmo comigo. Tudo pronto em nossa cabana. Tudo a postos lá fora. Eu não havia sonhado e muito menos “envelhecido” dessa vez. Que bom. Vi parte do conselho surgir diante de seu estranho templo e sumir no amontoado humano que movimentava Adot internamente sob o sol. Pouco a pouco aquela horda de homens, mulheres, anões, meio-elfos e crianças que já ameaçava iniciar um alvoroço acabou muito bem ordenada; tornada uma bela comitiva de despedida. Cabeças curiosas brotaram em janelas (enfeitando choupanas) enquanto pastores afastavam suas cabras do pelotão recém enfileirado numa campina próxima. Um lavrador parou de misturar sua terra e fincou-lhe o garfo de trabalho porque queria admirar
Em meio à terra aberta e pedregosa... enquanto um aclive se afastava de nós... cinco olmos ganharam destaque por duas razões: eram as únicas árvores daquele imenso terreno e também... (“O que houve?”) ** Caos mental. – Garpot, Padelah! Verifiquem aqueles corpos! Um turbilhão de lembranças jorrou em mim. – Verificar? Por que não vai primeiro? Rapskin me contou de suas aptidões para encontrar armadilhas. Senti enjoo. – Agora eu estava. Graças à maga... graças a mim. Graças àqueles corpos. Mildred acordara de seu transe e regressara ao mundo físico em ordem. Eu nem tanto. Nosso grupo tomou bastante cuidado ao transitar até os cinco olmos adiante porque três deles tinham corpos amarrados ao tronco (um para cada). Corpos nus e semi-esfacelados, quase decompostos. Abrigo de vermes e insetos; banquete para cinco abutres. – Esses aí não tiveram sua sorte, hein, Tirenat? – opinou o ladrão, já de máscara. Observei cada cadáver com atenção. – Acredita que tenhamos encontrado Azlain e Corick finalmente? – sugeriu Rapskin à dama de preto.50
Três ou quatro horas já tinham transcorrido desde nossa partida e nada incomum foi visto até então, exceto nossos achados nus e semi-esfacelados. Era-me inevitável imaginar se haveria um Corick entre eles; talvez um Azlain. Mildred acreditava que nenhum daqueles três infelizes se relacionava à minha situação. Na opinião dela, os bárbaros estupradores teriam me encontrado por mero acaso e procurá-los agora seria contraproducente em todos os sentidos. Tal ponto de vista não só se baseava no conteúdo de nossa comunicação telepática como também na magia pura e simples que aplicou sobre os cadáveres pouco antes de seguirmos jornada adiante. Para mim, nada daquilo era puro e simples. Acessar Mildred em espírito trouxe-me sensações antagônicas perante seus poderes. Digamos que fiquei imensamente perplexo por contatar uma realidade acima de m