Seis meses depois…
Domingo à noite…
No terraço, a lua crescente ilumina o céu, lançando reflexos prateados sobre a propriedade. Está uma noite muito agradável.
Eu admiro a vista com os braços em torno de minha barriga. Estou esperando um menino. Já temos até o nome: Kaliq.
Respiro o ar gostoso. A brisa suave do verão traz o cheiro do jasmim, das rosas, da dama-da-noite.
Ouço Hassan entrando no quarto e caminho até ele. Vamos agora na casa de Raissa. Exatamente hoje ela completa três meses de casada.
— Está pronta?
— Estou.
Ele passa os olhos pelo meu vestido azul-marinho e os fixa na minha barriga, que já está bem grandinha, e depois corre até meus olhos.
— Está linda.
— Obrigada.
— Tem certeza de q
Karina MichaelEntro em casa apressada, preciso trocar de roupa rápido, não quero chegar atrasada à festa de Raissa, ela me pediu para que eu chegasse um pouco mais cedo.A família de Raissa é popular por dar festas que deixam todos a falar por uma semana. Festas inesquecíveis, talvez por ela descender de árabes. E os egípcios adoram uma festa extravagante.Hoje a festa era em homenagem ao seu irmão que chegou dos Estados Unidos para ficar. Segundo ela, Hassan, que significa bonito em árabe, concluiu seus negócios depois de seis meses afastado.Hassan é dono de três hotéis na Inglaterra. E a cada novo hotel aberto ele viaja e acompanha todo o processo. Desde a construção, decoração, contratação de funcionários etc.Segundo Raissa, ele é um solteirão convicto. I
Logo estou em uma roda de cinco jovens mais ou menos da nossa idade. A música árabe agora está mais gostosa, amena. As pessoas podem conversar normalmente sem precisar falar alto para serem ouvidas.— Meninas, quero apresentar a vocês uma grande amiga. Karina. — Karina, essa é Alicia, Raquel, Bianca e Lorena.— Oi — digo para elas.Todas me cumprimentam. Umas com um aceno de cabeça, outras com um sorriso, mas percebo que há uma agitação entre elas. Estão avoadas, rindo de alguma coisa.— Nos desculpe, Karina, mas vamos dar uma circulada — Lorena, a mais alta de todas, comunica.Então, rindo, se afastam de nós. Eu achei uma baita indelicadeza da parte delas, não comigo, mas com Raissa.Encaro Raissa.— São todas suas primas?— Sim, todas.— Vocês não são
KarinaNão me espantei quando Hassan me tirou. Mesmo assim, sinto uma onda de calor esquentar meu pescoço e meu rosto. Os olhos negros me observam como se estivessem fascinados, iguais aos meus para ele. Tento encontrar no meu cérebro bagunçado uma desculpa para não dançar, mas quando ele pega a minha mão ela morre em meus lábios e eu estremeço. A mão quente dele me deixa perturbada. Ele, então, eleva meu braço, segurando forte minha mão, como se nunca mais fosse soltar, e me conduz para o meio do salão.Deus! Eu nem sabia que eu era capaz de sentir tamanha atração por um homem. Como se eu estivesse à flor da pele, movida por instintos animais.Não consigo evitar o arrepio que corre todo o meu corpo quando ele olha para mim novamente, com um lindo e iluminado sorriso nos lábios. Os dentes brancos, gra
Hassan se recupera rápido e sorri para ela com os dentes muito brancos, contrastando com o rosto moreno.— Por que surpresa? — Hassan volta seu olhar para mim, agora indecifrável.Raissa sorri para mim e olha para seu irmão.— Porque eu falei a semana inteira de você para Karina.Hassan me encara com um sorriso irônico, como se alguma coisa tivesse iluminado sua mente.— Aposto que falou mal de mim.Raissa ri do comentário do irmão.— Só falei a verdade.Hassan gargalha, uma risada muito agradável, e me olha com intensidade, provocador:— Allah! Já estou ardendo no mármore do inferno, então.Raissa ri e o abraça.Deus! Esse homem mexe comigo: o sotaque carregado é extremamente sedutor. O mover das mãos morenas, olhar de um felino, o caminhar de uma pantera…
KarinaNo dia seguinte, eu acordo tarde. Dez horas. Não levanto com pressa. Depois de me trocar, caminho tranquilamente até a sala. Meu pai está lendo um jornal, enquanto mamãe arruma as flores em um vaso, que fica no canto da sala, em cima de um lindo aparador.Audrey é uma mulher de 50 anos e usa os cabelos grisalhos naturais. O branco misturado ao preto deixa-o com uma cor acinzentada. Seus olhos verdes, iguais aos meus, me focalizam e elaabre um sorriso.— Bom dia — digo a todos.— Bom dia — eles falam quase em coro.Papai deixa o jornal de lado e me encara com curiosidade.— Como foi a festa?Eu disfarço meu nervosismo com essa simples pergunta e respondo sem colocar emoção na voz.— Foi legal.Jonas sorri.— Legal? Já vi que você não gostou. Esse “l
Hassan Preso em pensamentos negativos e aborrecimentos, saio de casa. Estaciono a Ferrari em frente ao Victória Park. Nunca tinha vindo a esta parte da cidade. Mal sabia que existia. O céu está azul, crianças empinam pipas, enquanto suas famílias fazem piquenique. O dia está com uma temperatura agradável, mas nem mesmo a quietude do lugar tira a minha irritação. Meus olhos se voltam para o painel do carro. Onze horas da manhã. Allah! Prometi a mim mesmo que eu iria ignorá-la, que eu não ia me indispor com ela. Tudo por causa de Raissa. Mas não tem jeito, não consigo engolir aquela mulher dissimulada, falsa, adúltera. E ela sabe disso e faz de propósito, torna a minha vida um inferno insuportável para que eu finalmente ceda, procure uma esposa e, contraindo casamento, eu dê logo a parte dela da herança. Se ela não tivesse tido Raissa, ela sairia com uma mão na frente e outra atrás quando meu pai morreu.
KarinaChego à mansão às duas horas da tarde. Os seguranças, logo que avistam meu carro, já abrem os portões para eu passar. Meu coração está agitado, desde o momento em que resolvi que eu viria à casa de Raissa me sinto perturbada.Sempre que eu vou à casa dela vou entrando, já tínhamos combinado assim. Então abro a porta da mansão e entro no hall espaçoso, sigo até a sala e dou de cara com Hassan sentado no sofá, inclinado, os cotovelos apoiados nas pernas, segurando sua cabeça.Fico ali sem ação ao vê-lo, sem saber se me esquivo e dou a volta passando por suas costas e vou direto para o quarto de Raissa ou chamo sua atenção o cumprimentando.Como se pressentisse minha presença, ele se ergue. Quando me vê, muda imediatamente sua postura. Seus olh
— E Raissa? — ele indaga, e espera minha resposta com o rosto sério.— Ficou bem depois que soube que você não sairá mais do país. Por que você não sobe e fala com ela?Ele assente.— Já vai? — me questiona.— Sim, amanhã preciso levantar cedo.Hassan ergue as sobrancelhas interessado, e eu me repreendo por ter dado brecha para um diálogo:— Você trabalha?Eu solto o ar.— Sim. Me formei em Design de Moda, desenho roupas para uma loja de grife.Seus olhos passam pelo meu corpo, e eu sinto como se um rastro de fogo percorresse por onde quer que ele se deteve. Arfei, pois já não conseguia respirar direito. Ele pareceu notar, pois reagiu com aquela aura selvagem que notei nele.— Esse vestido é uma arte sua?Eu assenti.— Eu não gosto dele &mda