Hassan
Preso em pensamentos negativos e aborrecimentos, saio de casa. Estaciono a Ferrari em frente ao Victória Park. Nunca tinha vindo a esta parte da cidade. Mal sabia que existia. O céu está azul, crianças empinam pipas, enquanto suas famílias fazem piquenique. O dia está com uma temperatura agradável, mas nem mesmo a quietude do lugar tira a minha irritação. Meus olhos se voltam para o painel do carro.
Onze horas da manhã.
Allah! Prometi a mim mesmo que eu iria ignorá-la, que eu não ia me indispor com ela. Tudo por causa de Raissa. Mas não tem jeito, não consigo engolir aquela mulher dissimulada, falsa, adúltera. E ela sabe disso e faz de propósito, torna a minha vida um inferno insuportável para que eu finalmente ceda, procure uma esposa e, contraindo casamento, eu dê logo a parte dela da herança.
Se ela não tivesse tido Raissa, ela sairia com uma mão na frente e outra atrás quando meu pai morreu. Mas agora mora de favor na minha casa e tem a petulância de exigir as coisas. Deveria lamber o chão que eu piso, isso sim!
Se eu me casar, naturalmente terei um filho, e ela levará a herança.
Onde está a justiça nisso? Essa mulher traía meu pai, tinha um amante!
Allah! Vou me sentir tão derrotado … fracassado. Essa víbora tem que depender de mim pelo resto da vida. Morrer sem ver um centavo da herança. Eu sou seu juiz e ela está condenada a pagar seus pecados.
Engraçado que ontem toda a minha resolução de ficar solteiro estremeceu quando conheci Karina.
Com seu olhar, ela me observa, me devora. Sutilmente me implora. Com seu jeito de olhar, ela me direciona. Me conduz para um mundo no qual reino soberano. Ela me provoca, me instiga e castiga. Tentando me dominar, minha alma tomar.
Essa química entre nós é forte, e eu sei como posso resolver. Preciso levá-la para a cama. Beijos, amassos…
Preciso tê-la!
Aí, passa…
KarinaChego à mansão às duas horas da tarde. Os seguranças, logo que avistam meu carro, já abrem os portões para eu passar. Meu coração está agitado, desde o momento em que resolvi que eu viria à casa de Raissa me sinto perturbada.Sempre que eu vou à casa dela vou entrando, já tínhamos combinado assim. Então abro a porta da mansão e entro no hall espaçoso, sigo até a sala e dou de cara com Hassan sentado no sofá, inclinado, os cotovelos apoiados nas pernas, segurando sua cabeça.Fico ali sem ação ao vê-lo, sem saber se me esquivo e dou a volta passando por suas costas e vou direto para o quarto de Raissa ou chamo sua atenção o cumprimentando.Como se pressentisse minha presença, ele se ergue. Quando me vê, muda imediatamente sua postura. Seus olh
— E Raissa? — ele indaga, e espera minha resposta com o rosto sério.— Ficou bem depois que soube que você não sairá mais do país. Por que você não sobe e fala com ela?Ele assente.— Já vai? — me questiona.— Sim, amanhã preciso levantar cedo.Hassan ergue as sobrancelhas interessado, e eu me repreendo por ter dado brecha para um diálogo:— Você trabalha?Eu solto o ar.— Sim. Me formei em Design de Moda, desenho roupas para uma loja de grife.Seus olhos passam pelo meu corpo, e eu sinto como se um rastro de fogo percorresse por onde quer que ele se deteve. Arfei, pois já não conseguia respirar direito. Ele pareceu notar, pois reagiu com aquela aura selvagem que notei nele.— Esse vestido é uma arte sua?Eu assenti.— Eu não gosto dele &mda
KarinaNo dia seguinte, chego ao meu trabalho um pouco mais cedo, embora não tenha dormido muito bem. Temo que Hassan não saia mais da minha mente. Então tomo a resolução de me dedicar naquilo que eu mais sei fazer: ser criativa. Pretendo tirar Hassan definitivamente dos meus pensamentos.Entro na loja, que ainda está vazia, e me dirijo aos fundos dela. Passo pelas costureiras e entro no meu ateliê. Sento-me em frente à minha prancheta. Observo o vestido que desenhei. Agora preciso definir o tecido e a cor. Pego várias amostras de tecido e estendo sobre o papel, tentando imaginar como ele ficaria com eles.Aos poucos o vestido vai tomando forma na minha cabeça. Coloco tudo no papel e vou até a sala de costuras para pedir sua produção e explicar como o imaginei.Conversando com elas, decidimos fazê-lo em três tamanhos. P, M e G e poucos n&
Em um piscar de olhos, é sexta-feira, fim de tarde…Hassan enviou o convite na minha casa na quinta-feira. Graças a Deus fui eu que peguei na caixinha de correio e ninguém viu. Eu não vou a essa festa mesmo, e o que menos quero é falar sobre isso com meus pais. Engraçado que na terça-feira, quando conversei com Raissa, ela me falou várias coisas, mas nem por um momento ela tocou no assunto “festa”, e eu não comentei nada também.Vitor também sumiu, nem mensagem ele me mandou. Minha atitude o espantou. Não acho ruim isso. Ele precisava dessa sacudida para seguir sua vida e parar de alimentar esse sentimento platônico por mim. Mesmo porque eu não consigo sair com um homem por sair. Para mim, estar com um homem é estar ligada por um sentimento irresistível, como uma droga potente. Mas, acima de tudo, essa relação precisa me fazer
HassanFico em transe ouvindo o que ela me diz. O entendimento da situação me atinge como um trem de carga.Que merda é essa?Meu sangue ferve e eu sinto como se a raiva tivesse sido injetada em minhas veias. Não.Não. Não pode ser verdade. Ela está brincando comigo. Sim, é isso. Só pode ser. Hoje ela deu para me contrariar, para me ver nervoso. Relanceio o olhar para ela, aparentando calma, mas a vontade que me dá é de jogar o carro para o meio-fio e mostrar a ela quem manda aqui. Eu a encaro, e sorrio sem acreditar em suas palavras.— Sério? Você só pode estar brincando comigo. Com 25 anos você nunca saiu com ninguém? Ela me encara ofegante, a testa franzida.— Por que o espanto? Sim, sou virgem.O choque só se intensifica.Então é verdade?— Ghabi! Ghabi! —
Flashes de fotógrafos caem sobre nós na calçada enquanto andamos até a entrada do hotel. É de praxe sempre que fazemos uma festa nessa magnitude termos que passar por um detector de metais antes de adentrarmos ao hotel. Passamos por ele sem problemas. Ao nosso lado direito, oriento Karina a deixar seu casaco na chapelaria, embora o vestido dela me incomode. Ele é muito chamativo. Avançamos então para o interior do hotel. Um amigo meu, da minha terra e que é organizador de eventos, está conversando com um dos seguranças que contratamos para fazer a ronda nesse dia, todo cuidado é pouco. Quando ele me avista, vem em minha direção. Seus olhos fixam-se por um momento em Karina, então ele me olha e sorri. Quando perto, me dá um abraço apertado. — O Papa-anjo ataca novamente — ele fala em árabe quando nossos rostos se tocam. Nos afastamos. — Deus! Você sabe que eu detesto esse apelido, e não é bem assim. Não desvirtu
— E então, vai me dar uma chance?O quê?Quando eu contei para ele que era virgem, não é porque defendo essa causa, mas para ele entender que não sou avulsa. Eu fico em silêncio.Logo vejo vários casais dançando ao nosso lado, incentivados por nossa dança. Mas eu não consigo me distrair com nada. O corpo forte e rijo de Hassan junto ao meu me tira a paz, me perturba. Ele tem o poder de minar minhas forças. Hassan segura o meu queixo e me faz olhar para os olhos dele.— O que foi? Perdeu a capacidade de falar? — ele pergunta, enquanto examina meu rosto.— Não há nada para dizer — digo, e o rosto dele perde a expressão irônica, ficando duro e frio. Eu baixo meu rosto, sentindo a força do corpo musculoso, desejando intimamente que a música chegue ao seu final.— Se arrependeu de ter saído
Olho para Hassan, procurando nele alguma força ou consolo, mas seus olhos estão fazendo a varredura do local e ele nem olha para mim. Isso me preocupa e me deixa mais agitada.Hassan finalmente me olha, ofegante.— É agora — ele diz baixinho.— Deus! É agora o quê? — eu questiono, baixo.Ele me levanta e me empurra para frente, tudo muito rápido.— Aonde você está me levando? — pergunto, tremendo.Logo estou perto de uma parede, então reparo na maçaneta e na chave pendurada. Hassanabre a porta camuflada, ela é da mesma cor do papel de parede dourado.— Porra! Eles estão fugindo! — um deles grita para o outro.Hassan me empurra para dentro quando abre uma porta grossa e com agilidade tenta fechá-la.Apavorada, vejo um relance dos bandidos muito perto. Ouço tiros, almejando a