O quarto do hospital estava envolto em um silêncio reconfortante. Lá fora, a cidade nunca dormia, mas ali dentro, o tempo parecia desacelerar, transformando aquele momento entre pai e filho em um fragmento de eternidade.Luna tinha ido para casa com Valentina e Jacob observava Joshua dormir, o pequeno peito subindo e descendo suavemente, a respiração leve como uma pluma.Amanhã tudo mudaria.Ele passaria pela cirurgia que poderia salvá-lo.O pensamento trouxe um aperto no peito de Jacob. Ele confiava nos médicos, sabia que o transplante era a melhor solução, mas o medo não saía de dentro de si, cravado fundo como uma lâmina afiada.Ele nunca esteve tão perto de perder a coisa mais preciosa de sua vida, jamais sobreviveria a isso. Joshua mexeu-se na cama, franzindo o cenho como se estivesse prestes a acordar. Jacob passou a mão pelos cabelos macios do filho, observando-o com o carinho que só um pai poderia sentir.Os olhos sonolentos do menino se abriram, fixando-os nos do pai.— Papa
Luna HarrisonO telefone tocou e assim que vi o nome de Jacob na tela, um arrepio percorreu minha espinha.Atendi imediatamente.— Luna, você pode vir até o hospital? Traga Valentina com você.Sua voz era firme, mas carregava algo mais. Algo que me fez travar a respiração por um segundo.— Jacob, aconteceu alguma coisa com Joshua? — meu coração disparou, o medo tomando conta de mim sem que pudesse controlá-lo.— Não, meu amor, ele está bem. Mas eu preciso de vocês duas aqui.Meu amor…As palavras ressoavam na minha mente e fizeram eu me sentir segura. Desde que nos reencontramos e eu contei a verdade, nosso relacionamento está cada vez mais sólido. Não vemos a hora de ficarmos nós quatro juntos e formarmos uma família. O transplante seria amanhã. Será que era por isso que ele parecia tenso? A simples ideia de ver Joshua em uma mesa de cirurgia me assustava, mas eu sabia que era necessário. Só que não era apenas isso que me deixava inquieta.O sumiço de Samantha me atormentava.Eu nã
Aquelas duas palavras cravaram dentro de mim como lâminas afiadas.Hesitei por um momento antes de abrir o diário. As páginas estavam amareladas pelo tempo, mas o peso do que estava escrito era insuportavelmente recente.Cada linha, cada palavra, cada nome. Meus dedos tremiam conforme as folheavas, tentando absorver a história que estava escrita ali. Então, veio o golpe final. A noite do dia 13 de outubro. A fatídica noite em que tive meus bebês e meu Benjamim morreu. Desviei os olhos para Jacob ao ler o que estava escrito.“ Troque os bebês.” Meus olhos azuis encaravam os dele em busca de explicações, mas eu sabia que se quisesse as respostas,se quisesse entender deveria continuar a ler o que estava escrito ali. “ Recem nascido de Luna Harrison, sexo masculino, vivo. “ Recém nascido de Samantha Taylor Lancaster, sexo masculino, morto ao nascer. Morto…Por Deus, o que fizeram?Naquele momento eu acabava de entender o que tinha acontecido. O bebê que segurei nos meus braços, que
Quando Luna retornou ao quarto, o silêncio parecia manter o ar em suspense. O corredor já havia ficado para trás e o mundo parou no instante em que seus olhos pousaram na cena diante de si.Joshua estava abraçado a Valentina.Os pequenos ombros tremiam.Os rostos estavam banhados por lágrimas silenciosas que pareciam carregar anos de dor, saudade e confusão, mas havia algo a mais naquela imagem, algo que perfurou o coração de Luna com a força de um trovão.Eles choravam juntos.Um choro cheio da mais pura emoção, de descoberta, de reconexão.Luna ficou paralisada na porta, o mun
A chuva castigava Londres naquela noite, transformando as ruas em espelhos d’água que refletiam o brilho frio dos relâmpagos. Os trovões ressoavam como um aviso sombrio, como se o próprio universo tentasse alertar sobre o que estava prestes a acontecer.Dentro da maternidade, os corredores estavam agitados. Médicos entravam e saíam das salas de parto, enfermeiras corriam para lá e para cá, os gritos de mulheres em trabalho de parto se misturavam ao som da tempestade.Naquele hospital, duas mulheres estavam prestes a dar à luz. Duas mães, dois destinos… e um segredo que jamais poderia ser revelado.Luna HarrisonO grito escapou dos meus lábios assim que outra contração intensa rasgou meu corpo. Eu me contorcia na maca, segurando o lençol com força enquanto as enfermeiras me levavam às pressas para a sala de parto.— Respire, Luna. Está indo bem, logo seus bebês estarão nos seus braços. — disse o médico ao meu lado, tentando manter a calma.Mas eu não conseguia. Era cedo demais, muito ce
Dizem que na vida só temos a certeza da morte. Mas eu tinha outra: A de que meu destino havia mudado para sempre. Um ano e três meses atrás...— Ele abusou de mim, pai. Eu… eu…PlaftSinto o rosto arder pelo tapa que levei no rosto, mas nada se compara a dor que sinto dentro do peito. Meu pai, aquele que deveria me proteger das mazelas do mundo, cuidar de mim, não acreditava no que eu dizia. — Você é uma dissimulada e mentirosa como sua mãe. Thomás jamais faria isso com você, Luna. Como você pode… saia da minha casa, a partir de hoje não é mais minha filha! Encaro a figura alta bem diante de mim. O homem de cabelos loiros iguais aos meus, seus olhos verdes sempre me lembravam um par de esmeraldas. Não consigo exteriorizar a dor dilacerante que corta minha alma. Sem dizer uma única palavra, dei às costas e saí daquela casa. A casa que pertenceu à minha mãe, onde fui feliz até meus oito anos, depois disso o destino cruel levou a levou, vítima de câncer de mama. Eu saí sem levar nad
Existe um ditado que diz “Palavras confortam a mais profunda dor”. Eu discordo, acredito que um abraço envolvente,sincero, vale mais que mil palavras. Saio da ponte de Westminster correndo e deixo o homem que acabou de me impedir de fazer uma burrada para trás. “Meu Deus, o que eu ia fazer?”Não posso dar fim à minha vida, preciso ser forte e sobreviver a tudo isso, não por mim, mas pela memória de minha mãe! Fecho o sobretudo no meu corpo e vou para o único lugar onde sei que serei acolhida: a casa da minha melhor amiga, Kate. Desde pequena somos melhores amigas, apesar das tentativas da minha madrasta de nos afastar. Segundo ela, Kate não era do meu “nível social”, tolice. Sempre duvidei dos verdadeiros sentimentos de Ingrid em relação ao meu pai. Não que fossemos ricos mas, comparado a ela, tínhamos uma condição de vida muito superior. Depois da morte da minha mãe, passados seis meses, ela chegou na nossa casa. Quando a vi, pensei que pudesse amá-la como uma mãe, mas a decepção
Jacob Alexander LancasterÉ incrível como sua vida é capaz de mudar de uma hora para outra, em fração de segundos, principalmente quando existe dinheiro envolvido. O relógio marcava sete da noite, mas eu ainda estava preso na minha sala, encarando a cidade iluminada pela vista panorâmica do meu escritório. Meu maxilar ainda estava tenso, e a caneta em minha mão girava entre os dedos em um movimento automático.Eu estava puto.As palavras do meu pai ainda ecoavam na minha mente, irritantes e constantes, como uma maldita martelada. “Você tem que pensar na imagem da empresa, Jacob. Você precisa de estabilidade. Precisa de uma esposa.”Soltei uma risada seca, amarga e repeti:--- Precisa de uma esposa.Como se casamento fosse uma maldita estratégia de marketing.Fechei os olhos, respirando fundo. Meu pai e seu sócio estavam determinados a forçar essa união para promover minha imagem no mercado internacional. Investidores tradicionais valorizavam líderes com “vida pessoal estável”, e, ap