Eu fiz algo que nunca tinha feito antes: fui a um show de rock.Sim, é estranho eu estar relatando isso, quando tudo o que conheci foram recitais e peças de teatro, mas não posso dizer que foi uma experiência ruim.Há essa banda universitária chamada Lions. Eles são conhecidos de Paul e sempre ensaiam na garagem do baterista deles, um cara do qual não me lembro o nome agora. Paul está tentando se enturmar com os populares de sua universidade, então ele me levou com ele.O vocalista deles, James Ditt, não tirou os olhos de mim durante todo o momento. Nem mesmo quando cantou lindamente uma música dos Beatles, que eu particularmente não sou fã, mas na voz dele ficou incrível.Paul percebeu suas investidas, mas não demonstrou nenhuma emoção além de bajulação para cima dos rapazes. Me senti mal pelo fato de meu namorado sequer sentir ciúme de mim quando um rapaz bonito se interessa. Me pergunto agora se tudo isso é confiança ou desinteresse. Estou mesmo com o cara certo?
Quando penso em minha vida e em tudo o que passei até chegar aqui, não me sobra muito além de um passado vazio e triste. Ainda me sinto triste e vazia, presa em um personagem que atribui a mim mesma e ainda não consigo me desprender. Sempre gostei de acreditar que sentimentos são facilmente controláveis. Que você consegue ativar e desativar determinadas sensações de acordo com sua força de vontade. Não consigo desativar este sentimento agora. Essa inquietação, palpitação intensa. Parece que meu coração vai sair pela boca e eu não sei exatamente o porquê. Talvez eu saiba e esteja apenas mentindo para mim mesma, mas como não minto para você, diário, vou relatar brevemente o meu dia.Hoje pela manhã, houve um evento beneficente das Ravens. Gosto muito de Dionne e das outras meninas, portanto as ajudo sempre que posso, mesmo não fazendo parte da irmandade.Como era um evento de arrecadação, muitas pessoas vieram comprar doces e arranjos de flores que nós mesmos preparamos. Eu estava enc
Pela primeira vez depois de anos, minha mãe me ligou. Ainda tinha a tola esperança de que ela havia passado por cima de seu orgulho e princípios arcaicos para finalmente saber se estou bem, mas o que obtive foi uma dose de críticas e hostilidade quando informei que estava trabalhando em meio período como babá para me sustentar, já que era uma simples bolsista no Joe Bixby com materiais didáticos para pagar.Ela disse que ainda daria tempo de largar esta vida medíocre e voltar para casa se soubesse a maneira certa de pedir desculpas. Se me humilhasse o suficiente, talvez fosse aceita pelo meu pai, e até arranjar um bom marido. Eu ri na cara dela e desliguei a chamada.Depois disso, decidi ir em um show dos Lions com Hana. Na verdade, eu a arrastei até lá contra sua própria vontade, porque ela ficou o tempo todo me dizendo que o que estávamos fazendo era errado. Eu sei que era. Eu tenho um namorado... certo? Eu gosto dele, ou ao menos deveria gostar. Então por que estou tão afetada com
EVELYNEEu tenho uma lista.Sei que estou agindo como uma perseguidora, mas desde que coloquei na minha cabeça que desmascararia Kendall Vallen, não consigo pensar em outra coisa. Com a ajuda de Cassidy, selecionei uma lista de pessoas que foram constantemente humilhadas por Kendall desde seu primeiro dia aqui no Joe Bixby. A boa — e trágica — parte é que eu tenho muitas opções. A parte ruim é que eles não parecem tão dispostos assim a me ajudar. Eu conversei com cada uma dessas pessoas, à procura de testemunhos para ter algum conteúdo para dar à Sra. Ramsay, mas a maioria está com medo de dar o seu relato, o que complicou as coisas para mim.E para piorar a minha situação, descobri que talvez as pessoas tenham medo de mim. Ao que tudo indica, elas pensam que sou uma ex Raven que agora sai com o líder dos Hawks. Dois grupos com os quais eles, certamente, não gostariam de se meter. A cada dia que passa odeio mais os boatos e odeio mais o Joe Bixby.— Você ainda não desistiu, não é? — C
AARON Eu e Paul terminamos.Sei que essa não é uma maneira nada sutil e bonita de começar isso, mas não quero estender este assunto, quando sabemos o motivo de eu ter feito o que fiz. Pela primeira vez, estou confusa com os meus sentimentos em relação a um cara, e não tem nada a ver com a minha falta de reciprocidade. Desta vez, eu acho que gosto demais de alguém, e isso me assusta. Assusta não saber se ele sente o mesmo ou está sendo sério. Me assusta reconhecer que talvez eu esteja fazendo a coisa errada, mas ao menos eu também reconheço que terminar com Paul foi a coisa certa a se fazer. Não iria adiantar de nada continuar mentindo para mim mesma. Para nós dois.As coisas estão indo lentamente entre mim e James Ditt. Ele é um bom amigo e bom ouvinte. Ele também já me convidou para sair duas vezes, e eu simplesmente recusei por medo de abrir meu coração para ele. Não é fácil disputar o novo queridinho do rock de Trempton City com metade da cidade.Eu disse que se ele realmente esti
AARONA luz cegante preenche o escritório quando ele abre a porta e se depara comigo. James para no mesmo instante, encarando-me com surpresa.— Jesus, Aaron, você me assustou — ele diz. — O que está fazendo aqui no escuro?Eu não respondo de imediato. Meu olhar ainda está no seu rosto. Como eu deveria me sentir? Não faço ideia, para ser sincero.— Eu não sei — digo. — Eu simplesmente entrei, me sentei aqui e não vi anoitecer.Ele finalmente bate no interruptor de luz e me encara. Franze a testa ao me analisar.— Aconteceu alguma coisa, filho?Filho.Ele me chamou de filho.Eu sinto uma vontade tão grande de rir e chorar ao mesmo tempo. Estou ao ponto da histeria e sequer percebi isso vindo.— Sim, aconteceram muitas coisas — eu digo. — Muitas coisas vêm acontecendo na porra da minha vida desde que eu era uma criança, não é?Ele permanece estático.— Não entendo.— Você não entende mesmo ou prefere fingir não entender? — pergunto. — Seja sincero comigo, James. Você nunca, durante todo
EVELYNEjoe Bixby está parecendo um bolo de aniversário.Há faixas coloridas e enfeites cor de rosa nas paredes. Nos corredores, cartazes com fotografias impressas das Ravens segurando fofinhos animais abandonados.— Eu não estou acreditando que ignorei completamente este evento — diz Eleanor ao meu lado ao observar Cassidy em uma mesa repleta de doces.— Nem me fale — eu digo, lamentando também ter esquecido. Cassidy havia me informado, alguns dias atrás, do evento semestral de caridade que as Ravens sempre fazem. A instituição ajudada este ano será um abrigo para animais de rua. Sempre tão bondosas.Eu me aproximo da barraca mais próxima, me arrependendo ao reconhecer de quem se trata. É a de Kendall. Estendo a ela um dólar, que me olha de soslaio e pega um dos macarons em sua mesa e me entrega.— Bom apetite.Forço um sorriso.— Obrigada.Seus olhos permanecem em mim por mais um momento antes de ela relancear um olhar para Eleanor atrás de mim e em seguida voltar a me encarar.— Co
AARON— Haru! — Ginger vem em minha direção assim que entro em casa e me abraça. — Onde diabos você estava? Meu Deus!— Estou bem, Gin. Sinto muito por preocupar você.— Por que você desapareceu? Estão todos tão estranhos. O papai também não quer me dar muita informação sobre o que está rolando. Passei a noite toda com ele, mas mal conversamos.Eu solto um suspiro.— Ginger, nós precisamos conversar.Ela alterna o olhar entre mim e Evelyne.— Você não está doente, não é? Não me diga que tem poucos dias de vida.Mesmo que a ocasião não peça, eu acabo rindo.— Não, Gin Gin. Não é nada disso.— Bem, eu vou preparar um café da manhã pra gente — diz Evelyne. — Vou deixar vocês conversarem.Depois que Eve sai para a cozinha, eu me aproximo de Ginger, sem saber ao certo o que fazer. Se James não contou a ela, eu preciso fazer esse trabalho. Ela é minha irmã, independentemente de qualquer coisa, e precisa ser mantida a par sobre tudo o que está acontecendo.— Lembra quando éramos crianças e v